segunda-feira, 7 de setembro de 2015

IDENTIDADE NACIONAL - ALGUMAS REFLEXÕES

O sete de setembro, comemorativo da Independência do Brasil, impõe muitos questionamentos: entre outros, o que é ser brasileiro? Existe no Brasil uma identidade nacional? Pode se considerar a Nação brasileira apenas apontando as perspectivas geográficas, jurídicas ou diplomáticas? Neste caso, como se definiria a identidade nacional?
A identidade nacional implica um consenso a respeito de certos valores e também alguma diferença entre eles e outros consensos. Claro está que existe muitas dúvidas que se colocam, sobretudo, em razão de três pontos fundamentais:
Pode haver consenso em um país como o Brasil com sua enorme desigualdade econômica (que gera outras desigualdades)? Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a renda anual média do 1% mais rico é aproximadamente R$ 575 mil – o que significa mais de R$ 40.000,00 por mês. Todavia esses 1% ainda não são a elite. Os super-ricos do Brasil ganham acima de 160 salários mínimos por mês. São 0,05% da população economicamente ativa.
Os super-ricos brasileiros possuem um patrimônio de R$1,2 trilhão. Ou seja, 22,7% de toda a riqueza declarada por todos os contribuintes do Brasil. Na verdade, fazem parte de um grupo de 71.440 pessoas com renda anual média de R$ 4,17 milhões, em torno de R$ 350 mil por mês. Eles tiveram em 2013, ainda segundo o Ipea, um rendimento conjunto de R$ 298 bilhões. A expectativa é que em 2015 tornem-se ainda mais ricos do que em 2014 e muito mais ricos do que em 2013.
Enquanto os brasileiros mais pobres – 36.981.114 pessoas, recebem apenas até dois salários mínimos.
Além da desigualdade econômica o Brasil enfrenta desigualdades sociais, culturais e políticas, entre classes, etnias e regiões.
Como pensar em uma identidade nacional quando se observa o aparecimento de identidades locais? E ainda quando essas identidades escapam à regulação e arbitragem do Estado Nacional – visto como uma instância coercitiva.
Finalmente, como pode a identidade nacional se consolidar mediante a globalização e as dissimetrias e desigualdades que a acompanham? Processo, diga-se de passagem, em que o Brasil não se encontra entre os países hegemônicos.
Para alguns teóricos, embora reconheçam traços etnoculturais comuns à maioria dos brasileiros definindo uma brasilidade, a identidade nacional brasileira desapareceu (se algum dia existiu de fato) ou tende a desaparecer. Outros teóricos discordam da inexistência da identidade nacional brasileira, argumentando que há nos discursos correntes uma substancialização da nação brasileira o que indica um sentimento de identidade nacional.
Considerar o Brasil como nação tem algumas implicações na medida em que sugere a negação da existência da luta de classes, entre outras questões significativas. O que está por traz dos discursos é uma certa ideologia que deve ser considerada, porquanto o discurso do nacional, por um lado, se distancia dos anseios das camadas populares (só teria sentido o conceito de nacional-popular, mas no Brasil o que é nacional não é popular e vice-versa), por outro, as elites brasileiras se consideram supranacionais e atuam como tal.
A questão da identidade nacional é bastante complexa. Seja como for, se pode dizer que há mais de uma identidade nacional brasileira. Não há no Brasil um mesmo espírito, nem tolerância mútua no campo sociocultural e nem no político.
Para auxiliar essa reflexão a Escritos publicou vários livros:
Democracia e participação. Dimensões do neoliberalismo e da globalização. Maria Salete Amorim (organizadora)
Transformações. Ensaios sobre as culturas e sociabilidades. Silvio Antonio Colognese (organizador)
Cidadania italiana. Motivações e expectativas. Silvio Antonio Colognese
Controle e disciplinamento da força de trabalho. Estratégias e resistências. Lorena Holzmann


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