O
americanismo é concebido como vertente de movimentos diversos que agitaram a
vida política e em menor escala, as relações inter-americanas à época da
independência. Seus efeitos nas relações internacionais, no que diz respeito às
forças históricas, foram quase nulos.
As duas correntes principais do americanismo
foram:
- Pan-americanismo
bolivariano
- Monroísmo
norte-americano
O
americanismo brasileiro foi uma versão quase desconhecida. Foi um ideário
preciso e prótico que emergiu em dois momentos:
- O primeiro
corresponde ao pensamento, as intenções e iniciativas de José Bonifácio em
1822-1823 e se explica pela necessidade de defender a independência.
- O segundo
corresponde à reação que se delineia no Parlamento, a partir de 1828
contra o sistema de vinculações europeias estabelecidos pelos tratados
desiguais.
O
ideário explica o desejo de aproximação com a América, tanto para garantir a
defesa comum do continente quanto para promover os interesses comuns particularmente
o comércio e as boas relações. Tornam-se inteligíveis a busca de uma aliança
com o Prata em 1822, com os EUA em 1824 e a tarifa igualadora de 1828. Para se
exercer uma maior escala, o americanismo brasileiro tinha as dificuldades de
suas correntes congêneres.
O
bolivarismo e o monroísmo apresentaram em comum a concepção das duas esferas:
- A europeia,
retrógrada e arcaica
- A americana, jovem
e moderna
Bolívar era mais idealista que
os norte-americanos e brasileiros. Acreditava nas possibilidades de construir o
sistema americano como modelo universal. Uma América independente, livre, unida
e diferente.
Reuniu
o Congresso do Panamá (1825) com o intuito de criar uma ordenamento
jurídico supranacional que unificasse a conduta externa e garantisse o
entendimento das nações americanas.
O
monroísmo não teve os mesmos apelos externos, restringindo-se a uma declaração
de intenções, para os próprios norte-americanos, de que não iriam intervir em
questões europeias e que não devia a Europa restabelecer o sistema colonial no
continente. O governo americano negou-se em converte-lo em ação, o que era
aliás era dispensável, porquanto o monroísmo correspondia à política britânica,
que tinha força para impor-se sozinha.
O
fracasso do americanismo foi geral. O Congresso do Panamá não contou com a
presença dos EUA, do Brasil e da Argentina. Bolívar e sua Grã-Colômbia
rivalizavam com os portenhos e seu projeto de Grã-Argentina, o que aliás veio
beneficiar politicamente o Brasil. Os latinos fizeram da Doutrina Monroe uma
leitura própria, solicitando em seu nome a aliança americana contra a Europa
enquanto o governo dos Estados Unidos protestava neutralidade em qualquer
hipótese. Por volta de 1830, todos estavam decepcionados com todos e com tudo.
Os norte-americanos, com o caudilhismo e o fracasso das instituições liberais;
os latinos, com o mito de Monroe; os bolivarianos, com o triunfo da divergência
sobre o entendimento. Estava afastada qualquer possibilidade de liga americana.
As
relações Brasil-Estados Unidos à época da independência, dependiam,
primeiramente, do contexto internacional e da política norte-americana para a
América Latina. Os EUA tentaram sem êxito uma colaboração com a Inglaterra na
defesa das independências e, por outro, a uma política negativa, sem ação
concreta. Os estadistas norte-americanos embora divergissem ligeiramente,
acabaram mantendo as coordenadas de uma política que, no fundo, não se alterou
no período:
- Não se envolver no
conflito entre colônias e as metrópoles
- Manter a neutralidade
nas guerra de independência
- Dissuadir a
reconquista europeia pelas tomadas de posições políticas
- Somente reconhecer
as nacionalidades após o fato consumado da independência
- Apoiar o “sistema
americano” e os interesses do comércio pela diplomacia e pela presença de
uma esquadra
- Buscar as
facilidades do comércio mediante tratados que neutralizassem os
privilégios britânicos
Coincidiam,
portanto, em linhas gerais, os pontos de vista norte-americanos e ingleses,
ficando a desigualdade por conta da capacidade de competição internacional
A
abertura dos portos, em 1808, foi o ponto de partida do interesse norte-americano pelo Brasil. A
esses interesses norte-americanos no Brasil serviu uma diplomacia local, mas
disposta a informar o governo dos EUA, que superou suas prevenções contra o
regime monárquico. Houve, aliás, acenos por parte do governo brasileiro, no
sentido de utilizar as relações bilaterais como poder de barganha ante as
pretensões inglesas. Não surtira, efeitos, porque ao estreitamento político
desejado pelo Brasil se opunha aquela postura negativa referida anteriormente.
E porque havia desconfiança do governo norte-americano quanto à filiação
inglesa no nascimento brasileiro, enquanto a corte do Rio de Janeiro também
desconfiava das intenções subversivas dos Estados Unidos, cujo apoio se
verificou direta ou indiretamente às revoltas de Pernambuco, à
revolução artiguista e à guerra de Buenos Aires contra o Brasil.
Se
não prevaleceu um tipo especial de relacionamento político, também não se
orientaram para o conflito as relações bilaterais, que acabaram se firmando
conforme o plano norte-americano desafiar a influência política e econômica da
Inglaterra. O reconhecimento ocorreu em 1824, e o Tratado de Amizade, Navegação
e Comércio, com a clausula da nação mais favorecida foi firmado em 12 de
Dezembro de 1828. Enquadravam-se as relações bilaterais no sistema
internacional do capitalismo industrial, sem nenhuma originalidade.
As
colônicas portuguesas da África, à época da Independência, estavam mais ligadas ao Brasil que a
Portugal. O comércio bilateral era intenso, como também os vínculos
culturais, sociais e humanos. Com a independência, parte significativa das
elites locais, sobretudo em Luanda e Bengala, pretendia romper os vínculos com
Portugal e unir-se ao Brasil. Não há indícios de ação positiva por parte
de José Bonifácio e dom Pedro para acatar esses aspirações, embora seus
decretos lá chegassem e fosse nomeado um cônsul brasileiro, em 1826, que foi
rejeitado por Lisboa.
Frustrou-se
o movimento de união, pela firma oposição de Portugal e Inglaterra,
cujos reapresentantes impuseram ao governo brasileiro, no tratado de
paz de 1825, o distanciamento político da África portuguesa. Desde então
houve grande esforço no sentido de readaptar a colônia ao tipo de exploração
diferente e adequado ao interesse da metrópole
Nenhum comentário:
Postar um comentário