Nos dias atuais os temas ligados ao meio ambiente estão
presentes em todas as pautas de debates político e cientifico no mundo inteiro.
Seja na ação dos governos, nas negociações dentro das organizações
internacionais, na mobilização da sociedade civil, nas peças de propaganda e
promoção das grandes empresas, as preocupações com o meio ambiente se tornaram
o grande tema contemporâneo. Esse cenário, no entanto, nem sempre foi assim.
Como veremos nesta aula, o tema ambiental ou, na verdade, as preocupações com a
degradação ambiental começaram a surgir ainda no século XIX, mesmo que de
maneira esporádica e bastante segmentada.
A partir de então, as questões ligadas à preservação do meio
ambiente e os efeitos nocivos da rápida industrialização, principalmente entre
os países economicamente mais desenvolvidos, acompanharam o próprio avanço do
capitalismo global e as transformações nos meios de produção e consumo. Por um
lado tivemos uma postura apreensiva dos governos, seja em prevenir a degradação
ambiental ou priorizar a industrialização a qualquer custo, por outro, a
própria sociedade civil mobilizada em torno da defesa do meio ambiente.
Mas como tudo isso começou? Em que ponto a degradação se
tornou tão clara que os governos não conseguiram mais menosprezá-la?
E, afinal, o que é a questão ambiental? Para compreender
tudo isso é fundamental voltarmos no tempo e entender os primeiros sinais de
que o meio ambiente não resistiria aos infortúnios provocados pela
industrialização em geral. Também é preciso identificar as primeiras
iniciativas políticas em prol da preservação de áreas florestais e,
naturalmente, as leis pioneiras no tema.
Para compreendermos os elementos em torno da questão
ambiental nas Relações Internacionais, é fundamental traçarmos alguns
esclarecimentos sobre a origem das preocupações com o meio ambiente
propriamente dito, os reflexos da ação do homem neste contexto, as principais
transformações sociais que acarretaram consequências na relação do homem com a
Terra e, não menos importante, a atuação dos governos frente aos novos
desafios.
Mas, afinal, o que é a “questão ambiental”?
Para pensarmos a questão ambiental, é preciso diferenciar o
que é o ambiente natural do ambiente social no qual interagem as sociedades e
os homens. Para isso, vamos pensar em duas esferas:
Na primeira, podemos ver o ambiente natural do planeta
Terra, com seus ecossistemas e mudanças climáticas e geológicas naturais ao
longo dos tempos.
Já na segunda esfera, vemos o ambiente dos homens, com as
transformações sociológicas típicas do decorrer da política mundial, com seus
avanços tecnológicos e questionamentos intelectuais.
A questão ambiental, à qual nos referimos, é justamente o
encontro – problemático – entre a primeira esfera (natural, a Terra) e a
segunda esfera (social, o Mundo), ou melhor, a atuação da segunda esfera sobre
a primeira esfera.
A compreensão sobre essas duas esferas é de grande valia
para entendermos a questão ambiental não do ponto de vista unilateral, a um
Estado ou a um determinado grupo de Estados, mas pelo seu aspecto
transfronteiriço, portanto, global.
Esse encontro, onde o equilíbrio não foi prioritário por
muito tempo, produziu consequências vistas, atualmente, com focos de atenção e
preocupação de toda a humanidade. E por isso, como sabemos, é tema recorrente
na política internacional.
A questão ambiental – ou problema ambiental – não se dá como
fator inerente às transformações naturais da Terra, mas do comportamento da
humanidade – o Mundo – sobre os elementos da natureza e do meio em que vivemos.
Tradicionalmente, podemos ver essa relação entre o Mundo e a
Terra a partir de três perspectivas, quais sejam:
1) a economia clássica e a visão bíblica são orientadas
segundo a perspectiva antropocêntrica, ou seja, colocam o homem como centro e a
Terra como fornecedora ilimitada de recursos;
2) a perspectiva geocêntrica coloca a Terra como superior ao
Mundo, portanto carrega em seu bojo elementos que fomentarão o debate entre a
preservação e conservação ambiental e o desenvolvimento..
3) a terceira perspectiva busca alinhar o antropocentrismo
com o geocentrismo, reconhecendo as limitações da Terra frente ao crescimento
econômico ininterrupto. Ou seja, conciliar o bem-estar da humanidade com as
condições limitadas de renovação do meio ambiente, gerando o debate sobre o uso
racional dos recursos.
Dentro dos estudos orientados pelo debate político, no
âmbito das Relações Internacionais, a terceira perspectiva nos explica o teor
global da questão ambiental, diferenciando este assunto dos chamados assuntos
internos dos Estados, portanto objetos de preocupação da política nacional.
Em outras palavras, as consequências dos efeitos negativos
do homem sobre o meio ambiente atingem a todos, não respeitando fronteiras,
diferenças políticas ou ideológicas. Isso, contudo, não quer dizer que todas as
nações e povos desempenham o mesmo papel quando se fala dos efeitos nocivos da
atividade humana sobre o meio ambiente.
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