quinta-feira, 7 de abril de 2011

LIVRO LINGUAGEM E IDEOLOGIA - RESUMO

LINGUAGEM E IDEOLOGIA
Introdução
O autor José Luiz Fiorin diz que a linguística é uma ciência autônoma que estuda a linguagem. Mas não se preocupa com as relações de linguagem e a sociedade, nem com a vinculação entre a linguagem e os homens. Sua preocupação é a analise das relações internas e os elementos linguísticos. A linguística estrutural viveu duas situações distintas e antagônicas, que foram: o fastígio e o declínio. Pois como está foi considerada ciência-piloto, muitos mudaram para outros ramos do conhecimento. Mais tarde este comportamento mudou, a linguística estrutural passou a representar um avanço nos estudos linguísticos por suas praticas ideológicas.
Fez então um balanço do que havia ou não sido feito, também se fez uma reflexão sobre a linguagem como instituição social, veiculo de ideologias, instrumento de medição entre homens e natureza. O autor cita o livro A crise da crise do marxismo, de Perry Anderson, onde mostra que a linguagem tem suas especificidades e que devem ser consideradas mesmo de maneira reduzida, pois a linguagem esta dividida em duas partes: língua e fala, mas o autor vai mostra que ainda há um terceiro elemento.
Este texto reflete as relações de linguagem e ideologia, logo não iremos focar em assuntos como a pronuncia de prestigio, a ligação da linguagem com as posições de destaque ou como a norma linguística é usada como língua modelo. Ao refletir sobre a relação entre linguagem e ideologia vemos que Tácito historiador romano, ao narrar a revolta das legiões panônicas, liderados por Percênio ex-chefe teatral, Tácito desconsidera as reivindicações dos legionários por causa das habilidades de falar em publico de Percênio. Vemos este poder verbal de influencia em algumas autoridades brasileiras. Mas nosso objetivo é ver como a linguagem veicula a ideologia.
Marx e Engels dão as Primeiras Dicas
Segundo o autor, Marx e Engels, em A ideologia alemã, mostram que tanto o pensamento quanto a linguagem não são autônomas, pois ambos são expressões da vida real. Engels inclusive mostra que nem todas as alterações que se dão nas instituições sociais se devem a causas econômicas, mas que a linguagem é estudada de vários pontos de vista e de diferentes domínios, que podem ser tanto individual, social, físico, fisiológico ou psíquico.
A linguagem sofre tanto determinações sociais quanto autônomas e que por isso devemos distinguir as dimensões e níveis tanto autônomos quanto determinados. E sem desvincular a linguagem da vida social como de sua especificidade.
As Primeiras Distinções
Deve-se distinguir o sistema virtual da realização concreta. O sistema social é comum de todos e compreende um conjunto de elementos lexicais e gramaticais, bem como sua organização interna e regras. Mas o sistema não é uma lista de palavras, este se distingue e tem determinados valores que se combinam em uma serie de regras.
O sistema é a rede de relações que se estabelece entre um conjunto de elementos linguísticos, que tem um determinado valor permitindo assim selecionar o elemento para cada ponto da cadeia da fala e fazer varias combinações. Este sistema virtual é concretizado com a fala, na qual deve distinguir seu discurso.
E este discurso nada mais é que a combinação de elementos linguísticos que exprimem pensamentos tanto do mundo exterior quanto do interior e este é individual.
Quem determina o quê?
De acordo com José Luiz Fiorin, a fala não sofre determinações sociais, pois está é a exteriorização do discurso. O sistema tem autonomia em relação as formações sociais, mas pode alterar-se devido a causas internas do próprio sistema, como é o caso sistema fonológico latino. Este sistema, o latim, tem três gêneros: masculino, feminino e neutro, mas as línguas românticas derivadas do latim utilizam apenas dois, o masculino e o feminino. Devido a queda das consoantes finais, ao tratamento das vogais finais e ao nivelamento das diferenças entre palavras masculinas e neutras, deu-se fim ao neutro.
A analogia também produz alterações linguísticas, por converter formas irregulares em regulares, ficando bem integradas ao sistema e eliminando as formas não produtivas. Em português os nomes em “o” são masculinos por isso algumas palavras que no latim eram femininos passam a ser masculinos em português. Mostrando assim que as alterações no sistema são motivadas por fatores linguísticos, mas fatores sociais também podem alterar uma categoria gramatical ou semântica. No caso do latim os três gêneros deviam-se a visão mística e antropomórfica do mundo.
O masculino, usado em diversas línguas como genérico é resultado do homem nas sociedades patriarcais. Os pronomes de tratamento originários do absolutismo monárquico esta ligado a uma sociedade hierarquizada e governada por um protocolo rígido. Por isso comprovar hipóteses de categorias particulares é extremamente difícil, pois as atuais línguas são provenientes de outras línguas. As categorias linguísticas alteradas por fatores sociais perdem sua relação de origem, mas passam a ganhar em autonomia.
“Toda língua são rastros de velhos mistérios”, de Guimarães Rosa. Ao citar esta frase o autor mostra que os motivos que levam ao aparecimento de uma categoria linguística perdem-se no tempo.
Discurso: Autonomia e Determinação
A frase não é um aglomerado de palavras, mas uma cadeia de regras. Assim o discurso não é um amontoado de frases. Em textos caóticos diz-se que “Isto não significa nada, mas no discurso estruturado temos a sintaxe e a semântica no seu interior.
A sintaxe discursiva tem processos estruturais e procedimentos de introdução ou não da primeira pessoa. Pois a introdução da primeira pessoa traz o efeito da subjetividade e o não uso traz o efeito de objetividade. Na sintaxe discursiva ainda temos o discurso direto, indireto e indireto livre. No discurso direto sua marca é a presença integral do discurso relatado dando efeito de verdade. Por isso a sintaxe discursiva tem autonomia em relação as formações sociais, enquanto a semântica dependente é ligada diretamente as formações sociais.
No discurso temos a manipulação consciente e a determinação inconsciente, na sintaxe discursiva usa-se a manipulação consciente. O orador usa de estratégias argumentativas e outros procedimentos para criar o efeito de verdade. Nas determinações inconscientes é a semântica discursiva e seus elementos semânticos usados no discurso que dependendo da época mostra a maneira de ver o mundo numa dada formação social. A semântica discursiva é o campo da determinação ideológica.
Variabilidade na invariabilidade
Neste capitulo o autor mostra que discursos de naturezas diferentes podem utilizar os mesmos elementos semânticos, e que há formas de distingui-los. Essa diferença é estabelecida pelo nível profundo ou de superfície.
Nos elementos semânticos de superfície são as variações que concretizam um elemento semântico invariante. Deve-se determinar com precisão o componente da linguagem para termos nitidez a determinação ideológica. Mas estudar as coerções ideológicas só com os elementos da estrutura profunda pode falsear a analise. No nível superficial se revelam as determinações ideológicas.

Dois discursos podem trabalhar com os mesmos elementos semânticos e revelar duas visões diferentes dando valores distintos aos elementos semânticos que utiliza.
Duas maneiras de dizer a mesma coisa
O autor mostra dois textos que dizem praticamente a mesma coisa. O primeiro é concreto utiliza conteúdos que indicam elementos do mundo natural. O segundo é mais abstrato, fala de elementos semânticos que indicam coisas que não existem no mundo natural em si.
O primeiro texto é figurativo e o segundo é temático, não figurativo. Temas e figuras são dois níveis de profunda concretização dos elementos semânticos da estrutura profunda. De maneira precisa tema é o elemento semântico que designa um elemento não presente no mundo natural, mas exerce o papel de categoria ordenadora dos fatos observáveis. Figura é o elemento semântico que remete a um elemento do mundo natural. Mas nem sempre essa distinção é fácil de ser feita, pois concreto e abstrato são dois polos de uma escala.
Para entender um discurso figurativo é preciso apreender o discurso temático que subjaz a este, ir das figuras ao tema. Não existem textos exclusivamente figurativos ou temáticos. Texto figurativo é construído com figuras, texto temático é organizado com temas, onde a ideologia se manifesta com mais clareza.
Os discursos políticos pós-64 eram ideológicos, pois o mundo vivia uma luta entre a civilização cristã ocidental e o comunismo ateu. Está era uma guerra psicológica entre o coração e a mente dos homens. Onde os inimigos eram aqueles que haviam renegado sua condição de brasileiros, que iam contra a alma nacional, repelindo as ideologias exóticas, estes estavam disfarçados de liberais ou defensores dos direitos humanos. Declaravam que dinheiro não trás felicidade que esta em cada individuo. Essa relação de temas-figuras revela um universo ideológico.
O que é Ideologia?
O autor José Luiz Fiorin diz que a ideologia tem dois níveis de realidade: a essência e a aparência. Marx explica esses níveis com a seguinte analise. No nível da aparência o salário é o pagamento de um trabalho feito, este é uma troca entre pessoas livres e iguais que não estão sujeitas a outras pessoas por algum laço de dependência. No nível da essência o salário não é uma troca justa, pois não é vendido o trabalho, mas sim a força de trabalho da qual a pessoa que o faz depende para sobreviver e para continua a produzir.
O capitalismo procura mascar esta essência para se apropriar do valor gerado pelo trabalho não pago. No nível da aparência vemos a realidade invertida e no nível da essência a exploração sendo a troca entre opressão como igualdade e a sujeição pela liberdade. Mas nós só vemos o nível da aparência que passa a ser vista como uma totalidade da realidade.
É a partir do nível da aparência que se constrói as ideias dominantes numa formação social e estas são racionalizadas para explicar e justificar a realidade. Diz-se que a riqueza é fruto do trabalho, mas se omite que é do trabalho dos outros. A ideologia é elaborada a partir da aparência da realidade, mas que oculta sua essência da ordem social, passando a ser uma falsa consciência. Pois a ideologia está no social.
Há ainda o conhecimento neutro que expressa o ponto de vista de classe a respeito da realidade, e este está comprometido com os interesses sociais. A ideologia é uma visão do mundo, pois é a maneira como uma classe social vê a realidade e como ela se ordena que justifique e explica a ordem social. A ideologia é constituída pela realidade e constituinte da realidade. Por isso diz se que ela é determinada pelo nível econômico, mas não é um mero reflexo, pois tem seu próprio conteúdo e suas próprias leis de funcionamento e de desenvolvimento. No modo de produção capitalista, a ideologia dominante é a ideologia burguesa.
Formações ideológicas e formações discursivas
.Neste capitulo mostra que não existem ideias fora dos quadros da linguagem no seu sentido amplo de instrumento de comunicação verbal e não-verbal, por isso essa esta vinculada a linguagem. A formação ideológica corresponde a uma formação discursiva que é ensinada a cada pessoa durante o processo de aprendizagem linguística. A formação ideológica impõe o que pensar e a discursiva o que falar. Assim como a ideologia dominante é a da classe dominante, o discurso também é.
Alguns afirmam que existe um pensamento puro pré-linguistico, e que a linguística serve de invólucro e outros que afirma que é impossível pensar fora dos quadros da linguagem. O problema começa com o conceito de pensamento, pois se pensamento é a faculdade de se orientar no mundo, logo, há um pensamento verbal e pré-verbal. Mas se o pensamento humano é seu caráter conceptual então o pensamento não existe fora da linguagem. A partir de certa idade o pensamento torna-se conceptual e não existe sem uma linguagem e a ausência de uma linguagem impossibilita o pensamento conceptual.
As funções da linguagem e do pensamento não podem ser dissociadas, pois são dois aspectos de um único processo: o do conhecimento do mundo e o da comunicação de seus resultados. Sendo assim pensamento e linguagem são distintos mais inseparáveis.
A consciência é um fato social
O autor cita novamente A ideologia alemã, para mostra que a linguagem é a consciência real. Sem a linguagem não se pode falar em psiquismo humano, pois os fatores sociais determinam a vida concreta dos indivíduos nas condições do meio social. O homem aprende pelos discursos que assimila e os reproduz em sua fala. Muitos relutam em aceitar que a consciência seja social por causa do conceito de individualidade.
Esta confusão acontece por causa do conceito de individuo, que o homem não é apenas individualidade que reside no espírito, mas produtos de relações sociais e inteligentes. Como as relações que o homem mantém são necessárias, então este não esta livre de todas as coerções sociais que impõem até mesmo quais desejos são ou não admissíveis. Por isso não há uma individualidade de espírito nem uma discursiva absoluta.
A individualidade na linguagem
O discurso não pode ser social, pois cada pessoa expressa suas ideias de maneiras diferentes. Muitos objetam essa distinção, pois o signo linguístico tem dois componentes: o conceito, que é o significado e o suporte do conceito que é sua expressão. O discurso é um plano de expressão onde seu conteúdo é qualquer língua natural ou expressão não-verbal. É preciso distinguir entre conteúdo e expressão, pois um discurso pode ser feito por diferentes textos e construído com materiais de expressão diversos. O problema é que dependendo da expressão usada esta pode apresentar peculiaridades significativas, devido às coerções do material e aos efeitos estilísticos da expressão que estabelece uma homologia entre expressão e conteúdo.
A coerção do material é responsável pelo fato de determinados aspectos do sentido ser mais bem expressos por um tipo de manifestação do que outros. Isso também ocorre quando usamos uma língua natural e não outra.
A trapaça discursiva
Discurso é a materialização das formações ideológicas, o texto é manipulação consciente onde se organiza os elementos de expressão que estão a sua disposição para veicular seu discurso. O texto é individual por isso há liberdade e o discurso é social, mas tem limitações a temas e figuras de formações e como sua função é citativa, a liberdade discursiva é muito pequena. O enunciador é coagido a dizer o que seu grupo diz.
O texto por ser individual permite ao falante organizar a maneira de veicular o discurso. Mas esta individualidade é objetivada, pois é formada por operações modelizantes de aprendizagem e formação linguísticas. Formas de dizer o discurso são aprendidas e estão de acordo com as tradições culturais de uma sociedade. Ocorre nesse momento uma dissimulação, pois a manifestação individual é que veicula um plano de conteúdo social.
Falar ou ser Falado?
O falante investe nas estruturas sintáticas abstratas temas e figuras. Esse enunciador não pode ser visto como agente do discurso, pois é produto de relações sociais. Mas ele é suporte de discursos. Os agentes discursivos são as classes e as frações de classe. O individuo não pensa e fala o que quer, mas o que a realidade impõe que ele pense e fale.
Poderia afirmar que o homem sendo um animal racional organizaria seu discurso como queira. Mas esta liberdade não é absoluta, pois ele é produto de relações sociais e este remete ao seu grupo social. E os temas disponíveis estão vinculados na sociedade. Mesmo no caso de discursos críticos e diferentes, estes se baseiam em conflitos e contradições existentes. Por isso o aprendizado linguístico cria uma consciência verbal, ligando cada individuo aos membros de seu grupo social.
Arena de Conflitos e Palco de Acordos
Quando um discurso cita outro há uma troca de enunciativas. O discurso é o espaço da reprodução do conflito ou da heterogeneidade. As relações interdiscursivas podem ser contratuais ou polêmicas. Quando um discurso cita outro, os textos que os ligam não precisam remeter um ao outro, mas quando um texto cita outro os discursos conduzidos por eles também se citam. Discurso e texto são arena de conflitos e palco de acordos, mas ambos são sociais.
Analise não é investigação policial.
O autor José Luiz Fiorin mostra que alguns autores argumentam que não se pode falar na posição ideológica no enunciador porque este pode mascarar sua visão de mundo. O falante pode construir discursos que revelem diferentes visões de mundo, mas esse não é problema do analista de discurso. O analista visa mostrar a que formação discursiva pertence o discurso, pois os temas e figuras já configuram a visão de mundo. O que determina um discurso do ponto de vista genético são as formações ideológicas, mas do ponto de vista da analise é o próprio discurso que revela a visão de mundo.
Todo discurso demonstra uma ou varias visões de mundo, mas há algumas exceções em que o discurso contém apenas um enunciador e apenas uma visão do mundo. Por isso para a análise não há interesse pela verdadeira posição ideológica do enunciador, mas pelas visões de mundo dos enunciadores inscritos no discurso.
O discurso é reflexo da realidade?
Para o autor a linguagem contém uma visão de mundo, que determina nossa maneira de perceber e conceber a realidade, é como um molde que ordena o caos. E cada língua ordena o mundo à sua maneira. A linguagem tem um papel ativo no processo de aquisição do conhecimento e constitui o elemento racional das teorias idealistas. Resultando numa convenção arbitraria que é aplicada para as línguas naturais do principio de constituição dos sistemas simbólicos especiais.
A linguagem cria a imagem do mundo, mas é também produto social e histórico que se formou no decorrer da evolução filogenética, sendo assim um produto e elemento da atividade pratica do homem. O discurso passa a ter como componente semântico os fatores sociais que contém a visão de mundo veiculada pela linguagem. O que está na consciência é provocado por algo exterior a ela e independente dela. Isso significa que a linguagem condensa, cristaliza e reflete as praticas sociais, que é governada pelas formações ideológicas, sendo assim determinada e determinante. Pois cria uma visão de mundo na medida em que impõe ao individuo certa maneira de ver a realidade, constituindo sua consciência.
O espírito humano não é passivo e sua função não consiste apenas em refletir a realidade. O discurso não reflete uma representação sensível do mundo, mas uma categorização do mundo. O homem age e transforma a realidade, não a apreende passivamente, por isso uma mesma realidade pode ser apreendida diversamente por homens distintos. A consciência humana depende da linguagem assimilada.
O discurso transmitido contém um sistema de valores, estereótipos dos comportamentos humanos que são valorizados positiva ou negativamente. Esses estereótipos fixam-se na consciência que acabam por ser considerados naturais. Os estereótipos só estão na linguagem porque representam a condensação de uma pratica social.
Um exemplo: a igualdade burguesa
Os textos não-figurativos, as coerções ideológicas manifestam-se, com toda nitidez, no nível dos temas. O autor cita o trecho de uma circular ao serviço publico Frances revolucionário, de 1794, este texto tem três temas básicos da ideologia burguesa: a liberdade, a igualdade e a naturalidade das relações sociais.
As relações sociais são fundadas na liberdade e na igualdade, que são naturais ao homem porque somos “animais racionais”, e nos subordinamos somente a razão e a ordem. Da qual não podemos nos furtar.
O discurso considera a razão como um fato que independe das coerções sociais e a lei como algo vinculado a interesses gerais, mas não leva em conta a desigualdade presente na sociedade burguesa e a subordinação de outra classe.
O nível temático do dever-fazer e não-dever-fazer presente na estrutura do texto, revela uma determinada visão de mundo determinada pela infraestrutura econômica.
Outros exemplos: reprodução e polêmica
A burguesia, depois da Revolução Francesa, assumiu a hegemonia, mas suas ideias e ideais revolucionários se perderam. Em seguida houve um grande aumento no progresso cientifico, pois havia um interesse em dominar a natureza e seus segredos para manipulá-la e colocá-la a serviço da produção. Por isso os fenômenos sociais passam a ser explicados pelo método cientifico que procurar ser o mais objetivo. O positivismo passa a ser a explicação do progresso social.
Os fatos sociais são explicados por uma série de leis similares às que regem os fenômenos naturais. As ciências humanas passam a ser invadidas por concepções e princípios retirados das ciências naturais.
O autor, José Luiz Fiorin, cita o fragmento de um texto do Pe. Antonio Vieira, onde há um jogo de antíteses, recurso básico de estruturação do texto, mas este texto não manifesta a visão de mundo dominante, revela apenas uma das visões de mundo presentes na formação social em que vivia.
A linguagem faz parte da superestrutura?
Quando se estudam as determinações ideológicas que incidem sobre a linguagem, pergunta-se se ela faz parte da superestrutura. Ao analisar o autor citar duas opiniões diferentes de outros autores, Marr – afirmativamente e Stálin – negativamente.
O Marrismo
Segundo Nicolau Marr, a comunidade primitiva se comunicava por gestos e os feiticeiros é que emitiam grunhidos para convocar reuniões e para manter seu domínio sobre os outros. Esses sinais vão se combinado e constituindo construções mais complexas.
Um dos pontos básicos do marrismo é que a língua teria origem no desejo de uma classe dominar outra. Para Marr, a língua vai do quantitativo para o qualitativo, ocorrendo assim saltos linguísticos que são verdadeiras revoluções. Passa então a desenvolver a ideia de estádios linguísticos, onde o desenvolvimento das línguas é paralelo às mudanças das formações socioeconômicas.
Quando uma comunidade se afasta da corrente do progresso, a língua também sofre desvio, mesmo que a comunidade volte às alterações linguísticas permanecem.
Mas a teoria marrista e a teses monogênese da linguagem são apenas especulativas e fantasiosas, pois não tem como ser comprovadas, mas ainda há outros equívocos. Como a luta de classes, na sociedade primitiva não havia classes, então não há como a linguagem ser a invenção de uma classe para dominar outra.
A existência de uma consciência e de um pensamento anteriores à linguagem contradiz o que Marx e Engels que dizem que a linguagem é tão antiga quanto à consciência e que a partir do processo de trabalho, estabelecendo assim as relações sociais que dão base à origem da linguagem.
A tese dos estádios linguísticos, de Marr, também é fantasiosa, porque o sistema linguístico não retrocede quando a comunidade se afasta da corrente do progresso.
As Posições de Stálin
O autor ao citar Stálin, também cita um artigo intitulado “A propósito do marxismo em linguística”, onde se apresenta duas teses: a língua não é um fenômeno de superestrutura e ela não tem caráter de classe.
Stálin considera a língua uma gramática e um fundo léxico comum e ela difere radicalmente da superestrutura, também não há línguas de classe, mas línguas nacionais comuns a todo um povo, porque se não haveria uma gramática burguesa e uma gramática proletária.
Mas ele não leva em consideração fatos históricos que não interferem diretamente no sistema linguístico, não se preocupa com a distinção entre o sistema linguístico e a norma única ensinada na escola, a língua é um dos elementos determinantes da nacionalidade.
“Como Stálin vê o problema da linguagem de maneira muito restrita, uma vez que leva em conta apenas a dimensão sistêmica, não se ocupando do discurso, não pode perceber as determinações históricas que atuam sobre a linguagem”.
O Lugar da linguagem
Apesar da língua não ser um fenômeno de caráter de classe nem um fenômeno de superestrutura, elas usam a linguagem para transmitir suas representações ideológicas. Mas as formações discursivas que se materializam de formações ideológicas, são fenômenos de superestrutura. Essa transformação não provoca uma mudança concomitante no sistema linguístico.
O discurso é um produto histórico e social e as transformações na estrutura social podem acarretar mudanças discursivas. A linguagem não é somente representação do pensamento ou instrumento de comunicação, mas expressões da vida real.
Comunicar é agir
Quando se comunica algo, visa-se agir no mundo, influir sobre outros. Comunicar é agir num sentido mais amplo. Num discurso de formação dominante, isso reforça as estruturas de dominação. O discurso que é feito para transforma o mundo, usa uma linguagem como instrumento de libertação ou opressão, de mudança ou conservação.
O autor mostrou nesse texto 3 pontos interessantes:
1. As formações discursivas são um conjunto de temas e figuras que materializam as formações ideológicas.
2. As formações discursivas são fenômenos de superestrutura.
3. O uso do discurso pode causa uma ação no mundo.

Referencia Bibliográfica
Fiorin, José luiz -  Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática, 2007. - (Princípios ; 137)

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