"Escritores da Liberdade" é um filme baseado numa história
real, que trata de realizações face à adversidade. Em 1994, na sala 203 de uma
escola em Long Beach, Califórnia, uma professora de literatura chamada Erin
Gruwell, enfrentou sua primeira classe de alunos, rotulados pela administração
do colégio como adolescentes "em risco" ou "problemáticos".
Este drama racial possui tantos estereótipos quanto
o cinema americano pode proporcionar. Na maioria dos casos, isso seria
considerado algo ruim, visto que essa característica tem como ponto negativo
enfraquecer personagens e torná-los facilmente esquecíveis tão logo o filme
termine. A película, porém,
trata justamente da discussão do quão prejudicial é tratar pessoas como meros estereótipos.
E faz isso com habilidade e, infelizmente, também com um pouco de ingenuidade.
Mas falemos sobre os pontos negativos mais tarde, pois o filme é muito bom.
Não são incomuns
pessoas que vêem outras nas ruas e julgam-nas pela aparência, automaticamente.
Às vezes sem malícia, pois faz parte da [má] formação educacional da pessoa.
“Loira burra”, “pobre ignorante”. Estas são algumas dessas pré-concepções.
Escritores da Liberdade, porém, trata de grupos raciais que se colidem, por
terem que viver no mesmo ambiente: negros, hispânicos e orientais, todos
estudando no mesmo colégio. Fazem parte de gangues e vivem em um lugar muito
violento. Não dão importância ao estudo e sabem que a expectativa de vida é
baixa para muitos deles. Um velho quadro, já muito explorado no cinema
norte-americano, o que pode trazer desconfiança a muitos espectadores. O que,
afinal, Escritores da Liberdade tem a oferecer de novo?
Não muito,
realmente. O filme ingênuo e muito óbvio, vários conflitos são completamente
previsíveis. Esse tipo de personagem da professora, idealista e dedicada, já
foi imensamente explorado em outros filmes de mesmo tema, como Ao Mestre Com
Carinho, O Clube do Imperador e Sociedade dos Poetas Mortos.
Apesar dos clichês, o filme conta com boas interpretações e sua mensagem é
muito bela para ser ignorada.
A atriz que
interpreta a professora consegue demonstrar a complexidade da situação da
professora, que passa por altos e baixos na vida profissional e familiar. Fica
bem fácil torcer pelo seu sucesso, e o fato de a personagem ser baseada em
alguém real (no finalzinho há uma foto da Erin real, junto de uma turma real)
torna os acontecimentos mais interessantes e intensos; desta forma, a falta de
originalidade de sua personagem não é exatamente um ponto negativo.
Felizmente, a boa
qualidade do elenco não pára com Swank (interprete da professora). Os alunos,
apesar de vivenciarem tipos conhecidos, demonstrar saber lidar com emoções
variadas e, fora um ou outro problema com alguns personagens (Eva, por exemplo,
não possui justificativa coerente para ter ficado “boa” tão rapidamente), todo
o elenco leva o filme com competência. Há, claro, personagens maus, como o racista
professor sênior ou a diretora Margaret, mas o diretor e roteirista do filme optou
por não dar muita notoriedade a eles e centrar a história sobretudo nos alunos
e na professora, o que foi fundamental para que o ritmo do filme permanecesse
agradável.
Uma cena que merece destaque, ocorre dá quando uma caricatura racial de
um dos estudantes afro-americano circula a sala de aula, a professora
interceptou irritadamente o desenho e comparou-o às caricaturas dos judeus,
feitas por nazistas durante o holocausto. Os estudantes responderam de forma
confusa à sua comparação o que chocou a professora ao descobrir que muitos de
seus alunos nunca tinham ouvido sobre holocausto. Entretanto, quando perguntou
quantos em sua classe tinham sido alvos de disparos, quase todos levantaram as
mãos. Isto deixou-a chocada, porém inspirada a não desistir dos alunos. A professora pergunta a seus alunos se estes
conhecem o que é "Alchwitz", o campo de concentração; todos ignoram o
que seja ou tenha sido, então ela explica-lhes o que é e sobre o horror de uma
guerra e as conseqüências que dela se podia ter. Leva-os a um museu da 2º
Guerra Mundial, onde estes podem ver através de fotos, as imagens da atrocidade;
atinge-lhes o cerne da sensibilidade; que guerras não levam a nada a não ser à
morte, e neste ponto o filme mostra como
utilizar estereótipos em favor de uma boa história.
Percebe igualmente a professora que mais do que tentar estabelecer o
resultado pretendido através de coerção, é preciso se colocar no mesmo nível de
pensamento e entendimento daquela realidade, permitindo que aqueles alunos
sejam ouvidos e possam se expressar.
Assim, pede que os mesmos escrevam sobre o que quiser em um caderno
individual que será posto no armário, para que ela leia ao final de cada aula.
Aos poucos seus alunos vão passando para o papel, suas experiências de vida,
seus sonhos, medos e anseios, expondo seus pensamentos antes nunca falados.
Transforma-os gradativamente, em seres pensantes, questionadores, sonhadores e com esperança. Mostra o quanto é possível a transformação através da educação e do respeito e entendimento ao outro.
Promovendo uma filosofia educacional que avalie e promova a diversidade,
transformou a vida dos seus alunos. Incentivou-os a reavaliar a opinião rígida
sobre o outro, reconsiderar decisões diárias, e ao repensar seus futuros. Com o
apoio constante da professora, seus alunos quebram estereótipos para
transformarem-se em pessoas críticas, estudantes universitários de aspiração, e
cidadãos para a mudança. Nomearam-se a si mesmos de "os escritores
liberdade" – em homenagem aos ativistas dos direitos civis os
"Cavaleiros da Liberdade" (Freedom Riders), jovens negros e brancos,
intelectuais, artistas e religiosos, que partiam do norte dos Estados Unidos na
década de 1960 em caravanas em direção ao Sul, para pressionar as autoridades
locais a pôr fim na segregação.
No momento em que nomearam-se "escritores da liberdade" os estudantes da sala 203 converteram-se de um grupo de estudantes apáticos para um grupo de estudantes motivados, pensantes e responsáveis por tomar suas próprias decisões. De acordo com determinada concepção de liberdade tornaram-se indivíduos livres.
Em Filosofia liberdade possui "três significados fundamentais”, correspondentes a três concepções que se sobrepuseram ao longo de sua história e que podem ser caracterizadas da seguinte maneira:
1ª Liberdade como autodeterminação ou autocausalidade, segundo a qual a
Liberdade é a ausência de condições e de limites;
2ª Liberdade como necessidade, que se baseia no mesmo conceito da
precedente, a autodeterminação, mas atribuindo-a à totalidade a que o homem
pertence (Mundo, Substância, Estado);
3ª Liberdade como possibilidade ou escolha, segundo a qual a liberdade é
condicionada (...) As disputas metafísicas, morais, políticas, econômicas,
etc., em torno da Liberdade são dominadas pelos três conceitos em questão, aos
quais, portanto, podem ser remetidas as formas específicas de Liberdade sobre
as quais essas disputas versam.
Embora bastante
previsível em muitos aspectos, Escritores da Liberdade é também uma pequena e
agradável surpresa. Espectadores que se emocionam com facilidade, e que gostam
disso, vão encontrar neste filme um agradável prazer. É um trabalho altamente
manipulativo, mas demonstra com qualidade que, com grande esforço e muita
coragem, é possível sim mudar a sociedade, nem que seja uma pessoa por vez. Ou
uma turma de alunos por vez. Piegas, é verdade, mas verdadeiro. Divertido e
emocionante e, portanto, recomendável.
Olá, me chamo Daniele e possuo um blog chamado "Para pessoas inteligentes", gostaria de repostar algumas de suas resenhas, tenho permissão para fazer?
ResponderExcluirOlá Daniele, Fique às ordens para usar este ou qualquer outro texto que julgue interessante....
ExcluirUm grande abraço
Boa crítica, apesar dos clichês tão comuns, o filme é uma historia real e altamente educativa e não deveria ser criticado pelos supostos erros,(que ao meu ver, não houve), pois acaba generalizando um trabalho de alto nível de produção, e sim pelo lado bom, pois o filme é incrivel e contagiante...só não entendo pq a mídia não deu a devida atenção a esse filme que acabou passando de madrugada sem nenhum anuncio!!
ResponderExcluirImperdívil!!!