segunda-feira, 31 de março de 2014

MONTEIRO LOBATO - URUPÊ - RESENHA CRÍTICA

Urupês é uma coletânea de contos e crônicas do escritor brasileiro Monteiro Lobato, considerada sua obra-prima e publicada originalmente em 1918. Inaugura na literatura brasileira um regionalismo crítico e mais realista do que o praticado anteriormente, durante o romantismo. A crônica que dá título ao livro traz uma visão depreciativa do caboclo brasileiro, estereótipo contrário à visão romântica dos autores modernistas.

Os contos do livro são:

Os faroleiros
O engraçado arrependido
A colcha de retalhos
A vingança da peroba
Um suplício moderno
Meu conto de Maupassant
"Pollice Verso"
Bucólica
O mata-pau
Bocatorta
O comprador de fazendas
O estigma
Velha Praga
Urupês

Monteiro Lobato escreve com um tom moralizante e didático que também aparece nas obras infantis, além do apreço pela linguagem e gramática. 

Dentre seus personagens, Monteiro Lobato apresenta o homem como produto do meio, como por exemplo o caboclo Jeca Tatu.

Tipos oportunistas, como o malandro vigarista, estão presentes em Urupês, por isso é preciso compreender muito bem o contexto histórico-social brasileiro do período, pois o autor está intimamente relacionado a ele. 

Suas descrições minuciosas de um Brasil primitivo, arborizado e provinciano fazem o leitor ser transportado para o período em que a história é narrada.

O autor, preocupado em reproduzir nos textos a riqueza da fala brasileira da zona rural, com seus coloquialismos e neologismos tipicamente orais, tem no recurso da oralidade a maior ousadia, pois nessa época o uso do português coloquial em obras era visto como algo “inferior” e sem valor literário. Pode-se dizer, então, que a obra antecede as convenções estilísticas propostas pelos modernistas da Semana de 22. 

Em ''Velha Praga'' originalmente um artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo, passsa a ser publicado como parte da obra, uma vez que daí que vem a inspiração para o livro. Nesse texto, o autor denuncia as queimadas praticadas pelos caboclos nômades na Serra da Mantiqueira e os problemas por elas causados. Ao mesmo tempo, mostra o descaso em que essas pessoas vivem.

Jeca Tatu é o representante máximo do caboclo que vive na preguiça, alimentando-se e daquilo que a natureza lhe oferece, sem nenhum tipo de educação e alheio a tudo o que acontece pelo mundo. Sertanejo preguiçoso, cachaceiro e analfabeto, representa a ignorância do homem do campo...

É a denúncia do descaso do governo com relação às pessoas da zona rural uma vez que, segundo Monteiro Lobato, “Jeca Tatu não é assim, ele está assim”. 

Lobato faz críticas às práticas devastadoras da natureza (queimada, derrubada de árvores, desmatamento) e culpa o homem rural por não ter consciência da preservação da natureza.

Apresenta, nesta obra, um estilo cheio de afeições amorosas e pela presença da morte.

Vejamos um exemplo no conto ''Bucólica'' – ele era um amante da natureza, gostava das flores... Era sensível. Ficou sabendo que a Anica tinha morrido, perguntava do quê, mas ninguém sabia responder. Tinha morrido. Só isso podiam e sabiam dizer. Finalmente encontrou Inácia, uma agregada da casa dos Suãs – família da menina – essa saberia do que a menina tinha morrido. A negra contou. A menina tinha morrido de sede! Era aleijada, estava doente e então Inácia foi ao bairro do Libório, mas começou a chover e ela ficou presa por lá. À noite, Anica pediu água para a mãe, mas ela não buscou e a pobre, já sofrendo na cama, ficou a gemer com sede. Encontraram o corpo dela na cozinha, aos pés do pote de água. Não conseguiu nem alcançar o pote, a caneca estava como antes, toda a cozinha estava como antes, exceto pelo corpo da aleijada que se arrastou até lá para morrer de sede tão perto da água.


O termo urupês tem sua origem no termo tupi-guarani uru-pê, forma abreviada de urupeba, fungo “orelha-de-pau” que cresce na madeira velha ou apodrecida.

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