segunda-feira, 2 de abril de 2012

Resumo "Hegemonia coletiva e equilíbrio: a construção do mundo liberal (1815-1871)" Capitulo 2 do livro Historia das Relações Internacionais Contemporâneas José Flavio Sombra Saraiva

Hegemonia coletiva e equilíbrio: a construção do mundo liberal (1815-1871)

O inicio das relações internacionais contemporâneas começa em 1815 , comas decisões do Congresso de Viena que configuram uma nova ordem internacional. Outro ponto importante é por volta de 1870 -1880 com a criação do império alemão o retorno ao protecionismo e o aumento da concorrência internacional.No século XIX, o sistema internacional ampliou-se da Europa para o mundo fato que o Adam Watson chama de "sociedade internacional européia". No século XIX, a revolução industrial expandiu-se, mudando assim as relações internacionais.Com Napoleão Bonaparte no processo da Revolução Francesa rompeu o sistema de equilíbrio que mesmo funcionando com dificuldades , caracterizava as relações entre os Estados europeus nos séculos XVII e XVIII.Na Idade Média, a Europa ocidental concebia as relações entre comunidade ou Estado diferentemente do que acontecia nos antigos sistemas de Estados. A cristandade era o traço daquela civilização que determinava conceitos e práticas de governo. A Renascença italiana mudou o Estado e as relações internacionais ao fazer avançar cidade-estado.Após a Renascença , fragmentou-se a área da cristandade em Estados territoriais com o fortalecimento de reis que ignoravam a autoridade central.Associação anti-hegemônica, após-renascentista fez aflorar a idéia e estimulou a busca da balança de poder entre europeus. Segundo Watson o século XVII acabou por legitimar a "sociedade de Estados independentes". Com efeito, o Congresso de Vestfália (1648) consagrou a superioridade do princípio da independência dos Estados, a filosofia política de Vestfália fez avançar a sociedade internacional européia em termos conceituais, legitimava uma sociedade de Estados soberanos. Do século XVI ao inicio do século XIX, o funcionamento da sociedade internacional européia passaria por dois grandes desafios, a relações internas ao sistema e as relações do sistema com o lado de fora com uma dimensão econômica. Internamente, os europeus perceberam que a propensão para a hegemonia era constante. O direito internacional tornou-se racional, soberania e não-intervenção foram então incorporados ao um novo direitos dos povos.Enquanto os europeus amadureciam o modo de praticar relações internacionais em seu próprio espaço continental, movimentavam também para fora, conquistando a América e tornaram-se clientes da Ásia.O impulso radical para a ordem internacional ,tirou da Revolução Francesa e do império Napoleônico seu preâmbulo político e da Revolução Industrial do capitalismo seu fundamento econômico.Napoleão fizera o pêndulo do poder atingir o ponto mais extremo da hegemonia, como nunca ocorrera. Quando Napoleão caiu, as potências européias, decidiram que não mais convinha restabelecer a idade da razão na política internacional. A sociedade internacional européia vai evoluir para um sistema de entendimento e colaboração controlado pelas grandes potências. Brunello Vigezzi diferencia os conceitos de sociedade internacional e sistema internacional. O sistema internacional corresponde a interação econômica, http://htmlimg2.scribdassets.com/80nhuxozswhpf7v/images/1-534a68e8e4.png

política e estratégica. A sociedade internacional seria a evolução do sistema internacional.O encontro da sociedade internacional européia com o resto do mundo XVIII,significou a construção de um sistema internacional mundial. Os europeus determinaram as relações com os Estados que eles criaram na América, Africa do Sul e na Oceania. O resto do mundo foi posto sob controle hegemônico dos europeus, a revolução industrial forneceu-lhes os meios, e a sociedade internacional européia, as regras, princípios e valores. Os europeus iriam impor aos países menos desenvolvidos o seu sistema. A expansão européia do século XIX galgou em três patamares: dominação estratégica, exploração econômica e imperialismo cultural.Oriunda do Congresso de Viena, sob a forma de uma hegemonia coletiva, a organização dos Estados europeus ficou conhecida como Concerto Europeu.As cinco grandes potências (Grã-Bretanha, Rússia, Áustria, Prússia e França)haveriam de implantar a diplomacia de conferências e entender as questões da política internacional.No Congresso de Viena, as grandes potências tinham desafios circunstanciais a enfrentar, mas pretendiam nortear as relações internacionais ao longo prazo.As potências européias foram dívidas em reacionárias ( Áustria, Prússia e Rússia) e liberais ( Grã-Bretanha e França).A hegemonia coletiva era móvel,visto que cada Estado tinha interesses próprios. A Grã-Bretanha agregou à política internacional os interesses macroeconômico de sua expansão capitalista, liberalismo, comércio e constitucionalismo. A França acompanhava-a nessa via. As três monarquias absolutistas esforçavam-se para esmagar as liberdades e aspirações por representação política. O ponto de entendimento entre democracia e absolutismo era um desafio do concerto. Os dois grupos agindo em sentido antagônico a tal respeito, sobretudo nas vizinhanças. As aspirações dos pequenos eram levadas às reuniões dos grandes, mas nelas não tinham o direito de voz ou voto. Os grandes dirigiam o concerto sem consentimento dos pequenos, presumindo, todavia que sua política estivesse refletindo realidades.Entre 1815 e 1848, os cinco grandes agiam como diretório, usando o direito de intervenção coletiva. As divergências situavam-se mais na administração do sistema do que nas relações bilaterais, em fazer prevalecer  a raison desystheme sobre a raison d´Etat.

Os cinco acabaram por admitir independêncian a América e na Europa e governos liberais na Espanha e Portugal. Agiam tendo em vista a estabilidade e o equilíbrio. Grã-Bretanha e Rússia voltavam-separa fora da Europa, mas zelavam pelo equilíbrio sem seu interior. A expansão dos europeus para fora não teve ritmo acelerado. O imperialismo contentava-se em estabelecer bases para operações futuras e em desfechar golpes localizados. Entre 1848 e 1871, as questões européias permaneceram centrais para o sistema internacional.A partir de 1840, um novo ela revolucionário colocou a Europa em crise,embora os princípios básicos da ordem de Viena ainda sobreviveram e o movimento revolucionário foi controlado.Cantões suíços revoltaram-se em 1847, reivindicando democracia e federalismo e desencadeando a crise européia. Lutava-se por democracia na Alemanha e na Itália.O avanço da revolução industrial pela Europa coincidia com essas novas ideias e aspirações. Três idéias-força européias fazem curso e afetam as relações internacionais: nacionalismo, democracia e interesse popular.No inicio da segunda metade do século XIX, o quadro europeu prenunciava,pois, relações internacionais intensas e agitadas, sob o impulso dessas novas forças econômicas, políticas, espirituais e demográficas. O sistema de hegemonia coletiva passaria por três guerras de reajuste.A primeira crise do exercício da hegemonia coletivo adveio das ambições russas sobre o Império Otomano.Para a Grã-Bretanha, havia interesse em preservar o estatuto dos estreitos de1841 e as vantagens comerciais que obtivera pelo tratado de 1838. Os franceses aparentemente desejavam exercer seu protetorado sobre todos os cristãos do império.Na guerra iniciada em 1853, os aliados atacaram Sebastopol e conseguiram tomá-la. A Rússia aceitou as condições de paz. O Tratado de Paris contrariavam os interesses da Rússia, que era um triunfo dos interesses ingleses e uma reparação ao prestigio francês.A Áustria acabou entrando no conflito sob pressão dos aliados e quebrou assim sua entente com a Rússia. A Itália teve pequena participação. A França comprometeu-se a apoiar o movimento italiano contra a Áustria. Ao apoiar o movimento italiano contra a Áustria, Napoleão III, aproveitando-se do enfraquecimento de sua rival na Europa Central, acabaria por engrandecer-se e liquidá-lo.Nos anos 1860, a Prússia estabeleceu como objetivo externo a conquista da hegemonia alemã, que a Áustria não cederia voluntariamente. A Prússia amparou-se dos ducados e fundou a Confederação Germânica do Norte. Derrotou a Áustria, Rússia, Inglaterra e França.O príncipe Leopoldo von Hohenzollern candidatou-se ao trono espanhol. A França exigiu a retirada e foi atendida porem quando exigiu que fosse perpetuada a retirada, Bismarck não só recusou, mas tornou público. Com essa jogada, alcançou dois resultados que procurava: humilhar a França e arrancar uma declaração de guerra.A derrota francesa foi tão rápida que as outras potências não tiveram tempo de reagir, assim fundou-se o Império Alemão sobre os escombros do francês.A Alemanha de Bismark esteve fora do Concerto Europeu até poder controlá-lo. A distração das potências favoreceu seu intento, mas a diplomacia de conferências teria de reconstruir o Concerto Europeu.O centro do poder mundial, configurado no Concerto Europeu e exercido sob a forma de hegemonia coletiva dos cinco grandes, ocupou-se, no século XIX até por volta de 1870.Após as independências da América Latina, o continente americano manteve-se como zona de baixa pressão política e estratégica das grandes potencias européias. A análise das relações internacionais do século XIX revela que algumas nações da periferia reagiram com o objetivo de integrarem-se à economia-mundo em condições de interdependência, demonstrando que a possibilidade do desenvolvimento estava ao alcance dos povos.Os líderes continentais do início do século XIX ficaram mal impressionados com o principio de intervenção que compôs as regras de conduta da hegemonia coletiva fixadas em Viena. A intervenção e a sua legitimidade seriam proscritas do ideário político americano.Duas versões do ideário político americano tomaram alento: a norte-americana chamada de Doutrina Monroe e a versão bolivariana. Ambas manifestações tinham fundamento realista: os Estados Unidos desejavam enfraquecer a preeminência européia na America Latina.O regente D. João procedeu à chamada “abertura dos portos” quando chegou ao Brasil.O capitalismo do século XIX caracterizou-se pelo principio da liberdade de trabalho e de mercado. Duas fases marcaram a conquista do mundo pelo liberalismo. Na primeira as potências capitalistas européias impuseram o livre comércio para fora de suas fronteiras. Na segunda os países industrializados introduziram o livre comércio nas transações para dentro de suas fronteiras.Consumada a expansão do liberalismo para fora das próprias fronteiras, as matrizes capitalistas voltaram-se para dentro delas, com o intuito de estabelecê-lo nos negócios recíprocos. O livre comércio incorporou-se à política exterior. Desde aí, a Inglaterra iria desencadear a luta pelo livre-comércio entre todas elas. O estabelecimento do livre-comércio não era suficiente para estimular os negócios. O aumento da concorrência resultou na ampliação do livre-comércio provocou a elevação da produtividade econômica.As independências dos Estados Unidos e da América Latina deixaram Estados europeus enfraquecidos e feriram de morta companhias de comércio. A dominação de tipo colonial entrou em crise e pouco avançou. ”. Uma grave acusação vinha da consciência religiosa e humanista: o vínculo que anteriormente se estabelecera entre colonialismo e tráfico negreiro.Em 1806, a Inglaterra aboliu o tráfico. A marinha britânica incumbiu-se do exercício da função de polícia dos mares. A vitória estava assegurada e apenas dois fluxos de tráfico ainda permaneceriam, para Cuba e para o Brasil.A escalada da dominação européia do século XIX, até por volta de 1870,compreendeu as seguintes etapas, métodos e regiões:

Eurásia russa :

O império dos Czares imitava os outros, expandiu-se para o oeste, para o sul e principalmente para o leste até atingir o Alasca. Essa extraordinária expansão territorial resultou, na construção de um imenso império sobre a extensão de 17 milhões de quilometro quadrados.

Império Britânico:

Os ingleses mantiveram , o mais vasta império criado,hesitando entre o governo responsável e a exploração colonial. A Índia foi a grande base de operações coloniais dos ingleses.

O caso francês:

Sem as colônias de povoamento e desfalcada pelo derrota de1815, a França envolveu-se lentamente em conquistas, sem um programa.

Ibéricos e holandeses:

Portugal, Espanha e Países Baixos, pioneiros doc olonialismo no Antigo Regime, foram os perdedores do século XIX. Portugal quis fazer suas possessões africanas para compensar a perda da colônia sul-americana. A Espanha no final do século perdeu as possessões. A Holanda manteve pequenas possessões e a rentável colônia de Java.

Dependência informal:

O colonialismo do século XIX trazia retorno efetivo em poucos casos (Índia, Java, Filipinas, Caribe). A cobiça dos europeus dirigia-se com mais intensidade para regiões densamente povoados do globo.Na África negra, o comércio "legítimo" do século XIX sofisticou-se com relação ao anterior. O intercâmbio clássico envolvia como sempre, as manufaturas e plantações. Nessa área não operava diferente e se fazia sem imperialismo.Os asiáticos abrir-se-iam por consentimento, ameaça ou força. Os europeus inventaram ou ensaiaram, na China todos os métodos da política e da estratégica que caracterizaram o imperialismo selvagem. A produção e o consumo de droga era proibido pela sabedoria chinesa, porém os europeus disseminaram o vício por meio de contrabando, e enfim pelo livre-comércio.

Império Otomano:

A autonomia do Império Otomano, era ilusória. Presa do expansionismo russo nos Bálcãs e nos mares do interior.Como os latino-americanos,os otomanos investiam na terra e deixaram aos estrangeiros as iniciativas de modernização.

Pérsia e Marrocos:

Esses dois impérios muçulmanos tiveram a mesma sorte do otomano, cederam seus mercados ao livre-comércio, não empreenderam qualquer esforço de modernização.

Reações positivas aos desafios internacionais do século XIX:

O núcleo central do capitalismo europeu haveria de acompanhar o progresso econômico,ideológico e político, porque desenvolvia o conhecimento, os meios técnicos,as instituição políticas. O continente americano, após as independências, optou entre industrialização e o mercado interno ou mercado externo. Os casos descritos a seguir foram escolhidos como orientação de pesquisa e nãoesgotavam a segunda modalidade:

Estados Unidos:

A independência dos Estados Unidos foi a mais bem-sucedida revolta contra o colonialismo. Os colonos quiseram tudo de uma vez: o comércio, a produção e o governo. Foram à guerra por essas causas e venceram. A política adaptava-se às necessidades da modernização interna. O México foi a grande vítima da expansão territorial norte-americana. Mesmo fora do Conserto Europeu, os Estados Unidos se portavam como grande potência.

Brasil:

A atitude do Brasil e da Argentina diante da preeminência européia,esteve longe de ser passiva. O Brasil firmou duas dezenas de tratados desiguais com as potências. Um pensamento industrialista emergiu na década de 1840. O refluxo do pensamento liberal radial, eco dos interesses fundiários freou o projeto industrialista e a modernização voltada para dentro. Aliou-se ao Uruguai e Argentina para revidar a agressão do Paraguai.

Argentina:

O país não cedeu o livre-comércio por um tratado, como fizeram o Brasil e a maioria dos países latino-americanos. Franceses e ingleses tentaram pelas armas, demovê-lo de suas resistências protecionistas.

Egito:

Tradicional exportador de cereais, por meio da revolução agrícola e econômica, o novo Egito desenvolveu as indústrias. De exportador de alimentos, evoluiu para também exportador de tecidos, produtos metalúrgicos e navios. Em nome dos "superiores interesses europeus" Palmerston comprimiu a expansão regional do Egito, forçou à extinção dos monopólios estatais e abrir largamente seu mercado aos produtos externos.

Japão:

Os ocidentais ameaçavam o Japão desde os sucessos alcançados na China. Em 1853, duas esquadras, uma russa e outra norte-americana entregaram ultimatos, exigindo liberdade de navegação e abertura comercial. O Japão ofereceu facilidades para a navegação, porem os ocidentais queriam mais. Os bombardeios da costa japonesa por britânicos, franceses e norte-americano forçou a ratificar os tratados, que fixaram a tarifa de 5% ad valorem. Dois eram os parâmetros da nova política: desenvolvimento econômico, tecnológico, político e social ao estilo dos ocidentais; e sem confrontação. Essas decisões de política interna e externa fizeram o Japão mergulhar no mundo moderno.

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