Na
contemporaneidade quase não temos tempo de refletir sobre o constante
bombardeio de Formas Simbólicas que sofremos em nosso cotidiano, nem sobre como
isso vem alterando a natureza humana nas relações sociais.
Em
uma concepção estrutural ampla as formas simbólicas são constituídas por
discursos, imagens, fotos, filmes, e expressões significativas em geral que
constroem em nós “campos de significados”, ao mesmo tempo em que estratifica e
hierarquiza as relações.
Em
Thompson (2011) o que define nossa cultura como “moderna” é o fato de que a
produção e circulação de formas simbólicas estão atreladas a um processo de
intensa mercantilização. Pensamento esse que encontra alicerce na crescente
demanda pela produção, transmissão e recepção de imagens, fotos, filmes, e
outras expressões que buscam alcançar um sucesso decodificativo em grupos
abertos ou restritos.
Como
uma forma simbólica é uma criação interpretativa a partir de um “habitus”, que é um princípio
gerador de práticas objetivamente classificáveis e, ao mesmo tempo, sistema de
classificação de tais práticas(Bourdieu, 2011), e de um contexto sócio
histórico, seu significado é variante e complexo, pois depende dos capitais e recursos empregados
por indivíduos em seu processo de codificação, da mesma forma que depende
desses elementos, e seu emprego, em seu processo de decodificação.
Assim
como Geertz (1973), citando Max Weber, ao dizer que o homem é um animal
suspenso em “teias de significados” que ele mesmo teceu, podemos alocar nesse
raciocínio que além dessas teias serem construídas a partir de crenças e
valores incorporados e que compõe um campo de significação para o produtor,
essa construção também está inserida em um contexto histórico específico de
criação, além de estar também dentro de um contexto social estruturado. A
formulação de formas simbólicas depende então, a priori, do ambiente momentâneo
de criação, além da interferência coercitiva dos valores e crenças
cristalizados em todo esse seu processo. Com o processo intenso de
mercantilização da cultura, essa produção tem tomado demasia proporção que a
faz fugir dessa estruturação cristalizada, se tornando tão instantânea a ponto
de abalar as bases do desenvolvimento de uma crítica mais coerente.
Por
esse motivo seu significado se torna diverso para diferentes pessoas, grupos e
sociedades, adquirindo em uns, maior sucesso significativo do que em outros.
Isso explica, em parte, o efêmero sucesso de artistas em geral que criam, num
primeiro momento, um laço de signos e sentidos no público, que por sua vez
detém os devidos códigos de decodificação.
Com
essa crescente mercantilização da cultura, as pesquisas de opinião, de gostos,
preferências e outras, tem desempenhado um papel muito importante na hora de
entender, tocar e construir “campos de significação” no receptor a partir de um
discurso, a partir de uma foto ou um vídeo, pois as formas simbólicas (que
cristalizam em nós um padrão de significados) passam por constantes processos
de valorização que são empregados pelos seus receptores (eleitores). Isso
ocorre, segundo Bourdieu, porque a lógica do campo de produção e a lógica do
campo de consumo estão orquestradas de forma a extrair o melhor resultado no
emprego dos capitais e recursos tanto na codificação quanto
na decodificação.
O
interesse de mercado (político, econômico, social, etc.) interfere, portanto,
na produção, transmissão, e recepção dessas “formas”, criando campos de
interesse onde se pretende se distinguir e hierarquizar os papéis humanos
desempenhados por nós. E a reflexão acerca da interpretação dessas formas
simbólicas, que nos são colocadas diariamente, e que geram sobre nós relações
assimétricas de poder é uma pauta importante para entendermos como funciona
nosso mundo e suas distribuições nas estratificações do poder, gerados e
perpetuados com a cultura, através das formas simbólicas que nos absorvem
diariamente.
Sem
a ociosidade para a reflexão dos efeitos colaterais do bombardeio de formas
simbólicas sobre nós, somos apenas homens inalados pela mercantilização da
cultura massiva globalizante, exterminadora de culturas diaspóricas,
expropriadora das identidades objetivamente coerentes, e causadora da inércia
em relação ao desenvolvimento intelectual crítico.
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