Alunos do século 21: novos caminhos para o ensino superior
O grande avanço tecnológico e a prosperidade econômica,
marcados pelo surgimento das chamadas gerações Y e Z nas últimas décadas, nos
levam a repensar os métodos que utilizamos para ensinar, especialmente no
ensino superior, àqueles que nasceram na era da informação. No ambiente
globalizado, a capacidade de transferir o que você aprende na sua vida pessoal
para a vida profissional agora é questão de sobrevivência. Mas é cada vez maior
o abismo entre o que o mercado procura e o tipo de profissional disponível.
Duas pesquisas apontam para a necessidade de mudança. Um
estudo com um grupo de sete mil universitários brasileiros, feito por uma rede
global de universidades particulares, mostra que 54% deles não confiam no
sistema de ensino superior atual e que dois terços não estão satisfeitos com o
investimento de tempo e dinheiro nos estudos. A situação pode estar relacionada
com o resultado da pesquisa feita pela consultoria brasileira Box1824 com 1.784
jovens universitários de 18 a 24 anos de 23 estados brasileiros. O estudo
revelou que eles estão cada vez mais autodidatas e autônomos, que procuram
maior interação entre escola, trabalho e vida pessoal e que mais de 50% quer
ter seu próprio negócio no futuro.
Neste cenário, identificamos o descompasso do ensino superior
brasileiro: de um lado, o crescente número de matrículas e, de outro, a
dificuldade para motivar e estimular o aprendizado do estudante e combater a
evasão. A solução pode estar no diagnóstico do quadro de docentes, no
acompanhamento dos egressos no mercado de trabalho, e na quebra de posturas
tradicionais das instituições de ensino para a formação de profissionais
integrados à contemporaneidade.
O processo de ensino-aprendizagem deve ultrapassar os muros
da sala de aula e dar vazão aos aspectos sociais. Esse tipo de mudança exige um
esforço da instituição de ensino, que precisa oferecer maior flexibilidade na
sua estrutura curricular e do corpo docente, que precisa estar preparado para
acompanhar as transformações na sociedade e propor adequações curriculares
necessárias sem que isto implique em qualquer ação facilitadora de aprovação,
mas que venha acompanhada de um rigor nas promoções.
Com o mundo aberto às possibilidades, a sala de aula deixou
de ser a única fonte de informação e transformou o professor em um facilitador
do conhecimento, aquele que faz a mediação dos conhecimentos adquiridos em
outras plataformas, facilitando a aprendizagem do educando e suas aplicações
práticas. Além disso, para fazer com que o aluno perceba cada vez mais a
necessidade de aprender, o professor precisa instigá-lo de modo desafiador e
trazer novidades do mercado de trabalho para a sala de aula, assim como estar
sempre na vanguarda da tecnologia educacional.
O contato do aluno com o mercado de trabalho é e sempre será
fundamental desde o início da graduação, por isso é importante estimular o
aprendizado também por meio de atividades extracurriculares e de cursos de
atualização paralelos à graduação. E aquela extensa lista de exercícios, testes
e atividades repetitivas ainda podem garantir boas notas, mas não são capazes
de desenvolver todas as competências exigidas pelo mercado.
Outro fator importante são as autoavaliações realizadas
pelas instituições de ensino por meio dos órgãos oficiais determinados pelo
Ministério da Educação, que devem agir com autonomia e composição adequada
prevista em lei. Mas apenas o olhar para dentro da instituição não é
suficiente, cada vez mais é importante avaliar os processos com uma visão 360
graus. Além dos diagnósticos e informações de mercado, geralmente encaminhadas
pelas áreas de Comunicação e Marketing, é interessante buscar dados com os
egressos, acompanhando-os em suas carreiras profissionais e tendo como entradas
as informações sobre suas experiências e desafios no dia a dia da profissão.
Com isso, é possível aprimorar os processos internos e propor adequações das
competências transmitidas ao corpo discente.
O novo formato de educação deve ser compreendido como um
processo de formação integral, que inclui o desenvolvimento de competências
socioemocionais. O objetivo, além de oferecer conhecimento técnico, deve ser o
de transformar o encontro com o professor em sala de aula em uma oportunidade
de conexão com o mundo onde vivemos, discutindo habilidades que possam nos
ajudar a controlar emoções, alcançar objetivos e tomar decisões de maneira
responsável em âmbito pessoal, profissional e comunitário.
Essa ponte entre o mundo acadêmico e a vida social pode ser
construída, por exemplo, por meio de grupos de formação cidadã, nos quais
professores e estudantes, dentro da sua área de estudos, possam discutir
soluções para os problemas da comunidade local e promover o trabalho
voluntário. Dessa maneira, é possível transportar para a sala de aula os
desafios da vida profissional, aumentando o índice de empregabilidade e
formando profissionais comprometidos com a transformação social da comunidade
em que estão inseridos.
As parcerias entre universidade e empresa também estão
ganhando cada vez mais espaço, como acontecem no modelo alemão de ensino superior.
Os benefícios são diversos: desde a otimização em pesquisas realizadas em
conjunto, passando pelo aumento do número de inovações e culminando na entrega
de um profissional pronto para os desafios do mundo empresarial, trazendo a
oxigenação necessária também para as organizações.
Com ações como estas, as instituições de ensino se aproximam
de obter a excelência em seus processos e de atender de forma eficaz o perfil
do novo aluno do ensino superior, transformando-o em um agente transformador na
sociedade
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