Toda
pessoa adulta goste ou não do sabor, sabe o que é alho e muito provavelmente já
ouviu, pelo menos uma vez na vida, o provérbio “não confunda alhos com
bugalhos”, mas poucos se dão conta do que, afinal de contas, significa
“bugalho”. Buscando essa palavra em um dicionário, aprendi que “bugalho” é a
excrescência de qualquer parte do vegetal, produzida pela ação de fungos ou de
insetos. Em outras palavras, o provérbio popular sugere que se separe o produto
desejado, no caso o alho, sem confundi-lo com algum caroço de discutível
semelhança.
Esse
provérbio, de uma certa forma, se ajusta à teoria das inteligências múltiplas e
solicita, portanto, que não se confunda o conceito de “inteligência” com o de
“competência”, “habilidade” ou ainda com conceito de “construtivismo” que já
analisamos outras vezes. Não há mesmo razão alguma para confundi-los.
Inteligência
constitui um potencial biopsicológico que no ser humano ajuda-o a resolver
problemas. Dessa forma representa atributo inato à espécie e assim nascemos com
nossas diferentes inteligências, cabendo ao ambiente no qual se inclui
naturalmente a escola, mais acentuadamente estimulá-las.
A
“competência” não é inata e, portanto, constitui atributo adquirido. Representa
a capacidade de usar nossas inteligências, assim como pensamentos, memória e outros
recursos mentais para realizar com eficiência uma tarefa desejada. Se ao buscar
um destino qualquer descobrimos que a estrada foi interrompida, nossas
inteligências levam-se a essa constatação e a certeza de que se deve buscar
outra saída, mas a forma como faremos determina o grau de competência da
pessoa. Como se percebe, a competência é a operacionalização da inteligência, e
a forma concreta e prática de colocá-la em ação. Assim posto, ao trabalhar as
diferentes inteligências humanas, pode o professor ativar diferentes
competências. Percebe-se dessa maneira que a noção de “competência” surge
quando aparece ou é proposto um problema, pois este desafio é que mostrará a
forma melhor em superá-lo. Superar um problema com competência, entretanto, não
implica que tenhamos habilidade para fazê-lo. A habilidade é produto do treino
e do aprimoramento de nossa destreza.
Para
que esses conceitos se ajustem a prática, desenvolvamos o seguinte exemplo: o
automóvel que nos leva a praia empaca em meio à estrada; nossas inteligências
detectam esse problema e a necessidade em superá-lo. Se tivermos competência
para isso, apanhamos a caixa de ferramentas e colocamo-nos em ação, se não
temos que ao menos tenhamos uma outra competência, a de chamar depressa um
mecânico. Supondo que saibamos consertar a peça defeituosa e, dessa forma,
resolvendo de forma pertinente o problema que nos empaca, o faremos com maior
ou com menor habilidade. Se o problema é histórico em nosso carro e em nossa
vida, provavelmente já conquistamos habilidade maior em substituir ou consertar
a peça defeituosa.
Levando-se
esse exemplo para sala de aula, podemos ao ensinar um ou outro conteúdo
explorar suas implicações lingüísticas, lógico-matemáticas, espaciais,
corporais e outras. Podemos ainda, propondo desafios e arquitetando problemas,
treinar competências nossas e de nossos alunos, verificando que alguns as usam
com notável habilidade, outros com habilidade menor que, com persistência
poderá crescer.
O
trabalho com inteligências múltiplas em sala de aula pressupõe uma reflexão
construtivista, voltada para o despertar progressivo de competências e sua
transferência para vida prática através do desenvolvimento de muitas
habilidades que aos poucos se aprimora. Essa concepção se opõe a idéia de que o
saber transfere-se de uma pessoa para outra como algo que estando pronto vem de
fora e se encaixa na mente do aluno.
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