Note-se que a disputa pelo acesso aos recursos hídricos é inevitável, pois não existe um consenso de que este bem deve ser dividido igualmente a todas as nações. Impera a idéia de que o direito à água está ligado à zona de dominação de cada país. Portanto, cada nação pode desfrutar das águas contidas até o limite de suas fronteiras.
Essa concepção é conveniente para aqueles que dispõem de fartura em seus lençóis aquíferos. Nações pobres que já amargam a escassez e suas consequências, ou seja, seca, fome, doenças e mais pobreza, ficam entregues à sorte e a população tem que se tornar um povo nômade, à procura de um lugar que disponha de água para poderem sobreviver. As nações ricas que não possuem mananciais suficientes em seu território, têm de comprar a água de outros países ou, numa visão pessimista, mas concreta, optam por invadir terras alheias ostentadoras de mananciais que resguardem sua carência aquífera.
Portanto, não são apenas os países pobres que vivem a escassez, mas são eles os que mais sofrem com ela.
A falta de acesso à água limpa mata cerca de dois milhões de crianças por ano pode impedir que a humanidade atinja os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, um conjunto de oito metas que 191 países se comprometeram a atingir até 2015 e atravanca as perspectivas de crescimento econômico nos países mais pobres do mundo, revelou o Relatório anual da ONU sobre Desenvolvimento Humano.
Hoje mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem em estado de privação de água, ou seja, moram a mais de um quilômetro da fonte de água potável mais próxima. Por conta disso, muitos utilizam água recolhida de esgotos, valas ou córregos, sob severo risco de contaminação. Outros 2,6 bilhões não têm latrinas ou sistemas de esgoto para descartar seus dejetos, comprometendo o ambiente em que vivem. Não por acaso, a água suja é hoje a segunda maior causa de mortalidade infantil no mundo.
"O mundo enfrenta uma crise que, se não for controlada, vai pôr em perigo o progresso em direção aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e atrasar o desenvolvimento humano", afirma Kemal Dervis, administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), cujo relatório de 2006 focou especificamente as questões relacionadas à água.
Apesar do tom catastrófico, o documento, intitulado Relatório de Desenvolvimento Humano, enxerga uma saída para a crise que retrata. "Temos os meios financeiros e tecnológicos e a capacidade de fazer a crise da água e do saneamento passar à história, com tanta certeza como os países ricos de hoje fizeram há um século."
Faz sentido mencionar a disparidade entre os países ricos e os mais pobres. A desigualdade no acesso à água entre nações acompanha de maneira bastante fiel a desigualdade em outros indicadores de desenvolvimento humano.
O volume médio de água utilizada por pessoa por dia varia de 200 a 300 litros na maioria dos países da Europa e alcança exagerados 575 litros nos Estados Unidos. Enquanto isso, o uso médio em países como Moçambique é inferior a 10 litros, aponta o relatório.
Habitantes do Reino Unido usam em média mais de 50 litros de água por dia só com a descarga do banheiro. Na África subsaariana, um grande número de moradores vive com menos de um décimo disso.
As necessidades de consumo variam muito ao longo do globo, de acordo com as condições climáticas, de moradia, entre outros. Mas como padrão mundial, os organismos de saúde internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), definiram que 20 litros per capita por dia, a partir de uma fonte dentro de um quilômetro da casa, é o mínimo necessário para uma pessoa manter o seu bem-estar físico e a dignidade que vem de estar limpo.
Segundo o documento, a África subsaariana atingiu a menor expectativa de vida em 30 anos; enquanto os noruegueses podem esperar viver quase 80 anos, a média de vida em países como Quênia, Ruanda e Moçambique é de 46 anos.
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