quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

VYGOTSKY E A PRÉ-HISTÓRIA DA LINGUAGEM ESCRITA - RESUMO



Segundo Vygotsky, a aprendizagem da linguagem escrita depende de um exercício artificial que requer atenção e esforço tanto do educador quanto do educando, nesse processo o professor é portador do conhecimento da escrita, sendo o próprio quem ensina a criança a desenhar letras e construir palavras.

Para o autor os gestos da criança estão ligados à origem dos signos escritos, o primeiro deles são os rabiscos e desenhos das mesmas são vistos mais como gestos do que como desenhos em sua essência onde são impressas nesses desenhos as qualidades gerais do objeto ilustrado, o segundo gesto de atividades resulta nos jogos das crianças que advém da união entre gestos e linguagem escrita, pois é por meio da brincadeira que a criança se comunica e indica o significado dos objetos integrantes da brincadeira, pois estes cumprem função de substituição e somente os gestos adequados conferem a eles os significados.

Vygotsky fundamenta seus textos em estudos realizados por Baldwin, Wurth, Hetzer, K.Buhler, Sully, Luria, Burt e Montessori. K.Buhler afirma que o desenho tem início quando a linguagem falada se torna hábito e no mesmo campo de estudo Sully afirma que as crianças são simbolistas, pois se preocupam com a representação em seus desenhos.

Nesse contexto, a linguagem verbal é base para a linguagem gráfica e a criança aos poucos transforma os rabiscos simbólicos em figuras e desenhos que por vez são substituídos por signos e este processo caracteriza a passagem da escrita pictográfica, para a ideográfica. O autor afirma que a criança deve ver significado na escrita e reconhecer esta como uma tarefa necessária e fundamental para a vida e a aprendizagem dessa linguagem como natural ao desenvolvimento humano.

Segundo a teoria de Vygotsky, as crianças são ensinadas a desenhar letras e construir palavras; se preocupam com a mecânica de ler o que está escrito e se esquecem da linguagem escrita.

Diferentemente do ensino da linguagem falada, que a criança desenvolve sozinha, o ensino da linguagem escrita precisa de um treinamento artificial que requer grande atenção e esforço de professores e alunos.

Para o autor, até então a psicologia havia considerado a escrita como uma complicada habilidade motora, da pouca atenção a linguagem escrita como tal, isto é, um sistema particular de símbolos e signos cuja dominação prenuncia um ponto crítico em todo desenvolvimento cultural da criança.

Segundo Vygotsky, um aspecto desse sistema é que ele constituiu um simbolismo de segunda ordem. Isso significa que a linguagem escrita é constituída por um sistema de signos que designam os sons e as palavras da linguagem falada, os quais são signos das relações e entidades reais. Parece claro que o domínio de tal sistema complexo de signos não pode ser alcançado de maneira puramente mecânica e externa, ao invés disso, esse domínio é o culminar na criança, de um longo processo de desenvolvimento de funções comportamentais complexas.

A história do desenvolvimento da linguagem escrita oferece as metamorfoses mais inesperadas, isto é, transformações de algumas formas particulares de linguagem escrita em outras.

Vygotsky usa expressões de Baldwin referente ao desenvolvimento das coisas. Às vezes sua linha de desenvolvimento parece desaparecer completamente, quando, como que do nada, surge uma nova linha, e parece não haver continuidade alguma entre a velha e a nova. Somente a visão ingênua de que o desenvolvimento é um processo puramente evolutivo, envolvendo nada mais do que acúmulos graduais de pequenas mudanças e uma conversão gradual de uma forma em outra.

O gesto é o signo visual inicial que contém a futura escrita da criança. Como se tem corretamente dito, os gestos são a escrita no ar, e os signos escritos são frequentemente simples gestos que foram fixados. Discutindo a história da escuta, Wurth assinalou a ligação entra os gestos e a escuta pictórica. Os gestos figurativos denotam a reprodução de um signo gráfico; por outro lado, os signos frequentemente são a fixação de gestos. De acordo com Wurth, todas as designações simbólicas na escrita pictórica só podem ser explicadas derivadas da linguagem gestual, mesmo quando separadas dela, funcionando de maneira independente.


A segunda esfera de atividades que une os gestos e a linguagem escrita é a dos jogos das crianças. Para elas, alguns objetos podem denotar outros, substituindo-os e tornando seus signos; não importa o grau de similaridade entre a coisa com que se brinca e o objeto imaginado. O mais importante é a utilização de brinquedos e a possibilidade de executar com eles um gesto representativo.

Para Vygotsky é evidente que a similaridade perceptiva dos objetos não tem papel considerável para a compreensão da notação simbólica. O que importa é que os objetos admitam o gesto apropriado e possam funcionar como um ponto de aplicação dele.

Segundo o autor, os objetos cumprem função de substituição, somente os gestos adequados conferem a eles os significados. Sob a influência desses gestos, entretanto, as crianças mais velhas descobrem que os objetos podem não só indicar as coisas que eles representam, mas que também podem substituir.

Sob o impacto do novo significado adquirido, modifica-se a estrutura corriqueira dos objetos. Estrutura essa que reflete na nova estrutura, essa modificação torna-se tão forte que, em experimentos, o autor chaga a incutir gradualmente um significado simbólico.

Vygotsky considera a brincadeira do faz-de-conta como um dos grandes contribuidores para o desenvolvimento da linguagem escrita- simbolismo de segunda ordem.

Assim como no brinquedo, também no desenho o significado surge, inicialmente, como simbolismo de primeira ordem. É somente mais tarde que a representação gráfica começa a designar algum objeto. A natureza dessa relação é que aos rabiscos feitos no papel se dá um nome apropriado.

Fundamentado em experiências de Hetzer, que mostrou claramente quais significados simbólicos surgem no brinquedo através de gestos figurativos e quais brincadeiras surgem através das palavras. A linguagem egocêntrica das crianças manifestou-se nos jogos. Enquanto algumas crianças representavam qualquer coisa através de movimentos e mímica. A porcentagem de ações gestuais na brincadeira diminui com a idade, ao mesmo tempo em que a fala passa a predominar.

Para Hertz, a conclusão mais importante tirada desse estudo, é que na atividade com brinquedo, a diferença entre uma criança de três anos de idade e uma de seis anos não está na percepção do símbolo e sim no modo pelo qual são usadas as várias formas de representação.

Vygotsky observando K. Buhler notou que, segundo ele, o desenho da criança começa quando a linguagem falada progride e se torna habitual na criança. Buhler afirma que inicialmente a criança desenha de memória. Se pedirmos para que desenhe algum objeto que está próximo a ela, ela desenhará sem sequer olhar para o objeto; desenhará o que conhece e não o que vê. Vygotsky observou ainda que o que Buhler chama de “desenhos de raios-X” é quando a criança desenha uma pessoa vestida, mas desenha também sua barriga, carteira e até mesmo dinheiro de dentro; coisas que de fato existem, mas não podem ser vistas.

O autor, com base na teoria de Sully, afirma que as crianças não se preocupam muito com a representação, elas são muito mais simbolistas do que naturalistas e não estão preocupadas com a similaridade exata, contentando-se com indicações apenas superficiais.

Vygotsky então conclui que o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal. No entanto, os esquemas que caracterizam os primeiros desenhos infantis lembram conceitos verbais que comunicam somente os aspectos essenciais dos objetos. Esses fatos fornecem elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças como um estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita.

De acordo com Vygotsky, existe um momento crítico na passagem dos simples rabiscos para grafias como sinas. Contudo a uma concordância entre os psicólogos, que a criança deve descobrir que os traços por ela podem significar algo. Baseada em sua teoria define-se que, mesmo sendo a criança capaz de perceber a similaridade no desenho, ela o encara como um objeto em si mesmo, similar a ou do mesmo tipo de um objeto, e não como sua representação ou símbolo.

Contudo, o autor discute de acordo com Hetzer que o processo de assimilação de um desenho a um objeto signifique, ao mesmo tempo, a compreensão de que o desenho é uma representação do objeto. Entretanto acredita que Hetzer esta muito certo ao afirmar que a representação simbólica primária deve ser atribuída a fala e que é utilizando-a como base que todos os outros sistemas de signos são criados, sendo assim o processo de nomeação ou identificação para o inicio do ato de desenhar.

Como nota Vygotsky, a criança em idade escolar, muda de uma escrita pictográfica, para a ideográfica, representados por sinais simbólicos. Sendo assim o desenho acompanha obediente a frase e como a linguagem falada permeia o desenho das crianças. Em uma de suas pesquisas, foi colocada na frente das crianças a tarefa de elaborar algumas formas simples de notação gráfica. Diante dessa sugestão de atividade, as crianças ficavam perplexas, dizendo que não sabiam escrever e que havia esquecido o que foi escrito, quando se era para escrever em outro papel. Portanto, o estágio dos três para os quatros anos, as anotações escritas não ajudava as crianças no processo da lembrança. Em alguns casos, a criança fazia os rabiscos sem sentido, mas ela sabia ler suas“linhas”.

De certo modo o autor acredita estar certo ao considerar esse estágio mnemotécnica como o primeiro precursor da futura escrita. Onde traços e rabiscos são substituídos por pequenas figuras e desenhos, e estes substituídos pelos signos. Nessa forma é fácil perceber que os sinais escritos constituem símbolos de primeira ordem, denotando diretamente objetos ou ações em que a criança terá ainda de evoluir no sentido do simbolismo de segunda ordem, que compreende a criação de sinais escritos representativos dos símbolos falados das palavras. É necessário que a criança faça a descoberta básica, que pode desenhar, além de também falar. Do ponto de vista pedagógico, essa transição deve ser propiciada pelo deslocamento da atividade da criança, do desenhar coisas para o, desenhar a fala. De fato essa concepção de que o brinquedo de faz-de-conta, o desenho e a escrita, devem ser vistos em momentos diferentes de um processo essencialmente unificado de desenvolvimento da linguagem escrita. Pois a compreensão da linguagem escrita é efetuada, primeiramente, através da linguagem falada.

Perante o seu ponto de vista, seria natural transferir o ensino da escrita para pré-escola, pois as crianças mais novas são capazes de descobrir a função simbólica da escrita, como base do conceito de Hetzer.

Para tanto, Vygotsky compara as pesquisas de Hetzer que indica oitenta por cento das crianças com três anos de idade podem dominar uma combinação arbitrária de sinais e significados, enquanto que, com seis anos, quase todas as crianças são capazes de realizarem essa operação. Com base em suas observações pode-se concluir que o desenvolvimento entre três e seis anos envolve não só o domínio de signos arbitrário como, também, o progresso na atenção e na memória. Portanto Vygotsky chega à conclusão de que os experimentos de Hetzer apontam para o inicio do ensino da leitura em idades mais precoces.

Vygotsky observa a teoria de Montessori em que é particularmente favorável ao ensino da leitura e escrita em idades precoces. O autor não nega a possibilidade de se ensinar leitura e escrita às crianças em idade pré-escolar, pelo contrario, acha desejável que as crianças mais novas entrem para a escola, uma vez que já são capazes de ler e escrever. No entanto o ensino deve ser organizado para que a leitura e escrita tornem necessária. E não ser o que o professor julgar interessante, pois assim o exercício da escrita passara á ser mecânico. A leitura e a escrita devem ser algo de que a criança necessite.


Devido à contradição do que as escolas vivem, ou seja, a escrita é ensinada como uma habilidade motora e não como uma atividade cultural complexa. Cabendo que ensinar a escrita nos anos pré-escolares impõe, necessariamente, uma segunda demanda: sendo ela “relevante à vida”. Portanto a escrita deve ter significado para as crianças, de que uma necessidade intrínseca deve ser despertada nelas.

O autor dispõe ao fato de que a escrita deve ser ensinada naturalmente, quanto a isso, Montessori contribui de forma importante, podem ser de fato, acoplados com o brinquedo infantil e que o escrever pode ser “cultivado” ao invés de “imposto”. Dessa forma, a criança passa a ver a escrita como um momento natural no seu desenvolvimento, e não como um treinamento imposto de fora para dentro. Para tanto Vygotsky observa ao critério de Montessori sendo ele que o jardim-de-infância é o lugar apropriado para o ensino da leitura e da escrita. Cabendo então ao ver do autor que é o melhor método quando a criança não aprende a ler e a escrever, mas sim descubram essa habilidade durante situações de brinquedo. As crianças devem sentira a necessidade de ler e do escrever em seu brinquedo.

Vygotsky conclui desse fato que o que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita de letras.

Referência:
VYGOTSKY, Lev. A pré-história da linguagem escrita in Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


 

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