quarta-feira, 2 de abril de 2014

DEMOCRATIZAÇÃO DAS RELAÇÕES NA ESCOLA: O SIGNIFICADO DO TRABALHO COLETIVO

Nas discussões a respeito de gestão democrática na escola é comum ouvir manifestações de que esta é uma prática quase impossível de adotar, haja vista a hegemonia de posturas autoritárias que ainda encontramos nos processos de gestão educacional no Brasil e pelo reduzido valor que os sujeitos escolares atribuem a essa forma de atuar. Neste texto apresento uma breve discussão a respeito dos significados que o trabalho coletivo democrático assume para professores, estudantes, direção, famílias e funcionários escolares. A construção da gestão democrática na escola é um processo. Ocorre com avanços e recuos, na medida em que pais, estudantes, professores e funcionários têm a oportunidade de opinar e decidir as ações e as relações educacionais e pedagógicas da instituição. O desenvolvimento desse processo pressupõe sua construção no cotidiano escolar, o que não dispensa a necessidade da reflexão permanente a respeito dos obstáculos e das potencialidades que se apresentam na realidade concreta, haja vista que a democracia só se efetiva por ações e relações em que há coerência entre o discurso e a prática. Admitir a democratização das relações internas da escola como mediadora para a democratização educacional significa considerá-la sine qua non, porém não a única. Há que se considerar os determinantes econômicos, sociais, políticos e culturais mais amplos que agem em favor da tendência autoritária enfrentados como manifestação, num espaço restrito. Para que haja a conquista da participação efetiva dos sujeitos sociais na gestão da escola é preciso que haja condições que propiciem essa participação. A participação de professores, alunos, pais e funcionários na organização da escola, na escolha dos conteúdos a serem ensinados, nas formas de administração será tão mais efetivamente democrática, na medida em que esses sujeitos sociais dominem o significado sócio-político de suas especificidades numa perspectiva de totalidade. Assim, é possível afirmar que:
a) para a comunidade, participar da gestão de uma escola significa inteirar-se e opinar sobre assuntos para os quais muitas vezes se encontra despreparada; significa todo um aprendizado político e organizacional (participar de reuniões, emitir opiniões, anotar, acompanhar, cumprir decisões); significa mudar sua visão de direção da escola, passando a não esperar decisões prontas para serem seguidas; significa, enfim, pensar a escola não como um organismo governamental, portanto externo, alheio, e sim como um órgão público que deve ser não apenas fiscalizado e controlado, mas dirigido pelos seus usuários;
b) a direção vê-se colocada diante de tarefas eminentemente políticas, pois assume o papel de dirigente técnico e político. A abertura não acontece para um todo homogêneo e sim para uma população dividida, socialmente estratificada e ideologicamente diferenciada; significa lidar com inúmeras expectativas e projetos políticos diversos;
c) para os alunos, a principal mudança refere-se à sua relação com os professores e com a direção: assumir sua parte de responsabilidade na direção da escola e do processo pedagógico, deixando de esperar soluções acabadas e apenas a punição como saída; compreender que transitar na difícil fronteira entre liberdade e segurança exige um compromisso com o projeto educacional, com princípios e também com uma visão mais global e menos fragmentada da escola;
d) os professores, descobrindo, (re)descobrindo, inventando, formulando e aceitando novas premissas, preparam-se para, dialeticamente, analisar, comparar, estabelecer valores através dos quais avaliam as diferentes metodologias, mantêm-se atentos para apreciá-los em relação às posturas teóricas e em relação à sua prática e contexto, especialmente em situações nas quais a comunidade tem lugar específico para a construção do currículo.
O significado social da prática de cada um é capaz de desenvolver a autonomia e a criatividade na reorganização da escola para melhor propiciar a sua finalidade: a formação humana de homens e mulheres nas suas dimensões pessoal e profissional na perspectiva de contribuir para a democratização da sociedade pela democratização do saber.
Na medida em que consegue a participação de todos os seus setores – educadores, alunos, pais e funcionários – nas decisões a respeito de seus objetivos e de seu funcionamento, a escola cria melhores condições para enfrentar os escalões superiores, no sentido de apropriar-se de autonomia e de recursos. Será muito mais difícil dizer não de modo autoritário quando a manifestação é de um grupo que representa todos os segmentos e que esteja fundamentado pela conscientização que sua própria organização proporciona, reconhecendo a participação coletiva na gestão escolar como uma das vias mais legítimas para a melhoria da qualidade do ensino, da consciência crítica da realidade social para a construção de uma escola verdadeiramente pública.

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