sexta-feira, 22 de abril de 2011

O IMPÉRIO ROMANO

Salvete omnes!

Segue um breve resumo de história Romana, espero que gostem...

O Império
1. O Principado. Nos anos que se seguiram à vitória contra Marco Antônio, Otávio, através de títulos e mudanças no próprio nome, foi cumulado de honrarias, a última delas como fundador do Império. Em 40 a.C., ele recebeu do exército o título de Imperator, que transformou em seu prenome. E, para ressaltar a sua relação de parentesco com César, divinizado após a morte, e para significar que dele havia adquirido o direito de comando do exército, Otávio conservou para si a denominação César. O nome que adotou foi, então, Imperator Caesar Divi Filius, significando “Imperador Filho de César Divino”.
Depois de ter exercido o governo com poderes excepcionais desde a guerra contra Marco Antônio, Otávio executou em 27 a.C. uma manobra política bem-sucedida: renunciou aos seus poderes numa sessão do Senado e declarou restaurada a República. Nessa mesma reunião, o Senado não apenas reafirmou seus poderes, como concedeu-lhe novos títulos, como princeps, que significava “primeiro cidadão romano”. Além disso, conferiu-lhe o título Augusto, dado apenas aos deuses. Otávio, que daí em diante passou a ser conhecido por Augusto, saiu, portanto, mais fortalecido desse episódio.
Os quatro primeiros imperadores que sucederam Augusto eram todos parentes entre si e fizeram parte da dinastia conhecida como Júlio-Cláudia ou Júlio-Claudiana (2 7 a. C . - 69 d. C . ) . Vieram depois as dinastias Flaviana (70 - 96), Antonina (96 - 193) e Severiana (193 - 235).
A crescente influência do exército na vida política foi a principal característica do Principado. Sua primeira intervenção ocorreu no reinado de Calígula, um imperador cujo comportamento mostrava claros sinais de desequilíbrio mental, morto em decorrência de um complô dirigido contra ele pelos oficiais da guarda pretoriana.
Apesar dessa tendência, o Principado conheceu uma fase de grande estabilidade com a dinastia Antonina, durante a qual vigorou a chamada Pax Romana (paz romana), que perdurou por quase cem anos.
Com a chegada dos Severos ao poder imperial, teve início outro período de turbulência, que chegou ao auge em 235 d.C. Esse foi o ano em que começou a mais profunda crise do Império Romano, da qual ele saiu completamente transformado cinqüenta anos depois. Nesse conturbado período conhecido como “anarquia militar”, de 235 a 285, Roma conheceu uma rápida sucessão de mais de vinte imperadores, dos quais apenas um morreu do morte natural. Em constantes motins, o exército romano estava dividido em facções rivais, que proclamavam os imperadores com a mesma facilidade com que os assassinavam.
2. As duas fases do Império. O Principado (27 a.C. - 235 d.C) e o Dominato (284 - 476) constituem as duas fases do Império, separadas uma da outra por um período conhecido como “anarquia militar” (235 - 284). O primeiro período é também chamado de Alto Império e o segundo, de Baixo Império.
O Império começou com Augusto tendo nas mãos os poderes civil, militar e religioso. Ele vinculou a posição social do indivíduo à renda e restringiu a competência do Senado e das magistraturas aos assuntos civis relativos a Roma e à Itália. Por fim, reorganizou o exército profissional e tornou-o permanente. A intervenção dos militares na política foi o traço marcante do Principado e continuou a sê-lo ainda mais no Baixo Império.
De principado a dominato
A obra de restauração do Império esteve ligada a dois grandes imperadores do período: Diocleciano e Constantino. Mas o Império restaurado já não era o mesmo do tempo de Augusto. Desde Domício Aureliano (270 - 275) o imperador deixara de ser o princeps, ou seja, o primeiro cidadão, e passara a ser dominus et deus (“senhor e deus”). Com ele o Império passou de principado a dominato.
Coube a Diocleciano e Constantino dar a forma final ao dominato. Um dos traços característicos do novo regime foi a introdução do direito divino dos imperadores. Ao mesmo tempo, o poder do Senado declinou, até transformar-se numa instituição meramente decorativa.
Em 235, com a morte do imperador Alexandre Severo, começou um novo período de “anarquia militar” que perdurou até a ascensão de Diocleciano, em 284. Esse novo imperador dividiu o Império em duas metades, a ocidental (Roma) e a oriental (Nicomédia), e instituiu a tetrarquia (dois impera dores com os respectivos vices para cada parte). O Império foi reunificado por Constantino (306 - 337), que fundou no Oriente a cidade de Constantinopla no lugar da antiga cidade grega de Bizâncio. Com Teodósio ( 379 - 395), o Império foi de novo dividido, dessa vez definitivamente.
3. A crise econômica. O indiscutível êxito da reorganização política do Império, com Diocleciano e Constantino, não foi acompanhado pelo revigoramento da economia. O declínio da população havia atingido quase todas as províncias, trazendo problemas tanto para o exército quanto para a agricultura, devido à falta de soldados e de braços para a lavoura. Por essa razão, germânicos pacíficos que viviam próximo à fronteira tiveram permissão para se instalar Império como agricultores ou foram recrutados como soldados. Uma das principais conseqüências foi que o exército se tornou cada dia menos romano.
A crise econômica era mais visível nas cidades, onde o artesanato e o comércio sofreram uma paralisia, generalizando-se o processo de decadência urbana vivido pelo Império. Essa crise refletiu se claramente na depreciação da moeda, cujo teor de prata fora reduzido a 5% na época de Galieno (258 - 267).
4. O Império acuado. A substituição do Principado pelo Dominato (em 284) não foi mais que a adaptação do poder imperial a uma nova realidade socioeconômica, transformada profundamente no decorrer dos três séculos da Era Cristã. Durante esse período, Roma passou de potência conquistadora e expansionista a império acuado e voltado para a própria defesa. Sua capacidade de expansão atingira o limite já no tempo de Trajano (98 - 117), quando as fronteiras se haviam estabiblizado.
As conseqüências do fim do processo de expansão foram muitas. A primeira delas consistiu no fato de Roma ter deixado de receber as fortunas antes tomadas aos povos conquistados, que haviam promovido outrora o fácil enriquecimento da nobreza patrícia. A segunda, não menos importante, foi a diminuição da entrada de escravos, em geral prisioneiros de guerra. Na prática, a estabilização das fronteiras e o fim das conquistas assinalaram o início da crise do escravismo e do sistema imperial. A elevação do preço dos escravos nos séculos I e II d.C. foi o claro sintoma do escasseamento de sua oferta. Com o fim das conquistas, terminou também a repartição dos despojos de guerra entre o exército e a nobreza senatorial, o que só fez crescer a turbulência militar. Complicando esse quadro, a instabilidade política foi agravada pelas ameaças externas, tanto no Oriente, com os persas sassânidas, quanto no Ocidente, com os germânicos.
5. O intervencionismo estatal. A solução para esse conjunto de problemas apareceu com Diocleciano, que adotou como práticas a centralização do poder e o intervencionismo do Estado em todas as esferas da sociedade. Sua preocupação central, assim como a de seus sucessores, passou a ser a recuperação econômica e a melhora do sistema de arrecadação de impostos.
A recuperação econômica era uma tarefa particularmente difícil depois das ações predatórias do exército nas províncias, onde os constantes enfrentamentos entre facções rivais do próprio exército agravavam ainda mais a vida econômica local.
O comércio e as operações de crédito, que eram atividades parasitárias das conquistas, refluíram com o fim da expansão imperial e se retraíram ainda mais em virtude das ações militares destrutivas. Disso resultou a desvalorização da moeda, que fez o comércio retroceder para formas primitivas de trocas naturais. Essa regressão para uma economia natural, sem o uso do dinheiro, ocorrida durante o período de “anarquia militar”, havia destruído o sistema fiscal do Império, obrigando também o Estado a recolher os impostos em espécie.
A fim de garantir a eficácia do recolhimento in natura, Diocleciano ordenou um rigoroso recenseamento para conhecer a capacidade real dos contribuintes e determinar a proporção de bens a serem entregues ao Estado. Para facilitar o trabalho dos recenseadores e coletores de impostos, instituiu a obrigatoriedade da permanência dos indivíduos em sua profissão e em suas terras, e determinou que os comerciantes só poderiam negociar em locais definidos pelas autoridades.
A progressiva perda de liberdade devida ao aumento do controle do Estado sobre as pessoas tinha em vista não apenas garantir certo volume de impostos, mas também manter o funcionamento da economia em níveis satisfatórios. Os pesados encargos a que estavam sujeitos principalmente os pequenos proprietários rurais e urbanos acabaram, porém, provocando o abandono do trabalho e a fuga para locais inatingíveis pelo fisco, o que levou o Estado a redobrar as formas de controle sobre a população.
6. O enrijecimento da estrutura social. No século III, ao lado da escravidão, surgiu um novo tipo de trabalhador rural, o colono. Este, a princípio livre para abandonar a terra em que trabalhava, perdeu essa liberdade em 332, com o decreto de Constantino, que fixou o trabalhador na terra. Em caso de fuga, estava sujeito a ser acorrentado como os escravos. No tempo de Valentiniano I (364 - 375), foi formalmente proibida a venda do escravo separadamente da terra em que ele trabalhava, tornando a terra e o escravo indissociáveis. Assim, com a deterioração da condição dos trabalhadores livres, estes se tornaram, na prática, servos da gleba. Ficaram, desse modo, impedidos de abandonar a terra e, ao mesmo tempo, protegidos de serem despojados dela.
Os pequenos proprietários também tiveram sua liberdade restringida ao ficarem proibidos de deixar a sua aldeia.
O mesmo fenômeno repetiu-se nas cidades. A fim de evitar o abandono do trabalho e garantir a regularidade no exercício de certos ofícios, os artesãos foram reunidos em corporações (collegia), e tornou-se obrigatório o filho seguir a profissão do pai, criando-se um regime característico de castas. Os comerciantes, pertencentes agora à categoria dos chamados curiais, ficaram também presos à sua atividade e impedidos de transferir-se para o campo, como muitos desejavam.
Em suma, para fazer a economia funcionar e atender às necessidades mínimas de consumo da sociedade e pagar os impostos, o Estado restringiu drasticamente a liberdade de todos. Para executar essa nova política, o Estado ampliou o seu quadro de funcionários, aumentando consideravelmente a burocracia. A despesa que disso resultava, somada aos gastos militares com a defesa, elevou os custos de manutenção do Estado a níveis superiores à capacidade de uma economia arruinada e decadente. A longo prazo, a reorganização do Império em bases materiais tão debilitadas não poderia ter outro resultado senão o de enfraquecer o próprio Estado, tornando-o cada vez mais vulnerável aos ataques externos.
7. A ruralização da economia. O esforço de recuperação econômica feito pelo Dominato, apesar de toda a dificuldade, teve o mérito de manter o Império de pé por mais de duzentos anos ainda. Contudo, a sua obra estava sendo minada também por dentro, pois desde o século III a ruralização da economia se convertera numa tendência irreversível, reforçada pela consolidação das grandes propriedades, pertencentes à nobreza senatorial. Chamados agora de Claríssimos, os membros da nobreza senatorial eram os únicos que prosperavam em meio à crise econômica e militar, pois a terra era a última riqueza sólida que restara. Para as grandes propriedades, denominadas villas, convergiam fugitivos, escravos ou homens livres, em busca de proteção. O poder e a autoridade dos Claríssimos cresciam na mesma proporção em que o poder do Estado diminuía. Essa camada era suficientemente forte para não prestar contas às autoridades municipais e, muitas vezes, ignorava os próprios governos provinciais. O seu poder e autoridade se ampliaram ainda mais quando os pobres do campo e da cidade, que fugiam dos coletores de impostos ou de bandos armados, passaram a ser colonos dos grandes proprietários. Essa proteção que os proprietários davam aos colonos recebia o nome de patrocínio. Por esse meio, um número cada vez maior de pessoas era subtraído à autoridade do Dominato, motivando as tensões entre o Estado e os Claríssimos. A partir de 360, decretos imperiais proibiram o patrocínio. Com isso, camponeses e grandes proprietários chegaram a ser punidos. Mas toda a ação do Estado nesse sentido foi inútil. A força descentralizadora dos grandes proprietários contribuía para reduzir o Estado à completa impotência, preparando o caminho para a derrocada final do Império.
1. A chegada dos hunos e a ameaça visigótica. As antigas crônicas chinesas mencionavam um povo nômade e guerreiro das estepes asiáticas, denominado Xiong-Nu os hunos. Parentes dos turcos, os hunos ganharam a fama de guerreiros invencíveis. Com seus inseparáveis cavalos, eram também considerados os mais hábeis cavaleiros do mundo. No século IV, apesar da Grande Muralha chinesa, os hunos conquistaram o norte da China. Enquanto isso, outro grupo, o dos hunos ocidentais, rumava para o oeste. Em 370, depois de atravessarem os rios Volga e Don, esses hunos entraram em contato com os ostrogodos, no sul da Rússia, e derrotaram-nos em 375. Os ostrogodos que não aceitaram submeter-se fugiram para o Ocidente e se juntaram aos visigodos. Mas estes, pressionados pelos hunos, inimigos que julgavam incapazes de vencer, suplicaram ao imperador da parte oriental do Império Romano, Valente (364 - 378), a permissão para ingressar em seus domínios. Perto de 200 mil visigodos atravessaram o Danúbio, com autorização imperial, para se instalar no território romano da Ilíria. Foi um erro do imperador. Uma vez em segurança, os visigodos marcharam em direção ao Mediterrâneo, pilhando o que encontravam pelo caminho. Valente deu-se conta do erro e, confiante, resolveu enfrentar os visigodos em Adrianópolis, em 9 de agosto de 378, mas teve seu exército aniquilado pela cavalaria visigótica e ele próprio foi morto. Felizmente para os romanos, Teodósio (379 - 395), sucessor de Valente, impediu que os visigodos tomassem Constantinopla, forçando-os a fazer um acordo pelo qual deveriam instalar-se na Trácia como federados.
2. Saque de Roma por Alarico (410). Com a morte de Teodósio em 395, os visigodos, chefiados por Alarico, reiniciaram os ataques, ameaçando Constantinopla. Mediante negociação diplomática, foram desviados para a Grécia, que saquearam e destruíram durante anos, sobretudo Corinto e as cidades do Peloponeso. Em 401, após novas negociações diplomáticas, as autoridades de Constantinopla fizeram com que Alarico fosse para a Itália. Lá chegando, depois de duas tentativas, os visigodos cercaram a cidade de Roma, nela penetrando na noite de 24 de agosto de 410. Durante três dias Roma foi saqueada e incendiada. No dia 27, Alarico evacuou a cidade, levando consigo reféns, entre os quais a irmã do imperador. Tomando a direção sul, destruiu Cápua e atingiu o estreito de Messina. De lá pretendia passar para a Sicília e tomar depois o rumo da África, onde pretendia se fixar. Porém, sua morte súbita, ainda naquele ano, fez os visigodos mudarem de plano.
Enquanto o Império estava ocupado em defender-se dos visigodos, uma série de ondas invasoras se iniciava no norte, o que acabaria resultando na queda do Império Romano Ocidente.
3. A primeira onda: a grande invasão de 406. No dia 31 de dezembro de 406, em meio a um rigoroso inverno, uma federação informal de tribos germânicas, composta pelos suevos, vândalos e alanos, pressionada pelos hunos, atravessou o Reno e devastou a Gália. Pela brecha aberta entraram em seguida os burgúndios, que se instalaram entre Worms e Spira, na Alemanha atual, e os alanos, que ocuparam a Alsácia.
Em 409, os germânicos daquela federação informal passaram para a Espanha. Essa província era mais pobre do que a Gália e, submetida à pilhagem, nela espalhou-se a fome, que dois anos depois atingiu também os invasores. Sem alternativas, os germânicos viram-se obrigados a negociar com o Império e aceitar a condição de federados. Os suevos se estabeleceram ao norte do rio Douro, os vândalos na região de Sevilha e os alanos no planalto central da Espanha.
4. A reconciliação dos visigodos. Alarico teve como sucessor Ataulfo, seu cunhado, que procurou reconciliar os visigodos com o Império. Depois de demonstrar sua lealdade aos romanos combatendo um rival de Honório (395 - 423), imperador do Ocidente, os visigodos foram admitidos como federados na Aquitânia, no sul da Gália. Ataulfo foi assassinado por um de seus criados em 415 e sucedido por Wallia, que reafirmou lealdade a Roma.
A partir de 415, o Império se conformou com a presença germânica em seu território e procurou incorporá-los, colocando-os a seu serviço, como outrora fizera com tanto sucesso nas províncias.
5. A desintegração do Império Romano do Ocidente. A partir de 406, com a grande invasão, a unidade do Império Romano do Ocidente encontrava-se seriamente comprometida. Depois de se instalarem na Espanha e serem admitidos como federados, os vândalos romperam o tratado com o Império e reiniciaram seu movimento expansionista. Chefiados por Genserico, um rei enérgico, os vândalos – os únicos bárbaros que possuíam uma frota – cruzaram o estreito de Gibraltar em 429 e chegaram dez anos depois a Cartago, estabelecendo um extenso domínio no norte da África.
Os visigodos, que haviam ocupado a Aquitânia, expandiram o seu domínio para a Espanha (418). Os burgúndios (nome do qual veio Borgonha) penetraram na Gália, no rastro da grande invasão de 406, e se estabeleceram na Sabóia, incorporando a partir de 458 os vales do Saona e do Ródano, fundando aí o seu reino.
Esses invasores germânicos, teoricamente federados e obedientes a Roma, haviam estabelecido, na realidade, domínios soberanos e independentes. A unidade imperial do Ocidente tornara-se, de fato, uma ficção.
Contudo, essa primeira onda invasora germânica foi levada a cabo por povos que haviam sofrido forte influência romana. Não tinham, por esse motivo, o objetivo de destruir o Império. Esse fato foi demonstrado por ocasião dos perigosos ataques desferidos pelos hunos.
6. A invasão dos hunos no Ocidente. Depois de terem atacado os germânicos na Europa oriental, provocando a grande invasão de 406, os hunos se estabeleceram na região atual da Hungria, na bacia do Danúbio. O Império do Oriente temia ser atacado e, para prevenir essa eventualidade, Constantinopla comprou a paz, literalmente a peso de ouro, entregando 6 mil libras desse metal aos hunos, em 443. Em 450, tendo à frente um imperador com maior firmeza, Marciano (450 - 457), Constantinopla recusou-se a renovar o pagamento daquele tributo.
Desde 439, os hunos eram governados por um rei de forte personalidade, chamado Átila. Por razões desconhecidas, sob sua liderança os hunos renunciaram às suas pretensões no Oriente e decidiram invadir o Ocidente. Assim, pela segunda vez, o Império Romano do Oriente se salvou à custa do Império Romano do Ocidente.
Contra esses invasores asiáticos formou-se no Ocidente uma forte coligação romano-bárbara. Quando os hunos chegaram à Gália, em 451, eram esperados por esse exército de forças conjugadas, que incluía alanos, burgúndios, francos, saxões e visigodos – os aliados bárbaros de Roma.
Repelidos da Gália, os hunos, depois de refazer as suas forças, voltaram à Itália, em 452, sitiando, destruindo e saqueando suas cidades. Caminharam diretamente para Roma, cujos habitantes entraram em pânico. Para incredulidade geral, o papa Leão I, o Grande (440 - 461), tomou a iniciativa de negociar com Átila, ao qual ofereceu uma enorme riqueza para abster-se do ataque a Roma. Para surpresa de todos, Átila aceitou a oferta e se retirou da Itália. Dois anos depois, quando se preparava para novas campanhas no Oriente, sofreu morte súbita na noite de núpcias de mais um de seus casamentos. Com a morte de Átila, a unidade dos hunos se desintegrou.
7. A queda de Roma. A união temporária romano-bárbara contra os hunos não eliminou a instabilidade interna em que se encontrava a parte ocidental do Império. Em 476, um grupo de bárbaros composto por hérulos e godos, que serviam como mercenários em Roma, estava reivindicando o estatuto de federados, o que lhe daria o direito de obter terras e, aos chefes, o direito de receber tributos. Diante da negativa imperial, um desses chefes, Odoacro, um hérulo, tomou a iniciativa de derrubar o fraco imperador Rômulo Augústulo (475 - 476) e assenhoreou-se da Itália, coroando-se rei. Desaparecia, assim, o Império Romano do Ocidente.
8. Os fatores da queda de Roma. Desde a morte de Teodósio, em 395, as duas partes do Império ocidental e oriental foram se diferenciando. Essa diferença era particularmente notável em relação à capacidade de defesa diante das ameaças germânicas. Exemplo disso foi a incapacidade do Ocidente romano de livrar-se da crescente importância dos germânicos nas forças armadas. Constantinopla conseguiu afastar os germânicos do comando e retomou o controle sobre o exército. Em Roma, ao contrário, o exército permaneceu estruturalmente germanizado, apesar dos esforços em contrário.
Um dos fatos decisivos para a queda de Roma foi a amplitude das fronteiras do Ocidente romano, o que impossibilitava que fossem totalmente guarnecidas. Para sua infelicidade, ocorreu também que as migrações germânicas tomaram clara e decididamente a direção ocidental. Nesse ponto, a divisão do Império consumada por Teodósio foi altamente negativa para o Ocidente, pois a defesa dos ataques germânicos contra o Ocidente não contou com uma ação coordenada diante de um inimigo comum. Para piorar a situação, a parte oriental, encabeçada por Constantinopla, usava meios diplomáticos para desviar os germânicos para o Ocidente, como aconteceu com os visigodos.
Desde o tempo de Teodósio (378 - 395), a pressão germânica sobre o Ocidente não parou de crescer. Naturalmente, para fazer frente às ameaças externas, Roma viu-se na contingência de assegurar a arrecadação de impostos. Porém, a sua base econômica debilitada suportava cada vez menos o ônus da defesa. Como conseqüência, o peso da situação foi minando gradualmente a parte ocidental, acarretando um grave processo de decomposição. Assim, Roma viu-se num terrível círculo vicioso: as incursões germânicas desorganizavam a economia, reduzindo a capacidade dos romanos de pagar impostos e, em conseqüência, enfraqueciam o poder militar do Estado. Paralelamente, outro fator, não menos importante, atuava contra a parte ocidental: à medida que o Estado se enfraquecia, a nobreza latifundiária, muitas vezes aliada aos chefes militares, reforçava a sua autonomia, aprofunda aprofundando a debilidade do governo imperial. Tudo isso ocorria no exato momento em que as ameaças germânicas requeriam, mais do que nunca, uma ação coesa e coordenada do Estado. Essa desintegração interna do Império Romano do Ocidente contribuiu decisivamente para o êxito dos ataques germânicos. A facilidade com que Odoacro se apossou de Roma, depondo Rômulo Augústulo em 476, mostrou a extrema vulnerabilidade a que havia chegado o Império Romano do Ocidente.
9. O fim do mundo antigo e o início da Idade Média. A metade oriental do Império Romano sobreviveu até 1453. Desapareceu, portanto, 977 anos depois da queda de Roma e da fundação do reino de Odoacro na Itália, em 476. Nessa última data, segundo os historiadores, terminou o mundo antigo e teve início a era medieval. Esta situa-se entre a queda de Roma (476) e de Constantinopla (1453), isto é, entre o fim do Império Romano do Ocidente e o fim do Império Romano do Oriente, também chamado Império Bizantino.
Quando Roma desapareceu como centro do Império, ainda sobrevivia no Mediterrâneo oriental uma grande civilização da Antiguidade, a dos persas, que a partir de 226 constituiu o Império Sassânida. Este, juntamente com o Império Romano do Oriente, representava a continuidade do mundo antigo.
Já na parte ocidental, com achegada dos germânicos, iniciou-se um longo processo de fusão entre estes e a tradição romana, que só iria ganhar contornos precisos com a constituição do feudalismo, a partir do século IX.
A região do Mediterrâneo, que era o centro em torno do qual girava o mundo antigo, não havia sofrido, apesar da invasão germânica, uma ruptura com a Antiguidade. Esta ocorreu, efetivamente, a partir de meados do século VIII, com a expansão árabe-islâmica. Os árabes representaram um dado completamente novo no cenário mediterrânico. Sua inesperada irrupção levou de roldão o Império Sassânida, pondo fim a uma história de doze séculos da antiga Pérsia, e conquistou também dois terços dos territórios do Império Bizantino. Foram, portanto, os árabes que alteraram por completo o quadro político vigente até então no Mediterrâneo, colocando um ponto final na história do mundo antigo.

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