quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

OS MOVIMENTOS SOCIAIS NA VELHA REPÚBLICA

A GUERRA DE CANUDOS (1896/7)

Durante a República Velha ocorreram algumas revoltas sociais que deixam claro que o predomínio oligárquico não foi exercido sem contestação. No interior nordestino onde a superexploração, a miséria e a fome era a realidade do sertanejo, surgiram líderes messiânicos cuja o mais conhecido foi Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro.

As pregações de Conselheiro atraia milhares de fieis que passaram a seguir o beato em sua peregrinação pelo sertão. Em 1893, Conselheiro e seus seguidores fundaram, em uma fazenda abandonada o Arraial de Canudos. Uma comunidade onde todos trabalhavam e os frutos do trabalho era repartido de acordo com as necessidades de cada família. Lá não havia exploração, fome e outros males que atormentavam os sertanejos...parecia o paraíso terrestre. Quanto mais o Arraial prosperava mais incomodava os poderosos da região. Os fazendeiros temiam perder mão-de-obra os padres, fieis. Aproveitaram-se das convicções políticas de Conselheiro, que por diversas vezes tinha se manifestado contra a República para fazer guerra a Canudos. A cada expedição feita contra Canudos que não obtinha êxito, reforçava-se a idéia de que o Arraial era um foco de perigosos monarquistas dispostos a destruir a República. Os jornais do Rio, através de notícias alarmantes ajudava a por mais “lenha na fogueira”, criando um clima de histeria na capital do país. Em 1897, Canudos foi riscado do mapa após ter resistido bravamente e vencido as três tentativas anteriores. Em fins do século XX o Exército fez sua mea culpa em relação ao episódio, admitindo que a Guerra de Canudos foi um grande equívoco do qual o Exército Brasileiro tomou parte.

O CANGAÇO

O Cangaço foi um fenômeno ocorrido no SERTÃO NORDESTINO de meados do século XIX ao início de 1940.. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo.
O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o "lampião", denominado o "Senhor do Sertão" e também "O Rei do Cangaço". Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro.
Por parte das autoridades e de suas vítimas Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra.

No dia 28 de julho de 1938 na localidade de Angicos, no estado de Sergipe, Lampião foi vítima de uma emboscada onde foi morto junto com sua mulher, Maria Bonita e outros cangaceiros de seu bando. Tiveram suas cabeças decepadas e expostas em locais públicos, pois o governo queria assustar e desestimular esta prática na região. Depois do fim do bando de Lampião, os outros grupos de cangaceiros, já enfraquecidos, foram se desarticulando até terminarem de vez ,no início de 1940.

 

A REVOLTA DA VACINA (1904)

Não era só no campo que as camadas mais humildes viviam oprimidas. A Revolta da Vacina ocorreu em 1904 em plena capital federal. Os populares do Rio de Janeiro rebelaram-se contra a tentativa do governo de impor a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola a todas as pessoas. Aos gritos de “abaixo a vacina” viraram bondes no centro da cidade, quebraram os lampiões, ergueram barricadas em diversos bairros e enfrentaram as forças policiais da capital. Durante os conflitos ocorreu uma tentativa de levante militar visando derrubar o governo que não conseguiu êxito. O governo decretou estado de sítio, reprimiu e perseguiu violentamente os revoltosos. O regulamento da vacina foi alterado, tornando facultativa sua aplicação.

A REVOLTA DA CHIBATA (1910)

A escravidão acabou em 1888, porém esqueceram de comunicar tal acontecimento ao alto comando da marinha, pois em 1910, os marinheiros que por coincidência eram negros na sua maioria sofriam castigos corporais por parte dos oficiais que além de serem brancos vinham de famílias tradicionais de linhagem escravocrata. Os marinheiros, liderados por João Cândido o “almirante negro” que tinha a dignidade de um mestre-sala como cantou o poeta, se rebelaram após um colega de farda ser punido com 250 chibatadas. Na noite de 22 de novembro de 1910 explodia a Revolta da Chibata, assumiram o comando dos encouraçados Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Deodoro e apontaram os seus canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos exigiam o fim dos castigos físicos, melhoria do soldo e da alimentação e anistia para os participantes da revolta. Pego de “calças curtas” o então presidente Hermes da Fonseca não teve outra saída a não ser aceitar as exigências dos marinheiros. Refeito do susto o governo deu o troco, a anistia concedida aos marinheiros acabou sendo desconsiderada, ocorrendo afastamentos, prisões, mortes deportação.


O principal personagem desse episódio, o marinheiro João Cândido ficou preso na Ilha das Cobras junto com outros 17 companheiros, onde 15 deles acabaram morrendo dias após. O “almirante negro” sobreviveu mas foi internado a revelia no Hospital de Alienados no Rio de Janeiro. Julgado em 1912, João Cândido foi absolvido o mesmo aconteceu com os sobreviventes da Revolta. O preço foi alto mas o movimento pode ser considerado vitorioso. A Revolta da Chibata é, até os dias de hoje, um tabu dentro Marinha do Brasil.

A GUERRA DO CONTESTADO (1912/6)

Ocorreu no Sul do país em uma região cuja posse era disputada por Santa Catarina e Paraná, por isso chamada Contestado. Os moradores dessa localidade sofriam com os coronéis que constantemente expulsavam posseiros de suas terras anexando-as. Com a construção da ferrovia que ligaria o RS a SP e que passava justamente nesse lugarejo e posteriormente com a chegada de uma grande madereira estrangeira na região centenas de famílias foram expulsos de suas propriedades.

Essas pessoas buscaram conforto nas pregações de beatos que perambulavam pela região, prometendo tempos melhores. Um desses beatos foi o monge José Maria, que se dizia o escolhido por Deus para construir na Terra a Monarquia Celeste.


Em 1912, José Maria e centenas de seguidores se fixaram no povoado de Taquaraçu, em Santa Catarina. Os fazendeiros locais incomodados com aquela aglomeração pediram ajuda ao governo. Assim como os seguidores de Conselheiro, os do monge José Maria foram acusados de serem fanáticos monarquistas. Ameaçados por tropas policiais, os crentes se retiraram para Campos do Irani, no município paranaense de Palmas, onde se instalaram. Foram atacados pela polícia paranaense. José Maria e muitos fieis foram mortos.
A morte do monge ao invés de esvaziar o movimento surtiu efeito contrário. Acreditando na ressurreição de seu líder, os crentes se reorganizaram. Milhares de pessoas aderiram ao movimento formando as chamadas “vilas santas”.
As “vilas santas” foram atacadas pelo Exército, forças públicas estaduais e bandos de jagunços sendo destruídas. Os interesses dos coronéis locais e da empresa do capitalista norte-americano Percival Farquhar, dedicada a exploração e venda de madeira estavam, enfim, resguardados.

O MOVIMENTO OPERÁRIO

O operariado não ficou passivo diante das dificuldades que vivenciaram durante a República Velha. O primeiro partido operário brasileiro, o Partido Operário, foi criado pelos socialistas em 1890 na cidade do Rio de Janeiro. Defendia reformas por meio da colaboração de classes. É obvio que suas propostas não sensibilizaram o patronato e por tabela os trabalhadores.
Enquanto os socialistas do Partido Operário eram favoráveis a uma ação moderada, os anarquistas defendiam ações mais radicais para a imediata conquista de direitos e a destruição da sociedade capitalista. Até a década de 20, o anarquismo, em particular o anarco-sindicalismo, exerceu grande influência sobre o movimento operário brasileiro.

Os anarco-sindicalistas defendiam a tese de que os sindicatos eram os instrumentos fundamentais para deflagrar a luta por melhores condições de vida e pela emancipação social do proletariado. Os anarco-sindicalistas eram partidários da ação direta e negavam qualquer validade às lutas partidárias e parlamentares. Segundo eles a revolução seria feita através de uma greve geral que, vitoriosa, aboliria o Estado; através dos sindicatos seria organizada a nova sociedade.

Para termos uma idéia da organização e da força do movimento operário na República Velha, observemos os seguintes dados: no período que vai de 1900 a 1922 ocorreram 369 greves(sendo 111 entre 1900 e 1910 e 258 entre 1910 e 1920).
Em 1917, ocorreu a primeira greve geral no Brasil. Teve início em uma fábrica de tecidos de São Paulo (Cotonifício Crespi), em reação a tentativa da empresa de prolongar o trabalho noturno sem aumento da remuneração. Os operário entraram em greve exigindo aumento de salários, abolição das multas, mudanças no regimento interno da empresa e regulamentação do trabalho feminino e infantil. A greve se espalhou por outras empresas.
Em um confronto com a polícia, um manifestante foi morto. Esse episódio fez com que o movimento grevista se alastrasse por São Paulo e contagiasse os trabalhadores de outras regiões do país. Rebentaram greves no Rio de Janeiro, Paraná, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O TENENTISMO

O movimento revolucionário que ficou conhecido como Tenentismo pelo fato de estar ligado a jovem oficialidade do Exército, apesar de defender algumas propostas que iam de encontro aos anseios da classe média, não se vinculava ideologicamente com nenhuma classe social. Na realidade não tinham um projeto claro e definido, defendiam a moralização política, a introdução do voto secreto como forma de acabar com a corrupção eleitoral , o fortalecimento do poder central. Para por em prática as suas idéias fizeram em 05 de julho de 1922 o primeiro levante tenentista com o objetivo de derrubar Epitácio Pessoa que estava no final do seu mandato e impedir a posse do presidente eleito Artur Bernardes. Esse episódio ficou conhecido como Os 18 do
Forte de Copacabana.

Os rebeldes foram massacrados, somente dois sobreviveram ao enfrentamento com as tropas legalistas: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
Dois anos após, no dia 05 de julho de 1924, ocorreu a Segunda revolta tenentista, dessa vez em São Paulo. Durante três semanas os paulistas conviveram com violentos confrontos envolvendo os rebeldes e as forças que se mantiveram ao lado do governo. Muitos bairros ficaram em ruínas, centenas de pessoas morreram. Ocorreram saques a lojas e armazéns. As forças do governo em maior número e melhor equipadas impuseram duras derrotas aos rebeldes. Na noite de 27 de julho as tropas tenentistas abandonaram São Paulo rumo ao Sul do país.

Os Tenentes do RS se rebelaram em outubro de 1924, sob a liderança de Luis Carlos Prestes, que anos mais tarde viria ser a maior referência do PCB. Cercados pelos legalistas os tenentes gaúchos conseguiram romper o cerco e rumaram para Foz do Iguaçu, lá se encontraram com as tropas paulistas. Nascia a lendária coluna Prestes – Miguel Costa que em quase dois anos de marcha percorreu cerca de 25.000 km com o objetivo de levar os ideais tenentistas Brasil a fora. Contra a Coluna Prestes foram enviadas tropas do Exército, soldados das forças públicas estaduais, batalhões de jagunços a serviço dos coronéis. Até mesmo Lampião, a pedido do padre-coronel Cícero, se dispôs a enfrentar a lendária Coluna.

Em fevereiro de 1927, já no governo de Washington Luis, a coluna se desfez, seus participantes se exilaram-se na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. É importante frisar que a Coluna Prestes, em todos os confrontos que participou, não conheceu derrota. A partir de então os tenentes tomaram rumos políticos diferenciados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário