Em sua o autor Rubem Alves nos privilegia com uma brilhante metáfora da
relação entre as palavras e os alimentos. Ao beber em textos de escritores
diversos, Alves constrói sua argumentação onde o saber pode e deve ter sabor.
Em um dado momento da narrativa, o autor dispara: "Escrevo como quem
cozinha".
Na verdade, ele nos convida a refletir sobre o prazer quase palatável que é o processo de aprendizado, de aquisição de saberes. Se analisarmos com maior acuidade e atenção, notaremos que há, de fato, tal sensação palatável quando degustamos o conhecimento, o sabor impar dos alimentos que nos preenchem o espírito. Um delicioso vício do qual tornamo-nos dependentes. E diferentemente de outros, este extremamente revitalizador e positivo.
O alimento que nos proporciona o saber, tal qual a lenda bíblica da
santa ceia, nos revigora a alma, traz-nos boas novas e nos torna
multiplicadores desta filosofia e sabedoria; é, desta forma, um pão, que nos
alimenta de forma invisível, nos dá sustentação, e nos possibilita ampliar o
universo do aprender, pertence ao que nos propomos a ser, desenha as estruturas
do futuro dos indivíduos, não mais conforme sua condição primária, mas segundo
sua vontade.
Nesta ótica a função do educador é transmitir aos educandos, não apenas
o conteúdo, mas a sutileza deste sabor, atuar na interface do bionômio
ensino-aprendizado, em que é mandatório espaço para a criação, a descoberta,
para a propagação da educação e cultura em suas diversas manifestações, como
num banquete, em que a sucessão de pratos deleita-nos os sentidos, assim também
deve ser o conceito de saber.
Exatamente como os chefes, o professor, nas
diversas disciplinas, deve ser capaz de misturar os saberes de tal modo a
tornar aquele conhecimento algo não apenas agradável, mas próximo da realidade
do aluno, não mais um elemento distante e estranho, mas inserido na realidade
do meio em que vive, que possa ser empregado em seu cotidiano, de tal modo que
este conhecimento suscite a inquietação de novas descobertas, tornando-os igualmente
dependentes deste alimento indispensável a seu desenvolvimento.
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