A sociedade colonial brasileira sofreu poucas modificações estruturais ao longo dos seus trezentos anos; esta afirmação embora encerre em si mesma uma verdade também é um grande erro, ao analisarmos o documento exposto podemos observar que mesmo com a pouco variação da estrutura social-política e econômica, historiadores encontraram várias formas de problematizar e definir tal período a partir como o observaram.
Cumpre ressaltar que a complexidade historiográfica abordada no ensaio pode se converter em uma ferramenta na medida em que nos permite observar de vários ângulos diferentes da complexidade na qual nos referíamos acima. Isto que dizer que é apenas uma das faces da complexidade historiográfica ou epistemológica em que a historiografia vai se inovando enquanto campo científico.
Capistrano traçou os caminhos de uma nacionalidade em constituição e composta por mestiços, pretos forros, bandeirantes, conquistadores, vaqueiros, índios, enfim, pelo resultado do encontro das "três raças irredutíveis". Preocupou-se com a continuidade social da frágil nacionalidade que se formava, já em Gilberto Freyre nada é linear ou esquemático; o seu pensamento se desdobra rico, múltiplo e maduro, antes psicológico do que lógico, preferindo a aparência da contradição à simplificação empobrecedora e primária, contanto que nenhum aspecto da realidade lhe escape, ainda que a História e as Ciências Sociais, relacionadas à vida íntima e ao quotidiano tenham levado meio século para reconhecer-lhe o valor historiográfico.
Sérgio Buarque de Holanda, traz em Raízes do Brasil uma interpretação original da decomposição da sociedade tradicional brasileira e da emergência de novas estruturas políticas e econômicas. Uma visão inovadora que introduziu os conceitos de patrimonialismo e burocracia, explicando os novos tempos a partir da história colonial, explicando as origens dos problemas nacionais. Descreveu o brasileiro como um homem que age pelo coração e pelo sentimento, preferindo as relações pessoais ao cumprimento de leis objetivas e imparciais, e Caio Prado que o caráter colonial permanecia na estruturação da sociedade contemporânea. Talvez o ponto convergente destes pesquisadores seja que no período a forma de produção da riqueza da sociedade como um todo manteve-se baseada no trabalho escravo, e todas as condições sociais foram determinadas pela forma de trabalho, que praticamente não se modificou até a segunda metade do século XIX, sob este olhar a frase que inicia o texto pode estar correta.
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