DEFINIÇÃO - TENENTISMO, OU REVOLTA TENENTISTA
O
Tenentismo foi uma série de movimentos que ocorreram entre 1922 a 1935
propriamente falando, Constituído por jovens oficiais, que defendiam a posição
de que a função dos militares não deveria estar restrita aos quartéis, mas,
influenciar mais direta e ativamente na vida política do país. Como parcela da
elite do país, aspiravam ter maior presença e participação no processo
decisório nacional; explodiu no Rio de Janeiro em 1922 e em São Paulo em 1924 e
teve continuidade até 1927 com a Coluna Prestes. Estes movimentos expressaram a
insatisfação de setores militares com o governo e com a República Velha.
Manifestando os interesses da média e baixa oficialidade, os tenentes
tornaram-se importante núcleo de oposição às oligarquias e ao sistema
republicano vigente. Pregavam a moralização da política e a volta das
liberdades públicas, defendiam igualmente o capital nacional e exigiam a
reestruturação das forças armadas.
Consistindo
em movimentos de caráter político e social; manifestados e organizados pelas
Forças Armadas, principalmente o Exército, embora tenha contado em alguns casos
com o apoio de civis, os movimentos que marcaram o Tenentismo podem ser
considerados em duas categorias: levantes e revoluções, sendo que ambos os
casos chegaram haver conflitos armados, vitimando militares e civis. Em nosso
estudo açambarcaremos o recorte militar, os levantes e a análise
historiográfica dos mesmos segundo alguns pesquisadores.
Em nossa
leitura, o movimento Tenentista pretendia conquistar o poder pela luta armada e
a partir daí promover reformas na Primeira República. A maioria das propostas
objetivadas contava com a simpatia de grande parte da classe média, dos
produtores rurais que não pertenciam ao grupo que estava no poder e de alguns
empresários da indústria. Nas palavras do historiador Boris Fausto:
Os tenentes pretendiam dotar o
país de um poder centralizado, com o objetivo de educar o povo e seguir uma
política vagamente nacionalista. Tratava-se de reconstruir o Estado para
construir uma nação. Embora não chegassem nessa época a formar um programa
antiliberal, os “tenentes” não acreditavam que o ‘liberalismo autentico” fosse
caminho para a recuperação do país.
A ORIGEM DO TERMO
A
expressão tenentismo adveio do fato de que no ano de 1922, tenentes do Forte de
Copacabana, no Rio de Janeiro, iniciaram uma revolta interna em protesto a
prisão do ex-presidente da república o marechal Hermes da Fonseca, na ocasião o
marechal era presidente do Clube Militar. No entanto, embora tenham sido
tenentes que iniciaram essa sublevação, em outras localidades do país, revoltas
similares foram iniciadas não apenas por tenentes, mas por sargentos e até
mesmo por capitães, chegando a contar com o apoio de soldados, cabos e em
alguns casos, coronéis e generais. Convencionou-se chamar tais movimentos de
tenentismo, não pelo fato propriamente de seus líderes serem tenentes, mas
pelas propostas parecidas que tais levantes e revoluções defendiam, que em
geral diziam respeito às mudanças na política nacional, além de questões
sociais e de direito civil. Todavia, em geral o tenentismo fora um movimento
elitista, ou seja, esteve mais preocupado com os anseios da classe média
oprimida pelas oligarquias dominantes. E em tal aspecto, a revolta dos
manifestantes era contra as oligarquias que dominavam o governo e o corrompiam.
O termo
"tenentismo" como aponta a historiadora Vavy Pacheco Borges, surgiu
no cenário político do ano de 1931, pois durante os anos 20 não existem relatos
acerca do emprego desse termo, pois os militares que ali promoveram os
levantes, eram chamados de "rebeldes", "insurgentes",
revolucionários", "revoltosos", etc. O termo surge em meio as
disputas políticas que percorriam o país após o Golpe de 30, logo, os militares
que participaram dos movimentos na década anterior, ainda continuavam com
ideais similares naquele tempo, daí passaram a ser chamados de
"tenentistas", logo, surgiu "tenentismo", como forma de
caracterizar aquele grupo.
Para a
autora, portanto, a palavra 'tenentismo' surgiu como resultado da luta
político-partidária, expressando conflitos entre grupos. Na época de sua
formulação, 1931, o termo assumiu, sobretudo, um caráter pejorativo,
referindo-se principalmente a uma situação de 'anarquia militar'". (LANNA
JR, 2008, p. 345).
A CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A década de 1920 presencia o esgotamento quase que
completo das estruturas coloniais da sociedade brasileira, que se prolongam por
cerca de 100 anos após a emancipação política. Esta década foi marcada tanto
pela importante transição da estrutura social, como também, foi palco da
primeira grande crise global aguda do país.
A partir da Primeira Guerra, as dificuldades políticas do Governo
Federal (o "café-com-leite") aumentaram progressivamente. No
Congresso Nacional as bases de apoio da presidência, relativamente tranquilas
nos primeiros governos oligárquicos, foram se esvaziando. As oposições no
Congresso representavam descontentamentos cada vez maiores das oligarquias
regionais que dificultavam a manutenção da política em prol da cafeicultura. A
falta de dinheiro no governo federal e a diminuição das ações fisiológicas rapidamente
se mostravam.
Se as elites, com as óbvias exceções de um pequeno grupo de
cafeicultores, estavam se rebelando politicamente por não suportar mais a
crise, imagine as consequências disso para os setores populares e
médio-urbanos.
Da mesma forma que as dissidências oligárquicas aumentavam suas
oposições ao poder público, outros movimentos da sociedade faziam o mesmo.O
Movimento Operário eclodia nas cidades que estavam se industrializando e o
Cangaço expunha a falência social no interior do nordeste. O Tenentismo
refletia a rebeldia política não só entre o baixo oficialato das Forças Armadas
como também de setores médios-urbanos da sociedade brasileira.Na mesma linha de
raciocínio, o Modernismo expressava uma ruptura com os valores culturais
defendidos pelas elites que se encontravam no poder).
Este era um período pós-guerra, visto que a Primeira Guerra Mundial
havia terminado em 1918. Historicamente, os períodos pós-guerra são marcados
por inúmeras transformações, seja devido ao aproveitamento das tecnologias
geradas para a guerra, e posteriormente aplicadas a diversas áreas do
conhecimento, seja devido ao próprio despertar da consciência individual sobre
questões de grande importância, ou de importância coletiva, visto o grande
choque de interesses e muitas vezes, um melhor entendimento do posicionamento
global das nações, e seus interesses com a guerra.
Com isso, o Brasil vê florescer um despertar da consciência nacional,
com diversas manifestações ocorridas em vários setores da sociedade. Ocorre que
os indivíduos, ou melhor dizendo, primeiramente a massa pensante e, num segundo
momento, e por influência dos primeiros, o povo passa a perceber o país como
uma nação periférica, dependente e distante das potências emergentes.
Verifica-se a necessidade de superar esse atraso histórico e colocar o
país na direção da verdadeira independência, uma vez percebido que a
emancipação política do país era mais ficção que realidade. Buscar o
desenvolvimento econômico era por o país no rumo da industrialização, e para descobrirem
isso, bastou olhar para as nações então adiantadas e observar em que estiveram
fundamentados seus progressos.
Paralelamente a essa busca pelo desenvolvimento econômico, observou-se
que o sucesso dependia também de transformações de ordem política e cultural.
Assim, a velha ordem política, liderada pelos latifundiários, vinha perdendo
apoio, enquanto cresciam as forças a favor da renovação da vida nacional.
Nessa década, o ano de 1922 pode ser considerado o ano-chave do processo
de transição histórico da sociedade brasileira. No campo cultural, ocorre a
semana de arte moderna em São Paulo, onde inúmeros artistas e escritores, se
reuniram, mostrando sua arte genuína; a fundação do Partido Comunista do
Brasil, como uma tentativa de organização política da classe operária
emergente; e o Movimento Tenentista, objeto deste seminário e desencadeado pela
Revolta do Forte de Copacabana, que leva os militares a uma crescente presença
na vida política e administrativa do país, engrossando as massas contrárias ao
atual regime.
Os conflitos entre os militares e o governo já haviam marcado momentos
da política republicana. O ponto culminante desse processo de aproximação se
deu com o episódio das chamadas “cartas falsas, supostamente enviadas por Artur
Bernardes a Raul Soares, contendo referencias desrespeitosas aos militares. A
publicação das “cartas falsas”, visava claramente a incompatibilidade do
candidato com os militares e envolvendo-os definitivamente a causa dissidente.
Embora Bernardes tenha negado a autoria do documento,a opinião pública
acreditou na autenticidade dele. O candidato passou a ser vaiado em seus
discursos e o Clube Militar formou uma comissão de peritos para examinar as
cartas. Num primeiro momento ,a comissão concluiu que as cartas eram falsas,
porém, diante da pressão da alta cúpula militar, voltou atrás e referendou a
autenticidade, tal fato acredita-se tenha corroborado para o fechamento do
clube militar o que indignou os militares.
Artur Bernardes mesmo com o escândalo destas cartas, obteve o dobro dos
votos de Nilo Peçanha e, apesar dos apelos de recontagem, foi empossado. Mais
uma vez o esquema eleitoral vigente funcionou para garantir a posição do
candidato oficial. Não havendo aceitação, a Reação Republicana ao longo de todo
o primeiro semestre do ano de 1922 recrudesceu, radicalizaram as posições
abrindo espaço da possibilidade de intervenção armada na decisão do conflito
político, as lideranças oligárquicas de São Paulo e Minas não se deixaram
intimidar diante a oposição, agitando ainda mais o panorama político com o
posicionamento dos militares sobre o fim de privilégios e arbitrariedade
política da República até então.
Os Levantes
05 DE JULHO DE
1922 E OS DEZOITO DO FORTE
Em 1922, o presidente Epitácio Pessoa nomeia para o Ministério da Guerra
o carioca Pandiá Calógeras e para a Marinha, Raul Soares, ambos civis, causando
visível mal-estar entre os militares nos quartéis do Rio.
A longa hegemonia das oligarquias paulista e mineira vinha sendo
questionada por outros grupos que até então mantinham afastados do poder, como
os que dominavam nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. No
intuito de romper com o antigo predomínio, esses estados uniram-se na Reação
Republicana, que lançou Nilo Peçanha (RJ) como candidato de oposição à
presidência da República, para concorrer Artur Bernardes (MG), o candidato
oficial. O movimento contou com o apoio de vários militares, que se vinham
mostrando descontentes com Epitácio Pessoa desde o início de seu governo.
O quadro sucessório se complicou em outubro de 1921 com a publicação,
pela imprensa carioca, de cartas atribuídas a Bernardes, contendo comentários
desrespeitosos sobre os militares. Embora Bernardes negasse a autoria das
chamadas Cartas Falsas, o episódio acirrou os ânimos, especialmente entre as
Forças Armadas. As eleições se realizaram em março de 1922, e consagraram, como
já era esperado, a vitória de Bernardes.
A jovem oficialidade contesta a vitória de Artur Bernardes, mas o
governo se manteve intransigente, recusando-se a rever o resultado das urnas.
Só que, dessa vez, a história seria um pouco diferente, pois nem a Reação
Republicana nem os militares aceitaram pacificamente os resultados oficiais.
A gota d'água ocorreu logo no início de julho, quando o marechal Hermes
da Fonseca, após criticar duramente a intervenção do governo federal em
Pernambuco, teve sua prisão decretada. Na ocasião, o presidente Epitácio Pessoa
determinou também o fechamento do Clube Militar; inconformados com a prisão, os
tenentes prepararam-se para um levante; na madrugada do dia 5, a crise atingiu
seu auge, com a eclosão no Rio de Janeiro de uma série de levantes militares
comandados por tenentes. Além do forte de Copacabana, rebelaram-se guarnições
da Vila Militar, o forte do Vigia, a Escola Militar do Realengo e o 1º Batalhão
de Engenharia. A eles se juntaram também militares do Exército e da Marinha de
Niterói, e a 1ª Circunscrição Militar, sediada em Mato Grosso.
À 1h20 do dia 05 de Julho, o tenente Siqueira Campos deu início à
revolta, com disparos de canhão; comandado
por Euclides da Fonseca, filho de Hermes. As tropas legalistas reagiram
e, durante todo o dia 5, o Forte foi bombardeado. No dia 6, os rebeldes
liberaram aqueles que não queriam combater. Dos 301 amotinados, 29 decidiram
permanecer na luta.
O governo manda bombardear o forte e declara estado de sítio. Os que
ficaram mudaram de tática. Em vez de permanecerem no Forte ou bombardearem a
cidade, foram às ruas para enfrentar as tropas legalistas. Os 29 homens saíram
pela Avenida Atlântica, mas durante o percurso alguns deles debandaram.
Sobraram apenas dezessete. No trajeto, o engenheiro civil Otávio Correia viu os
insurgentes e decidiu acompanhá-los. Do embate com as tropas governamentais
resultou a morte de 16 combatentes e dois feridos, os tenentes Eduardo Gomes e
Siqueira Campos sobrevivem. Embora o
governo tenha alcançado sucesso nessa rebelião, garantindo a supremacia de São
Paulo e Minas Gerais no cenário político nacional, através da política
"café-com-leite", os tenentes continuaram se rebelando, ocorrendo
vários conflitos em todo Brasil, os Dezoito do Forte foram os
precursores do movimento tenentista.
05 DE JULHO DE
1924 – A REVOLTA PAULISTA
No dia 5 de julho de 1924, aniversário de dois anos da Revolta dos 18 do
Forte de Copacabana, eclodiu no estado de São Paulo um novo levante tenentista
com planos de fazer eclodir uma revolução.
“Iniciou-se na madrugada de 5 de julho, nos quartéis militares de São
Paulo, em Pinheiros e em Quitaúna. A estratégia era reunir as tropas rebeladas
no Campo de Marte para atacar e ocupar os principais prédios públicos da
cidade. No fim do primeiro dia de combate, eles haviam ocupado as estações da
Luz, Sorocabana, do Brás e da Cantareira; o Hotel Terminus, o 4o Batalhão de
Caçadores, a estação transformadora da Light, o Corpo-Escola e os quartéis do
1o e do 2o batalhões de polícia, no bairro da Luz”. (LANNA JR, 2008, p. 320).
A derrota dos rebeldes de 1922 marcou o início de um longo período em
que o país foi governado debaixo de estado de sítio: o primeiro decreto foi
ainda assinado por Epitácio Pessoa, mas a medida estendeu-se por todo o governo
Bernardes, que não conseguiu amenizar o clima de tensão política. Durante os
quatro anos de seu mandato, foi freqüente a censura à imprensa, ao mesmo tempo
que vários oposicionistas (civis e militares) foram presos e desterrados para
os campos de internamento que existiam na Região Norte do país.
O julgamento dos envolvidos nos levantes de 1922, marcado para dezembro
de 1923, serviu apenas para acentuar as divergências entre o governo federal e
os militares. A tensão levou à eclosão de novo movimento, dessa vez em São
Paulo, em 5 de julho de 1924, dois anos após o levante dos 18 do Forte. O
principal líder da Revolta Paulista não fora um tenente, mas sim, o general
Isidoro Dias Lopes, o qual graças a sua posição e influência no Exército
conseguiu ganhar muitos aliados para sua causa rebelde. Outro nome importante
na liderança fora o chefe de polícia Miguel Costa, o qual teria um papel
importante posteriormente na causa tenentista. O primeiro dia de revolta fora
frutífero e com poucos confrontos, os quais ocorreram principalmente no bairro
da Luz, nas imediações do Palácio dos Campos Elísios e em alguns locais no
centro da cidade, onde os revoltosos confrontaram a polícia e as tropas
legalistas. No terceiro dia, a situação começou a se acirrar, o general Eduardo
Sócrates fora enviado para por fim a revolta tenentista. Dias depois, tropas da
Marinha chegaram ao porto de Santos e partiram para São Paulo, a fim de apoiar
as tropas do governo contra os rebeldes. O tenente João Cabanas (1895-1974) se
tornou um "herói" entre os revoltosos, pois havia conseguido
coordenar vários ataques com grande exito. De certa forma, as vitórias de
Cabanas contribuíram para que a revolução se estende-se por quase um mês na
maior cidade do Brasil.
Ainda no dia 8, terceiro dia de conflito, com a fuga do presidente do
estado, Carlos de Campos, foi tomado o palácio do governo, e no dia seguinte
foi instalado um governo provisório sob a chefia de Isidoro, exigem a renúncia
de Artur Bernardes, a convocação de uma assembléia constituinte e o voto
secreto.
A represália das tropas legalistas, contudo, não tardou: um forte
bombardeio atingiu a cidade, provocando o caos generalizado nos serviços e
levando a população ao pânico; em diversos bairros, em especial os operários,
foram freqüentes os saques a armazéns e depósitos. Mas os rebeldes mantiveram o
controle da capital paulista ainda por mais alguns dias em 27 de julho os
rebeldes retiram-se, rumaram para o interior.
Àquela altura, embora os revoltosos não soubessem disso, o levante de
São Paulo já havia recebido apoio em diversas partes do país, que se traduziu
em rebeliões militares no Amazonas, Sergipe e Mato Grosso.
A mais significativa, no entanto, só ocorreu em outubro de 1924, quando
tropas sediadas no Rio Grande do Sul - como as de Santo Ângelo, São Luís, São
Borja e Uruguaiana, associadas a políticos da oposição no estado, pegaram em
armas mesmo ano da derrota dos tenentes em São Paulo (1924), um grupo deste
movimento paulista recua para o interior do país sob o comando de Miguel da
Costa.
Os revoltosos gaúchos contaram com a colaboração de líderes tenentistas
como João Alberto Lins de Barros e Juarez Távora, decididos a transformar o Rio
Grande em mais uma frente de combate ao governo federal.
Obedecendo às orientações do general Isidoro, que em outubro já tinha
alcançado com os paulistas o interior do Paraná, os revoltosos gaúchos, sob o
comando do capitão Luís Carlos Prestes, partiram em direção ao norte, rumo a
Foz do Iguaçu (PR). Lá deveriam se unir gaúchos e paulistas. O encontro das
duas frentes ocorreu em abril de 1925, e com ele teve início a epopéia da
Coluna Miguel Costa-Luís Carlos Prestes, ou simplesmente Coluna Prestes, esse
movimento militar, que teve origem no movimento tenentista e se deslocou pelo
Brasil pregando reformas política e sociais e combatendo o governo do
presidente Artur Bernardes.
Em 1925, o grupo se reúne no Oeste do Paraná com a coluna do capitão
Luís Carlos Prestes, que havia partido do Rio Grande do Sul. Sempre com as
forças federais no seu encalço, a coluna de 1,5 mil homens entra pelo atual
Mato Grosso do Sul, atravessa o país até o Maranhão, percorre parte do nordeste
e em seguida retorna a partir de Minas Gerais. Refaz parte do trajeto de ida e
cruza a fronteira da Bolívia em fevereiro de 1927. Sem jamais ser vencida, a
coluna enfrenta as tropas do exército, as forças policiais dos estados e os
jagunços e cangaceiros recrutados pelos coronéis. A coluna poucas vezes
enfrentou grande efetivo do governo. Em geral eram usadas tática de
despistamento para confundir as tropas legalistas. Nas cidades e nos vilarejos
do sertão, os rebeldes promovem comícios e divulgam manifestos contra o regime
da República Velha e o autoritarismo do governo Washington Luís, que mantém o
país sob estado de sítio desde sua posse, em novembro de 1926.
Os homens liderados por Luís Carlos Prestes não conseguem derrubar o
governo de Washington Luís. Mas, com a reputação de invencibilidade adquirida
na marcha vitoriosa de 25.000 km, aumenta o prestígio político do tenentismo e
reforças suas críticas às oligarquias. Com o sucesso da marcha, a coluna ajuda
a abalar ainda mais os alicerces da República Velha e a preparar a revolução de
1930. Projeta-se também, Luís Carlos Prestes, que, desde sua entrada no Partido
Comunista Brasileiro (PCB) e sua participação na Intentona Comunista de 1935,
se torna uma das figuras centrais do cenário político do Brasil nas três
décadas seguintes.
O TENENTISMO SEGUNDO BORIS FAUSTO
Até meados da década de 70, o modelo historiográfico de compreensão da
Revolução de 30 (através da análise da República Velha) baseava-se na tese de
um embate de forças entre a Aristocracia Cafeeira, o setor representante das
heranças de um sistema agrário feudal, e a nova Elite Industrial. Esta,
representante do capitalismo imperialista que começava a vigorar após a
Primeira Guerra Mundial, possuia sua maior representação no estado de São
Paulo. Boris Fausto promove uma revisão de tais modelos, procurando demonstrar
que a Historiografia brasileira defendia até a década de 70 uma visão parcial e
certamente deturpada dos fatos. Em seu livro, o autor demonstra que a dualidade
Latifúndio-burguesia não corresponde exatamente a uma oposição fundamental:
assim, o que assistimos é um rearranjo da política nacional sem o privilégio
significativo desta ou de outra classe, que pudesse tomar para si o rumo
político e econômico do país e comprometesse a influência das demais.
A partir desse argumento, Fausto também defende que a influência das
elites industriais paulistanas era restrita à época, pois estas não possuíam
tamanha força e coesão capaz de promover um arranjo revolucionário que visasse
desbancar a elite agrária. Muito pelo contrário, Vejamos o que o autor diz a
respeito das indústrias na década de 20:
" a indústria se caracteriza nesta época, pela dependência do
setor agrário exportador, pela insignificância dos ramos básicos, pela baixa
capitalização, pelo grau incipiente de concentração."
Fausto cita ainda, que a agricultura exportadora era de muita expressão
na economia brasileira anteriormente à Revolução bem como depois. Mesmo no
começo da década de 40 o setor primário de produção era a base de sobrevivência
de 65,1% da população.
" Do ponto de vista da estrutura social, se abandonarmos a imensa
maioria de pequenos empresários, cujas atividades se assemelhavam muitas vezes
às de um simples artesão, o setor que pode ser definido como burguês
industrial, constituía uma faixa restrita do ponto de vista numérico mas
significativo, capaz de expressar na esfera política, seus interesses
específicos, junto aos centros de decisão. Entretanto, seus limites se revelam
no alcance das reivindicações: se executarmos as propostas de Serzedelo Correia
e Amaro Cavalcanti, que aliás, não podem ser considerados representantes
políticos da burguesia industrial, esta não oferece qualquer programa
industrialista, como alternativa a um sistema cujo eixo é constituído pelos
interesses cafeeiros."
O TENENTISMO SEGUNDO
EDGAR DE DECCA
Enquanto Nelson Werneck Sodré, em “Formação Histórica do Brasil,” ao
abordar a revolução de trinta, encontrou total ausência da classe operária no
desenrolar do processo. Para ele, aquela revolução foi um reflexo das mudanças
ocorridas no capitalismo a nível internacional, que incidiu no Brasil nas duas
correntes, o tenentismo (classe média) e a cisão da classe dominante, obtendo
as suas especificidades internas e Boris Fausto na década de 1970 refutou
algumas teses de Werneck Sodré e introduziu como fator explicativo do movimento
um estado de compromisso, um vazio de poder, em que nenhuma classe, na verdade,
possuía o domínio do Estado.
A partir de “1930, o silêncio dos vencidos”, de Edgar de Decca, vemos um
novo discurso, para de Decca “A revolução de 30” se constituiu um fato
histórico produzido pelo discurso da classe dominante.
Com esse discurso vencedor havia outro, o discurso da classe
trabalhadora arregimentada no BOC“Bloco Operário-Camponês”, que foi vencido.
Para este historiador a revolução de 30 ocultou o percurso das classes sociais,
anulando a existência de determinados agentes.
Rompendo com os modelos explicativos tradicionais, de Decca questiona a
idéia de revolução burguesa. Para o autor, haveria sim um processo
revolucionário em marcha que, afirmam teria se dado nos idos dos anos 20 e seu
condutor foi Partido Comunista do Brasil. O momento decisivo desse processo
acorreu no ano de 1928 quando o BOC, braço político do PCB, se viu preso às
regras do jogo democrático-burguês sendo sufocado pelas classes dominantes. A
fundação do CIESP (Centro das Industriais do Estado de São Paulo) nesse ano
representaria o contra-golpe das elites em relação ao crescimento do movimento
operário. Portanto, a verdadeira revolução, que acabou abortada, ocorre em 1928
quando o movimento operário organizado em torno do PCB se viu impotente diante
da repressão burguesa.
Edgar De Decca traduz esse momento como o de exercício efetivo do poder
político que define a periodização da história e o lugar onde ela deve ser
lida, memorizando o passado como o de domínio das oligarquias e o presente como
o de uma revolução que não tem lugar para acabar, apresentando a revolução como
unitária e monolítica. A revolução de trinta apareceria como um divisor de
águas na história do Brasil, o antes e o depois. O debate sobre o domínio das
oligarquias agrárias no Brasil da Primeira República é recorrente ao discurso
historiográfico. Tal discurso é reforçado pelas interpretações acerca dos
acontecimentos de 1930, pois a idéia de Revolução subjacente as essas
interpretações definiram o lugar das oligarquias como aquele associado às
forças do atraso, derrotada pelas forças ligadas ao progresso da Nação.
Segundo o autor, o ambiente político e cultural em que o movimento integralista se
instituiu foi bastante agitado, porque o Brasil acabara de passar por um
processo de crise das instituições políticas fundadas no liberalismo da
Primeira República, que culminou num movimento liderado pelas oligarquias
dissidentes que colocou Getúlio Vargas no poder. As divergências políticas e ideológicas,
nos primeiros anos que se seguiram aos acontecimentos de 1930 foram evidentes.
Foi um período de francas disputas de projetos políticos, esses com seus
ideários profundamente marcados pelo nacionalismo e modernismo, influenciando
grupos opositores ao regime político instalado, de um lado e, por outro lado,
os grupos que defendiam a manutenção da ordem, capitaneados, em linhas gerais,
pelas Aliança Libertadora Nacional - ALN - e a Ação Integralista Brasileira -
AIB -, grupos esses que adquiriram maior visibilidade.
Decorre daí, então, a produção de uma memória da revolução que viesse dialogar com os setores subalternos da
sociedade, transformando aqueles acontecimentos num marco periodizador da
história do Brasil, para balizar o que ocorrera antes e depois. Consta ainda
desse ato a idéia de modernidade, de um futuro que se apresentava no presente,
esvaziando, assim, o conteúdo político dos principais grupos ideológicos
envolvidos. Dessa forma, foram postos os elementos que fixaram as bases da memória
oficial sobre o que ocorrera em 30, sob a égide do poder político.
CONSIDERAÇÕES
CONTESTAÇÃO
DO SISTEMA POLÍTICO
O tenentismo foi um movimento social de caráter político-militar que
ocorreu no Brasil nas décadas de 1920 e 1930, período conhecido como República
das Oligarquias. Contou, principalmente, com a participação de jovens tenentes
do exército. Outros
segmentos da economia passam a contestar o poder político vigente
(oligárquico), e a exigir uma maior participação das demais classes, inclusive
dos militares, que tiveram uma grande participação nessa mudança de poder. Toda
essa efervescência de mudanças sociais, políticas e econômicas e o grande
descontentamento com o modelo político do país, culminou na Revolução de 1930.
O que defendiam?
Este movimento
contestava a ação política e social dos governos representantes das oligarquias
cafeeiras (coronelismo). Embora tivessem uma posição conservadora e
autoritária, os tenentes defendiam reformas políticas e sociais. Queriam a
moralidade política no país e combatiam a corrupção. O movimento tenentista
defendia as seguintes mudanças: - Fim do voto de cabresto (sistema de votação
baseado em violência e fraudes que só beneficiava os coronéis); - Reforma no
sistema educacional público do país; - Mudança no sistema de voto aberto para
secreto;
Revoltas
Os tenentistas chegaram a promover revoltas
como, por exemplo, a revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Nesta revolta,
ocorrida em 5 de julho de 1922, foi durante combatido pelas forças oficiais.
Outros exemplos de revoltas tenentistas foram a Revolta Paulista (1924) e a
Comuna de Manaus (1924). A Coluna Prestes, liderada por Luis Carlos Prestes,
enfrentou poucas vezes as forças oficiais. Os participantes da coluna
percorreram milhares de quilômetros pelo interior do Brasil, objetivando
conscientizar a população contra as injustiças sociais promovidas pelo governo
republicano.
Enfraquecimento do tenentismo
O movimento
tenentista perdeu força após a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao
poder. Vargas conseguiu produzir uma divisão no movimento, sendo que
importantes nomes do tenentismo passaram a atuar como interventores federais.
Outros continuaram no movimento, fazendo parte, principalmente, da Coluna
Prestes.
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