Partidos liberal e conservador.
As disputas políticas entre
progressistas (Feijó) e regressistas (Araújo Lima), durante as regências,
resultaram posteriormente no Partido Liberal e no Partido Conservador, que se
alternaram no governo ao longo do Segundo Reinado.
Enquanto o Partido Liberal se
aglutinou em torno do Ato Adicional, o Partido Conservador foi se organizando
em torno da tese da necessidade de limitar o alcance liberal do Ato
Adicional, através de uma lei interpretativa.
O período regencial começou liberal
e terminou conservador. E há uma explicação para esse fato: a ascensão da
economia cafeeira.
Por volta de 1830, o café havia
deixado de ser uma cultura experimental e marginal para se tornar o principal
produto de exportação, suplantando o açúcar. Os principais lideres
conservadores eram representantes dos interesses cafeeiros.
Com a formação desses dois partidos
e a ascensão da economia cafeeira, a vida política brasileira parecia ganhar
finalmente a necessária estabilidade. Porém, as regras do jogo foram
quebradas pelos liberais, com o Golpe da Maioridade. Para compreendê-lo,
retomemos o fio da meada.
A aclamação de D. Pedro II.
No Brasil, as agitações políticas e
sociais tomaram conta do país logo depois da abdicação de D. Pedro I em 7 de
abril de 1831. Diante das crises vividas pelo regime regencial, ficou
parecendo a todos que elas haviam sido facilitadas pelo caráter transitório
do governo, que atuava apenas como substituto do poder legítimo do imperador,
constitucionalmente impedido de exercer a autoridade devido à menoridade.
A fim de conter as agitações e o
perigo da fragmentação territorial, a antecipação da maioridade de D. Pedro
de Alcântara passou a ser cogitada. Levada à apreciação da Câmara, a questão
foi aprovada em junho de 1840. Assim, com 15 anos incompletos, D. Pedro de
Alcântara jurou a Constituição e foi aclamado imperador, com o título de D.
Pedro II.
A antecipação da maioridade,
entretanto, foi maquinada e posta em prática, com êxito, pelos liberais, que,
desde a renúncia de Feijó em 1837, haviam sido alijados do poder pelos
regressistas. Tratou-se, portanto de um golpe - o Golpe da Maioridade.
Essa manobra política que
possibilitou o retorno dos liberais ao poder teve como conseqüência a
afirmação da aristocracia rural e o estabelecimento de sua dominação sobre
todo o país. Como a burguesia, que na Europa abandonara definitivamente o
ideal revolucionário, os grandes proprietários de terras e escravos que
haviam lutado contra o domínio
colonial adotaram finalmente uma política conservadora e anti-revolucionária.
O gabinete da maioridade ou o
Ministério dos Irmãos.
Imediatamente após o golpe,
organizou-se o ministério, o primeiro da maioridade, dominado pelos
"maioristas", todos eles ligados ao Partido Liberal. Do novo
gabinete participavam os irmãos Andrada (Antônio Carlos e Martim Francisco) e
os irmãos Cavalcanti (futuros viscondes de Albuquerque e de Suassuna), donde
decorreu o nome de Ministério dos Irmãos.
As disputas políticas, contudo,
tornaram-se sangrentas a partir da ascensão liberal, e governar havia se
tornado sinônimo de exercício do poder discricionário*. Assim, para controlar
o país, o partido que se encontrava no governo estabelecia a rotina de nomear
presidentes de províncias de seu agrado e de substituir autoridades judiciais
e policiais de fidelidade duvidosa.
Nas eleições, os chefes políticos
colocavam nas ruas bandos armados; o governo coagia eleitores e fraudava os resultados
das urnas. A eleição de 13 de outubro de 1840, que deu início a esse estilo
novo (e violento) de fazer política, ficou conhecida como "eleição do
cacete", e deu vitória aos liberais. Todas as outras eleições realizadas
depois disso não escaparam à regra: continuaram igualmente violentas.
Medidas Antiliberais
A unidade da aristocracia rural.
Apesar das disputas políticas
violentas, os partidos Conservador e Liberal eram diferentes apenas no nome.
Um e outro eram integrados pelos grandes proprietários escravistas e
defendiam os mesmos interesses: estavam unidos contra a participação do povo
nas decisões políticas. Liberal ou Conservador - não importava -, a
aristocracia rural era a favor de uma política antidemocrática e antipopular.
Essa evolução no sentido da maior
unidade de interesse e na defesa de uma política conservadora foi, em grande
parte, motivada pelo fortalecimento econômico da aristocracia rural. Desde a
década de 1830, a cafeicultura havia se deslocado para o vale do Paraíba,
onde rapidamente se tornaria a principal atividade agroexportadora
brasileira, beneficiando particularmente as três províncias do sudeste: Rio
de janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A projeção política dessas três
províncias, as mais ricas e poderosas do Brasil, já se fazia sentir desde a
transferência da Corte, em 1808. Representadas agora pelos "barões do
café", elas fortaleceram ainda mais as suas posições relativas,
tornando-se capazes, efetivamente, de impor nacionalmente a sua política.
Como segmento mais rico e próximo do
poder central, os barões do café estavam em condições de submeter à sua
liderança a aristocracia rural das demais províncias. Formando então um bloco
cada vez mais poderoso, imprimiram uma direção precisa à política nacional: o
centralismo e a marginalização dos setores radicais e democráticos.
A reforma do Código de Processo
Criminal.
Assim, a partir de 1840 firmou-se
uma tendência política centralista e autoritária. O primeiro passo nesse
sentido foi a instituição da Lei Interpretativa do Ato Adicional. Em dezembro
de 1841, foi a vez da reforma do Código de Processo Criminal, que, como já
vimos, havia conferido às autoridades locais uma enorme soma de poderes. Com
a reforma, o antigo código foi descaracterizado no seu conteúdo liberal, pois
toda autoridade judiciária e policial foi submetida a uma rígida hierarquia e
diretamente subordinada ao Ministério da Justiça. O poder central tinha agora
nas mãos instrumentos eficientes para assegurar a ordem pública.
A restauração do Conselho de Estado.
Durante o Primeiro Reinado, o
Conselho de Estado era um órgão consultivo do imperador D. Pedro I, para o
qual ele havia nomeado membros do
"partido português”. Na Regência, esse órgão foi extinto pelo Ato
Adicional (1834). Em 1841 foi restaurado e se tornou o principal órgão de
assessoria direta do imperador, através do qual a aristocracia rural garantia
a sua presença no centro do poder.
A presidência do Conselho de
Ministros e o parlamentarismo às avessas.
No Primeiro Reinado foi constante o
conflito entre o poder Moderador (D. Pedro I) e a Câmara dos Deputa-dos. Para
diminuir os atritos entre os poderes, foi criado, em 1847, a Presidência do
Conselho de Ministros. Ficou convencionado que o impera dor nomearia apenas o
presidente do Conselho, que, por sua vez, escolheria os demais ministros.
Nascia, desse modo, o
parlamentarismo* brasileiro. Mas esse era um parlamentarismo muito diferente
daquele praticado na Europa, que seguia o modelo inglês.
No parlamentarismo europeu, o
primeiro-ministro era escolhido pelo Parlamento, que também tinha força para
depô-lo. Além disso, o ministério era responsável perante o Parlamento, ao
qual era obrigado a prestar contas. Em suma, o Legislativo contra lava o
Executivo.
No Brasil era o contrário. O
ministério era responsável perante o poder Moderador (imperador). O
Parlamento (poder Legislativo) nada podia contra os ministros, que governavam
ignorando-o e prestando contas apenas ao imperador. Por esse motivo, esse
parlamentarismo brasileiro ganhou o nome de "parlamentarismo às
avessas”.
Política Protecionista
Tarifa Alves Branco (1844).
Da cobrança de taxas alfandegárias o
governo brasileiro obtinha a maior parte de sua receita. Contudo, desde os
tratados de 1810, que reduziram os direitos alfandegários das mercadorias
inglesas para 15% ad valorem, essa fonte de receita encontrava-se
incomodamente restringida. A situação havia se agravado mais ainda com as
concessões comerciais feitas aos Estados Unidos e a outros países europeus,
por ocasião do reconhecimento da emancipação do Brasil.
O débil desempenho da economia
brasileira até por volta de 1840 foi tornando cada dia mais precária a
situação do Tesouro. A inexistência de uma produção nacional que suprisse as
necessidades internas de consumo fez do Brasil uma economia inteiramente
dependente do fornecimento externo. Os gêneros alimentícios e os produtos de
uso corriqueiro, como sabão, velas, tecidos, etc., eram trazidos de fora, e a
sua importação, naturalmente, tinha um custo monetário que deveria ser
saldado com as exportações de produtos nacionais.
A dependência em que o Brasil se
encontrava em relação à Inglaterra e em menor escala em relação aos Estados
Unidos e outros países europeus apenas havia transferido par muitos os
benefícios que antes só cabiam Portugal. O país continuava, no plano
econômico, essencialmente colonial.
Essa distorção, que dificultava a
acumulação interna de capital, foi parcialmente corrigida em 1844, com a
substituição do livre cambismo por medidas protecionistas, através da Tarifa
Alves Branco, como ficou conhecido o decreto do ministro da Fazenda Manuel
Alves Branco.
Segundo a nova legislação aduaneira,
os direitos duplicaram (passaram para 30%) para mercadorias sem similares
nacionais e 60% em caso contrário. Evidentemente, as pressões internacionais
contra a medida foram muitas, sobretudo por parte dos britânicos, que perdiam
boa parte dos privilégios que tinham no mercado brasileiro.
Embora a nova política protecionista
não formasse uma barreira intransponível, nem estimulasse decisivamente o
desenvolvimento do mercado interno, foi, todavia, um importante passo nesse
sentido.
A Abolição do Tráfico Negreiro
A pressão britânica na abolição do
tráfico.
Em meados do século XIX foi extinto
no Brasil o tráfico negreiro. A iniciativa não foi por vontade e decisão do
governo brasileiro, mas resultou da eficiente pressão britânica nesse
sentido. Várias razões explicam essa atitude do governo britânico. Em
primeiro lugar, a Revolução Industrial do século XVIII, na Inglaterra, que
generalizou o emprego do trabalho assalariado, pondo fim a toda forma
compulsória de exploração do trabalhador, tornou a sociedade sensível ao
apelo abolicionista.
De fato, para as sociedades européias
do século XIX, que acompanhando o exemplo britânico evoluíam no sentido do
emprego generalizado do trabalho livre assalariado, a escravidão, em
contraste, começou a ser vista em toda a sua desumanidade, criando bases para
uma opinião abolicionista. Evidentemente, os bons sentimentos por si sós eram
insuficientes para qualquer ação concreta contra a escravidão. Na verdade, o
capitalismo industrial é um sistema baseado no crescimento permanente, com
abertura de novos mercados. Ora, os escravos, por definição, não são
consumidores e, portanto, as sociedades escravistas representavam sérios
bloqueios àquela expansão.
Os acordos para a extinção do
tráfico.
Tendo abolido o tráfico em suas
colônias em 1807 e a escravatura em 1833, a Inglaterra passou a exigir o
mesmo do Brasil, a partir dos tratados de 1810. Pelo tratado de 23 de janeiro
de 1815, assinado em Viena, estabeleceu-se a proibição do tráfico acima da
linha equatorial, o que atingiu importantes centros fornecedores de escravos,
como São Jorge da Mina. Em 18 de julho de 1817, os governos luso-brasileiro e
inglês decidiram atuar conjuntamente na repressão ao tráfico ilícito,
inspecionando navios em alto mar. Para efeitos práticos, contudo, apenas a
Inglaterra possuía recursos para isso.
Após 1822, a Inglaterra estabeleceu
o fim do tráfico negreiro como uma das exigências para o reconhecimento da
emancipação do Brasil. Assim, o tratado de 3 de novembro de 1826 fixou o
prazo de três anos para a sua completa extinção. O tráfico passou a ser
considerado, a partir de então, ato de pirataria, sujeito às punições
previstas no tratado. Finalmente, a 7 de novembro de 1831 - com atraso de
dois anos em relação ao estipulado pelo tratado de 1826 -, uma lei formalizou
esse compromisso.
As resistências do Brasil.
Apesar das crescentes pressões
britânicas, o tráfico continuou impune no Brasil. E a razão era simples: toda
a economia brasileira, desde a época colonial, estava assentada no trabalho
escravo. Em tal circunstância, a abolição do tráfico criaria enormes
dificuldades à economia, comprometendo as suas bases produtivas.
Ademais, desde a abdicação de D.
Pedro I em 1831, os senhores rurais haviam se apropriado do poder político, o
que fortalecera consideravelmente a sua posição na sociedade. Por isso,
nenhum dos acordos assinados com a Inglaterra foi cumprido, de modo que o
tráfico continuou com o consentimento tácito das autoridades.
A Inglaterra, por sua vez,
esforçou-se para fazer cumprir os termos dos tratados, de modo unilateral. E
o fez em meio a dificuldades, pois os traficantes, cercados em alto mar,
atiravam os negros ao oceano, atados a uma pedra que os impedia de vir à
tona. Além disso, o tráfico, ao invés de se extinguir, continuou a crescer
incessantemente.
Bill Aberdeen.
A passividade do governo brasileiro
ante o tráfico e, portanto, o nãocumprimento dos compromissos assumidos
através de vários tratados fez a Inglaterra tomar uma atitude extrema. Em 8
de agosto de 1845, o Parlamento britânico aprovou uma lei, chamada Bill
Aberdeen, conferindo à Marinha o direito de aprisionar qualquer navio
negreiro e fazer os traficantes responderem diante do almirantado ou de
qualquer tribunal do vice-almirantado dos domínios britânicos.
A repressão ao tráfico foi assim
intensificada, e os navios britânicos chegaram a apreender navios em águas
territoriais brasileiras, até mesmo entrando em seus portos.
A lei Eusébio de Queirós (1850).
Em março de 1850, o todo-poderoso
primeiro-ministro Gladstone obrigou o Brasil ao cumprimento dos tratados,
ameaçando-o com uma guerra de extermínio. O governo brasileiro finalmente se
curvou ante as exigências britânicas e em 4 de setembro de 1850 promulgou a
lei de extinção do tráfico pelo ministro Eusébio de Queirós. A tabela abaixo
mostra os efeitos imediatos da medida.
Conseqüências da extinção do tráfico. A lei Eusébio de Queirós, que pôs
fim ao tráfico negreiro de forma súbita, como se verifica na tabela, liberou
uma soma considerável de capital, que passou a ser aplicado em outros setores
da economia. As atividades comerciais, financeiras e industriais receberam um
grande estímulo.
Em 1854 começou a funcionar a
primeira estrada de ferro brasileira, de Mauá a Fragoso (futura Leopoldina
Rafways); em 1855, iniciou-se a construção da estrada de ferro D. Pedro II
(futura Central do Brasil); o telégrafo apareceu em 1852. Enfim, um novo
horizonte se descortinou.
Com a abolição do tráfico, os dias
da escravidão no Brasil estavam contados e, portanto, os dias de existência
do Império, cuja riqueza baseava-se fundamentalmente no fruto do trabalho
escravo, também estaria no fim. Basta que nos lembremos que a escravidão foi
abolida em 1888 e o Império caiu já no ano seguinte, em 1889
Nossa Conclusão
Não havia diferença ideológica.
Ambos representavam a Elite Rural, detentora do poder político no Segundo
Reinado (já que o direito de voto provinha da renda - voto censitário).
A única diferença entre eles era o
modo como eles entendiam que o governo deveria funcionar: Os Conservadores
eram a favor de um PODER CENTRAL FORTE. Isto é, para eles o país funcionaria
melhor se o poder do Imperador e do Conselho de Ministros fosse o mais forte
possível sobre a Nação.
Já os Liberais eram a favor de um
PODER CENTRAL FRACO, preferiam que as províncias tivessem bastante poderes,
pois isso seria melhor para a economia do Império como um todo. Aí, eles
ficavam se revezando no poder...Ora a política favorecia o poder central, ora
o poder local...
|
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
OS PARTIDOS CONSERVADOR E LIBERAL NO SEGUNDO REINADO
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Muito bom!!!!! Me ajudou muito ❤️
ResponderExcluir