A origem dos preconceitos raciais se perdem nos tempos.
Modernamente, porém, o racismo adquiriu relevância teórica com a obra de José
Arthur, o conde Gobineau - Ensaio sobre a desigualdade da raça humana (Essai
sur l'inégalité des races humaines), de 1853-5, considerada a bíblia do
racismo moderno.
Afirmava ele a superioridade geral da raça branca sobre as outras,
e a dos arianos, identificados como os louros de descendência germânica, sobre
os demais brancos. Gobineau interpretou a história pelo prisma do conflito de
raças e acreditava, por exemplo, que a Revolução Francesa de 1789 foi uma
vitória da raça inferior, a de origem celta-romana que ainda sobrevivia na
França e que aproveitou a ocasião do assalto à Bastilha para vingar-se dos
francos-germanos que, desde o século V, eram a raça dominante no país. Desde
então, para Gobineau a França decaíra. No ensaio, o Conde caiu no inteiro
agrado do círculo de Wagner, que o jovem professor Nietzsche então freqüentava.
O mais conhecido seguidor e divulgador do ideário racista na
Alemanha foi o inglês Houston S.Charmberlain, membro da Sociedade Gobineau e
genro de Richard Wagner, que apesar de ser um gênio musical tornara-se um
anti-semita fóbico. Chamberlain, que viveu a maior parte do tempo na Alemanha,
onde publicou Os fundamentos do Século XIX (Die Grundlagen des
Neunzehnten Jahrhunderts) em 1899 - consagrando-se como o verdadeiro
"imperador da antropologia alemã" -, defendia a tese de que era
inquestionável a superioridade do ser teutônico, louro, alto e dolicocéfalo,
sobre todos os demais. Para ele, o homem perfeito, superior, correspondia em
geral ao tipo nórdico.
Os alemães, para ele, eram o povo mais bem dotado entre todos os
europeus, estando bem mais acima do restante da raça branca. A enorme acolhida
que sua obra teve naquela época na Alemanha explica-se por ela ter sido
contemporânea ao império guilhermino, então no seu apogeu. O II Reich alemão,
formado em torno da Prússia depois que ela alcançou a vitória na guerra de 1870
contra a França, fez da antiga Germânia a maior potência industrial e militar
do mundo de antes da Primeira Guerra Mundial. O livro de Chamberlain, como não
poida deixar de ser, inflava de orgulho os alemães ao associar a
excepcionalidade do momento em que viviam como resultante de um feliz destino
racial, determinado pela própria natureza.
Para ele e para os historiadores racistas que o seguiam, a queda
do império de Roma deveu-se aos romanos terem-se descuidado da manutenção e
preservação da sua superioridade racial. Ao se miscigenarem (mistische)
com os povos vencidos, inocularem-se com sangue da raças derrotadas, o que os
levou a um enfraquecimento genético e à inevitável decadência. Uma política que
almejasse o apuro racial era a conseqüência lógica a ser rigorosamente adotada
por qualquer povo consciente da sua superioridade étnica que desejasse manter
elevada a sua cultura e o seu domínio.
GOBINEAU - UM RACISTA NO BRASIL
Um Racista no Brasil
"Je trouve à ce pays un climat détestable/Je n'en garderai pas un fort bon souvenir/ L'air est souvent brumeux el le froid redoutable/ On ne m'y verra pas de longtemps revenir"("Encontro nesse país um clima detestável/ dele não guardarei boa recordação/ o ar é freqüentemente nublado e o frio terrível/ para lá não voltarei tão cedo")
Conde de Gobineau - Amadis, 1876
Paisagem do Rio de Janeiro imperial
Mal o conde Gobineau colocou os pés no cais da Baía da Guanabara, declarou guerra aos da terra. Não hesitou muito em classificar o país como um império de malandros. O calor, as baratas, os insetos de todos os tamanhos, os ratos audazes que cruzavam as casas por todos os lados, as cobras que passeavam pelos jardins, sapos grandes como cachorros, e até vôos rasantes de morcegos fizeram com que ele imaginasse se encontrar num anexo do inferno. E, olhando aquilo tudo, indiferente, com um cigarro enfiado na orelha e um palito no canto da boca, eis o carioca, um contumaz vadio incapaz de qualquer iniciativa.
Beleza sem "natureza moral"
Gobineau no Brasil, ao contrário de Tocqueville na América do Norte, não percebera, ou não quis ver, que o problema da pouca dedicação ao trabalho com que ele se deparou no Brasil devia-se à existência da escravidão. Enquanto Tocqueville, ao comparar os estados de Ohio (livre), com o Kentuky (escravista), deixou páginas de inteligente observação sobre os estragos que o regime servil provocava nos brancos sulistas, deixando-os apáticos, menosprezando o esforço físico, o conde Gobineau atribuía a malevolência que encontrou no Brasil ao miscigenismo. O Rio de Janeiro, disse ele, assemelhava-se a "uma bonita donzela inculta e selvagem que não sabe ler nem escrever", uma paisagem exuberante emoldurada com florestas sensacionais, mas que não estavam impregnadas de "natureza moral". Naquele descalabro - onde o até o círculo diplomático encontrava-se "estagnado em sua própria imbecilidade" - salvava-se o imperador.
Medo da Miscigenação
Ambulantes no Rio de Janeiro
D. Pedro II, homem culto, estimava Gobineau, reservando-lhe horas de boa e variada conversa, não evitando, entretanto, que ele fosse também um outro francês acometido por um "terror religioso" no Novo Mundo. O medo dele porém era outro. Não temia a democracia que por aqui não havia, mas sim um mundo devastado pela miscigenação, quando não pelo absoluto reino da vadiagem. O mau humor de Gobineau nunca o abandonou, mesmo com o imperador correspondendo-se com ele até um pouco antes da sua morte, em 1882, parece que nunca deixou de praguejar contra o que viu no Brasil.
"Je trouve à ce pays un climat détestable/Je n'en garderai pas un fort bon souvenir/ L'air est souvent brumeux el le froid redoutable/ On ne m'y verra pas de longtemps revenir"("Encontro nesse país um clima detestável/ dele não guardarei boa recordação/ o ar é freqüentemente nublado e o frio terrível/ para lá não voltarei tão cedo")
Conde de Gobineau - Amadis, 1876
Paisagem do Rio de Janeiro imperial
Mal o conde Gobineau colocou os pés no cais da Baía da Guanabara, declarou guerra aos da terra. Não hesitou muito em classificar o país como um império de malandros. O calor, as baratas, os insetos de todos os tamanhos, os ratos audazes que cruzavam as casas por todos os lados, as cobras que passeavam pelos jardins, sapos grandes como cachorros, e até vôos rasantes de morcegos fizeram com que ele imaginasse se encontrar num anexo do inferno. E, olhando aquilo tudo, indiferente, com um cigarro enfiado na orelha e um palito no canto da boca, eis o carioca, um contumaz vadio incapaz de qualquer iniciativa.
Beleza sem "natureza moral"
Gobineau no Brasil, ao contrário de Tocqueville na América do Norte, não percebera, ou não quis ver, que o problema da pouca dedicação ao trabalho com que ele se deparou no Brasil devia-se à existência da escravidão. Enquanto Tocqueville, ao comparar os estados de Ohio (livre), com o Kentuky (escravista), deixou páginas de inteligente observação sobre os estragos que o regime servil provocava nos brancos sulistas, deixando-os apáticos, menosprezando o esforço físico, o conde Gobineau atribuía a malevolência que encontrou no Brasil ao miscigenismo. O Rio de Janeiro, disse ele, assemelhava-se a "uma bonita donzela inculta e selvagem que não sabe ler nem escrever", uma paisagem exuberante emoldurada com florestas sensacionais, mas que não estavam impregnadas de "natureza moral". Naquele descalabro - onde o até o círculo diplomático encontrava-se "estagnado em sua própria imbecilidade" - salvava-se o imperador.
Medo da Miscigenação
Ambulantes no Rio de Janeiro
D. Pedro II, homem culto, estimava Gobineau, reservando-lhe horas de boa e variada conversa, não evitando, entretanto, que ele fosse também um outro francês acometido por um "terror religioso" no Novo Mundo. O medo dele porém era outro. Não temia a democracia que por aqui não havia, mas sim um mundo devastado pela miscigenação, quando não pelo absoluto reino da vadiagem. O mau humor de Gobineau nunca o abandonou, mesmo com o imperador correspondendo-se com ele até um pouco antes da sua morte, em 1882, parece que nunca deixou de praguejar contra o que viu no Brasil.
Muito bom trabalho. Tenho blogs e me esforço (tempo) para difundir conceitos que criem mentalidades universalistas, sem qualquer ordem de preconceito, sectarismo.
ResponderExcluirOla Gisele.
ResponderExcluirNavegando nesse extenso mar da Internet, encontrei esta nau de excelentes informação e por um momento me detive ao lê-lo. Parabéns por este post, continuarei a visitar teu blog, pois muitas e interessantes coisas estão aqui para serem exploradas.
Respeitosamente
Prof. Pedro
Obrigada Professor.
ExcluirBom trabalho de pesquisa.Gostaria de saber se foi GOBINEAU o autor da famosa observação: " O Brasil que não trate de embranquecer sua população, ou terá problemas " ou algo muito parecido.
ResponderExcluirBom trabalho de pesquisa.Gostaria de saber se foi GOBINEAU o autor da famosa observação: " O Brasil que não trate de embranquecer sua população, ou terá problemas " ou algo muito parecido.
ResponderExcluirO MAIOR RACISTA DO MUNDO É AQUELE QUE DIZ QUE É O "POVO ELEITO" POR DEUS! OS OUTROS SÃO SÓ UNS AMADORES!
ResponderExcluirParabéns adorei seu trabalho, foi a primeira vez que li seu post, com certeza voltarei a vê-lo novamente, obrigado pelo seu trabalho.
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