RESUMO
Este artigo “Filosofia Agente Causador do Caos” traz por
tema a filosofia vista em um ponto de vista não costumeiramente pesquisado e
analisado, pois sempre vimos a filosofia como algo grandioso, esclarecedor, de
maneira geral o filosofo não defende ninguém a não ser as próprias ideias, pois
elucida todas as questões humanas e mesmo que por muito tempo fora praticada
por homens que não ‘são do povo’, questões diversas levantadas e questionadas,
serviriam a todos não importanto a sua classe social, mas esse trabalho
especificamente quero demonstrar a filosofia pelos olhos dos governantes que
usaram essa mesma filosofia para seu benefício ela pode e foi usada contra
esses mesmos governantes.
Palavras-Chave: Filosofia. Capitalismo. Revolução
Industrial. Socialismo. Marx. Anarquismo.
INTRODUÇÃO
Levando em consideração as palavras de Durkheim (2007, p.
47), “toda espécie de realidade, pode ser estudada a partir de dois diferentes
pontos de vista. Pode-se buscar conhecê-la e compreendê-la: ou antes, pode-se
propor julgá-la”. Com este artigo desejo demonstrar a filosofia em um
outro ponto de vista, não somente como um agente motivador, mas como agente que
destitui a ideologia vigente por outra e que transforma a sociedade em algo
caótico e descontrolado como veremos na Revolução Francesa, por exemplo,
fazendo com que as mudanças sejam feitas de uma maneira que altera todo o
processo estagnador. “A filosofia tem um fim prático, o de propiciar o
bem-estar a todos os homens, bem-estar físico em relação ao corpo, bem-estar
material em relação aos ganhos oriundos da aplicação da ciência e da
tecnologia” (DESCARTES, 2010, p. 30). Será que Descartes está certo sobre isso?
As referências bibliográficas utilizadas aqui serão pontuadas,
usarei a Idade Moderna como referência, especificamente o período da
Industrialização que historicamente é a gênese de nossa atual sociedade, mas
não será de maneira minuciosa e nem gradual, pois não seria possível explanar
todos os aspectos relacionados em poucas páginas, mas ilustraremos
especificamente onde a filosofia torna a sociedade desordenada e caótica no
ponto de vista social, político e econômico. Abordaremos neste trabalho os
processos ocorridos nos períodos supracitados e contextualizados de maneira que
fique fácil a compreensão e para que percebamos como uma idéia pode ser dúbia
dependendo de quem escreve a história.
Quando pensamos em filosofia vem logo a mente os grandes
filósofos como Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Rousseau, Kant,
Descartes e muitos outros, e vemos na filosofia idéias grandiosas, idéias que
são capazes de modificar tudo o que conhecemos. A filosofia trata das questões
de existência humana, pela análise do ser individual e até coletivo, sempre
tentando encontrar a resposta para o ‘ser’. Já que a filosofia trata de
questões humanas, o filósofo por sua vez tenta encontrar as respostas
primeiramente em si mesmo, observador, curioso e nada pragmático, esses homens
trazem consigo uma mesma característica, o não conformismo do ‘é assim mesmo’.
Muitos filósofos têm ideias controversas que são debatidas, algumas aceitas,
outras questionadas e outras inaceitáveis isso é feito até hoje.
Não existem ideias ruins ou boas; isso é uma ilusão pois
pensamos sempre numa funcionalidade dessas mesmas ideias: se elas funcionam são
boas; se não funcionam são ruins. Ou seja, isso dependerá sempre do outro que
acata ou não essas ideias. Tais concepções vieram dos gregos, com seus heróis e
grandes feitos, numa luta do bem contra o mal; na cristandade medieval, por sua
vez, vieram com os anjos e demônios, reforçando mais ainda essa dualidade no
mundo. Por este motivo, isso me fez pensar na própria filosofia com tantos
filósofos ou pensadores nesses 6.000 anos de história escrita: quantas ideias
foram passadas e repassadas que posteriormente se tornaram ideologias. Não
iremos discutir se a filosofia é boa ou ruim, mas desejo principalmente
demonstrar as mudanças causadas pela ação e consequência dessas ideias.
1. MITO DA CAVERNA COMO PONTO DE PARTIDA
Num primeiro momento, desejamos demonstrar a Alegoria
da Caverna (ou Mito da Caverna, como é conhecido por muitos) pelo prisma
capitalista. Platão, neste texto, quer apresentar o conhecimento ou a falta
dele; ou seja, através do diálogo entre Sócrates e Glauco, Platão explica a
maneira como um indivíduo passa de ignorante a sábio.
Na descrição da narrativa da história, as pessoas estão
acorrentadas e vivem dentro de uma caverna, na qual esses indivíduos só
conseguem ‘sentir’ a claridade – já que estão de frente para a parede e de
costas para a entrada da caverna, por anos vislumbrando somente sombras e
ouvindo sons que não compreendem. Se num determinado dia um desses indivíduos
escapasse das correntes que o prendia (saindo da caverna e, por isso, ficando
mais próximos da realidade), porém, logo em seguida decidisse retornar à
caverna para avisar seus companheiros, os indivíduos que lá estavam não o
escutariam e o tomariam como louco. Resumindo: com esse diálogo, Platão conclui
que esse indivíduo se ascenderia e conheceria a verdade, tornando-se sábio.
Pois bem, quero acrescentar mais alguns detalhes que Platão
esqueceu: deixou de mencionar que a caverna tinha um proprietário e que esse
proprietário, provavelmente, recebia por cada indivíduo que estava alojado
dentro da caverna. Levando em consideração essas circunstâncias, esse
proprietário irá gostar que todos os indivíduos saíssem da caverna e
conhecessem a verdade?
Platão, em A República, classifica a sociedade em três
classes, separando-a da seguinte forma: dos lavradores, artesãos e
comerciantes, dos guardas e dos governantes, ratificando assim que nem todos
podem governar. Se cada um fizer sua parte haverá então justiça e, por
consequência, harmonia. A primeira e a segunda classe não necessitam de
educação especial, pois fariam serviços menores; porém, a terceira teria uma
educação completa, pois o Estado tem que ser governado pelos sábios. Platão
sabe que a separação de classes é necessária para se manter o equilíbrio na
sociedade; portanto, a resposta para a pergunta supracitada segundo Platão é
não.
Será por esse prisma que iremos analisar esse artigo: não
pela visão de Platão, mas pelas circunstâncias que, por coincidência, a
sociedade contemporânea vive, isto é, na separação de classes na qual os mais
abastados governam. E por essa classe abastada que pretendo demonstrar como a
filosofia se torna vil, como também as consequências ocasionadas por essa ‘nova
filosofia’ que poderiam destituir essa classe abastada no controle
governamental.
2. CONDIÇÕES HISTÓRICAS
A ascensão da burguesia contra a ordem feudal desenvolve-se,
segundo Engels, pela Reforma Protestante de Lutero e, posteriormente, pela
reforma Calvinista e as duas grandes revoluções, A Revolução Inglesa e a
Revolução Francesa, que derrubaram a aristocracia e a ordem feudal, abrindo
caminho para a ascensão burguesa. Com o desenvolvimento das Indústrias cria-se
duas novas classes, a dos proletariados e, por consequência, a dos plutocratas:
“As revoluções burguesas e, posteriormente, o desenvolvimento da indústria
fizeram nascer o proletariado” (ENGELS, 2011, p.11)
Ainda neste período de mudanças, John Locke refuta a ideia
de servos aos reis e qualquer denominação que não seja igualitária.
Um estado, também, de igualdade, onde a reciprocidade
determina todo o poder e toda a competência, ninguém tendo mais que os outros;
evidentemente, seres criados da mesma espécie e da mesma condição, que,
desde seu nascimento, desfrutam juntos de todas as vantagens comuns da natureza e do uso das mesmas
faculdades, devem ainda ser iguais entre si, sem subordinação ou sujeição, a menos que seu senhor e amo de
todos, por alguma declaração manifesta de sua vontade, tivesse destacado um
acima dos outros e lhe houvesse conferido sem equívoco, por uma designação evidente e clara, os direitos de um amo e de
um soberano (LOCKE, 2001, p. 83).
John Locke insere uma nova ideologia que é contra todos os
ensinamentos durante a Idade Média, que por mais de dez séculos garantiram o
poder dos reis e da igreja sobre o povo. E influenciou outros pensadores
posteriores, como Rousseau e Kant. Qual monarca gostou da ideia de acabar com
os feudos? Dividir a terra com um servo dando-lhe o direito de não trabalhar
gratuitamente ao monarca? Ideias como essas é que acabaram com o absolutismo e
com todo um ‘sistema funcional’, que prevaleceu por séculos. Essas concepções,
trazidas na Revolução Francesa com o lema ‘Liberdade, Igualdade e
Fraternidade’, causaram ataques em massa por grupos políticos radicais e
camponeses[1], promovendo uma nova ordem política à
França, que se tornou uma oclocracia[2].
Essas idéias conhecidas como iluminismo garantiram a
ascensão da burguesia.
Embora houvesse muitos iluministas e foram eles os politicamente decisivos que assumiram como verdadeira a proposiçãode que a sociedade livre seria uma sociedade capitalista. Em teoria seu objetivo era libertar todos os seres humanos.Todas as ideologias humanistas, racionalistas e progressistas estão implícitas nele, e de fato surgiram dele. Embora naprática os líderes da emancipação exigida pelo iluminismo fossem provavelmente membros dos escalões médios dasociedade, embora os novos homens racionais o fossem por habilidade e mérito e não por nascimento, e embora a ordemsocial que surgiria de suas atividades tenha sido uma ordem capitalista e ‘burguesa’.
É mais correto chamarmos o‘iluminismo’ de ideologia revolucionária, apesar da cautela e moderação política de muitos de seus expoentes continentais,a maioria dos quais – até a década de 1780 – depositava sua fé no despotismo esclarecido. Pois o iluminismo implicava aabolição da ordem política e social vigente na maior parte da Europa (HOBSBAWM,
2009, p. 49).
A filosofia, neste caso, foi contra os interesses da
aristocracia e favoreceu uma nova ideologia, o capitalismo, que sempre deu a
impressão de igualdade, mas que, porém, como veremos mais a frente, não é tão
igualitária assim.
3. IDADE MODERNA E A IDEOLOGIA CAPITALISTA
Com a Revolução Industrial e a industrialização na
Inglaterra, ocorreu o êxodo populacional das zonas rurais para os centros
urbanos, em decorrência de melhores condições, já que no campo os
latifundiários cobravam aluguéis de seus arrendatários, como descreve Hobsbawm:
A propriedade típica
já de há muito deixara de ser uma
unidade de iniciativa econômica e tinha-se tornado um sistemade cobrança de aluguéis e de outros rendimentos monetários.
O camponês mais ou menos livre, grande, médio oupequeno, era o lavrador típico. Se de alguma forma arrendatário, pagava aluguel ao senhor das terras (ou, emalgumas áreas, uma quota da safra). Caso fosse tecnicamente um livre proprietário, provavelmente ainda devia ao senhorlocal uma série de obrigações que podiam ou não ser convertidas em dinheiro (como por exemplo a obrigação deenviar seu trigo para o moinho do senhor)
(HOBSBAWM, 2009, p. 41-42).
A Inglaterra e parte da Europa já adotava esse sistema. Com
isso, as mudanças na ordem social, cada vez mais evidentes, fizeram com que os
burgueses se transformasse na ‘nova nobreza’ – uma vez que a aristocracia estava
cada vez mais em decadência. Tais mudanças foram caracterizadas como
plutocracia[3], pois, mesmo com a monarquia (no caso da
Inglaterra), eram os burgueses que ditavam as regras em razão dos interesses da
expansão capitalista. Com isso, as cidades se tornaram não só zonas
industriais, mas também comerciais e de serviços. Por exemplo, construíram
ferrovias para facilitar o transporte de produtos e baratear os custos. Mas,
mesmo com a melhoria das condições nas cidades, ainda assim a vida para os
trabalhadores era ruim: “O trabalhador, porém, muito diferente da classe média,
estava a uma distancia mínima do miserável e via a insegurança como constante e
real” (HOBSBAWM, 2011, p. 336).
Em resumo, com o capitalismo funcionando de ‘vento em popa’,
a burguesia pôde então ter o controle econômico, social e político. A Revolução
Industrial é a gênese da sociedade contemporânea com todos os prós e contras.
Com o avanço das indústrias em vários segmentos, a urbanização também teve sua
alteração, em decorrência da enorme quantidade de pessoas que migravam em busca
de melhores condições, aumentando assim a variedade de empregos e produtos
gerados por essa nova realidade – criados justamente para atender essa nova
demanda existente. “Não era exatamente um centro industrial, mas mais
precisamente um centro de comércio, transporte, administração e uma
multiplicidade de serviços que atraía uma grande concentração de pessoas” (HOBSBAWM,
2011, p. 321).
Os aspectos ‘contra’ no que diz respeito ao aumento de uma
cidade por conta da concentração de pessoas é, na opinião de Hobsbawm (2011, p.
322), “a presença dos pobres nas cidades, que eram a maioria da população,
embora reconhecesse que eram um mal necessário, para os planejadores de
cidades, os pobres eram uma ameaça publica, suas concentrações potencialmente
capazes de desenvolver distúrbios”. Isso implica em um gasto maior nas despesas
públicas, pois o risco de doenças era enorme.
Mas, quando analisado melhor, percebemos que o capitalismo
transformou tudo o que era conhecido anteriormente, o pensamento de liberdade e
de escolhas que fora introduzido no capitalismo, antagonizando as ações
exercidas no período feudal, no qual o rei e Deus serviam como agentes
unificadores, eliminando totalmente a individualidade e a continua preservação
do sistema de troca, segurança por serviços prestados.
Neste ponto o capitalismo se fez inovador, trazendo um
alento que não existia antes: a vontade de adquirir, melhorar, de conseguir.
Hegel analisa a propriedade privada, por exemplo, desta maneira:
É a minha vontade pessoal, e portanto como
individual, que se torna objetiva para mim na propriedade; esta adquire porisso o caráter de propriedade privada, e a propriedade
comum, que segundo a sua natureza pode ser ocupadaindividualmente, define-se como
uma comunidade virtualmente dissolúvel e na qual só por um ato do meu livre-arbítrio eucedo a minha parte.
(HEGEL, 1997, p.47).
O Capitalismo, como forma de liberdade para adquirir
tudo o que se deseja, coloca-se ao trabalhador da seguinte maneira: por meio de
mão de obra, o trabalhador vende o seu tempo e o transforma em dinheiro,
necessário para a aquisição de mercadoria: “A mercadoria é,
antes de tudo, um objeto exterior,
uma coisa que, pelas suas propriedades, satisfaz necessidades
humanas de qualquer espécie”. (MARX,
1996, p. 165).
Marx faz um estudo minucioso de como o capitalismo funciona,
desde a matéria-prima até o valor do produto, levando em conta a questão humana
e econômica que define como a ‘mais-valia’, ou seja o homem trabalha mais pelo
mesmo salário, desvendando assim toda a ideologia que está por trás do
capitalismo:
O capitalismo está voltado para a venda, de artigo ou mercadorias.
A mais-valia que é o lucro; é a medida de exploração do
trabalho no capitalismo industrial e que fica somente com o patrão.
Para o indivíduo viver, ele tem de vender seu tempo a única
mercadoria de possui, ou seja, sua força de trabalho em troca de salário.
karl Marx faz críticas ferozes não reduzido ao capital, mas
sim à maneira como o modo de produção industrial/escravocrata lida com essas
questões de liberdade e escolha, como descreve em O Capital:
O prolongamento do mais-trabalho corresponderia à redução do
trabalho necessário, ou seja, uma parte do tempo de trabalho que o trabalhador
até agora utilizava de fato, para si mesmo, transforma-se em tempo de trabalho
para o capitalista(MARX, 1996, p. 429).
Depois de esmiuçar atentamente a forma como o capitalismo
passou a tratar todas as questões como uma mercadoria, na qual o lucro é a
motivação primária, Marx desmistifica que a velha filosofia (aristocracia) não
era tão pior do que a nova filosofia (capitalismo), se olharmos pelo mesmo
prisma em que tudo isso está sendo abordado. O capitalismo ofereceu liberdade,
a mesma que os senhores feudais davam a seus súditos, porém, não uma liberdade
real, pois a exploração apresentada por Marx denota claramente que o
capitalismo não é nem justo e nem livre, como fizeram com que todos cressem.
Com a progressiva exploração do capitalismo, o operário passou a ter
consciência dessa opressão capitalista e propondo a revolução necessária para
libertar a classe alienada. A ideia da criação de um grupo consciente sobre o
que se passa, como classe operária, por exemplo, traz um novo pensamento,
voltado para o sindicalismo, o anarquismo e o socialismo.
O sindicalismo passou a ser um meio de proteção do empregado
com relação aos abusos cometidos pelos patrões, determinando deveres e
obrigações para todas as partes envolvidas.
Hobsbawm descreve em A Era do Capital que os
trabalhadores reintroduziram um salário-padrão determinado pelos sindicatos, ou
outros meios de compensações financeiras como, contratos por empreitada, por
produção etc., não porque os patrões assim o quisessem, mas porque tiveram que
aceitar e negociar, uma vez que o descontentamento já era enorme e o risco de
quebras de contratos por contas dos trabalhadores eram igualmente emergentes.
Mais uma vez a filosofia se fez presente, depreciando a
ideologia vigente e introduzindo uma nova: Marx sugere o socialismo como
forma de combater os abusos do capitalismo. Neste caso o capitalismo não foi
substituído, porém, não se manteve altivo e soberano, pois o socialismo se
tornou um divisor social que durou 69 anos, não deixando-o menosprezável.
4. SOCIALISMO
Karl Marx foi um dos precursores do Socialismo cientifico,
juntamente com Friedrich Engels. Desenvolveram essa teoria partindo de uma
analise crítica e científica do capitalismo, o que levou à destituição do poder
os burgueses e o modo capitalista como exploração do indivíduo pelo lucro
da mais-valia. A ideia era que não houvesse mais divisão de classes e que
a propriedade privada. O Estado, por sua vez, seria parte de um bem maior, cujo
objetivo era que a desigualdade deixasse de existir e que os operários (a
classe explorada) obtivessem, por meio da revolução, essa consciência de
exploração, para assim chegarem à escala superior do comunismo. “O direito dos
produtores é proporcional ao que eles fornecem; a igualdade consiste aqui no
emprego do trabalho como unidade de medida comum” (MARX; ENGELS, 2010, p. 106).
Isto quer dizer que todos os trabalhadores, mesmo sendo diferentes física ou
intelectualmente, teriam as mesmas condições de igualdade.
Mas o socialismo, neste primeiro momento, acabou usando os
conceitos comuns da produção capitalista, sem a questão do valor do produto
empregado na mão de obra e outros por menores, afim de ter ganhos e acumulação
de bens. O Estado igualitário e centralizador ficaria incumbido de mediar e
planejar todo o sistema, no qual todos teriam as mesmas oportunidades. A Rússia
foi o primeiro país a implantar o socialismo influenciado pelas ideias de Marx
e Engels, como também Wladimir Lênin, um dos lideres da Revolução Russa de
1917, que derrubou o governo provisório absolutista do czar Nicolau II – que
anteriormente já havia acabado com a aristocracia russa –, levando o partido
bolchevique ao poder. No entanto, deve-se lembrar que nada é tão simples:
nenhuma das revoluções russas teve uma transição pacífica e democrática.
Uma ideia contrapõe outra e assim consequentemente: a
filosofia tem responsabilidade direta por essas novas ideias, sempre tentando
influenciar e modificar à medida que as necessidades vão surgindo: “a sociedade
burguesa moderna, oriunda do esfalecimento da sociedade feudal, não suprimiu a
oposição de classes, limitou-se a substituir as antigas classes por novas
classes, por novas condições de opressão, por novas formas de luta” (MARX;
ENGELS, 2010, p. 24). Está aqui mais um exemplo de uma filosofia que
anseia sobrepujar a outra.
5. ANARQUISMO
Em decorrência da nova ideologia contra o capitalismo,
surgiu assim o socialismo, um novo sistema de governo que, por sua gênese
ideológica, implicava numa igualdade que não havia nem capitalismo e nem no
feudalismo. Já o anarquismo[4] tem por ideologia a
liberdade, no qual os homens não são submissos a nenhum controle do governo ou
autoridade.
O anarquista imagina uma sociedade na qual as relações
mútuas seriam regidas não por leis ou por autoridade auto-impostas ou eleitas,
mas por mútua concordância de todos os interesses e pela soma de usos e
costumes sociais, não mobilizados por leis, pela rotina ou por superstições,
mas em continuo desenvolvimento, sofrendo constantes ajustes para que pudessem
satisfazer as exigências sempre crescentes de uma vida livre, estimulada pelos
progressos da ciência, por novos inventos e pela evolução ininterrupta de
ideais mais elevados. Não haveria, portanto, autoridade para governá-la. Nenhum
homem governaria outro homem (WOODCOOK, 2010, p. 23).
Como pode-se perceber, o anarquismo é uma nova maneira de
governo, um governo individual e intransferível que rege a primazia da vontade
e liberdade que tanto se almeja. Segundo Proudhon, mesmo o socialismo sendo
igualitário, existe um poder maior, que é o Estado e ele controla nossas ações
e que inibe nossa liberdade.
A comunidade é opressão e servidão. O homem quer na verdade
se submeter à lei do dever, servir sua pátria, obsequiar seus amigos, mas ele
quer trabalhar naquilo que lhe agrada, quando agrada, tanto quanto lhe agrade;
ele quer dispor de suas horas, obedecer somente a necessidade, escolher amigos,
suas diversões, sua disciplina; prestar serviço por satisfação, não por ordem,
sacrificar-se por egoísmo e não por uma obrigação servil. A comunidade é
essencialmente contrária ao livre exercício de nossas faculdades, a nossos
pendores mais nobres, a nossos sentimentos mais íntimos. (PROUDHON, 2014, p.
24-25).
Todavia, a concepção do anarquismo nunca se tornou
realidade, como no caso do capitalismo ou do socialismo. Por causa de ideias
como a liberdade individual, a anarquia virou sinônimo de agitadores,
baderneiros, de caos. Trata-se de um pensamento presente e discriminado pelas
autoridades que não desejam mudanças, identificando como anarquistas todos
aqueles que são contra a autoridade estatal.
Em síntese, o que se pode notar é que o socialismo não
passou de outra maneira de dominação populacional, através da ideia de
igualdade, nada diferente do capitalismo que domina pelo ideal de ascensão
social, ou o feudalismo pela ideia religiosa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa ilustra como a filosofia pode mudar/modificar
a vida e o comportamento de muitas pessoas. A filosofia pode ser e é benéfica
se analisarmos pelo ponto de vista acadêmico, ideológico, social, educacional
etc. Porém, intuito primário deste artigo foi demonstrar que a filosofia pode
modificar toda uma sociedade e a maneira como ela se comporta em relação a
novas ideias e propostas. Governos foram destituídos, governantes foram
desfeitos a partir de novas ideias de mudanças. Espero, nestas poucas páginas,
ter apresentado uma nova elucidação sobre a filosofia, contrariando aquela
concepção que a considera como algo insignificante ou que não agrega nada na
vida das pessoas. É preciso ter muito cuidado, pois ideias, como as
apresentadas acima, é que tornaram o mundo tal qual como nós o conhecemos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DESCARTES, René. Discurso do Método. Tradução Paulo
Neves. Porto Alegre: L&PM, 2010.
DURKHEIM, Émile. Sociologia e Filosofia. Tradução
de Fernando Dias Andrade. 2.ed. São Paulo: Ícone, 2007.
ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo
Cientifico. São Paulo: Edipro, 2011.
HEGEL, George Wilhelm Friedrich. Princípios da
Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções. Tradução Maria
T. Teixeira e Marcos Penchel. 25.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
HOBSBAWM, Eric J. A Era do Capital. Tradução
Luciano Costa Neto, 15.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011.
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. Tradução Maria
Tereza Lopes Teixeira. 7.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo Civil: ensaio
sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do governo civil.Tradução de
Magda Lopes e Marisa Lobo da Costa. Petrópolis: Vozes, 1994.
MARCONDES, Danilo. Textos Básicos de Filosofia: dos
pré-socráticos a Wittgenstein. 7.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
MARX, Karl, O Capital: Crítica da economia
política. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo:
Nova Cultural, 1996.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido
Comunista. Tradução de Sueli Tomazini Barros Cassal. Porto Alegre:
L&PM, 2010.
PEDRO, Antonio; CÁCERES, Florival. História geral. São
Paulo: Ed. Moderna, 1984.
PLATÃO. A República. Tradução Pedro Nassetti. São
Paulo: Ed. Martim Claret, 2000.
PROUDHON, Pierre Joseph, A Propriedade é um Roubo.
Tradução Suely Bastos. Porto Alegre: L&PM, 2014.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e
fundamentos da desigualdade entre os homens. Tradução de Paulo Neves. Porto
Alegre: L&PM, 2012.
WOODCOOK, George. História das Ideias e Movimentos
anarquistas: a ideia. Tradução de Julia Tettamanzy. Porto Alegre:
L&PM, 2010, vol. 1.
[1] Os sansculottes eram
um movimento disforme sobretudo urbano, de trabalhadores pobres, pequenos
artesãos, lojistas, artífices, pequenos empresários, etc. Os sansculottes eram
organizados principalmente nas "seções" de Paris e nos clubes
políticos locais, e forneciam a principal força de choque da revolução, eram
eles os verdadeiros manifestantes, agitados, construtores de barricadas. [...]
Em agosto-setembro, a monarquia foi derrubada, a República estabelecida e uma
nova era da história humana proclamada, com a instituição do Ano 1 do
calendário revolucionário, pela ação armada das massas sansculottes de Paris. A
heroica idade de ferro da Revolução Francesa começou entre os massacres dos
prisioneiros políticos, as eleições para a Convenção Nacional provavelmente a
mais notável assembleia na história do parlamentarismo e a conclamação para a
resistência total aos invasores. O rei foi feito prisioneiro e a invasão
estrangeira sustada por um nada dramático duelo de artilharia em
Valmy (HOBSBAWM, 1996, p. 28-35).
[2] Na França a divisão Social eram
divididos em Clero (1º Estado), a Nobreza (2º Estado) e o povo composto pelos
camponeses, grande, media e pequena burguesia e sans-culottes (3º Estado).
Oclocracia é uma forma de governo exercido pela multidão ou massa.
[3] Plutocracia é um sistema
político exercido pelo grupo mais rico. Do ponto de vista social, esta
concentração de poder por essa classe mais rica tem como característica uma
grande desigualdade e uma pequena mobilidade social.
[4] Anarquismo, da palavra grega Anarchos,
que significa sem governante. Mas erroneamente descrito nos dicionários como
caos, desordem, baderna
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