Resumo:
Este artigo
traz por tema as ideologias e as mensagens subliminares norte americana,
através do super herói Superman, que em mais de 70 anos de criação em suas
primeiras tiras de jornal, viria a se tornar um um dos mais famosos personagens
e conhecido mundialmente, e que ao longo dos anos o personagem passaria por
transformações acompanhando a sociedade da década de 1930 até os dias de hoje.
Palavras Chave: Superman,
Histórias em Quadrinhos, Estados Unidos, Ideologia, Herói
Abstract:
This study provided by theme ideologies
and North American subliminal messages through the superhero Superman, that
in more than 70 years of creation in his first comic strips, would
become one of the most famous characters and world
renowned and that over the years the charactertransformed
by following the society of the 1930s until today.
Keywords: Superman, Comic Books, United State, Ideology,
Hero
INTRODUÇÃO
O intuito deste artigo é
demonstrar como um personagem em quadrinhos pode representar inúmeros mitos,
símbolos, ideologias, massificação e o ufanismo de seus roteiristas e da
própria empresa, apresentado um personagem, Superman como modelo.
As referências utilizadas
aqui serão os quadrinhos norte americanos dos últimos 25 anos da editora DC
Comics, que é a detentora dos direitos do Superman que iremos analisar.
Abordaremos neste trabalho as mensagens subliminares e ideologias produzidas ao
longo dos anos através deste personagem. Para isso podemos referenciar outros
personagens e a Editora Marvel, para ilustrar, elucidar o Superman com o
idealismo[1] norte americano. Devemos lembrar que a
massificação do personagem é enorme e que atualmente se utiliza de outras
“mídias”, tais como: filmes e animações para a divulgação do personagem.
Superman, o primeiro super
herói reconhecido foi criado em 1938, época de grande dificuldade para os norte
americanos, conhecido como a Grande Depressão (1929-1945). Os EUA enfrentavam
grandes problemas econômicos, políticos e sociais, com altos índices de
desemprego, a violência e as cidades sob controle da máfia.
O personagem que veio de outro
planeta ainda criança, cresceu envolto na ideologia norte-americana
nesse período de dificuldades mundiais. Foi criado por fazendeiros pobres,
chega à cidade grande adulto e com seus atos “heróicos” e altruístas, torna-se
o protetor dos cidadãos oprimidos pela fome, violência e descaso dos
governantes. A primeira aparição do Superman foi na revista Action Comics #1 em 1938,
nos Estados Unidos, seus autores Joe Shuster (1914-1992) e Jerry
Siegel (1914-1996). Alguns anos depois, foram criados muitos outros
personagens heróis, Batman e Robin, Flash, Lanterna Verde, Arqueiro Verde,
Gavião Negro, Spectro, Aquaman entre outros. Alguns heróis se uniram e criaram
a Liga da Justiça da América (LJA). Entretanto Superman não fazia parte da LJA,
pois seu personagem era o mais importante entre todos que existia, então a
editora preferiu deixá-lo com sua revista “solo”.
Ao
longo das décadas Superman foi sendo reformulado, acompanhando o período
histórico e também pela necessidade da editora DC Comics (detentora dos
direitos do personagem). Seus poderes e sua origem foram apresentados ao
público gradativamente para que pudessem acompanhar sua evolução. Um herói que
tinha seus poderes vinculados aos raios do sol amarelo de nossa galáxia. Dentre
eles o poder de correr mais “rápido que uma locomotiva” e saltar o prédio mais
alto do mundo (Empire State Building que até 1972 e foi superado com a
construção do World Trade Center), ter a força de 10 homens, sua visão de
raios-X (que era uma das descobertas mais importante do período) foi apropriado
pelo personagem, o uniforme com as cores da Bandeira do EUA e o “colant” juntamente
com o uso da “sunga” por cima do uniforme, remete a idéia do o artista de circo
conhecido como “homem mais forte do mundo na época[2],
“que utilizava uma roupa muito justa mostrando seus músculos. Os quadrinhos e o
Superman tinha o poder de se manifestar de forma positiva em um período onde as
dificuldades eram enormes. As histórias em quadrinhos (HQ’s) se tornaram um
veículo de comunicação da massa, alienando toda uma população carente e
necessitada de alguém que os ajudasse.
O pós-guerra (1945-1950), os
EUA viviam sob ameaça dos socialistas/comunistas e todo “idealismo utópico” que
o Socialismo defendia, podia ser considerada uma ameaça ao sistema capitalista,
ao crescimento e ao lucro. Começa toda uma propaganda negativa contra o
Socialismo e contra os comunistas. Os quadrinhos não passaram ao largo deste
processo de perseguição aos comunistas, os heróis foram condenados e censurados
por psicólogos, políticos e educadores.
O senador Joe McCarty
(1908-1957) com o Macartismo[3] e o psicólogo
Fredric Wertham, lideraram a “cruzada” contra os quadrinhos, estes alegavam que
o conteúdo das HQ´s era comunista e também exibiam maus exemplos para as
crianças e adolescentes. O psicólogo Fredric Wertham (1895-1981), lançou o
livro Seduction of the Innocent (1954), que tratava as HQ’s de forma
negativa, dizendo que Batman e Robin eram gays, a Mulher Maravilha tinha
desvios sexuais por ter um corpo definido e o Superman era prejudicial para as
crianças, pois seus poderes desafiavam as leis da física. O fato dos heróis
quererem “ajudar a todos”, soou como pensamento Socialista.
Os fatos repercutiram tanto
que o senado americano criou uma comissão para apurar e criar um conjunto de
regras sobre o que poderia ser mostrado nas HQ’s. Desta forma as revistas
deveriam passar por uma revisão e depois de uma avaliação, a publicação recebia
um selo (Comic Code) autorizando a comercialização. Para se adaptarem as novas
regras os roteiristas tiveram que escrever histórias mais leves e com conteúdos
mais brandos, Batman foi o que mais sofreu com essas mudanças, pois o ambiente
sombrio e violento que habitava seu personagem teve que ser amenizado.
A partir da década de
1960 essa censura foi abolida. Muitos personagens que haviam sido submetido às
mudanças e ficado “sem graça” e retirados de circulação, retornaram ao mercado
com nova repaginação, com mudanças em seus uniformes e com histórias mais
elaboradas e atrativas. Período conhecido como a “Era de Prata” dos quadrinhos.
Censuras e
críticas ao longo dos anos têm criado debates sobre o tema heróis, vilões,
super heróis, super vilões, ideologias, política, economia, sociedade, mas
sempre de maneira branda. A partir de 1987 os quadrinhos sofreram uma grande
transformação com Frank Miller, que quebrou o tabu e se tornou um marco dos
quadrinhos escrevendo “O Cavaleiro das Trevas”, mostrando a violência, a
política e o idealismo de forma explicita.
Os leitores gostaram destas
transformações e o mercado de HQ elevou seu nível de arte gráfica, mudando o
papel, o formato e a linguagem. Mesmo com historias mais elaboradas sua
linguagem ficou mais fácil, com suas histórias envolventes, a quantidade de
figuras e cores, agradam o público que cada vez mais consome estes “produtos”.
Os profissionais dos
quadrinhos se tornaram mais qualificados, tenha como exemplo o roteirista Paul
Dini e o ilustrador Alex Ross, norte americano que ganhou status de
artista, por reproduzir em suas ilustrações o realismo.
O
MITO DO HERÓI
Desde a antiguidade os
heróis são descritos como homens destemidos de tamanha coragem. A origem do
Superman mescla diversas mitologias, é um “mix” de diversos personagens
históricos.
Na Grécia antiga,
encontramos Hércules, um semideus, filho de Zeus e dotado de força descomunal.
Outro semideus é Aquiles[4], ele era invulnerável em
todo o seu corpo, exceto em seu calcanhar, sua única fraqueza. Na mitologia
nórdica, temos Siegfried[5], guerreiro invencível sendo
seu ponto fraco uma pequena parte nas costas. Temos Hermes, um dos deuses
olímpicos que possuía asas nos pés e isso lhe permitia voar e ser muito rápido.
Hermes inspirou também outro herói o Flash.
A religião cristã foi outra
fonte de inspiração para o personagem do Superman. Moisés que foi adotado e
deixado em uma cesta, o mais emblemático: Deus enviara seu único filho para ser
o salvador do mundo, Jesus. Quando adulto morre e ressuscita.
Na Idade Média, na ordenação
de um cavaleiro, ele fazia o juramento comprometendo-se a ser sempre
corajoso, leal, cortês, e proteger os indefesos. Em suma, os dons e valores
personificados neste personagem vêm sendo difundidos desde a Antiguidade
Clássica, acrescidos de intervenção dada à mudança da realidade para a ficção.
Superman é dotado de força
descomunal. Pode voar, ser muito rápido, sua única fraqueza é a Kryptonita
(minério de seu planeta natal). Como os heróis da mitologia grega e nórdica.
Superman também foi adotado. Fora achado em sua pequena nave e mais tarde
descobre que talvez seja o único sobrevivente do Planeta Krypton, que estava à
beira de um cataclismo e antes do colapso e da explosão do planeta, seu pai, o
cientista Jor-el, o colocou em uma nave e enviou para o nosso planeta, pois sabia
que o sol amarelo da Terra proporcionaria poderes e que os mesmos seu filho
poderia utilizar para ajudar os seres humanos, ainda em desenvolvimento. Sua
aparição é como adulto. Ele morre e retorna de sua morte, ele jura usar seus
poderes em prol da humanidade e jura que protegerá os humanos mesmo que isto
implique sua morte.
A figura mítica do herói
teve sua origem na Grécia Antiga e no modelo ideal do herói tendo que ser
sempre bravo destemido e digno de confiança, acabou sendo retratado nas HQ’s e
reforçando essa mentalidade. Os norte americanos induzem que todo o herói tem
que ser bom, tem que ser justo e tentar ajudar os que não podem se ajudar.
Ninguém questiona isso, virou senso comum, o herói é intocável, a representação
é a mesma do mito, cuja significação ultrapassa a razão.
Segundo Eco (1998) que enaltece a figura do mito, cuja importância pode refletir
aspirações e temores de um indivíduo, ou de toda uma comunidade. Os ícones
(símbolos) criados pelo homem são capazes de representar todos os seus
conceitos de amor e ódio, força e fraqueza, bem e mal, etc. “É a
projeção do que gostaríamos de ser” (ECO, 1998, p.253).
Essas imagens simbólicas que
foram transformados na figura do Superman, considerado o maior super-herói do
mundo, um personagem carismático que ao mesmo tempo tem todas as características
descritas por Eco. Ele demonstra a humildade e usa a covardia (fraqueza) para
disfarçar sua super força. Valores estes que nos foram ensinados desde
pequenos, tais como: que devemos ser boas pessoas, que devemos ajudar os mais
fracos, nossos pais nos ensinam que não devemos brigar que devemos ajudar os
idosos, etc...
Outro ponto importante a ser
analisado é a idéia de bem e mal, que é explicado por Spinoza. “Chamamos de mau
o que é a causa da tristeza, isto é o que diminui ou reduz nossa potência de agir”
(SPINOZA, 2011, p. 93). Então entendemos que, a contraparte da tristeza é
a alegria, e quando não conseguimos agir, esperamos que alguém nos traga a
alegria, desta forma nasce o herói que pode fazer o que não conseguimos.
PORQUE
O SUPERMAN É O MAIOR SUPER HERÓI QUE EXISTE?
Superman é o representante
mais importante no mundo fictício. Da imaginação foi para os quadrinho e para o
cinema, se tornando "quase real", é a soma dos melhores valores em um
único personagem, porque sempre faz o que é certo. E adentra as fronteiras de
outros países para ajudar os necessitados e em razão de seus poderes (super
velocidade, vôo, super força, visão diversas, super audição, invulnerabilidade
a quase tudo, poderes que nenhum outro super-herói possui). Por isso ele tornou-se
um símbolo de justiça, liberdade e esperança, de todos os “grandes heróis”,
Batman, Flash, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, Arqueiro Verde, Homem Aranha,
Capitão América, Capitão Marvel. Estes são regionalizados, ou seja, a proteção
de cada herói é restrita a cidade em que vivem.
Atualmente, os mitos sofrem
um processo de adaptação cultural, política e as ideologias vigentes, nisto há
necessidade de atender a demanda de uma população que deseja consumir o
personagem. O jogador de futebol pode ser comparado ao herói que, segundo o
pensamento de Spinoza, pode nos trazer a alegria pois, em um jogo pode decidir
com uma jogada. Ele faz o que gostaríamos de fazer: “ajudar nosso time”. Mas
não conseguimos fazer e dependendo da competição, este, pode se tornar um herói
nacional.
AS
IDEOLOGIAS
No
liberalismo Adam Smith (1723-1790), defende que o Estado não deve interferir na
economia, mas também defende que o Estado tem o dever e a obrigação de manter a
ordem pública, respeitar as leis, promover a justiça e proteger a propriedade
privada, ou seja, evitar roubos e abusos por terceiros. O herói tem que prender
o ladrão para se fazer justiça e cumprir a lei, mas a polícia existe para que?
Não é dever do Estado nos proteger? Então o Estado deveria ser nosso herói,
pois o herói está para proteger a propriedade.
O neoliberalismo já aceita
intervenções do governo na economia e assume que o Estado não tem condições de
atender a população de maneira eficiente. Como o Estado não pode trazer essa
segurança que o herói traz, então para nos sentirmos seguros criamos o mito para
nos atender. O neoliberalismo assume sua deficiência e transfere então para as
ONG’s algumas questões sociais. Transfere para a Igreja o conforto e a
esperança de melhoras de nossas vidas, só esta faltando transferir totalmente
para a propriedade privada a segurança. E em pequena proporção isso já é feito.
Já que o Estado não pode nos assegurar, chamemos o Superman! Ele fará as
prisões e entregará a policia que cuidará da parte burocrática. Esse é um claro
exemplo sobre a crítica dos departamentos de segurança, afinal de contas a
violência assola nossa sociedade.
A ideologia dos mitos se
propaga nas culturas de massa, sejam elas nos quadrinhos, na literatura, no
cinema ou na televisão. O herói sempre surge como guardião dos nobres valores
do povo que o acolheu, assim como é transmissor dos ensinamentos para as
futuras gerações. Batman por exemplo, teve seus pais mortos por assaltantes,
mas ele nunca comete assassinatos, leva ou entrega os bandidos para a polícia
para se fazer cumprir as leis, o mesmo acontece com o Superman, pois ninguém
está acima das leis. Os americanos criadores do personagem Superman juntamente
com a empresa detentora dos direitos usa os meios de comunicação de massa, para
a divulgação de sua ideologia baseada no destino manifesto[6]
É de conhecimento popular
que o EUA é o país das oportunidades, que você pode ser transformar do dia para
noite em um milionário, basta ter uma excelente idéia, é isso que eles querem
que todos acreditem. Este exemplo de influência ideológica pode ser observado
no núcleo familiar do super herói. Os pais adotivos de Superman eram
fazendeiros pobres que o acolheram ainda criança, vindo de um “lugar distante”.
Mesmo com todas as adversidades da Grande Depressão, os ensinamentos
transmitidos para o pequeno Clark Kent[8], foram tão
significantes que ele se transformou no maior herói de todos. Isso não poderia
significar que ele aproveitou a oportunidade? A dupla identidade também é uma
maneira de aproximar o leitor do herói, Clark Kent, um homem simples, pacato e
trabalhador, que mesmo com todos os seus poderes, tem contas para pagar,
emprego, horário a cumprir, vida social, família, amigos, namorada. Nunca
reclama e cumpre com seus deveres cívicos, como qualquer “pessoa”. Esse é o
padrão de comportamento esperado para os cidadãos de bem.
MENSAGENS
SUBLIMINARES
Nos
quadrinhos vários super heróis vem trazendo inúmeras mensagens, por exemplo, o
Capitão América um homem muito franzino com a aparência de um menino, se
voluntaria no exército e participa de uma experiência na qual se transforma em
um super soldado. Isso remete ao idealismo militar que transforma meninos em
homens. Ele torna-se um combatente na 2ª guerra mundial e ajuda a derrotar
Adolf Hitler que é representado pelo Caveira Vermelha.
O
Homem Aranha que ao ser picado por uma aranha radioativa ganha super poderes e
com a morte de seu tio que o criou e lhe ensinou que “com grandes poderes, vem
grandes responsabilidades”, pôs sua vida de lado em prol de ajudar os outros.
Batman/Bruce Wayne, Homem de
Ferro/Tony Stark, Arqueiro Verde/Oliver Queen são os bilionários no mundo dos
quadrinhos e são heróis. Não tem poderes, mas criaram maneiras de ajudar o
próximo. A idéia é que os mais ricos têm que ajudar os desfavorecidos. Os ricos
procuram atacar a violência armada, pois eles são vitimas da mesma, mas não a
violência econômica que joga milhões na miséria, no entanto garantir a idéia de
que milionários possam tornarem heróis, mesmo da diferença social, ainda
podemos vê-los como salvadores da sociedade.
O personagem e as histórias
do Superman trazem o idealismo norte americano, alienando o leitor e levando-o
a se identificar com o personagem. Humanizando-o, mostrando suas dúvidas, seus
temores, seus sonhos e com isso faz com que os leitores aceitem com
naturalidade a ideologia reproduzindo esse pensamento. Como exemplo disso temos
a origem do Superman, Jor-el (pai biológico do Superman) envia seu único filho
à Terra para salvá-lo e este veio a ser o salvador. Sua nave cai em uma fazenda
e é adotado por terrestres. Isso remonta a história de Deus que envia seu único
filho para ser o salvador e de Moisés que é deixado dentro de um cesto e é
adotado pela filha do faraó do Egito.
Superman é morto
(história escrita em sete capítulos em 1992 e se estendeu pelas revistas Liga
da Justiça da América, Superman, Aventuras do Superman e Action Comics).
Superman teve velório e enterro, mas posteriormente ele retorna (em 20
capítulos em 1993, nas mesmas publicações acima citadas) como na Bíblia[8] que Deus envia seu único filho Jesus, para ser
nosso salvador, Jesus também faz sua aparição já adulto com 33 anos, é
crucificado e morto e ressuscita deixando seus ensinamentos para as próximas
gerações. Isso remete a um plágio da vida de Jesus Cristo, fato que é
admissível considerando que na ideologia do Destino Manifesto, é o pensamento
que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos é eleito por Deus para
comandar o mundo.
Outra
menção muito clara a respeito da comparação do Superman com Jesus Cristo é no
filme Superman Returns (2006), Superman vai embora do Planeta Terra e retorna
depois de cinco anos ausente, que é uma alusão ao retorno de Jesus
[8], em outra parte do filme a voz de Jor-el diz para o Superman: “Apesar
de Ter sido criado como um ser humano, não é um deles. Eles (os humanos) querem
ser ótimas pessoas, só lhes falta Luz para mostrar o caminho. Por esta razão,
da capacidade deles para o bem, eu o enviei a eles, meu único filho”.
A
nave do pequeno Kal-el cai nos EUA, é encontrado por fazendeiros e criado pelos
mesmos como se fosse seu próprio filho. O educam e lhe ensinaram todos os
valores adotados pelos americanos. Seus pais adotivos sabiam que ele era
“diferente”, pois com o passar dos anos ele veio a demonstrar habilidades que
nenhum outro poderia apresentar, até que um dia ele poder ajudar os outros com
suas habilidades. Superman ele atravessa fronteiras dos outros países com a
missão de ajudar os necessitados isso não acarreta nenhum problema, pois essa é
a essência do herói: ajudar quem mais precisa. Curiosamente o exército americano
também atravessa fronteiras de outros países com intuito de ajudar, isso
aconteceu no Vietnam, Coréia, Iraque, que tinha Saddam Hussein como tirano que
oprimia seu povo, e um herói não pode permitir que isso aconteça. Recentemente
no governo de Barack Obama, o líder terrorista Osama Bin Laden, foi caçado e
morto por militares norte americanos, com o propósito de acabar com o
terrorismo mundial.
Em O Reino do
Amanhã (1997), história que se passa no futuro, Superman havia
abandonado Metrópolis, pois o mundo e os valores haviam mudado. A nova geração
de heróis não seguia seus passos, os antigos valores foram abandonados, o herói
que se preocupava com muitos, agora se preocupava com si próprio. Esses ideais
que ele havia aprendido com seus pais, os valores de verdade e justiça
continuavam inabaláveis e não concordando com isso ele voltou para “resolver” o
problema, mesmo que para isso tenha que usar a força, isso faz uma alusão e uma
crítica ao governo americano que, como o Superman, tomou a frente e enfrentou o
“mal” pelo uso da força. Mas se analisarmos melhor, veremos um Superman que tem
dúvidas, raiva e comete erros é derrotado. Isso servirá de justificativa para a
humanização de um personagem alienígena, ao mesmo tempo ele deixa de ser uma
figura inatingível, causando a sensação de que qualquer um de nós pode ser como
ele.
Na minissérie Superman
entre a Foice e o Martelo (2004), a nave de Superman cai na URSS e não nos
EUA como sabemos, Superman se torna o ícone de poder de Joseph Stalin, nesta
série se faz menção ao socialismo / comunismo. Nesta versão por causa do
Superman, o mundo é praticamente socialista e o capitalismo é que é decadente e
causa flagelo nas pessoas. Lex Luthor o arqui-inimigo do Superman, supera todas
as adversidades e torna os EUA o único país capitalista do mundo e
inicia um governo liderado por cientistas, escritores e filósofos como Platão [10] defendia. Aqui mostra três formas de
governo, mas a liderança e resistência começa pelos EUA e a mudança para uma
sociedade sem um poder centralizado, também começa por eles. Mais uma vez a
força dos EUA pode mudar a maior das adversidades.
Em Paz na Terra (1999), é
levantado o tema fome, e na luta contra a fome Superman toma a iniciativa de
levar os alimentos excedentes que o EUA produz e entregar a quem
mais precisa. Outros países solidários entregam seus excedentes a fim de
“solucionar” este problema. Primeiramente Superman "percebe" e inicia
o combate a fome, posteriormente por questões humanitárias crê no direito de
“atravessar” outras fronteiras para fazer o bem, sem se importar se querem
ajuda ou não, questiona o uso da fome como forma de dominação e não aceita esse
tipo de governo. A mensagem deixada é que nos EUA ninguém passa fome e todos
são livres, que o governo é democrático e justo, ajuda outros que necessitam e
que não existe discriminação étnicas, religiosas.
A edição nº 900 (04/2011) da
revista Superman americana, criou uma polêmica, pois Superman quer renunciar a
cidadania americana. Superman vai até o Irã ajudar manifestantes contra a
polícia, o governo iraniano não gosta da intervenção do Superman alegando que
ele age em nome do governo americano. E em uma conversa com um funcionário
americano, Superman diz que irá renunciar a cidadania. A razão da sua renúncia
à cidadania é “A verdade, a justiça e os valores americanos não são
suficientes”.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
A editora se pronunciou
através de Jim Lee e Dan Diddio coeditores: “Superman é um visitante que vem de
um planeta distante e adotou os valores americanos há muito tempo. Como
personagem e ídolo, ele representa o melhor do que é ser americano”.
A citação dos Co-Editores
deixa clara a intenção de que empresa utiliza o personagem do Superman como
meio de massificar a ideologia norte americana, sendo ela declarada abertamente
como fizeram os editores ou utilizando meios menos explícitos. Os norte americanos,
por mais que eles próprios levantem questões e critiquem seus governantes,
ainda não é suficiente para mudar o pensamento capitalista que está arraigado
no povo e no governo, que creem no seu país e na importância que eles
representam. Ficou claro em todos os quadrinhos analisados que o Superman é a
figura representativa dos valores e do povo americano e conforme sua
popularidade e carisma fazem com que nos convençamos disso.
BIBLIOGRAFIA
ECO, Umberto. O mito do
Superman. In: Apocalípticos e integrados. 5ª edição, São Paulo:
Perspectiva, 1998.
MARCONDES, Danilo, Textos
básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Baruch Spinoza - 7ª
Ed. - Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
SMITH, Adam, A Riqueza
das Nações, Volume II, Investigação Sobre sua Natureza e suas Causas, p 192:
tradução, Luiz João Baraúna. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1996.
BIBLIA. Português. Bíblia sagrada.
Tradução: Bíblia Reina-Valera. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica
Intercontinental do Brasil, 2009 – João 3.17 e Mateus 24:42
REVISTA MUNDO DOS SUPER
HEROIS, São Paulo, Europa, 2009, Ed. Nº 18, p. 22 a 47.
BLACKBURN, Simon, A
República de Platão: uma biografia / Simon Blackburn; tradução, Roberto Franco
Valente; revisão técnica, Danilo Marcondes. — Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2008. (Livros que mudaram o mundo)
SUPERMAN RENUNCIA CIDADANIA
AMERICANA. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2011/04/29/super-homem-renuncia-cidadania-americana-nos-quadrinhos-causa-polemica-924345601.asp>
Acesso em : 16 ago 2011
SUPERMAN Returns. Direção:
Bryan Singer. Produção: Bryan Singer, Gilbert Adler, Jon Peters.
Interpretes: Brandon Routh, James Marsden, Kate Bosworth, Kevin Spacey,
Marlon Brando, Parker Posey, Sam Huntington, Stephan Bender e outros. Roteiro:
Bryan Singer, Dan Harris, Michael Dougherty. Trilha Sonora: John Ottman, John
Williams. Los Angeles: Warner Brothers, 2009. 1 DVD(154 min), widescreen, color. Produzido por Warner Bros.
Pictures. Baseados nos personagens de Superman criados por Jerry Siegel e Joe
Shuster
Revistas
em quadrinhos
O Cavaleiro das Trevas. São
Paulo, Abril, 1987.
Super-Homem, Paz na Terra.
São Paulo, Abril, 1999.
O Reino do Amanhã. São
Paulo, Abril, 1997.
Action Comics, #900, Estados
Unidos,2011.
Superman.São Paulo, Abril,
1987.
A morte do Superman, São
Paulo, Abril, 1992.
O Retorno de Superman, São
Paulo, Abril,1993.
Superman entre a Foice e o
Martelo, 3 edições , São Paulo, Panini, 2004.
NOTAS
[1] Idealismo
norte-americano, faço referências a questão dos USA é um país de oportunidades,
uma nação que enviada por Deus, o ufanismo, o patriotismo.
[2] O
circo na época além de ter seus espetáculos habituais, com palhaços,
trapezistas, domadores de animais, tinha também o freak show (show de
bizarrices), pessoas que eram “diferentes” fisicamente, como a mulher gorda ou
barbada, o anão, o gigante, o engolidor de fogo, o homem grande e forte, etc...
[3] Senador
Joseph McCarty liderou uma caça às bruxas contra os “comunistas, e o termo
"Macartismo" é sinônimo de atividades governamentais
antidemocráticas, visando a reduzir significativamente a expressão de opiniões
políticas ou sociais julgadas desfavoráveis, limitando para isso os direitos
civis sob pretexto de "segurança nacional".
[4] Aquiles
que lutou na Guerra de Tróia fora banhado nas águas do rio, mas como foi seguro
pelo calcanhar único parte que não fora banhada.
[5] Siegfried
herói nórdico que mata um dragão e se banha com seu sangue para ter
invulnerabilidade, exceto por um dos ombros, coberto por uma folha.
[6] O Destino
Manifesto é o pensamento que expressa a crença de que o povo dos Estados
Unidos é eleito por Deus para comandar o mundo, e por isso o
expansionismo territorial americano é apenas o cumprimento da vontade Divina.
Escrito por John L. O'Sullivan escritor e político influente defensor
do Partido Democrata em Destino Manifesto, 1839.
[7] Clark
Kent nome dado pelos pais adotivos do Superman, seu nome Kryptoniano é Kal-el.
[8] João
3.17
[9] Mateus
24:42
[10] Platão
defende que um Estado deve ser governado por filósofos em A República de Platão
Livro I