Segundo Barcelos
(1991 apud Motta, 2008), a conscientização dos processos interativos homem e
ambiente em um país de dimensão continental, das diferenças sociais e
principalmente culturais como as do Brasil, representa um processo lento de
realização e da necessidade de formação de profissionais com preparação
multidisciplinar.
Isso ocorre na
escola. Desde nossa entrada no ambiente escolar temos contato com as várias
possibilidades de caminhos que podemos seguir pelo mundo afora.
A escola também é
nossa orientação em saúde e bem-estar no meio que vivemos e não somente
representa a aquisição de conteúdos didáticos.
Que tal
começarmos, a partir de agora, a ver a escola como promotora da efetividade da
vida inserida no meio ambiente?
Enquanto a
medicina preocupa-se de maneira geral com a saúde do indivíduo, a saúde pública
tem como meta lidar com a saúde coletiva ou das populações.
A vida no planeta
é altamente organizada e obedece a um espectro biológico.
Do mais simples ao
mais complexo, e de forma bastante significativa, temos:
Nessa escala
hierárquica os organismos representariam as unidades com maior nível de
organização.
Mas os organismos
não vivem sós, pois necessitam uns dos outros e em conjunto compõem uma
população.
Populações de
diferentes espécies se inter-relacionam e formam as comunidades.
Estas, porém, não
estão livres no espaço, pois ocupam um lugar representado pelo ambiente.
Quando se estudam
as inter-relações do ambiente com as comunidades, e vice-versa, reporta-se ao
ecossistema.
Uma vez mais no
globo terrestre, os ecossistemas não estão isolados, pois uns se relacionam e
até mesmo trocam materiais com os outros. Não é difícil acreditar que a Terra é
coberta por um mosaico de ecossistemas. O somatório de todos os ecossistemas
que envolvem o planeta constitui o conceito de biosfera. Esta nada mais é que
os espaços no ambiente terrestre nos quais a vida é possível (Natal, 2009).
A saúde pública é
bastante antropocêntrica, pois se preocupa com a condição humana. Assim
considerando, contentar-se com uma abordagem focada na população humana e
concluir que isso é suficiente, e que não necessitaria de uma visão mais complexa,
seria comprometedor.
Mesmo que a
preocupação central seja a saúde humana, no relacionamento desta espécie com
outras (conceito de comunidade) podem surgir muitos agravos, como zoonoses,
parasitoses, doenças transmitidas por vetores, acidentes com animais
peçonhentos, entre outros.
Quando o homem e
outras espécies se relacionam com o ambiente (conceito de ecossistema), uma
série de fatores pode atuar como determinante da saúde ou da doença como o
clima, topografia, posição geográfica, insolação, terremotos, furacões, entre
outros.
Até mesmo uma
preocupação geral com a biosfera torna-se cada vez mais importante, à medida
que se compreende que o homem como gerador de poluição e de outras agressões
pode provocar mudanças na paisagem superficial terrestre (Natal, 2009).
O QUE É
EPIDEMIOLOGIA?
Segundo o mesmo
autor, o leigo compreende que epidemiologia é o estudo das epidemias.
Em certa extensão,
esse entendimento decorrente da interpretação errônea da etimologia, estaria
correto, pois de fato essa ciência também trabalha com as epidemias.
Porém, a
epidemiologia é mais abrangente. Pode-se muito bem abordar agravos não
epidêmicos pela óptica epidemiológica.
Além do mais, na
epidemiologia não se investigam apenas os efeitos representados pelas doenças,
mas volta-se à busca ou definição de seus determinantes.
O desdobramento
dos componentes da palavra, derivados do grego (epi-demio-logia), esclarece
melhor o conceito:
•Epi significa
sobre (entende-se a ocorrência de algum processo sobre a população).
•Demio corresponde
à população afetada por algum processo mórbido, e o último radical significa
estudo.
Nesse sentido,
epidemiologia seria o estudo de algum processo que ocorre sobre a população.
Este processo pode ser interpretado como as doenças que incidem ou como fatores
determinantes que agem.
Na educação
ambiental, discutimos a importância da Epidemiologia vista como disciplina que
debate o processo de geração da doença por meio da atuação de fatores.
Observa-se a
infinidade de novos fatores que estão somando-se aos antigos aos quais o homem
moderno está exposto.
Depreende-se que,
dada a capacidade criativa ou imaginativa do homem, com o avanço científico e
tecnológico, as ações humanas muitas vezes impactam inadvertidamente o
ambiente.
Grande parte dos
fatores ambientais que afetam a saúde humana é de natureza antrópica, ou seja,
é desencadeada pelo próprio homem (Natal, Taipe-Lagos e Rosa, 2009).
Segundo os mesmos
autores, destaca-se no contexto a importância da Epidemiologia Ambiental cuja
ênfase está na discussão dos fatores do meio que atuam na geração de doenças.
Se grande parte
desses fatores é potencializado pela ação ou pelo comportamento humano, então a
educação ambiental, com base no conhecimento gerado pelos estudos
epidemiológicos, poderá priorizar a conquista de comportamentos saudáveis,
protetores da saúde e, ao mesmo tempo, atuar na reversão de comportamentos de
risco.
Portanto, a
educação ambiental necessita da Epidemiologia como base científica
multidisciplinar para auxiliá-la na interpretação de fatores determinantes que
agravam a qualidade de vida humana.
Para conhecermos
um pouco da discussão da escola como promotora de preservação ambiental e da
saúde, vamos ler o texto de Pelicioni (2009):
O movimento
município/cidade saudável não pode prescindir da participação das instituições
educativas, reconhecidos espaços de mobilização da comunidade para atingir os
objetivos a que se propõe realizar. A promoção da saúde no âmbito escolar parte
de uma visão integral e multidisciplinar do ser humano, que considera as
pessoas em seu contexto familiar, comunitário e social. Procura desenvolver
conhecimentos, habilidades e destrezas para o cuidado com a saúde e a prevenção
das condutas de risco em todas as oportunidades educativas. Fomenta uma análise
crítica e reflexiva sobre os valores, condutas, condições sociais e estilos de
vida, buscando fortalecer tudo aquilo que contribui para a melhoria da saúde,
da qualidade ambiental e do desenvolvimento humano. Facilita a participação de
todos os integrantes da comunidade educativa na tomada de decisões, colabora na
promoção de relações socialmente igualitárias entre as pessoas, na construção
da cidadania e democracia, e reforça a solidariedade, o espírito de comunidade
e os direitos humanos.
Durante algum
tempo, a educação na escola centrou sua ação nas individualidades, tentando
mudar comportamentos e atitudes sem, muitas vezes, levar em conta as inúmeras
influências provenientes da realidade socioeconômica, política e cultural na
qual as crianças estavam inseridas.
É necessário
compreender a variedade de fatores que podem afetar a saúde, o meio ambiente e,
consequentemente, a qualidade de vida das pessoas. Essas devem ser as bases
para que a educação e a promoção da saúde sejam colocadas em prática
(Ministério da Educação, 1995).
O princípio da OMS
(Organização Mundial da Saúde) de pensar globalmente e agir localmente passou
também a adequar-se à escola promotora da saúde, levando à adoção de ações
necessárias para a promoção da saúde no ambiente escolar e ações de proteção,
conservação e recuperação do meio ambiente que a circunda, ou seja, do bairro,
da comunidade, da cidade em que está localizada.
A motivação das crianças
e jovens pelos temas ambientais tem se mostrado importante para que o conceito
de escola saudável seja implementado, incluindo o geral e não tratando a saúde
como uma questão unicamente individual, mas como resultante de um meio ambiente
saudável, nos seus aspectos biofísicos e sociais.
Cada vez mais tem
sido aceito que crianças saudáveis aprendem melhor e que professores saudáveis
ensinam melhor.
No entanto, a
escola promotora da saúde não pode ser vista apenas como um sistema eficiente
do ponto de vista educacional, mas também como uma comunidade humana que se
preocupa com a saúde de todos os seus membros: professores, alunos e pessoal
não docente, incluindo aí todos os que se relacionam com a comunidade escolar e
com a qualidade do meio em que vivem. Dessa forma, todas as escolas podem
potencialmente promover a saúde e a proteção do meio ambiente.
A escola saudável
deve então ser entendida como um espaço vital gerador de autonomia,
participação, crítica e criatividade, para que o escolar tenha a possibilidade
de desenvolver suas potencialidades físicas, psíquicas, cognitivas e sociais
(WHOE, 1995).
Mediante a criação
de condições adequadas para a construção do conhecimento, recreação,
convivência e segurança e apoiada pela participação da comunidade educativa,
poderá favorecer a adoção de estilos de vida saudáveis e condutas de proteção
ao meio ambiente, mas, além disso, deve principalmente contribuir para a
formação de cidadãos críticos e aptos para lutar pela transformação da
sociedade e pela melhoria das condições de vida de todos (Pressione e Torres,
1999).
A ideia de uma
escola promotora de saúde é o reconhecimento implícito de que a educação em
saúde e a educação ambiental não se fazem somente por meio do currículo
explícito, partem do programa escolar, mas com ações pedagógicas, de prevenção
e promoção da saúde e de conservação do meio ambiente dirigidas à comunidade,
bem como pelo apoio mútuo entre escola, famílias e comunidade com base no
conceito ampliado de educação.
No entanto, se o
que se ensina não tiver como base os valores e a prática diária das escolas ou
da comunidade as mensagens enfraquecem, não alcançando seus objetivos.
Para se levar a
proposta da escola promotora da saúde à frente, deve-se dar atenção à forma
como se ensina e participa da vida da escola.
Teoricamente, as
escolas promotoras da saúde são aquelas que contam com um edifício seguro e
confortável, com água potável, instalações sanitárias adequadas e uma atmosfera
psicológica positiva para aprendizagem; que possibilitam um desenvolvimento
humano saudável estimula relações humanas construtivas e harmônicas e promovem
atitudes positivas, conducentes à saúde. Na prática, entretanto, nem sempre
isso ocorre.
Uma parte
significativa da função dessas escolas é oferecer conhecimentos e destrezas que
promovam o cuidado da própria saúde e ajudem a prevenir comportamentos de risco
que impeçam a degradação ambiental.
Esse enfoque
facilita o trabalho conjunto de todos os integrantes da comunidade educativa,
unidos sob um denominador comum: melhorar a saúde e a qualidade de vida das
gerações atuais e futuras.
As escolas não
podem ser mudadas da noite para o dia, mas é preciso ser constante no trabalho
empreendido. As pequenas mudanças vão se somando e, aos poucos, se
transformando em grandes mudanças.
A aquisição de
conteúdos relativos à saúde e ao meio ambiente, o ensino de procedimentos e a
formação de valores essenciais para preparar os alunos para a tomada de
decisões racionais e efetivas para a manutenção de uma vida saudável.
Assim, é
necessário não apenas oferecer informações verdadeiras, atuais e confiáveis,
mas promover um processo de assimilação dessas informações.
Qualquer
conhecimento será mais facilmente incorporado se for resultado de discussões
sobre questões solucionadas pelos próprios estudantes e sobre as ações por eles
sugeridas.
Isso vai permitir
que os alunos passem a se responsabilizar e a viver essa experiência.
Por essa razão, é
preciso enfatizar os enfoques de ensino que se baseiem na participação dos
estudantes como sujeitos ativos da sua aprendizagem, requisito imprescindível
para a construção de conhecimentos.
A informação por
si só não leva as pessoas a adotar estilos de vida saudáveis, a lutar por
melhores condições ambientais e de vida, ou a modificar práticas que conduzam à
doença.
A informação é um
aspecto imprescindível da educação, porém deve permitir a promoção de
aprendizagens significativas para que funcione.
O desafio da
educação é propiciar bases para compreensão da realidade a fim de poder
transformá-la. Assim sendo, a escola é um espaço de ensino-aprendizagem,
convivência e crescimento importante, no qual se adquirem valores vitais
fundamentais.
É o lugar ideal
para desenvolver programas de promoção e educação em saúde e de educação
ambiental, de amplo alcance e repercussão, já que exerce grande influência
sobre as crianças e adolescentes nas etapas formativas mais importantes de sua
vida.
É nas idades
pré-escolar e escolar que as crianças adquirem as bases de seu comportamento e
conhecimento, o senso de responsabilidade e a capacidade de observar, pensar e
agir.
A implementação da
saúde pública, utilizando o método epidemiológico sob a ótica de uma abordagem
ecossistêmica, pode ser colocada como um desafio a todos que pretendem amenizar
os problemas relativos às doenças, contribuindo para o estabelecimento de um
ambiente mais saudável e uma melhor qualidade de vida (Natal, 2009). Isso se
inicia na escola.
Cada escola é uma
combinação particular de elementos físicos, culturais, emocionais e sociais que
lhe outorgam um caráter especial e que definem o processo ensino-aprendizagem a
ser desenvolvido, determinando a qualidade da educação que se pretende
(Pelicioni e Torres, 1999).
Desse modo, a
promoção da saúde no âmbito escolar é uma prioridade impostergável.
Assegurar o
direito à saúde, ao meio ambiente saudável e à educação na infância é
responsabilidade de todos.
Cada sociedade
deve investir de forma a gerar, por meio da capacidade criadora e produtiva dos
jovens, um futuro social e humano sustentável (Pelicioni, 2009).
A pobreza é
definida como a incapacidade de satisfazer as necessidades econômicas básicas.
De acordo com um estudo do Banco Mundial, realizado em 2002, metade da
população mundial está tentando sobreviver com menos de US$ 2 por dia e um
quinto dela está lutando para sobreviver com uma renda aproximada de US$ 1 por
dia. Milhões de pessoas nos países em desenvolvimento não possuem moradia e
frequentemente têm de dormir nas ruas (Miller Junior, 2007).
Segundo o mesmo
autor, a pobreza tem vários efeitos prejudiciais à saúde e ao meio ambiente e
tem sido identificada como uma das cinco maiores causas dos problemas
ambientais que enfrentamos.
De acordo com a
maioria dos economistas neoclássicos, uma economia crescente pode ajudar os
pobres ao criar mais empregos, permitindo que mais da riqueza gerada pelo
crescimento econômico chegue às mãos dos trabalhadores e provê mais receita
fiscal que pode ser usada para ajudar os pobres a sua condição.
Para entendermos
os conceitos sobre poluição, vamos acompanhar esse pequeno texto de Miller
Junior (2007):
A poluição é
qualquer acréscimo ao ar, à água, ao solo ou ao alimento que ameace a saúde, a
sobrevivência ou as atividades de seres humanos ou de outros organismos vivos.
Os poluentes podem
entrar no meio ambiente de forma natural (erupções vulcânicas) ou por meio de
atividades humanas (queima de carvão).
A maior parte da
poluição proveniente das atividades humanas ocorre em áreas urbanas e
industriais ou perto delas, onde as fontes de poluição como carros e fábricas
se concentram. A agricultura industrializada também é uma grande fonte de
poluição.
Alguns poluentes
contaminam a área onde são produzidos e outros são transportados pelo vento ou
pela água corrente para outras áreas.
POLUENTES
Fontes pontuais de
poluentes são fontes únicas e identificáveis. Entre os exemplos estão as
chaminés de uma usina de queima de carvão ou de uma indústria, o cano de esgoto
de uma fábrica ou o escapamento de um automóvel.
Fontes
não-pontuais de poluentes estão dispersas e, com frequência, são difíceis de
identificar. Entre os exemplos estão os pesticidas pulverizados no ar ou
levados pelo vento até a atmosfera e o derramamento em córregos e lagos de
fertilizantes e pesticidas utilizados em fazendas, gramados e jardins.
É muito mais fácil
e barato controlar a poluição de fontes pontuais do que de fontes não pontuais
amplamente dispersas.
Os poluentes podem
ter três tipos de efeitos indesejados:
Perturbar ou
degradar os sistemas de suporte à vida para os seres humanos e outras espécies.
Causar danos à
vida selvagem, à saúde humana e à propriedade.
Criar incômodos
como ruído e odores, sabores e visões desagradáveis.
Podemos tentar
evitar a produção de poluentes ou limpá-los após terem sido produzidos.
Utilizamos duas abordagens básicas para lidar com a poluição:
A prevenção da
poluição ou controle de entrada da poluição, que reduz ou elimina a produção de
poluentes.
A limpeza da
poluição ou controle de saída da poluição, que envolve a limpeza ou diluição
dos poluentes após terem sido gerados.
Os cientistas
ambientais identificaram três problemas relacionados principalmente à limpeza
da poluição:
Primeiro, trata-se
apenas de um curativo temporário, caso os níveis de população e consumo
crescerem sem as melhorias tecnológicas para controle da poluição. Por exemplo,
o acréscimo de catalisadores aos sistemas de escapamento de veículos reduziu
algumas formas de poluição do ar. Ao mesmo tempo, o aumento do número de carros
e da distância total que percorrem reduziram a eficácia dessa abordagem de
limpeza.
Segundo, a limpeza
frequentemente retira um poluente de uma parte do meio ambiente, mas causa
poluição a outra. Por exemplo, podemos coletar lixo, mas a seguir ele é
queimado (podendo causar poluição do ar e deixando cinza tóxica que deve ser colocada
em algum lugar), despejado em córregos, lagos e oceanos (podendo causar
poluição da água) ou enterrado (podendo causar poluição do solo e das águas
subterrâneas).
Terceiro, uma vez
que os poluentes se dispersam no meio ambiente em níveis nocivos, fica caro
demais reduzi-los a níveis aceitáveis. A prevenção da poluição (início do
processo) e a limpeza da poluição (fim do processo) são necessárias. Os
cientistas ambientais e alguns economistas recomendam que coloquemos mais
ênfase na prevenção, pois ela funciona melhor e é mais barata que a limpeza.
Controle ambiental
de resíduo (texto de Tenório e Espinosa, 2004)
Em linhas gerais,
na cadeia alimentar o ciclo de vida está fechado, ou seja, a transmissão de
matéria e de energia passa de um nível para outro de forma harmônica e,
teoricamente, sem perdas.
Aparentemente, o
homem seria o único agente gerador de resíduos causados pelos padrões de
consumo da sociedade atual. Ora, essa formulação é bastante simplista, mas
serve como ponto de partida para uma pequena reflexão.
Na verdade, o
conceito de cadeia alimentar não é tão fechado nem tão perfeitamente
sustentável assim. O que efetivamente acontece é que, mesmo em espécies mais
simples, ocorrem perdas e geração de resíduos e esses não seriam contabilizados.
Portanto, o sistema não é tão perfeito quanto se imaginaria no início.
Verifica-se que
esses eventuais desequilíbrios são sempre muito pequenos, uma vez que as
populações são quase sempre pequenas. Muitas vezes, fenômenos naturais
localizados são suficientes para desfazer a harmonia local, causando mudanças
nos ciclos e nas cadeias alimentares. Entretanto, em muitos casos, o sistema
tem mecanismos para estabilizar o eventual desequilíbrio local a médio e longo
prazos.
Desse modo, o ser
humano não é o único agente causador de desequilíbrio localizado. Contudo, o
homem tem uma capacidade que o torna único dentro desse quadro, uma vez que é
capaz de transformar em larga escala os materiais e tornar estáveis substâncias
e produtos. O homem coloca produtos em formas que o meio naturalmente não
conhece e não tem capacidade de absorção nem mesmo em longo prazo.
Ainda assim, o
homem não seria capaz de gerar uma instabilidade tão grande a ponto de
comprometer sua existência, mas a capacidade do homem de efetivamente
transformar a matéria-prima natural, por meio de processos de larga escala, não
deve ser desprezada.
O agravamento só
fica claro quando se une a essa capacidade o fenômeno do crescimento
populacional observado nas últimas gerações. Adicione, ainda, o fato de o
crescimento da população ter ficado concentrado principalmente nas cidades.
Portanto, os problemas associados ao crescimento da população ficam restritos a
pequenas regiões.
Os progressos da
humanidade aumentaram a qualidade e a duração da vida. A contrapartida é um
padrão de consumo que demanda matérias-primas, o que de certa forma pode
comprometer a qualidade de vida das gerações futuras.
Esse compromisso
com as gerações futuras é o princípio do que se denomina crescimento
sustentável. Assim, espera-se que esta geração e as futuras usem a capacidade
que o homem possui de transformar as matérias, porém de forma sustentável.
Os conceitos de
resíduos e lixo são bastante próximos e, muitas vezes, entende-se que ambos
sejam sinônimos. Em um dicionário da língua portuguesa encontram-se:
RESÍDUO
Remanescente;
aquilo que resta de qualquer substância; resto; o resíduo que sofreu alteração
de qualquer agente exterior, por processos químicos, físicos etc.
LIXO
Aquilo que se
varre da casa, do jardim, da rua e se joga fora; entulho; tudo o que não presta
e se joga fora; sujidade, sujeira, imundice; coisa ou coisas inúteis, velhas,
sem valor.
A semelhança está
clara e é quase impossível perceber as diferenças, segundo esses conceitos.
Todavia, do ponto de vista ambiental, existem três grandes diferenças de
poluição: a poluição atmosférica, a contaminação das águas e os resíduos
sólidos. Assim, as palavras resíduos e sólidos possuem um significado técnico,
específico e definido por norma técnica.
Segundo a NBR 10004/1987,
define-se resíduo sólido como:
Resíduos no estado
sólido e semissólido, que resultam de atividades da comunidade, de origem:
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de
varrição.
Consideram também
resíduos sólidos os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água,
aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como
de determinados líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpo d’água, ou exijam para isso
soluções técnicas e economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia
disponível.
Destaca-se que a
norma classifica resíduos no estado líquido como resíduos sólidos, o que é bem
compreensível quando se pensa na divisão da poluição em três categorias.
O conceito de
resíduo tem sempre embutido o aspecto de serventia e de valor econômico para
seu possuidor.
Segundo a
Constituição Federal de 1988, no artigo 30, cabe ao poder público local a competência
pelos serviços de limpeza pública, incluindo-se a coleta e a destinação dos
resíduos sólidos urbanos.
A taxa de limpeza
pública é um instrumento legal que estabelece o suporte financeiro para a
execução dessas metas. A Constituição Federal, no artigo 145, inciso II,
estabelece as taxas como forma de tributo possível para a execução de serviços
públicos prestados ou postos a disposição do contribuinte. Os recursos da taxa
de limpeza pública normalmente estão, de alguma forma, vinculados ao imposto territorial,
que tem como base de cálculo a área da edificação.
Em grande parte
dos municípios brasileiros, os recursos oriundos da taxa de limpeza pública não
cobrem as despesas necessárias à prestação do serviço. Assim, o restante dos
recursos necessários deve vir de outras fontes de arrecadação.
Fica claro que a
gestão de serviços de limpeza pública está, de maneira intransferível, a cargo
de órgãos públicos, cabendo a estes a opção de executar os serviços diretamente
ou terceirizá-los em contratos específicos.
Durante muitos
anos o descarte de resíduos em aterros sanitários foi o único procedimento
adotado. Mesmo a incineração era vista apenas como um método de redução de
volume dos resíduos, com a única função de aumentar a capacidade desses
aterros.
O descarte
indiscriminado de resíduos tóxicos por anos seguidos provocou episódios
lamentáveis do ponto de vista ambiental. Um dos casos mais conhecidos é o de
Love Canal, nos Estados Unidos, que ficou marcado como um símbolo de
contaminação ambiental por resíduos tóxicos.
A região de Love
Canal foi usada na década de 40, principalmente pela Hoover Chemical Co., como
local para o descarte indiscriminado de resíduos industriais perigosos. A
partir da década de 1960, o local onde estava localizado o antigo depósito
começou a ser urbanizado, com a construção de centenas de casas na comunidade.
Na década de 1970,
um odor forte começou a assolar a região. Esse odor causava náuseas e ardência
nos olhos dos moradores. Pesquisas na região mostraram que pelo menos centenas
de tipos de enfermidades atacavam os moradores daquela comunidade,
principalmente as crianças. A dioxina foi identificada como o principal
contaminador.
A United States
Environmental Protection Agency (USEPA) condenou a região para fins
habitacionais e até hoje ela passa por um processo de descontaminação.
Isso levou à
revisão da política de descartes de resíduos em aterros, com um aumento
rigoroso na classificação do tipo de resíduo que pode ser descartado
diretamente.
A incineração
também não apresenta uma solução definitiva, já que os resíduos tratados por
este método sofrem, principalmente, uma redução de volume pela destruição da
parte orgânica e evaporação da água.
Além disso, há a
geração de cinzas no processo, que representa a parte inorgânica do resíduo
formada basicamente por metais. Esses são oxidados durante a combustão formando
um resíduo que, de uma forma geral, deve ser descartado com cuidado, pois houve
a concentração de elementos antes diluídos.
Os grupos
ambientais monitoram as atividades ambientais, trabalham para aprovar e
fortalecer leis ambientais e trabalhar com as corporações a fim de encontrar
soluções para os problemas ambientais.
A liderança da
conservação global e do movimento ambiental consiste em mais de 100 mil ONGs
sem fins lucrativos, que trabalham nos níveis local, estadual, nacional e
internacional– provenientes de cerca de dois mil grupos existentes desde 1970.
A influência crescente dessas organizações é uma das mudanças mais importantes
relacionadas a decisões e políticas ambientais.
As ONGs vão desde
grupos populares, que têm apenas alguns membros, a organizações globais, como o
Fundo Mundial para a Natureza (WWF), com cinco milhões de membros e escritórios
em 48 países. Outros grupos internacionais com grande quantidade de membros
incluem o Green Peace, World Wildlife Fund, a Nature Conservancy, o Grameen
Bank e o Conservation International.
Nos Estados
Unidos, mais de oito milhões de cidadãos pertencem a mais de 30 mil ONGs que
lidam com os problemas ambientais. Elas vão de pequenos grupos populares a
grandes grupos que recebem pesados investimentos, constituídos por experientes
advogados, cientistas e economistas.
Os grandes grupos
tornaram-se poderosas e importantes forças dentro do sistema político. Eles
persuadiram o Congresso dos EUA a aprovar, fortalecer leis ambientais e a
trabalhar para lutar contra as tentativas de enfraquecer ou banir tais leis.
Algumas indústrias
e grupos ambientais estão trabalhando juntos para encontrar soluções para os
problemas relacionados ao meio ambiente. Por exemplo, o Envirommental Defense
eliminar as embalagens plásticas dos hambúrgueres e com a General Motors para
banir os carros poluentes das estradas.
Uma rede mundial
de ONGs populares conectadas e trabalhando em conjunto por mudanças políticas,
sociais e econômicas, de baixo para cima, pode ser vista como um movimento de
sustentabilidade global emergente com bases nos cidadãos.
A internet está
informando e conectando uma comunidade global de cidadãos na medida em que as
pessoas começam a colaborar para atingir a mudança ambiental, social e
econômica.
O controle de cima
para baixo, feito por corporações e governos, está enfraquecendo. Segundo o
educador ambiental David W. Orr, “não é possível organizar nossos negócios
durante muito tempo em torno da ganância, ilusão e inimizade”.
Esses grupos
trabalharam com indivíduos e comunidades para se opor a projetos prejudiciais
como aterros, incineradores de resíduos, acúmulo de resíduos nucleares,
desmatamento de florestas, poluição gerada por fábricas, refinarias e uma
variedade de projetos de desenvolvimento. Eles também tomaram medidas contra a
injustiça ambiental.
Alguns grupos
ambientais populares usam táticas não violentas e não destrutivas como marchas
de protesto, moradia em árvores e outros meios, a fim de gerar publicidade para
ajudar a educar e influenciar a população para que se oponha a várias
atividades que prejudicam o meio ambiente.
Muito mais
controversos são os grupos ambientais militantes, que usam meios violentos para
atingir seus objetivos.
A maioria dos
ambientalistas se opõe a estas ações.
Em seus
primórdios, o setor produtivo considerava a questão ambiental como um fator de
incremento de custos. Não imputava a devida importância e se limitava a adotar
as medidas necessárias para não incorrer em multas pelo não cumprimento da
legislação ambiental. Somente os departamentos de marketing percebiam a questão
como uma grande oportunidade para a empresa (Lima Barata, 2005).
Os acidentes
ambientais ocorridos nas últimas décadas com empresas do setor químico foram
notabilizados publicamente por alguns exemplos: a explosão química na
Hoffman-LaRoche, em Seveso (Itália, 1976); o vazamento de pesticidas em Bhopal
(Índia), pela Union Carbide (1984), e o vazamento de óleo no Alaska, pela Exxon
(1989), implicaram na necessidade de pagamento de elevadas indenizações e em
uma má imagem para o setor que apresentou baixo índice de aceitação pública em
1989, conforme o mesmo autor afirma.
Segundo ainda Lima
Barata (2005), com a ocorrência dos acidentes ambientais, os setores de maior
potencial poluidor ficaram com sua imagem abalada junto à sociedade dos países
desenvolvidos e afetados.
Acabaram sendo
pressionados por empresas, seguradoras, legislações mais restritivas,
investidores e acionistas a adotar medidas que resultassem em maior controle
sobre os potenciais riscos de degradação ambiental em todo o seu segmento
produtivo instalado pelo mundo. As auditorias ambientais foram inicialmente
adotadas com este propósito.
Em um segundo
momento, segmentos empresariais dos setores cuja imagem fora mais abalada
incorporaram e integraram o conceito de gestão ambiental em todos os níveis de
gestão nas respectivas empresas. A incorporação da variável ambiental na sua
gestão é acompanhada de estímulo a que este seja um fator de incremento de
competitividade para estas empresas, mas isto só ocorrerá se este for um
diferencial solicitado pelo cliente ou se os regulamentos referentes à variável
em questão tiverem um rigor capaz de impedir a atuação de empresas que não os
atendam ou se possibilitar redução nos custos da empresa e, consequentemente,
dos preços de seus produtos (Lima Barata, 2005).
Segundo Porter
(1991, apud Lima Barata, 2005), a vantagem competitiva da empresa pode ser
alcançada mediante liderança em custo ou estratégia de diferenciação.
Assim, ao integrar
os aspectos da qualidade total do seu processo produtivo, a empresa permite que
o gerenciamento ambiental torne-se parte da estratégia da corporação, onde os
ganhos obtidos nos processos produtivos e na qualidade dos produtos,
resultantes da inserção da variável ambiental no sistema de gestão da empresa,
podem trazer vantagem competitiva que compense o maior custo financeiro.
Para finalizar a
questão da gestão ambiental, Lima Barata (2005) coloca que a vantagem
competitiva das empresas “ambientalmente corretas” é alcançada na medida em que
as empresas aplicam-se em conseguir que os consumidores/clientes de seus
produtos demandem este elemento diferencial, através de um amplo trabalho de
“marketing”, “brenchmarketing”, dentre outros e que atuem junto a entidades do
governo, pesquisadores e a sociedade civil organizada, fomentando e auxiliando
na criação de mecanismos e padrões para a obtenção de melhoria na qualidade do
ambiente.
Conclusão
Percebemos que a
relação da sociedade com o meio na questão de poluição, incluindo os resíduos,
é efetiva. A poluição é dos homens para os homens, pois nem todos os organismos
possuem os mesmos índices de potabilidade de água e de qualidade de ar que os
nossos. Muitos animais sobrevivem da interação com o nosso lixo e esgoto (exemplo
disso são os muitos insetos e alguns mamíferos, como os ratos).
Basta notarmos a harmonia entre os processos
da natureza e tentar não rompê-los ou alterá-los com nosso consumismo,
superpovoamento e ganância em explorar os recursos naturais.
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