Na antiguidade
o campo da lógica informal foi ocupado pela retórica.
A retórica era
cultivada como a arte da eloquência, ou seja como um conjunto de técnicas que
visavam persuadir ou convencer um auditório através do discurso.
A retórica
nasceu da necessidade de resolver conflitos através da argumentação: nos
tribunais e nas assembleias políticas e o seu aparecimento é um verdadeiro
progresso civilizacional na Grécia antiga, porque permitiu que o debate
substituísse a violência quando estavam em causa conflitos de interesse que
excitavam as paixões dos envolvidos.
Cedo se formou
um grupo de cultores da retórica, os sofistas. Estes foram durante muito tempo
os principais educadores das elites das grandes cidades gregas e em especial de
Atenas, o berço da democracia.
Sócrates e
Platão entraram em conflito aberto com os sofistas acusando-os de
praticarem a retórica como uma arte da ilusão e da manipulação, uma fonte
de perversão que urgia combater sem vacilar.
Para estes
filósofos a busca da verdade e a consequente libertação dos homens da
ignorância e da superstição era uma das principais metas da filosofia.
Os sofistas, por sua vez, visavam que os seus discursos fossem eficazes, ou seja, que produzissem efeitos políticos que, no fundo, permitissem exercer um poder efetivo sobre os cidadãos. Por isso defenderam uma ética relativista e pragmática: o bom deve estar submetido ao útil (pragmatismo) e o saber vale pelos seus efeitos práticos, pelo que não existe nenhum saber superior à opinião (doxa) e entre as opiniões vence a que for aceite pelo público, ou seja, a que for melhor defendida.
Os sofistas, por sua vez, visavam que os seus discursos fossem eficazes, ou seja, que produzissem efeitos políticos que, no fundo, permitissem exercer um poder efetivo sobre os cidadãos. Por isso defenderam uma ética relativista e pragmática: o bom deve estar submetido ao útil (pragmatismo) e o saber vale pelos seus efeitos práticos, pelo que não existe nenhum saber superior à opinião (doxa) e entre as opiniões vence a que for aceite pelo público, ou seja, a que for melhor defendida.
É neste
contexto que se dá o julgamento de Sócrates que teve como desfecho a sua
condenação à morte.
Depois deste
conflito entre Platão (e Sócrates) e os sofistas, Aristóteles procede a uma
verdadeira reabilitação filosófica da retórica. Na sua obra Retórica, procede
a uma sistematização do campo temático desta disciplina, procurando
apresentá-la como um complemento da Lógica e afastando-a do domínio da
manipulação sofística.
"Para
muitos, a retórica pouco mais é do que mera manipulação linguística, ornato
estilístico e discurso que se serve de artifícios irracionais e psicológicos,
mais propícios à verbalização de discursos vazios de conteúdo do que à
sustentada argumentação de princípios e valores que se nutrem de um raciocínio
crítico válido e eficaz. Mas a restauração da retórica ao seu velho estatuto de
teoria e prática da argumentação persuasiva como antiga e nova rainha das
ciências humanas tem vindo a corrigir essa noção enganosa, revalorizando-a como
ciência e arte que tão logicamente opera na interpretação dos dados que faz
intervir no discurso, como psicológica e eficazmente se cumpre no resultante
efeito de convicção e mobilização para a ação de um auditório através do
discurso.
No fundo, a
retórica é um saber que se inspira em múltiplos saberes e se põe ao serviço de
todos os saberes. E um saber interdisciplinar no sentido pleno da palavra, na
medida em que se afirmou como arte de pensar e arte de comunicar o pensamento.
E como saber interdisciplinar e transdisciplinar, a retórica está presente no
direito, na filosofia, na oratória, na dialética, na literatura, na hermenêutica,
na crítica literária e na ciência.
A retórica é
uma das artes práticas mais nobres, porque o seu exercício é uma parte
essencial da mais básica de todas as funções humanas. Daí a especial atenção
que Aristóteles lhe dedicou, corrigindo tendências sofísticas e codificando
princípios metodológicos e técnicos que, com o evoluir da tradição, se haveriam
de consagrar num cânone retórico de grande fortuna e proveito.
Na retórica
aristotélica nós encontramos o saber como teoria, o saber como arte e o saber
como ciência; um saber teórico e um saber técnico, um saber artístico e um
saber científico.
No trânsito da
antiga para a nova retórica, ela naturalmente transformou-se de arte da
comunicação persuasiva em ciência hermenêutica da interpretação. O seu duplo
valor como arte e ciência, como saber e modo de comunicar o saber, faz dela
também um instrumento mediante o qual podemos inventar, reinventar e
solidificar a nossa própria educação. O esforço transdisciplinar que hoje em
dia se faz para melhor compreender o papel da retórica e da hermenêutica na
crítica do texto filosófico e literário mostra-nos que estas são duas áreas do
saber intrinsecamente ligadas à essência da praxis
humana.
O justo relevo
dado por Chaim Perelman à vertente argumentativa desta arte colocou mais uma
vez a Retórica de Aristóteles na moda, e as traduções que dela se fazem sucedem-se
em ritmo acelerado nas mais diversas línguas."
Manuel Alexandre Júnior, prefácio da obra de
ARISTÓTELES, Retórica, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 2005
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