Hoje, um dos grandes desafios brasileiros é ter uma educação de qualidade. Mas
o que fazer para formar bons professores? Desde a aprovação da nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1996, vem sendo exigida a
ampliação da carga horária das disciplinas pedagógicas (Didática, Psicologia da
Educação e Sociologia da Educação) nos cursos de licenciatura. Entre os historiadores,
o debate sobre o formato ideal dessas aulas não é tão recente assim. Já na
década de 1930, um dos primeiros cursos de História do país, criado na
Universidade do Distrito Federal (UDF), tentava equilibrar as atividades de
ensino e pesquisa, e logo se tornou modelo para outros centros espalhados pelo
Brasil.
Inaugurada no Rio de Janeiro em 4 de abril de 1935, por iniciativa do prefeito
Pedro Ernesto (1931-1934 e 1935-1936) e do inspetor de Educação Anísio Teixeira
(1900-1971), a universidade tinha uma proposta bem original: defendia a
educação pública, laica e gratuita, e encorajava a pesquisa científica,
literária e artística. De acordo com seus estatutos, o objetivo principal era
“propagar as aquisições da ciência e das artes através do ensino regular de
suas escolas e dos cursos populares”. Mais do que formar apenas professores de
História, buscava preparar “quadros intelectuais” que fossem capazes de
elaborar políticas públicas para o desenvolvimento cultural e educacional do
país.
A graduação em História estava separada da Geografia, diferentemente do que acontecia na também recém-criada Universidade de São Paulo (USP) e ocorreria mais tarde na Universidade do Brasil. Por sua vez, as aulas ligadas à área pedagógica tinham destaque, o que tornava evidente a orientação de privilegiar a formação de professores. Mesmo assim, a pesquisa não era deixada de lado. Pelo contrário: era encarada como fundamental para os futuros historiadores. Entre os mestres recrutados pelo reitor Afrânio Peixoto (1876-1947) figuravam Gilberto Freyre, responsável pela cátedra de Antropologia; Afonso Arinos de Mello Franco, de História do Brasil; Jayme Coelho, de História da América; e Carlos Delgado de Carvalho, de História Contemporânea. Além do curso de História, a UDF tinha vários outros cursos voltados para a formação de professores, como Matemática, Física, História Natural, Ciências Sociais e Artes.
A graduação em História estava separada da Geografia, diferentemente do que acontecia na também recém-criada Universidade de São Paulo (USP) e ocorreria mais tarde na Universidade do Brasil. Por sua vez, as aulas ligadas à área pedagógica tinham destaque, o que tornava evidente a orientação de privilegiar a formação de professores. Mesmo assim, a pesquisa não era deixada de lado. Pelo contrário: era encarada como fundamental para os futuros historiadores. Entre os mestres recrutados pelo reitor Afrânio Peixoto (1876-1947) figuravam Gilberto Freyre, responsável pela cátedra de Antropologia; Afonso Arinos de Mello Franco, de História do Brasil; Jayme Coelho, de História da América; e Carlos Delgado de Carvalho, de História Contemporânea. Além do curso de História, a UDF tinha vários outros cursos voltados para a formação de professores, como Matemática, Física, História Natural, Ciências Sociais e Artes.
Ninguém precisava fazer concurso público para dar aulas ali. Mas devia cultivar
uma boa amizade ou algum tipo de relação com outros mestres e educadores,
especialmente aqueles da Associação Brasileira de Educação, entidade fundada em
1924, destinada a congregar educadores e intelectuais envolvidos com a
renovação da educação no país e liderada por Anísio Teixeira. Quem vinha do
Colégio Pedro II, como Delgado de Carvalho e Jayme Coelho, carregava um
passaporte de prestígio que só facilitava o acesso ao grupo.
E o corpo docente da UDF ainda contava com uma missão francesa, que chegou ao
país expressamente para ajudar na criação da nova universidade. O professor da
Sorbonne Henri Hauser, que já havia indicado os nomes de Fernand Braudel e
Pierre Mombeig para a USP, fundada naquela mesma época, ocupou a cadeira de
História Moderna e também apontou as diretrizes para a formulação de todas as
disciplinas. A equipe estrangeira reunia ainda Eugène Albertini, que ficou com
os estudos de Antiguidade, e Pierre Deffontaines, professor de Geografia
Humana, e vários outros professores de Filosofia, Literatura, Letras Clássicas,
etc.
Mesmo com seu projeto inovador – ou talvez por isso mesmo –, a UDF enfrentou
forte resistência da Igreja Católica e do Ministério da Educação. Desde o
início, foi alvo de suspeição por defender o ensino público, gratuito e laico.
Em pouco tempo, os professores e fundadores foram acusados de envolvimento com
a Insurreição Comunista de novembro de 1935. Quase dois anos depois, o governo
sancionou a Lei n? 452 estabelecendo a Universidade do Brasil, defendida pelo
ministro Gustavo Capanema (1900-1985). Esse novo centro de ensino pretendia
tornar-se um modelo para as futuras universidades. Com a instalação do Estado
Novo, em novembro de 1937, criaram-se, afinal, as condições para a extinção da
UDF, que, ainda assim, não foi imediata. Somente com a instalação da Faculdade
Nacional de Filosofia (FNFi) na Universidade do Brasil, em 1939, a UDF foi
definitivamente extinta, e seus quadros integrados à nova instituição.
Daí em diante, os cursos superiores de História iniciaram uma nova trajetória. Na faculdade recém-criada, a ideia era educar “trabalhadores intelectuais para o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou técnica e preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal”. Para isso, dispunham de quatro seções fundamentais: Filosofia, Ciências (onde se incluíam os estudos históricos), Letras e Pedagogia. E ainda havia um departamento especial de Didática. Numa estrutura diferente da UDF, História e Geografia estavam integradas num único curso, mais voltado para a preparação de professores secundários. Agora, a pesquisa já não era tão importante.
Para levar adiante o novo projeto, novos professores foram incorporados. Na lista, destacavam-se os catedráticos Delgado de Carvalho, Eremildo Viana, Hélio Vianna, Hilgard Stemberg, Josué de Castro, Sílvio Júlio e Victor Leuzinger. No grupo dos assistentes ficavam Eulália Lobo, Marina São Paulo, Maria Yedda Linhares e Francisco Falcon. Uma nova missão veio da França trazendo os professores Victor Tapié, Antoine Bon e Francis Ruellan, que auxiliaram na formulação das disciplinas de História Moderna, História Antiga e Geografia. As relações fora dos muros acadêmicos continuaram favorecendo o preenchimento das vagas. Os candidatos envolvidos com setores católicos ligados ao Centro Dom Vital, a Alceu de Amoroso Lima (1893-1983) ou a velhos integralistas tinham preferência. Como nos tempos da UDF, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, importante centro de produção do conhecimento, e diversos autores renomados quase não participaram das seleções.
Daí em diante, os cursos superiores de História iniciaram uma nova trajetória. Na faculdade recém-criada, a ideia era educar “trabalhadores intelectuais para o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou técnica e preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal”. Para isso, dispunham de quatro seções fundamentais: Filosofia, Ciências (onde se incluíam os estudos históricos), Letras e Pedagogia. E ainda havia um departamento especial de Didática. Numa estrutura diferente da UDF, História e Geografia estavam integradas num único curso, mais voltado para a preparação de professores secundários. Agora, a pesquisa já não era tão importante.
Para levar adiante o novo projeto, novos professores foram incorporados. Na lista, destacavam-se os catedráticos Delgado de Carvalho, Eremildo Viana, Hélio Vianna, Hilgard Stemberg, Josué de Castro, Sílvio Júlio e Victor Leuzinger. No grupo dos assistentes ficavam Eulália Lobo, Marina São Paulo, Maria Yedda Linhares e Francisco Falcon. Uma nova missão veio da França trazendo os professores Victor Tapié, Antoine Bon e Francis Ruellan, que auxiliaram na formulação das disciplinas de História Moderna, História Antiga e Geografia. As relações fora dos muros acadêmicos continuaram favorecendo o preenchimento das vagas. Os candidatos envolvidos com setores católicos ligados ao Centro Dom Vital, a Alceu de Amoroso Lima (1893-1983) ou a velhos integralistas tinham preferência. Como nos tempos da UDF, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, importante centro de produção do conhecimento, e diversos autores renomados quase não participaram das seleções.
Mas os dois grupos universitários – os professores da antiga UDF e os que
passaram a constituir o quadro da FNFi – viam a disciplina de maneiras
distintas. Na UDF, o foco estava numa história social da civilização – em
oposição a uma política de exaltação dos grandes personagens. E seus
professores pertenciam a uma primeira geração de profissionais empenhados em
formar alunos comprometidos, ao mesmo tempo, com o ensino e a pesquisa. Já
alguns mestres da FNFi pareciam querer reforçar a construção de uma
identidade brasileira por meio da unidade e da valorização dos heróis
construtores da nação. A cátedra de História do Brasil, ocupada por Hélio
Vianna entre 1939 e 1968, era o principal espaço para a difusão de uma história
política meramente factual e de exaltação dos grandes feitos nacionais.
Os anos 1950 trouxeram outras perspectivas para o curso de História,
inaugurando disciplinas e incorporando uma nova geração de professores, como
Maria Yedda Linhares, Eulália Lobo e Francisco Falcon. No entanto, o curso de
História da FNFi permaneceu com sua marca principal baseada essencialmente na
formação de professores para o ensino básico, preparando alunos para o
magistério, com poucas ligações com a produção do conhecimento histórico. Por
muito tempo, esse formato daria o tom das graduações em História e da produção
dos livros didáticos no Brasil.
Em fins da década de 1960, ao mesmo tempo em que a Universidade do Brasil era
transformada em Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), muitos historiadores
começavam a reagir a esses modelos. Com a redemocratização do país a partir do
final dos anos 1970, um amplo debate sobre educação voltou a mobilizar a
sociedade. O ponto alto desse processo foi o projeto da LDB apresentado pelo
senador Darcy Ribeiro (1922-1997). Além de distribuir a responsabilidade pelo
ensino entre as três esferas governamentais (federal, estadual e municipal), o
plano previa um mínimo de 300 horas para a disciplina Prática de Ensino nos
cursos de formação docente. Em janeiro de 2002, o parecer do Conselho Nacional
de Educação publicado no Diário Oficial aumentou a duração mínima para o
estágio supervisionado da licenciatura, com a experiência em sala de aula
alcançando 400 horas. Na área de História, alguns cursos incluíram as
disciplinas pedagógicas em seus próprios currículos, sem delegá-las apenas aos
Departamentos de Educação.
Nos dias atuais, conquistar uma universidade de excelência, especialmente no
campo da História, também significa repensar as maneiras de articular o
conhecimento dos conteúdos e as novas metodologias para a transmissão desse
saber. Redescobrir percursos e itinerários de tantos profissionais pioneiros
talvez seja um primeiro passo nessa caminhada.
Bibliografia
FÁVERO, Maria de Lourdes de A. Faculdade Nacional de Filosofia. Rio de Janeiro: Ed. da UFRJ, 1989. (4 volumes)
FERREIRA,
Marieta de Moraes “Notas sobre a institucionalização dos cursos universitários
de História no Rio de Janeiro” In. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado (org.).
Estudos sobre a Escrita da História (7 Letras, 2006).
OLIVEIRA,
Antonio José Barbosa de (org.). “A universidade e lugares de memória”. Rio de
Janeiro: UFRJ, Fórum de Ciências e Cultura, Sistema de Bibliotecas e
Informação, 2008.
SILVA,
Francisco Carlos Teixeira da; MATTOS, Hebe Maria e FRAGOSO, João. (orgs.).
Escritos sobre História e Educação. Homenagem a Maria Yedda Linhares. Rio de
Janeiro: Mauad/Faperj, 2001.
“Uma
entrevista com Maria Yedda Linhares”. IN Revista Estudos Históricos, vol. 5, nº
10 (1992), pp. 216-236
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