RESUMO
Tido como algo inédito, novo, o EaD – Ensino a distância – é bem mais antigo do que se supõe, seu primeiro registro teria sido um anúncio das aulas por correspondência ministradas por Caleb Philips (20 de março de 1728, na Gazette de Boston, EUA), que enviava as lições todas as semanas para os alunos inscritos. No Brasil, desde 1904, com a instalação de uma organização norte-americana, as chamadas Escolas Internacionais ofereciam cursos profissionalizantes por correspondência (Alves, 2004), ainda que não se diferencie as opções de curso EaD em relação ao curso presencial quanto ao aspecto de aprendizagem, pois em ambos o comprometimento do discente é de fundamental importância para aprendizagem, devemos considerar que ambos têm suas particularidades; se de um lado a graduação presencial proporciona ao aluno uma experiência universitária única, posto que nela é possível um envolvimento maior entre alunos e professores, com palestras e atividades extras no Campus; de outro lado é inegável o crescimento exponencial da procura pelos cursos EaD, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, entre 2003 e 2013, houve um aumento de 18,8% de cursistas nesta modalidade; o objetivo deste artigo é identificar estas distinções e refletir sobre suas adequações à realidade educacional brasileira.
Palavras Chaves: Graduação presencial; Graduação EaD; educação nacional.
INTRODUÇÃO
No Brasil, o Governo Federal apoia os cursos a distância com o discurso de "Inclusão Social e Educativa", verdade ou mito, os cursos de graduação a distância já são a escolha de 15,8% dos alunos matriculados na faculdade em todo o País, este número chega a um milhão, cento e cinquenta mil estudantes, segundo o último censo da educação superior divulgado pelo Ministério da Educação em 2014.
A partir do crescimento da própria Internet, no aumento substancial do número de brasileiros conectados à rede mundial, está claro que localidades antes ilhadas pelas próprias dimensões continentais do país estão agora mais próximas, e esta aproximação também se percebe na Educação, pólos de Universidade Aberta – uma iniciativa do Ministério da Educação para elevar o nível de brasileiros com graduação, pululam quase diariamente, e causam certa apreensão, afinal apesar de regulamentada, quem supervisiona esta modalidade de ensino?
Percebe-se também uma forte pressão econômica das IES para a opção EaD,, num mesmo curso, de uma mesma instituição os valores das mensalidades oneram entre 40 e 60%, para a modalidade presencial.
Inegável que esta modalidade de aprendizado tenha seu valor reconhecido, mas há igualmente a necessidade de um instrumento capaz de orientar os discentes na medição dos avanços e fragilidades de seu aprendizado é parte importante da formação e padronização dos profissionais de ensino superior, este mecanismo, facilmente percebido nos cursos presenciais, onde o contato com os colegas e mestres favorece a interação, dirime as dúvidas quase imediatamente, melhora as relações sociais e aumenta a rede de relacionamento do futuro profissional.
Precisamos porém refletir sobre a cultura brasileira como construção sócio-histórica e também na dimensão da educação como um espaço social; percebemos que o discurso da inclusão social é prontamente confrontado pela realidade cotidiana, pela lógica capitalista excludente, pela margilanização dos direitos sociais, políticos, tecnológicos e identitários de reconhecimento e respeito à diferença nos métodos do indivíduo desenvolver seu aprendizado mesmo quando impomos a este uma carga acadêmica mínima de disciplina à distância nos cursos presenciais, ou de cursos 100% à distância sem polos próximos para prestação das provas.
1. CONTEXTUALIZANDO A EaD NO CENÁRIO BRASILEIRO DO SÉCULO XXI
Na história da humanidade, não poucos foram os esforços intelectuais, teóricos e científicos dedicados a evidenciar a função social da educação. Da prática social formal, não formal e informal, a formação do homem para a vida, bem como a incorporação nas cadeias produtivas de produção a partir da estruturação do conhecimento por meio de currículos. Fato é que a educação está relacionada com a ação social e cultural de nos tornarmos humanos bem como sujeitos sociais. Como bem afirma Mattelart (2002),
Somos seres humanos, o que aprendemos na e da cultura de quem somos e de quem participamos. Algo que cerca e enreda e vai da língua que falamos ao amor que praticamos, e da comida que comemos à filosofia de vida com que atribuímos sentidos ao mundo, à fala, ao amor, à comida, ao saber, à educação e a nós próprios.
As pessoas não nascem prontas para viver e acabadas. Muito ao contrário, necessitamos de ensinamentos, orientações e cuidados. Aprendemos quando convivemos com outras pessoas inseridas em diferentes culturas, assim formamos nosso modo de viver, nossa personalidade, sentimentos e desejos. O ser humano é um ser social organizando seu modo de viver coletivamente, porém somos diferentes fisicamente, temos diferentes valores e diferentes formas de organização na sociedade.
O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a instituição de ensino superior, deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando as diferenças formas de expressão cultural. (BRASIL,1997, p. 32) e também um local onde as transformações tecnológicas deste século XXI reverberam no Brasil de forma distinta.
A partir de fenômenos como globalização, automação de processos produtivos, migramos rapidamente do modelo industrial para o de serviços, fenômeno similar ao do início do século XX, mas com um nível significativamente mais elevado de exigência e qualificação do ser humano; o uso cada vez maior destas tecnologias, reduz a remuneração e aumenta o desemprego, agravando um cenário já não muito favorável de violência, conflitos, piora da qualidade de vida, seja urbana seja rural.
Por outro lado entre 2012 e 2014, as empresas de telecomunicações, serviços de TI e prestação de serviços de comunicação viram seu faturamento crescer de R$ 96,4 bilhões para R$ 144,7 bilhões no período, o que representa quase 2% do faturamento de todas as empresas brasileira, incluindo-se ai os cursos EaD das Instituições de Ensino, segundo a ABRANET.
O efeito mais perverso destas transformações tem sido o desemprego e a exclusão social, já que os benefícios provenientes dessas transformações são usufruídos por apenas uma pequena parte da sociedade. Ao lado dos avanços científicos e tecnológicos com o aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da difusão social, há fome, desemprego, doença, falta de moradia, analfabetismo das letras e das tecnologias. (OLIVEIRA, 2003, p. 115)
Se considerarmos a LDB 9394/96 em seu artigo primeiro que considera a abrangência formativa da educação também nas instituições de ensino e pesquisa, assim como nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais e pensarmos que nossa formação histórica, está baseada nas relações econômicas e políticas a compreensão de nosso modelo de ensino desenvolvido e modificado pelas inúmeras reformas, classifica o Brasil como um país absorve as leis gerais da dinâmica capitalista, estabelecendo as conexões com suas características próprias, lógica está comprovada pelos dados e informações da ABRANET e do próprio MEC,evidenciando que o setor de serviços digitais apresenta um robusto crescimento enquanto os demais setores da economia estão e que há uma migração dos alunos dos cursos presenciais para a modalidade EaD da ordem de 40 a 60%,, migração esta baseada predominantemente na questão financeira, como veremos adiante.
Há uma tendência mundial, percebida na última década, tanto para os países com economias maduras, ou em fase de desenvolvimento, apesar das crises internas, de migrar a geração de riqueza dos setores primários e secundários da economia (agricultura e comércio) para o setor terciário (serviços), notadamente a partir das revoluções científicas e tecnológicas que reorganizam os empregos em todos os setores e criam a demanda por novas qualificações profissionais.
No Brasil, as transformações ocorridas a partir do uso das novas tecnologias e do avanço das comunicações baseadas na internet (plataformas de dados e voz sobre ip) formaram o amálgama tanto para o surgimento de novos postos de trabalho, como para a ruptura de barreiras internas para a implementação dos cursos superiores à distância, eliminando um problema logístico e financeiro decorrente de nossa extensão territorial, a partir deste novo século qualquer cidadão, em qualquer ponto do país poderia graduar-se bastando para isso que a instituição mantenedora do curso fosse reconhecida pelo Ministério da Educação e possuísse um polo na região para aplicação das avaliações, exigência legal; pelo menos em teoria, isso diminuiria as desigualdades educacionais, econômicas e sociais impostas pela própria dimensão nacional, é neste contexto de sociedade tecnológica que a finalidade da IES ganha sua dimensão mais abrangente, traz o desafio de formar os discentes para um mundo em que os empregos de seus pais e avós já não mais existirão mesmos nos rincões mais afastados, deve-lhes proporcionar o desenvolvimento humano cultural, científico e tecnológico, numa sociedade de lógica capitalista que é por natureza excludente, com novas linguagens que por vezes são estranhas baseadas em ferramentas chamadas TIC’s ou AVA. Trabalhar competências e habilidades sofisticadas que formarão este novo cidadão para esta nova sociedade, ensinando-os a aprender a aprender, sem a supervisão direta, pautadas numa tecnologia ainda muito jovem é sem dúvida, mais um dos desafios dos cursos à distância das IES.
2. OS OBJETIVOS DO ENSINO SUPERIOR
Considerando que educação é por origem e objetivo, um fenômeno social, está fortemente vinculada ao contexto político, social e econômico de determinada sociedade, e portanto, não ocorre de forma similar em todos os lugares, seu vínculo é com o indivíduo e com a sociedade a qual este pertence, sobre isto Demerval Saviani afirma:
O estudo das raízes históricas da educação contemporânea nos mostra a estreita relação entre a mesma e a consciência que o homem tem de si mesmo, consciência esta que se modifica de época para época, de lugar para lugar, de acordo com um modelo ideal de homem e de sociedade. (SAVIANI, 1991, p.55).
Sobre tal afirmação buscamos refletir o impacto educacional e social e as dinâmicas que dele resultam a partir de diferentes formas de abordagem dos cursos presencial e EaD,, tanto pela dimensão governamental, a partir das Resoluções e Leis vinculadas ao temas, como pela posição de teóricos em educação, seja pela próprias IES a partir de sua prática, em concordância ou dissonância de seus discursos da socialização e desenvolvimento educacional e profissional.
É inegável o objetivo que os cursos EaD tem de democratizar o acesso à formação profissional e acadêmica, no caso nacional, um país com dimensões continentais e disparidades sociopolítico e econômicas igualmente gigantescas, seria um engano ingênuo, quase infantil, se acreditássemos tal a única razão de ser; a única causa da existência desta modalidade, no decorrer deste trabalho continuaremos nossa sobre tais discursos.
As mudanças tecnológica e científica ocorridas no final do século XX e início deste século XXI refletiram também na sociedade e esta mudou a partir de tal influência, como sempre respondeu às inovações tecnológicas ao longo da história; seria ingenuidade acreditar que a educação também não necessitaria adaptar-se à esta sociedade do conhecimento e assumir seu papel de protagonista neste processo. Se não é possível conceber a educação sem as TICs, (ferramentas da tecnologia da informação e comunicação, essenciais à existência da modalidade EaD), é igualmente importante refletirmos sobre a concepção da aprendizagem acadêmica, que deverá perpassar pela utilização desta tecnologia na prática educativa.
A ideia amplamente difundida é que a EaD serve para facilitar o processo de ensino e aprendizagem e socializar o acesso de todos à formação superior, o que nos leva à uma reflexão se a utilização deste modelo Ead está pautado numa aprendizagem Behaviorista, onde aprender significa exibir comportamento apropriado, ou atingir uma pontuação satisfatória, assim o objetivo principal da educação se restringe a treinar os educandos a exibirem um determinado “comportamento digital”, um “score” satisfatório e controlá-lo externamente.
Há outro discurso que defende que no modelo Ead realiza-se o ciclo descrição – execução – reflexão – depuração – descrição, que são relevantes na aquisição de novos conhecimentos, a descrição para solução do problema será dada por um técnico e não um catedrático na disciplina à máquina, a partir de uma linguagem de programação, enquanto na outra extremidade o discente terá acesso aos resultados, ao feedback, e buscará diletantemente a resposta mais adequada, dentro da programação elaborada por outro, a interface é feita por uma máquina que muitas vezes não facilita o diálogo, o diálogo entre mestre e discente fica comprometido, e o professor tem dificuldade de entender o que o aluno está pensando, portanto o processo de encontrar e corrigir o erro, oportunidade única para o aluno aprender sobre determinado conceito envolvido na solução de um problema, ou sobre estratégias de resolução de problemas, objetivo da educação fica limitado a uma programação feita por terceiros.
A realização deste ciclo construtivista de Piaget descrição – execução – reflexão – depuração não acontece simplesmente colocando o aprendiz diante do computador, a interação precisa ser mediada por um profissional com notório saber tanto do conteúdo abordado, como do processo de aprendizagem por intermédio da construção de conhecimento, de tal forma que este docente possa entender as ideias do discente e atuar no processo de construção do conhecimento para intervir apropriadamente na situação, auxiliando-o nesse processo.
Ainda segundo a teoria de Piaget, o conhecimento não procede apenas da programação inata do sujeito e nem de sua única experiência sobre o objeto, mas é resultado tanto da relação recíproca do sujeito com seu meio, quanto das articulações e desarticulações do sujeito com esse objeto, de tais interações surgem construções cognitivas sucessivas, capazes de produzir novas estruturas em um processo contínuo e incessante.
Se a educação tem como objetivo mediar a construção do processo de conceituação dos alunos, buscando a promoção da aprendizagem e desenvolvendo habilidades importantes para que ele participe da sociedade do conhecimento e não simplesmente facilitando o seu processo de ensino e de aprendizagem então o ambiente EaD deveria apresentar-se de forma interativa, com levantamento de hipóteses, refinando ideias iniciais, apresentando réplicas e tréplicas dos tutores/professores com o corpo discente de modo a auxiliá-los na construção de seu próprio conhecimento.
Verificamos ainda que há uma terceira via de interesse nos cursos EaD, o valor dos cursos de graduação; se há ou não alguma orientação governamental neste sentido, tal informação não é oficial, mas o fato é que tanto os cursos EaD apresentam valores significativamente inferiores em relação à modalidade presencial, como a maioria dos cursistas que opta pela modalidade Ea já nas famílias com renda superior a este número há uma inversão da opção com predominância dos cursos presenciais, também notamos uma diferença significativa por gênerocom predominância de mulheres nos cursos EaD e de homens nos presenciais, a diferença mais significativa porém está entre os alunos casados matriculados nos cursos EaD e aqueles que são a principal fonte de renda familiar, conforme podemos observar na tabela abaixo.
Há ainda um outro perfil, o dos discentes que necessitam de um curso de graduação célere, que lhes assegure melhores condições financeiras, promoções, ou simplesmente a manutenção de seus empregos, nesta nova sociedade tecnológica, e acabam por renderem-se apresenta uma situação social e financeira já comprometida, com renda familiar até três salários mínimos,se às propagandas dos cursos tecnológicos
3. ADEQUAÇÕES NECESSÁRIAS
É preciso entender, que se as instituições de ensino são habitadas por diferentes indivíduos, estes vem com um arcabouço moral, emocional e intelectual singular e único, e o espaço que dividem deveriam ser mediados, em especial num ambiente que se pretende democrático.
Vivemos num mundo globalizado e apesar do termo sugerir inclusão, a lógica capitalista como anteriormente mencionado é a da exclusão, uma vez que esta se caracteriza pelo mercado livre e dessa forma o homem tende cada vez mais a extinguir o trabalho assalariado e manual, para livrar-se dessa condição de desempregado esse homem global tem por obrigação estudar de forma a manter-se atualizado e inserido no mercado de trabalho como membro dessa “sociedade do conhecimento”.
A educação superior representa a inserção social, o acesso as informações a valoração das realidades locais a ascensão social e nesta perspectiva, a IES na modalidade EaD deve romper com a forma histórica das IES de modo a apresentar desafios nessa reconfiguração, tomando por base os discursos que introduzem e justificam as atuais políticas das chamadas "novas tecnologias" ou, mais precisamente, das tecnologias da informação e da comunicação (TIC) ferramentas que constituem a modalidade EaD. Essa presença tem sido cada vez mais constante no discurso pedagógico, compreendido tanto como o conjunto das práticas de linguagem desenvolvidas nas situações concretas de ensino quanto as que visam a atingir um nível de explicação para essas mesmas situações.
As transformações nas formas de comunicação transmissão de conhecimento desencadeadas pelo uso generalizado das tecnologias digitais em todas as esferas da sociedade contemporânea, especialmente nos cursos de graduação, demandam uma reformulação das relações de ensino e aprendizagem, tanto no que diz respeito ao que é feito nas IES, quanto a como é feito; precisamos refletir no pode e precisa ser feito a partir da utilização dessas novas tecnologias no processo educativo. Para isso, é necessário compreender quais são suas especificidades técnicas e seu potencial pedagógico.
No curso presencial, o professor de sala há muito já assumiu um novo papel na relação entre professor e aluno, se torna o mediador e não apenas o papel de ensinar, mas sobretudo organizar estratégias para que o aluno conheça e construa o próprio conhecimento, isso também poderia ser feito no modelo EaD, neste no entanto os atos da fala são claros e quaisquer dúvidas ou ruídos são prontamente liquidados, não raramente há uma interpretação diversa entre o leitor (professor/tutor) e o que foi escrito pelo autor, discente, a escrita e a fala, se tornam subjetivas, dependendo exclusivamente da interpretação de quem lê, sem direito a réplica.
No processo de compreensão do perfil do educando e da comunidade ou região nacional e no processo de imersão da mediação educativa, gostaria de apontar a importância em ouvir o educando, é relevante criarmos espaços para discussão de temas transversais, criar espaços onde o educando sinta-se a vontade para interagir e apresentar seu mundo e seu conhecimento para professor, onde a interpretação da fala do discente não dependa exclusivamente do leitor (professor/tutor).
É nesse exercício do ouvir, que podemos verificar problemas de aprendizagem, problemas de interação, problemas de socialização sadia, indícios de preconceitos não desconstruídos, e a partir desse exercício do ouvir, podemos planejar ações que ajude no processo de formação social e cidadã deste educando e de fato romper as barreiras sociais impostas pelas dimensões geográficas.
No universo do diálogo e dos atos da fala, a comunicação pela via EaD fica engessada a digitação e a compreensão, ou antes interpretação exclusiva do leitor, o que não ocorre na modalidade presencial, no universo presencial a tônica é a dinâmica.
É correto que por trás de um EaD, existe um staff de vários profissionais envolvidos para apresentar os módulos, através do AVA- Ambiente Virtual de Aprendizagem – plataformas capazes de gerenciar o acesso dos alunos e apresentar exercícios, fóruns e várias outras atividades que são diferenciais quando se trata de curso a distância, isto exige dos docentes e discentes contínuas mudanças e que estejam abertos para elas, observando com isso um campo com várias possibilidades.
No contraponto, o Brasil ainda oferece uma Internet cara e de péssima qualidade, além disso a falta de interação com colegas e professores é desmotivante, o diálogo, tão essencial à análise acadêmica, praticamente inexiste, ou é estanque, “uma mesma resposta para vários cursistas, de cursos distintos” sem contextualização.
Além da legislação vigente buscamos no parecer de teóricos conceitos como gestão democrática, autonomia, formação acadêmica e científica, se compreendemos gestão democrática como a participação dos vários segmentos da comunidade acadêmica nos projetos pedagógicos, na alocação dos recursos da IES e seus processos decisórios, evidencia-se ainda mais as semelhanças e diferenças das modalidades EaD e presencial, posto que a gestão democrática é participativa e exige uma “mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar” (GADOTTI, 1994, p.5).
Vale ressaltar que a inovação citada, não necessariamente é a mudança de método, destacamos aqui o valor da participação coletiva e do exercício de construção democrática como prática constante e condição maior de desenvolvimento, através da qual a IES se torna, de fato, uma instituição promotora da cidadania e voltada aos interesses de todas as camadas sociais, inclusive as populares, uma prova disso é evolução de matrículas nos cursos de graduação em números totais, conforme tabela..
Salientamos porém a exclusão do corpo discente nas propostas pedagógicas das modalidades EaD, nem acesso aos critérios de validação e avaliação dos cursos, tais informações permanecem encasteladas do domínio, ou minimamente ciência de sua clientela, sabe-se que há um “score” a ser atingido e apenas isso, como esta graduação é montada ou analisada, permanece uma icógnita, a qual não conseguimos desvendar.
Ainda assim buscamos nas Políticas Públicas no Brasil orientações sobre tais propostas pedagógicas, se estão voltadas exclusivamente para resultados, buscando desenvolver sistemas de monitoramento e avaliação, modelo este facilmente atingido pelas IES voltadas para cursos EaD, pois são pautadas em pontos, cuja mediação é meramente quantitativa, e não avalia as competências individuais do discente.
Já a gestão pedagógica não é tão facilmente percebida, menos ainda pelo alunado; as necessidades de ajuste ou melhoria do rendimento acadêmico, o acompanhamento dos processos de aprendizagem e recuperação dos alunos, o planejamento pedagógico, ou matriz curricular somente são avaliados, quando são, por estruturas governamentais lentas e com uma periodicidade que o mundo contemporâneo não admite mais.
Em defesa dos cursos a distância, é sabido que vivemos numa sociedade notadamente marcada pela informação ou “Era Tecnológica”, oriunda do pós-modernismo; com as inovações tecnológicas, o curso EaD assumiu um grande papel, o de oferecer educação de qualidade àqueles que antes estavam à margem da sociedade, devido a grande extensão territorial, atingindo assim alguns locais que não eram contemplados por instituições de ensino. As TICs- Tecnologia da Informação e Comunicação, dentro da qual a modalidade de ensino à distância existe – proporcionaram o acesso a grande maioria das instituições, tendo a disposição cursos nas mais diversas áreas; outro diferencial é que os cursos podem ser realizados com uma maior flexibilidade de horários ao aluno, sendo que durante o curso podem haver provas e encontros marcados previamente, essa flexibilidade, junto com custo significativamente mais reduzidos são dois dos principais fatores que vem tornando o EaD uma opção de estudo, em especial para quem está a procura de aperfeiçoamento dentro de sua área de atuação, ou realizar um curso de graduação, ou ainda, aprender uma nova atividade dentro das várias possibilidades existentes.
Não basta se inscrever em um curso EaD, é fundamental que o discente tenha disciplina, dedicação e comprometimento com o curso que está realizando, principalmente porque não há monitoria, nenhum controle de tempo de dedicação ou leitura é efetuado, a participação resume-se geralmente a poucos acessos a fóruns e a apresentação de trabalhos finais além da própria avaliação.
Cumpre ressaltar que tanto a graduação presencial quanto a EaD têm as mesmas cargas horárias e não há distinção quanto ao tipo de modalidade proposta na emissão do diploma, por exigência do Ministério da Educação as provas devem ser realizadas na instituição, isso se tratando de cursos de graduação.
Neste cenário, como posicionar a importante missão de acompanhar o desenvolvimento da prática educativa e o processo de ensino-aprendizagem destes futuros profissionais?.Transformar o futuro profissional, ampliar o horizontes acadêmico, ou o universo de conhecimento são atribuições correlatas vinculadas ao docente do ensino superior, além obviamente do respeito pelo saber acadêmico e ético também protagoniza vínculos afetivos como admiração e valorização do discente.
Outro destaque é a do espaço virtual em oposição ao acadêmico, sem dúvidas, os estudantes melhoram seu desempenho num ambiente que lhes é próximo, e esta geração tecnológica, perfeitamente familiarizada com o mundo digital, igualmente não prescinde da IES viva, daquela em que pode interagir com seus colegas, ampliar sua rede de relacionamentos, construir futuras parcerias profissionais, ser estimulado pelos mestres, um local onde não seja trancado nas paredes de concreto, mas aproveita seu próprio espaço, ganha respeito, admiração, tornando a IES mais significativa.
CONCLUSÃO
As Tecnologias e os Ambientes virtuais de aprendizagem; elementos indispensáveis aos cursos na modalidade à distância’precisam ser percebidos como ambientes de aprendizagem aliados no processo ensino aprendizagem; tais ambientes, são possibilidades educativas reais na sociedade contemporânea, porém não são a única via, assim como a modalidade não é um fim em si mesma.
O uso dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVA fora do espaço acadêmico facilitaram ao discente ao estabelecer seu próprio ritmo de aprendizado, reduziram distâncias e custos que antes inviabilizavam a implantação de cursos superiores de graduação, tecnológicos, ou não em todo território nacional, tais diferenças criavam disparidades sociais econômicas e de desenvolvimento entre as regiões com maiores polos acadêmicos e as menos contempladas, dificultando inclusive quaisquer planos de integração nacional, fossem estes da iniciativa pública ou em parcerias com as IES, este abismo foi transposto a partir da modalidade EaD.
Por outro lado, o uso indiscriminado do modelo EaD na educação não garantirá por si só a aprendizagem dos alunos, pois são instrumentos de ensino que podem e devem estar a serviço do processo de construção e apropriação do conhecimento dos aprendizes. A introdução desses recursos na educação deve ser acompanhada da presença e supervisão constante de profissionais qualificados na docência do ensino superior, com notório saber e sólida formação de tal modo possam utilizá-las (as ferramentas EaD) de forma responsável otimização as pedagógicas, a modalidade não resume o estado da arte, da perfeição, é uma via e não o fim.
A interatividade através dos espaços coletivos dos cursos presenciais, que promovem a reflexão e discussão entre os pares para que alunos, professores e gestores possam falar das questões que lhes pareçam pertinentes para melhorar o trabalho, propiciar o debate permanente sobre o processo de ensino e de aprendizagem e favorecer a integração e sequência dos conteúdos curriculares, a mesma interatividade pode e deve ser implementada na modalidade à distância.
Quanto aos critérios avaliativos, é preciso identificá-los como ferramentas para desenvolvimento das habilidades na área da educação superior, como elementos constitutivos do planejamento educacional e não apenas como uma tabela a ser cumprida para apresentação de relatórios junto aos órgãos reguladores competentes; a reflexão sobre tais métodos possibilitaria o fazer pedagógico do ensino superior crítico e reflexivo, de tal modo a assegurar uma aula dialógica e dialética.
Observamos que ao longo da última década o ensino a distância adquiriu espaço como uma das mais fortes modalidades para aqueles que buscam uma graduação, a preparação deste profissional requer habilidades e competências neste novo cenário educacional, mas os ajustes tem que ser percebidos e feitos antes que a credibilidade desta importante modalidade de inclusão acadêmica, educacional e social seja abalada, talvez o caminho seja a revisão do ponto de vista tecnológico e científico, visando à aplicabilidade de projetos, talvez seja abrir o espaço dos planejamentos e produções de materiais a um colegiado composto também pelos discentes e voltado para o aperfeiçoamento das Tecnologias de Informação e Comunicação, talvez seja priorizando o corpo docente e sua interação com o alunado, a resposta certamente não é única, nem simples.Qualquer curso superior, seja presencial ou à distância que não respeita nem integra o saber do estudante e da comunidade a que ele pertence não cumpre a função primordial da uma Instituição de Ensino, que é a de formar cidadãos para uma vida digna e plena, não se pode considerar qualquer modalidade de formação que se distancie do foco maior: o aluno; ajudá-lo a desenvolver habilidades de pensamento, construir e reconstruir caminhos é, sem dúvida, o papel do ensino superior, independente de sua modalidade.
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