Segundo Vygotsky, a aprendizagem da linguagem
escrita depende de um exercício artificial que requer atenção e esforço tanto
do educador quanto do educando, nesse processo o professor é portador do
conhecimento da escrita, sendo o próprio quem ensina a criança a desenhar
letras e construir palavras.
Para o
autor os gestos da criança estão ligados à origem dos signos escritos, o
primeiro deles são os rabiscos e desenhos das mesmas são vistos mais como
gestos do que como desenhos em sua essência onde são impressas nesses desenhos
as qualidades gerais do objeto ilustrado, o segundo gesto de atividades resulta
nos jogos das crianças que advém da união entre gestos e linguagem escrita,
pois é por meio da brincadeira que a criança se comunica e indica o significado
dos objetos integrantes da brincadeira, pois estes cumprem função de
substituição e somente os gestos adequados conferem a eles os significados.
Vygotsky
fundamenta seus textos em estudos realizados por Baldwin, Wurth, Hetzer,
K.Buhler, Sully, Luria, Burt e Montessori. K.Buhler afirma que o desenho tem
início quando a linguagem falada se torna hábito e no mesmo campo de estudo
Sully afirma que as crianças são simbolistas, pois se preocupam com a
representação em seus desenhos.
Nesse
contexto, a linguagem verbal é base para a linguagem gráfica e a criança aos
poucos transforma os rabiscos simbólicos em figuras e desenhos que por vez são
substituídos por signos e este processo caracteriza a passagem da escrita
pictográfica, para a ideográfica. O autor afirma que a criança deve ver
significado na escrita e reconhecer esta como uma tarefa necessária e
fundamental para a vida e a aprendizagem dessa linguagem como natural ao
desenvolvimento humano.
Segundo a teoria de Vygotsky, as crianças são ensinadas a desenhar
letras e construir palavras; se preocupam com a mecânica de ler o que está
escrito e se esquecem da linguagem escrita.
Diferentemente do ensino da linguagem falada, que a criança desenvolve
sozinha, o ensino da
linguagem escrita precisa de um treinamento artificial que requer grande
atenção e esforço de professores e alunos.
Para o autor, até então a psicologia havia considerado a escrita como
uma complicada habilidade motora, da pouca atenção a linguagem escrita como
tal, isto é, um sistema particular de símbolos e signos cuja dominação
prenuncia um ponto crítico em todo
desenvolvimento cultural da criança.
Segundo Vygotsky, um aspecto desse sistema é que ele constituiu um
simbolismo de segunda ordem. Isso significa que a linguagem escrita é
constituída por um sistema de signos que designam os sons e as palavras da
linguagem falada, os quais são signos das relações e entidades reais. Parece claro
que o domínio de tal sistema complexo de signos não pode ser alcançado de
maneira puramente mecânica e externa, ao invés disso, esse domínio é o culminar
na criança, de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais
complexas.
A história do desenvolvimento da linguagem escrita oferece as
metamorfoses mais inesperadas, isto é, transformações de algumas formas
particulares de linguagem escrita em outras.
Vygotsky usa expressões de Baldwin referente
ao desenvolvimento das coisas. Às vezes sua linha de desenvolvimento parece
desaparecer completamente, quando, como que do nada, surge uma nova linha, e
parece não haver continuidade alguma entre a velha e a nova. Somente a visão
ingênua de que o desenvolvimento é um processo puramente evolutivo, envolvendo
nada mais do que acúmulos graduais de pequenas mudanças e uma conversão gradual
de uma forma em outra.
O gesto é o signo visual inicial que contém a futura escrita da criança. Como se tem corretamente dito, os gestos são a escrita no ar, e os signos escritos são frequentemente simples gestos que foram fixados. Discutindo a história da escuta, Wurth assinalou a ligação entra os gestos e a escuta pictórica. Os gestos figurativos denotam a reprodução de um signo gráfico; por outro lado, os signos frequentemente são a fixação de gestos. De acordo com Wurth, todas as designações simbólicas na escrita pictórica só podem ser explicadas derivadas da linguagem gestual, mesmo quando separadas dela, funcionando de maneira independente.
A segunda esfera de atividades que une os gestos e
a linguagem escrita é a dos jogos das crianças. Para elas, alguns objetos podem
denotar outros, substituindo-os e tornando seus signos; não importa o grau de
similaridade entre a coisa com que se brinca e o objeto imaginado. O mais
importante é a utilização de brinquedos e a possibilidade de executar com eles
um gesto representativo.
Para Vygotsky é evidente que a similaridade
perceptiva dos objetos não tem papel considerável para a compreensão da notação
simbólica. O que importa é que os objetos admitam o gesto apropriado e possam
funcionar como um ponto de aplicação dele.
Segundo o autor, os objetos cumprem função de
substituição, somente os gestos adequados conferem a eles os significados. Sob
a influência desses gestos, entretanto, as crianças mais velhas descobrem que
os objetos podem não só indicar as coisas que eles representam, mas que também
podem substituir.
Sob o impacto do novo significado adquirido,
modifica-se a estrutura corriqueira dos objetos. Estrutura essa que reflete na
nova estrutura, essa modificação torna-se tão forte que, em experimentos, o
autor chaga a incutir gradualmente um significado simbólico.
Vygotsky considera a brincadeira do faz-de-conta
como um dos grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem escrita-
simbolismo de segunda ordem.
Assim como no brinquedo, também no desenho o
significado surge, inicialmente, como simbolismo de primeira ordem. É somente
mais tarde que a representação gráfica começa a designar algum objeto. A
natureza dessa relação é que aos rabiscos feitos no papel se dá um nome
apropriado.
Fundamentado em experiências de Hetzer, que mostrou
claramente quais significados simbólicos surgem no brinquedo através de gestos
figurativos e quais brincadeiras surgem através das palavras. A linguagem
egocêntrica das crianças manifestou-se nos jogos. Enquanto algumas crianças
representavam qualquer coisa através de movimentos e mímica. A porcentagem de
ações gestuais na brincadeira diminui com a idade, ao mesmo tempo em que a fala
passa a predominar.
Para Hertz, a conclusão mais importante tirada
desse estudo, é que na atividade com brinquedo, a diferença entre uma criança
de três anos de idade e uma de seis anos não está na percepção do símbolo e sim
no modo pelo qual são usadas as várias formas de representação.
Vygotsky observando K. Buhler notou que, segundo
ele, o desenho da criança começa quando a linguagem falada progride e se torna
habitual na criança. Buhler afirma que inicialmente a criança desenha de
memória. Se pedirmos para que desenhe algum objeto que está próximo a ela, ela
desenhará sem sequer olhar para o objeto; desenhará o que conhece e não o que
vê. Vygotsky observou ainda que o que Buhler chama de “desenhos de raios-X” é
quando a criança desenha uma pessoa vestida, mas desenha também sua barriga,
carteira e até mesmo dinheiro de dentro; coisas que de fato existem, mas não
podem ser vistas.
O autor, com base na teoria de Sully, afirma que as
crianças não se preocupam muito com a representação, elas são muito mais
simbolistas do que naturalistas e não estão preocupadas com a similaridade
exata, contentando-se com indicações apenas superficiais.
Vygotsky então conclui que o desenho é uma
linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal. No entanto, os
esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram conceitos
verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos. Esses fatos
fornecem elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças como um
estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita.
De acordo com Vygotsky, existe um momento crítico na passagem dos
simples rabiscos para grafias como sinas. Contudo a uma concordância entre os
psicólogos, que a criança deve descobrir que os traços por ela podem significar
algo. Baseada em sua teoria define-se que, mesmo sendo a criança capaz de
perceber a similaridade no desenho, ela o encara como um objeto em si mesmo,
similar a ou do mesmo tipo de um objeto, e não como sua representação ou
símbolo.
Contudo, o autor discute de acordo com Hetzer que o processo de
assimilação de um desenho a um objeto signifique, ao mesmo tempo, a compreensão
de que o desenho é uma representação do objeto. Entretanto acredita que Hetzer
esta muito certo ao afirmar que a representação simbólica primária deve ser
atribuída a fala e que é utilizando-a como base que todos os outros sistemas de
signos são criados, sendo assim o processo de nomeação ou identificação para o
inicio do ato de desenhar.
Como nota Vygotsky, a criança em idade escolar, muda de uma escrita
pictográfica, para a ideográfica, representados por sinais simbólicos. Sendo
assim o desenho acompanha obediente a frase e como a linguagem falada permeia o
desenho das crianças. Em uma de suas pesquisas, foi colocada na frente das
crianças a tarefa de elaborar algumas formas simples de notação gráfica. Diante
dessa sugestão de atividade, as crianças ficavam perplexas, dizendo que não
sabiam escrever e que havia esquecido o que foi escrito, quando se era para
escrever em outro papel. Portanto, o estágio dos três para os quatros anos, as
anotações escritas não ajudava as crianças no processo da lembrança. Em alguns
casos, a criança fazia os rabiscos sem sentido, mas ela sabia ler suas“linhas”.
De certo modo o autor acredita estar certo ao considerar esse estágio
mnemotécnica como o primeiro precursor da futura escrita. Onde traços e
rabiscos são substituídos por pequenas figuras e desenhos, e estes substituídos
pelos signos. Nessa forma é fácil perceber que os sinais escritos constituem
símbolos de primeira ordem, denotando diretamente objetos ou ações em que a
criança terá ainda de evoluir no sentido do simbolismo de segunda ordem, que
compreende a criação de sinais escritos representativos dos símbolos falados
das palavras. É necessário que a criança faça a descoberta básica, que pode
desenhar, além de também falar. Do ponto de vista pedagógico, essa transição
deve ser propiciada pelo deslocamento da atividade da criança, do desenhar
coisas para o, desenhar a fala. De fato essa concepção de que o brinquedo de
faz-de-conta, o desenho e a escrita, devem ser vistos em momentos diferentes de
um processo essencialmente unificado de desenvolvimento da linguagem escrita.
Pois a compreensão da linguagem escrita é efetuada, primeiramente, através da
linguagem falada.
Perante o seu ponto de vista, seria natural transferir o ensino da
escrita para pré-escola, pois as crianças mais novas são capazes de descobrir a
função simbólica da escrita, como base do conceito de Hetzer.
Para tanto, Vygotsky compara as pesquisas de Hetzer que indica oitenta
por cento das crianças com três anos de idade podem dominar uma combinação arbitrária
de sinais e significados, enquanto que, com seis anos, quase todas as crianças
são capazes de realizarem essa operação. Com base em suas observações pode-se
concluir que o desenvolvimento entre três e seis anos envolve não só o domínio
de signos arbitrário como, também, o progresso na atenção e na memória.
Portanto Vygotsky chega à conclusão de que os experimentos de Hetzer apontam
para o inicio do ensino da leitura em idades mais precoces.
Vygotsky observa a teoria de Montessori em que é particularmente favorável ao ensino da leitura e escrita em idades precoces. O autor não nega a possibilidade de se ensinar leitura e escrita às crianças em idade pré-escolar, pelo contrario, acha desejável que as crianças mais novas entrem para a escola, uma vez que já são capazes de ler e escrever. No entanto o ensino deve ser organizado para que a leitura e escrita tornem necessária. E não ser o que o professor julgar interessante, pois assim o exercício da escrita passara á ser mecânico. A leitura e a escrita devem ser algo de que a criança necessite.
Devido à contradição do que as escolas vivem, ou seja, a escrita é
ensinada como uma habilidade motora e não como uma atividade cultural complexa.
Cabendo que ensinar a escrita nos anos pré-escolares impõe, necessariamente,
uma segunda demanda: sendo ela “relevante à vida”. Portanto a escrita deve ter
significado para as crianças, de que uma necessidade intrínseca deve ser
despertada nelas.
O autor dispõe ao fato de que a escrita deve ser ensinada naturalmente,
quanto a isso, Montessori contribui de forma importante, podem ser de fato,
acoplados com o brinquedo infantil e que o escrever pode ser “cultivado” ao
invés de “imposto”. Dessa forma, a criança passa a ver a escrita como um
momento natural no seu desenvolvimento, e não como um treinamento imposto de
fora para dentro. Para tanto Vygotsky observa ao critério de Montessori sendo
ele que o jardim-de-infância é o lugar apropriado para o ensino da leitura e da
escrita. Cabendo então ao ver do autor que é o melhor método quando a criança
não aprende a ler e a escrever, mas sim descubram essa habilidade durante
situações de brinquedo. As crianças devem sentira a necessidade de ler e do
escrever em seu brinquedo.
Vygotsky conclui desse fato que o que se deve fazer é ensinar às
crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita de letras.
Referência:
VYGOTSKY,
Lev. A pré-história da linguagem escrita in Formação social da mente. São
Paulo: Martins Fontes, 2000.
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