sexta-feira, 23 de março de 2012

O SOCIALISMO DENTRO DO CAPITALISMO - POR DENTRO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA

Aula Magna de Paul Singer
Universidade Mackenzie
16 de março de 2012

Na manhã do dia 16 de março a Universidade Presbiteriana Mackenzie recebeu o doutor Paul Israel Singer, secretário nacional de Economia Solidária, para ministrar a Aula Magna com o tema “Perspectivas da Economia Solidária no Brasil e no Exterior e Interface com a Tecnologia Social”.

Cerca de 900 alunos estavam presentes, além de autoridades do Instituto e da Universidade. Na ocasião foi assinado o termo aditivo ao acordo de cooperação técnica entre a Universidade Presbiteriana Mackenzie, com a interveniência do Instituto Presbiteriano Mackenzie, a organização não governamental Visão Mundial e o Parque de Tecnologia Social. Termo que tem como objeto o convênio de Cooperação Socioeducacional para a realização de ações e atividades relacionadas a projetos de cooperação em tecnologia social.

A reitoria concedeu ao ilustre convidado a láurea Palmas Acadêmicas Mackenzie. O doutor Paul também foi presenteado com a medalha de honra Mackenzie e um exemplar da Bíblia trilíngue

Singer contou que foi sua primeira visita ao Mackenzie. Segundo ele, foi um encontro encantador: “eu não esperava tanto e estou muito feliz de ter, chegado aqui e conhecido o Mackenzie de perto. Percebi por tudo o que vi que é uma grande escola e espero que esse encontro se repita outras vezes”, disse ele.

Austríaco radicado no Brasil Paul Singer tornou-se economista e professor na Universidade de São Paulo. Cientista político ajudou a programar em 2003 a secretaria nacional de Economia Solidária, órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego. É autor de mais de 20 livros, muitos dos quais abordando questões econômicas, sociais e de inclusão, tema abordado em sua fala.

Autoridades

A mesa de autoridades contou com a presença do professor Paul Singer; do reitor da UPM, doutor Benedito Guimarães Aguiar Neto; do chanceler da UPM, reverendo doutor Augustus Nicodemus Gomes Lopes; do doutor Hesio Cesar de Souza Maciel, diretor presidente do IPM; do vice-reitor, doutor Marcel Mendes; do senhor Lutero Couto, presidente do Parque Tecnológico Social; dos decanos do Decanato Acadêmico, doutora Esmeralda Rizzo; do Decanato de Pesquisa e Pós-graduação, doutor Moisés Ari Zilber; do Decanato de Extensão, doutor Cleverson Pereira de Almeida; do reverendo Joer Correa Batista, gerente de Responsabilidade Social e Filantropia do Mackenzie; e do reverendo Dídimo de Freitas, capelão da Educação Básica do Colégio Presbiteriano Mackenzie Alphaville, representando a senhora Darcy Santos Ferreira Vieira, da organização não governamental Visão Mundial.

A AULA MAGNA

De acordo com Singer, a sociedade nacional é considerada a mais importante entre as demais por se tratar de uma coletividade política. Singer falou sobre a importância da formação de grêmios estudantis, pois é uma forma de fortalecer os grupos sociais, dentro do espaço educacional. O economista afirmou que no Brasil 80% dos trabalhadores dependem de um emprego para viver e que apenas 6% da população brasileira são proprietárias de grandes empresas. Essa distancia numérica, segundo Singer, representa um abismo entre as condições de vida de um determinado grupo para o outro formando assim a expressiva desigualdade social que atualmente vivemos. Na sequência, Paul disse que a Economia Solidária (ES) nasceu através das contradições do capitalismo que, ao contrário da ES, na maioria das vezes, busca o lucro e não somente qualidade das produções. Singer trouxe, como exemplo, os espaços ocupados pelo Movimento dos Sem Terra (MST) que se apropriam de terras abandonadas e fazem daquele lugar um solo fértil. Ele afirmou ainda que o surgimento da Economia Solidária tem minimizado expressivamente a exclusão social no país e citou a Bolsa Escola como uma forma de oferecer políticas fundamentais capaz de mudar a realidade daqueles que nasceram fadados à pobreza hereditária. “Estamos longe de sermos uma sociedade padrão, mas já iniciamos um caminho positivo rumo a essa conquista”, comemorou. Singer falou também que a internet foi a grande conquista humana dos últimos tempos capaz de aproximar e mobilizar as sociedades e proporcionar conhecimentos mútuos além de intercâmbio com outras civilizações.

Ainda é pouco para um país tão grande, mas já é possível dizer que hoje, no Brasil, três milhões de pessoas vivem sob uma espécie de socialismo dentro do capitalismo. O levantamento de Paul Singer, que fez um balanço sobre a parcela da população que está inserida em programas de economia solidária (cerca de 1,6%). Ao todo, são 30 mil empreendimentos.

 “É uma alternativa não capitalista ao desemprego”, disse o sociólogo e economista.

Hoje, a economia solidária é uma das bandeiras do Plano Brasil sem Miséria – principal programa de Dilma para erradicação da extrema pobreza. Segundo Singer, o orçamento da pasta nunca foi tão grande.

Até partidos que antes eram resistentes à ideia, por considerar “coisa do PT”, estão com planos de estímulo a projetos comunitários. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tem estudado a possibilidade de importar o programa para o estado.

Se hoje iniciativas como o microcrédito, moeda social, banco comunitário e produções em cooperativas são reconhecidas como projetos de sucesso, há pouco tempo elas passavam despercebidas por grande parte da população, inclusive autoridades. Singer explica: esse tipo de organização foi uma resposta ao desemprego massivo, consequência da hiperinflação e da crise econômica no país durante as décadas de 1980 e 1990. “Trabalhadores lutaram para ficar com a massa falida e montar empresas cooperadas”, explica.
Singer conta que em 1988, quando fazia parte da plataforma eleitoral da então candidata à prefeitura Luiza Erundina em São Paulo, uma das propostas de campanha era organizar a massa de trabalhadores desempregados (na época, cerca de um milhão e meio de pessoas) em associações produtivas independentes. Foi quando ficou sabendo que essa ideia não era nova. “Recebi cartas de pessoas falando que já estavam fazendo isso. O nome economia solidária foi adotado depois”, diz.

No mundo, diversas iniciativas pipocam. Butão, um país de 700 mil habitantes nas montanhas do Himalaia, na Ásia, será o principal um dos principais nomes da próxima conferência internacional de economia solidária. O país, que investe intensamente na ideia, deixará de contabilizar seu crescimento pelo PIB. Utilizará a conceito de FIB (Felicidade Interna Bruta), um indicador que mede não só o desenvolvimento econômico, mas a possibilidade de tornar a sociedade mais democrática e sustentável. “É uma fábrica de utopias, mas não é algo para quando tormarmos o poder, é para agora”, afirma o sociólogo.

Em outubro de 2011, representantes de 62 países se reuniram em Montreal, em conferência chamada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

No Brasil, são as mulheres que lideram o processo. “A pobreza é feminina e infantil”, diz. Comunidades quilombolas, indígenas e extrativistas também representam boa parte dos empreendimentos. Proporcionalmente, cidades pequenas contabilizam um grandes número de iniciativas. Um exemplo é Guaraqueçaba, no Paraná. A cidade tem apenas sete mil habitantes, mas 27 cooperativas e associações de economia solidária. A capital, Curitiba, com cerca de 1.750.000 habitantes – 250 vezes o tamanho de Guaraqueçaba – tem apenas 91 empreendimentos (pouco mais que o triplo).

Um dos princípios desse tipo de organização econômica é  a ausência de hierarquia. Em sua análise, Singer retoma a herança militar na sociedade como uma das causas para sua hierarquização estrita (até em esferas supostamente mais livres, como universidades).

“[A economia solidária] é uma réplica da economia brasileira sem patrão”, afirma.

O  processo, explica ele, envolve desde trabalhadores que perderam seus empregos, comunidades tradicionais, até engenheiros, universitários, economistas e administradores, entendemos então que o estudo prepara, e associado ao o trabalho honesto, é o que dignifica o Homem.. Tal processo social merece a atenção dos historiadores e antropólogos, pois descortina-se uma nova realidade, uma nova era, da qual somos mais que testemunhas, somos autores da História.

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