Como construir bons argumentos?
Para escrever um bom argumento o primeiro passo é
perguntarmos: o que desejamos provar? Qual a conclusão? É preciso não esquecer
que a conclusão é a afirmação para a qual estamos a fornecer razões. As
afirmações que fornecem razões chamam-se premissas. Estas reconhecem-se num
texto, a partir de expressões como: pois, dado que, visto que, já que, porque,
entre outras. No entanto, nem sempre estes indicadores podem estar presentes de
uma forma explícita, pelo que, o trabalho interpretativo não é de forma alguma
simples.
Os argumentos curtos escrevem-se normalmente em um ou dois
parágrafos. Coloque a conclusão primeiro, seguida das suas razões, ou apresente
as suas premissas primeiro e retire a conclusão no fim. Em qualquer dos casos,
apresente as suas ideias pela ordem que mais naturalmente revele o seu
raciocínio.
De forma a identificarmos mais facilmente a conclusão,
utilizam-se expressões como: logo, assim, assim sendo, deste modo, portanto,
consequentemente, por isso, etc.
Adaptação livre de Anthony Weston, A Arte de Argumentar, Ed. Gradiva, Lx, 1996, pp.19-21.
Agora que já sabemos no que é que consiste a argumentação
vamos passar ao trabalho filosófico. Assim, se queremos de fato aprender a
fazer filosofia, não só temos que argumentar, como também temos que saber
avaliar/interpretar os argumentos de outros filósofos. Ora, isso passa,
inevitavelmente, pela interpretação de textos filosóficos. Para que possamos
compreender um texto temos que proceder de uma forma metodológica, temos que saber
identificar o assunto, perceber a tese principal do texto, identificar os argumentos
que sustentam a tese, identificar os contra-argumentos, verificar a coerência
ou não dos argumentos e saber identificar a conclusão.
O Assunto
Depois de uma leitura atenta do texto há que identificar de
que fala o texto, qual o tema que é nele tratado?
A Tese
Este é o momento em que o filósofo ou autor se pronuncia sobre qual
das hipóteses de resposta ao problema lhe parece a verdadeira ou, pelo menos, a
mais coerente e provável. Com efeito, em Filosofia, assim como em qualquer disciplina acadêmica de humanidades não existem verdades
absolutas, pois o seu domínio não se restringe à pura demonstração, onde a
partir de premissas, segundo regras puramente formais, se deduzem conclusões. No caso da Filosofia, esta se assenta fundamentalmente na argumentação não formal, isto é, na
apresentação de razões a favor ou contra uma determinada tese.
Argumento
Depois de colocado de forma clara e rigorosa o problema a
abordar e de ser apresentada a tese sobre esse problema, ou problematização, segue-se a tarefa mais
especificamente filosófica, e difícil de ser compreendida ou explanada em sua totalidade, a exposição de argumentos.
A argumentação consiste na apresentação de razões
estruturadas e coerentes que apoiem as nossas teses sobre determinado problema
filosófico.
É certo que todas as pessoas tem opiniões, mas relativamente
poucas se dão ao trabalho de analisar cuidadosamente o problema, conhecer os
termos em que se põe, as diferentes teorias propostas como resposta a ele e,
acima de tudo, de conhecer e compreender os argumentos que estão subjacentes a
essas teorias; de ser capaz de os discutir, de lhes contrapor objeções, enfim,
de refletir de uma maneira realmente filosófica, indo ao fundo das questões,
explorando as razões de cada parte e formando, com base nisso, uma posição
independente e informada.
Distinção entre validade/forma e verdade/conteúdo
Para analisarmos cuidadosamente um argumento, isto é, para
verificarmos se o mesmo é ou não coerente, bom ou mau, uma vez que não existem
verdades absolutas na filosofia, temos que saber analisá-lo.
Assim, dado um determinado argumento temos que o avaliar. Como
é que avaliamos a validade ou valor de um argumento?
1º Verificamos se as suas premissas/proposições são
verdadeiras – verificamos o conteúdo das premissas.
Por exemplo: Bucareste é a capital
da Romênia.
Os cães são mamíferos.
A Filosofia é uma disciplina
interessante.
Verificamos se a conclusão se segue necessariamente das
premissas.
Por exemplo: Todos os estudantes do ensino
secundário têm educação física
O Hugo Montes é estudante do ensino
secundário
Logo, o Hugo Montes tem educação
física
Se o argumento responder afirmativamente a estes dois
pressupostos, estamos diante de um argumento válido e sólido. Contudo, não
podemos esquecer que existem argumentos válidos com uma das premissas falsas:
Exemplo: Os gatos
gostam de leite
Mia Couto é um gato
Logo, Mia Couto gosta de leite (supondo que o
escritor gosta de leite)
ou até mesmo com premissas e conclusão falsas:
Exemplo: A Todos os
filósofos são atores de telenovela
B Charles é filósofo
C Charles é ator de telenovela,
pois na lógica o que garante a validade formal de um
argumento é a estrutura/forma e não a verdade/conteúdo.
No entanto, não podemos esquecer que um argumento válido com
ambas as premissas verdadeiras, jamais poderá ter uma conclusão falsa, pois a
verdade das premissas deve ser preservada na conclusão.
Todavia, não podemos esquecer que no domínio argumentativo,
no exercício filosófico, não recorremos à lógica formal, ao domínio da
demonstração, mas sim ao domínio da discussão argumentativa e, aqui a maior
parte das vezes os argumentos que utilizamos são verossímeis, isto é,
aproximam-se da verdade.
Se assim é, que tipo de argumentos podemos encontrar num
discurso argumentativo?
Argumentos indutivos – são argumentos que partem de
premissas/proposições particulares e inferem conclusões gerais, como por
exemplo: “Se todos os cisnes observados até agora são brancos, então todos os
cisnes são brancos.”
“Todos os alunos da escola Secundária Gil Eanes gostam de
Filosofia, logo todos os alunos gostam de Filosofia.”
Neste tipo de argumento, inválido à luz da lógica formal,
dá-se um salto (lógico) do conhecido para o desconhecido, o que não permite
conferir à conclusão um caráter de verdade necessária, mas apenas de
probabilidade, maior ou menor, consoante o nº de casos observados. Estes
argumentos são fortes ou fracos, consoante o grau de probabilidade.
Argumentos por analogia – são argumentos inválidos, à luz da
lógica formal, mas bastante utilizados na argumentação. Consistem numa
comparação entre objetos diferentes e inferem de certas semelhanças outras
semelhanças. Partem do pressuposto de que se diferentes coisas são semelhantes
em determinados aspetos, então também serão noutros. Este tipo de argumento
pode ser classificado de forte ou fraco consoante a comparação.
Exemplo: “Os soldados de um batalhão são decididos,
corajosos e cooperantes. Uma equipa de futebol é como um batalhão. Um batalhão
tem de obedecer ao comandante. Logo, os jogadores de uma equipa de futebol têm
de obedecer às decisões do treinador para poderem atingir os seus objetivos.
Contra-argumentação
O trabalho filosófico não se reduz a argumentar a favor das
nossas teses. Mesmo quando fazemos isso, faz parte de uma boa argumentação
antecipar as críticas aos nossos argumentos, prever possíveis objeções e, se
possível, responder-lhes. Assim, o termo “argumentação” inclui não só a defesa
das nossas ideias, mas também, a contestação de posições alternativas ou
contrárias.
A Conclusão
Depois de especificarmos a posição que defendemos e
argumentarmos favoravelmente à mesma, chegou o momento de apresentarmos a nossa
conclusão. A conclusão pode ser um reforço da nossa tese ou um aprofundamento
da mesma.
Baseado no Manual de Filosofia 10º, Ática, p.p.30 – 36.
(colaboração do Prof. Dr. Francione Carvalho)
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