sexta-feira, 9 de março de 2012

A FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORÂNEO - CAIO PRADO JUNIOR


Descreve as características da ocupação do território, que ocorre a partir do litoral. O interior continua hostil e economicamente desinteressante. A economia passa a ser ligada às plantações de açúcar, produto com grande mercado na Europa, e a agricultura de subsistência. Surgem, assim, as primeiras aristocracias oligárquicas regionais do país. O sentido da colonização estaria nos três séculos de exploração metropolitana, no que tange de fundamental e permanente, ou seja, nos fins mercantis e no povoamento necessários para a organização de gêneros tropicais rentáveis para o comércio.



A colonização dos trópicos fez surgir uma sociedade original, baseada numa empresa do colono branco, de caráter mercantil, para produção de gêneros de grande valor comercial, com trabalho de indígenas ou negros africanos. Este conceito de Caio Prado foi um esforço de pensar o capitalismo mundial articulado à colonização do Brasil, posteriormente seguido por outros historiadores.  A formação do Brasil foi marcada pela grande produção agrária exportadora, cujo eixo de sustentação se apoiou em três formas que combinavam e se complementavam: grande propriedade, monocultura e trabalho escravo. No século XVIII a mineração ganhou relevo, organizada de maneira idêntica à agricultura: grandes unidades trabalhadas por escravos. O terceiro grande setor da economia destacada por Prado Jr. é a extração de produtos nativos do Amazonas. Como característica básica da organização econômica dos três setores apresentados, tem-se a grande unidade produtora .



O povoamento do território brasileiro, que o autor apontou como desequilibrado entre o litoral e o interior, foi fruto do caráter da colonização. Em torno de 60% da população colonial concentrava-se no litoral. A distribuição irregular da população foi determinada por alguns fatores como o bandeirismo e a exploração das minas, as missões católicas catequizadoras na região norte e a criação de gado no sertão nordestino (que posteriormente, floresceria no sul).



A interpretação de Caio Prado Júnior sobre a sociedade aponta três “raças”: brancos, indígenas e os negros africanos. O homem branco, quase só de origem portuguesa e de preferência como imigrante, se concentrou nos centros urbanos. Essa imigração se fez masculina e individualmente, em caráter aventuroso, daí um dos motivos para a falta de mulheres brancas na Colônia.



A organização social brasileira foi caracterizada pela escravidão, que veio desacompanhada de qualquer elemento construtivo. Mas o desafio lançado por Caio Prado às suas próximas gerações de historiadores e sociólogos foi sua interpretação quanto a contribuição do escravo negro ou índio a nossa “cultura”. O autor a identificou como muito passiva, resultado da difusão do sangue, à medida que a cultura africana ou indígena teria sido abafada, se não aniquilada, deturpada pelo estatuto social, material e moral a que se viu reduzida o seu portador. Em outras palavras, a escravidão teria degradado e eliminado do negro qualquer conteúdo cultural que tivesse trazido. Daí o vigor com que a do branco se impôs e predominou.



A administração da sociedade brasileira foi uma extensão do sistema português, e uma destas esferas foi a Igreja, importante na assistência social e também à educação. O Padroado permitia ao rei português uma ingerência nos negócios eclesiásticos, possuindo o Estado, autorização para estabelecer Ordens religiosas, o que limitou a independência e autonomia da Igreja. Caracterizando a sociedade organizada social e politicamente,. resume uma sociedade fundada na regulamentação dos instintos econômicos e sexuais. O primeiro, marcado por relações de trabalho, o segundo, por relações de família. Uniformidades de “atitudes”, de usos, de crenças, de língua, de cultura, serviriam de base moral e psicológica para a formação do Brasil como nação. Para a Colônia resultou um tom geral de inércia, de estagnação, de preguiça, de moleza e de pobreza.



Críticas à parte, principalmente aquelas feitas pela historiografia posterior, esta obra pensada e elaborada na década de 1930, desperta ainda hoje reflexões para se pensar o sentido do Brasil, suas desigualdades sociais, suas polêmicas questões políticas, suas relações econômicas com o mundo capitalista, competitivo e globalizado.

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