O sete de setembro, comemorativo da Independência do Brasil,
impõe muitos questionamentos: entre outros, o que é ser brasileiro? Existe no
Brasil uma identidade nacional? Pode se considerar a Nação brasileira apenas
apontando as perspectivas geográficas, jurídicas ou diplomáticas? Neste caso,
como se definiria a identidade nacional?
A identidade nacional implica um consenso a respeito de
certos valores e também alguma diferença entre eles e outros consensos. Claro
está que existe muitas dúvidas que se colocam, sobretudo, em razão de três
pontos fundamentais:
Pode haver consenso em um país como o Brasil com sua enorme
desigualdade econômica (que gera outras desigualdades)? Segundo o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a renda anual média do 1% mais rico é
aproximadamente R$ 575 mil – o que significa mais de R$ 40.000,00 por mês.
Todavia esses 1% ainda não são a elite. Os super-ricos do Brasil ganham acima
de 160 salários mínimos por mês. São 0,05% da população economicamente ativa.
Os super-ricos brasileiros possuem um patrimônio de R$1,2
trilhão. Ou seja, 22,7% de toda a riqueza declarada por todos os contribuintes
do Brasil. Na verdade, fazem parte de um grupo de 71.440 pessoas com renda
anual média de R$ 4,17 milhões, em torno de R$ 350 mil por mês. Eles tiveram em
2013, ainda segundo o Ipea, um rendimento conjunto de R$ 298 bilhões. A
expectativa é que em 2015 tornem-se ainda mais ricos do que em 2014 e muito
mais ricos do que em 2013.
Enquanto os brasileiros mais pobres – 36.981.114 pessoas,
recebem apenas até dois salários mínimos.
Além da desigualdade econômica o Brasil enfrenta
desigualdades sociais, culturais e políticas, entre classes, etnias e regiões.
Como pensar em uma identidade nacional quando se observa o
aparecimento de identidades locais? E ainda quando essas identidades escapam à
regulação e arbitragem do Estado Nacional – visto como uma instância
coercitiva.
Finalmente, como pode a identidade nacional se consolidar
mediante a globalização e as dissimetrias e desigualdades que a acompanham?
Processo, diga-se de passagem, em que o Brasil não se encontra entre os países
hegemônicos.
Para alguns teóricos, embora reconheçam traços etnoculturais
comuns à maioria dos brasileiros definindo uma brasilidade, a identidade
nacional brasileira desapareceu (se algum dia existiu de fato) ou tende a
desaparecer. Outros teóricos discordam da inexistência da identidade nacional
brasileira, argumentando que há nos discursos correntes uma substancialização
da nação brasileira o que indica um sentimento de identidade nacional.
Considerar o Brasil como nação tem algumas implicações na
medida em que sugere a negação da existência da luta de classes, entre outras
questões significativas. O que está por traz dos discursos é uma certa ideologia
que deve ser considerada, porquanto o discurso do nacional, por um lado, se
distancia dos anseios das camadas populares (só teria sentido o conceito de
nacional-popular, mas no Brasil o que é nacional não é popular e vice-versa),
por outro, as elites brasileiras se consideram supranacionais e atuam como tal.
A questão da identidade nacional é bastante complexa. Seja
como for, se pode dizer que há mais de uma identidade nacional brasileira. Não
há no Brasil um mesmo espírito, nem tolerância mútua no campo sociocultural e
nem no político.
Para auxiliar essa reflexão a Escritos publicou vários
livros:
Democracia e participação. Dimensões do neoliberalismo e da
globalização. Maria Salete Amorim (organizadora)
Transformações. Ensaios sobre as culturas e sociabilidades.
Silvio Antonio Colognese (organizador)
Cidadania italiana. Motivações e expectativas. Silvio
Antonio Colognese
Controle e disciplinamento da força de trabalho. Estratégias
e resistências. Lorena Holzmann
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