Um dos grandes desafios da gestão pedagógica é promover
mudanças na prática docente tradicional dos professores. Muitas vezes, o
esforço se concentra em ensinar novas posturas metodológicas e conscientizar a
respeito da necessidade de mudança. Frequentemente, pouca ou nenhuma ação
concreta é dedicada a promover a mudança de crença do professor. Como
resultado, os esforços de formação continuada pouco têm influenciado a prática
do professor em sala de aula e, quando o fazem, muitas vezes é por períodos
breves. Estudos realizados nos Estados Unidos comprovaram que as barreiras que
as crenças dos professores erguem quando se começa a implementar uma nova forma
de atuar são as grandes responsáveis pela dificuldade e pela lentidão das
mudanças.
Alguns mecanismos têm sido usados para garantir a mudança
nos processos de implantação de novos paradigmas educacionais, dentre eles as
mudanças na estrutura dos livros didáticos, conforme os parâmetros de uma
postura significativa e dialógica da aprendizagem. Como exemplo, no caso da
matemática, os livros conduzem os alunos a um raciocínio matemático para
aplicação a situações diárias, à compreensão da base conceitual dos procedimentos
e à avaliação de argumentos matemáticos. Para obterem um resultado efetivo, de
acordo com o novo paradigma, os professores devem utilizar materiais
manipulativos, encorajar a discussão pelos alunos de maneiras alternativas,
encarar e resolver problemas, além de explorar com os alunos o raciocínio deles
sobre por que suas soluções fazem sentido. Essas metas e esses procedimentos
instrucionais entram em conflito com muitas crenças tradicionais dos
professores sobre ensinar e aprender conteúdos matemáticos, embora eles estejam
de acordo com a mudança de paradigma.
A insistência da implementação prática de um novo paradigma
que ignora esforços para a mudança de crenças do professor resulta, na maioria
das vezes, em práticas distorcidas, decorrentes da “adaptação” inconsciente que
o professor faz das novas práticas às suas crenças comportamentais sobre
ensinar e aprender. Eis algumas dessas “adaptações”:
1. Os professores adaptam os novos conceitos e procedimentos
para ficarem de acordo com seus próprios sistemas de crenças.
2. Os professores “pulam” lições que não se encaixam em sua
crença de que os alunos deveriam aprender regras e procedimentos passo a passo.
3. Os professores adaptam as lições que exigem procedimentos
manipulativos, de forma que possam ensiná-las sem os materiais recomendados.
4. Os professores ignoram atividades de discussão,
tornando-as diretivas, passíveis de correção objetiva.
Por que as crenças dos professores são tão difíceis de mudar
e por que elas têm grande impacto no comportamento? As crenças sobre ensinar e
aprender são formadas bem cedo, durante as experiências escolares que vivemos
quando éramos alunos. Quando decidimos nos tornar professores, já estamos
impregnados dessas crenças, que são profundamente pessoais e têm um forte componente
emocional. As crenças servem como filtros, influenciam a interpretação dos
eventos pelos professores e podem distorcer o processamento das informações.
Outro fator condicionante das crenças é que, quanto mais tempo elas existem,
mais difícil é mudá-las.
É urgente a implantação de programas que, de fato,
sensibilizem as crenças dos docentes. A transformação da prática é resultado da
transformação da crença nessa prática, e crença não se transforma por decreto,
por pressão ou por meio de simples discursos. Transformar crenças requer quatro
constantes, seguros e incansáveis passos: tempo, diálogo, prática e apoio.
Quanto mais sincronizados os três últimos, menor será o primeiro. Diminuir o
tempo e transformar de imediato tem sido a exigência de muitas escolas e
sistemas educacionais que, infelizmente, têm colhido resultados desastrosos e
provocado consequências catastróficas no resultado final da
aprendizagem.
fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/966-a-gestao-pedagogica-e-as-crencas-do-professor
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