domingo, 12 de janeiro de 2014

AS FORMAS SIMBÓLICAS E SEUS MERCADOS DEMANDANTES


Na contemporaneidade quase não temos tempo de refletir sobre o constante bombardeio de Formas Simbólicas que sofremos em nosso cotidiano, nem sobre como isso vem alterando a natureza humana nas relações sociais.

Em uma concepção estrutural ampla as formas simbólicas são constituídas por discursos, imagens, fotos, filmes, e expressões significativas em geral que constroem em nós “campos de significados”, ao mesmo tempo em que estratifica e hierarquiza as relações.

Em Thompson (2011) o que define nossa cultura como “moderna” é o fato de que a produção e circulação de formas simbólicas estão atreladas a um processo de intensa mercantilização. Pensamento esse que encontra alicerce na crescente demanda pela produção, transmissão e recepção de imagens, fotos, filmes, e outras expressões que buscam alcançar um sucesso decodificativo em grupos abertos ou restritos.

Como uma forma simbólica é uma criação interpretativa a partir de um “habitus”, que é um princípio gerador de práticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo, sistema de classificação de tais práticas(Bourdieu, 2011), e de um contexto sócio histórico, seu significado é variante e complexo, pois depende dos capitais e recursos empregados por indivíduos em seu processo de codificação, da mesma forma que depende desses elementos, e seu emprego, em seu processo de decodificação.

Assim como Geertz (1973), citando Max Weber, ao dizer que o homem é um animal suspenso em “teias de significados” que ele mesmo teceu, podemos alocar nesse raciocínio que além dessas teias serem construídas a partir de crenças e valores incorporados e que compõe um campo de significação para o produtor, essa construção também está inserida em um contexto histórico específico de criação, além de estar também dentro de um contexto social estruturado. A formulação de formas simbólicas depende então, a priori, do ambiente momentâneo de criação, além da interferência coercitiva dos valores e crenças cristalizados em todo esse seu processo. Com o processo intenso de mercantilização da cultura, essa produção tem tomado demasia proporção que a faz fugir dessa estruturação cristalizada, se tornando tão instantânea a ponto de abalar as bases do desenvolvimento de uma crítica mais coerente.

Por esse motivo seu significado se torna diverso para diferentes pessoas, grupos e sociedades, adquirindo em uns, maior sucesso significativo do que em outros. Isso explica, em parte, o efêmero sucesso de artistas em geral que criam, num primeiro momento, um laço de signos e sentidos no público, que por sua vez detém os devidos códigos de decodificação.

Com essa crescente mercantilização da cultura, as pesquisas de opinião, de gostos, preferências e outras, tem desempenhado um papel muito importante na hora de entender, tocar e construir “campos de significação” no receptor a partir de um discurso, a partir de uma foto ou um vídeo, pois as formas simbólicas (que cristalizam em nós um padrão de significados) passam por constantes processos de valorização que são empregados pelos seus receptores (eleitores).  Isso ocorre, segundo Bourdieu, porque a lógica do campo de produção e a lógica do campo de consumo estão orquestradas de forma a extrair o melhor resultado no emprego dos capitais e recursos tanto na codificação quanto na decodificação.

O interesse de mercado (político, econômico, social, etc.) interfere, portanto, na produção, transmissão, e recepção dessas “formas”, criando campos de interesse onde se pretende se distinguir e hierarquizar os papéis humanos desempenhados por nós.  E a reflexão acerca da interpretação dessas formas simbólicas, que nos são colocadas diariamente, e que geram sobre nós relações assimétricas de poder é uma pauta importante para entendermos como funciona nosso mundo e suas distribuições nas estratificações do poder, gerados e perpetuados com a cultura, através das formas simbólicas que nos absorvem diariamente.

Sem a ociosidade para a reflexão dos efeitos colaterais do bombardeio de formas simbólicas sobre nós, somos apenas homens inalados pela mercantilização da cultura massiva globalizante, exterminadora de culturas diaspóricas, expropriadora das identidades objetivamente coerentes, e causadora da inércia em relação ao desenvolvimento intelectual crítico.

 

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