quinta-feira, 22 de outubro de 2015

A GESTÃO PEDAGÓGICA E AS CRENÇAS DO PROFESSOR - escrito por Julio Furtado

Um dos grandes desafios da gestão pedagógica é promover mudanças na prática docente tradicional dos professores. Muitas vezes, o esforço se concentra em ensinar novas posturas metodológicas e conscientizar a respeito da necessidade de mudança. Frequentemente, pouca ou nenhuma ação concreta é dedicada a promover a mudança de crença do professor. Como resultado, os esforços de formação continuada pouco têm influenciado a prática do professor em sala de aula e, quando o fazem, muitas vezes é por períodos breves. Estudos realizados nos Estados Unidos comprovaram que as barreiras que as crenças dos professores erguem quando se começa a implementar uma nova forma de atuar são as grandes responsáveis pela dificuldade e pela lentidão das mudanças.
Alguns mecanismos têm sido usados para garantir a mudança nos processos de implantação de novos paradigmas educacionais, dentre eles as mudanças na estrutura dos livros didáticos, conforme os parâmetros de uma postura significativa e dialógica da aprendizagem. Como exemplo, no caso da matemática, os livros conduzem os alunos a um raciocínio matemático para aplicação a situações diárias, à compreensão da base conceitual dos procedimentos e à avaliação de argumentos matemáticos. Para obterem um resultado efetivo, de acordo com o novo paradigma, os professores devem utilizar materiais manipulativos, encorajar a discussão pelos alunos de maneiras alternativas, encarar e resolver problemas, além de explorar com os alunos o raciocínio deles sobre por que suas soluções fazem sentido. Essas metas e esses procedimentos instrucionais entram em conflito com muitas crenças tradicionais dos professores sobre ensinar e aprender conteúdos matemáticos, embora eles estejam de acordo com a mudança de paradigma.
A insistência da implementação prática de um novo paradigma que ignora esforços para a mudança de crenças do professor resulta, na maioria das vezes, em práticas distorcidas, decorrentes da “adaptação” inconsciente que o professor faz das novas práticas às suas crenças comportamentais sobre ensinar e aprender. Eis algumas dessas “adaptações”:
1. Os professores adaptam os novos conceitos e procedimentos para ficarem de acordo com seus próprios sistemas de crenças.
2. Os professores “pulam” lições que não se encaixam em sua crença de que os alunos deveriam aprender regras e procedimentos passo a passo.  
3. Os professores adaptam as lições que exigem procedimentos manipulativos, de forma que possam ensiná-las sem os materiais recomendados.
4. Os professores ignoram atividades de discussão, tornando-as diretivas, passíveis de correção objetiva.
Por que as crenças dos professores são tão difíceis de mudar e por que elas têm grande impacto no comportamento? As crenças sobre ensinar e aprender são formadas bem cedo, durante as experiências escolares que vivemos quando éramos alunos. Quando decidimos nos tornar professores, já estamos impregnados dessas crenças, que são profundamente pessoais e têm um forte componente emocional. As crenças servem como filtros, influenciam a interpretação dos eventos pelos professores e podem distorcer o processamento das informações. Outro fator condicionante das crenças é que, quanto mais tempo elas existem, mais difícil é mudá-las.
É urgente a implantação de programas que, de fato, sensibilizem as crenças dos docentes. A transformação da prática é resultado da transformação da crença nessa prática, e crença não se transforma por decreto, por pressão ou por meio de simples discursos. Transformar crenças requer quatro constantes, seguros e incansáveis passos: tempo, diálogo, prática e apoio. Quanto mais sincronizados os três últimos, menor será o primeiro. Diminuir o tempo e transformar de imediato tem sido a exigência de muitas escolas e sistemas educacionais que, infelizmente, têm colhido resultados desastrosos e provocado consequências catastróficas no resultado final da aprendizagem. 

fonte:http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/colunistas-ge/julio-furtado/966-a-gestao-pedagogica-e-as-crencas-do-professor


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