Trabalhar valores éticos e morais na Educação Infantil é,
indubitavelmente, de suma importância, uma vez que a infância é o
alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e aprende,
também, nos seus primeiros anos de escola.
Embora isso soe como inconteste, só veio aclarar-se, para
mim, em decorrência das observações diárias durante o estágio que fiz em uma de
nossas EMEIs. Nessa escola, constatei que havia, entre alunos conflitos
de espécies várias: agressões verbais e físicas, desrespeito para com os
colegas e para com os próprios educadores, etc. Os professores, por sua vez,
não faziam as intervenções de maneira correta, levando os alunos a
comportamentos inadequados.
Diante de tal situação, tornei-me, num primeiro momento,
indignada. Mas depois passei a pensar numa solução para o problema, numa
maneira de mudar aquele quadro que tomava conta do cotidiano daquela escola e,
parece-me, de outras instituições similares.
Como agir para debelar o mal? Observei que valores
como: moral, ética, cooperação, honestidade, solidariedade, gentileza,
respeito, entre outros – valores os quais são fundamentais para a convivência
social - não eram trabalhados com aqueles alunos. Isso me levou a pensar
num projeto - “O resgate de valores humanos” - e aplicá-lo aos
educandos da EMEI em que eu estagiava.
A minha ação justifica-se tendo em vista que o
desenvolvimento comportamental tem início na infância. Por isso, faz-se
necessário um trabalho docente que enfatize a construção de valores
morais e éticos nos degraus iniciais da escada educacional. Atualmente, estamos
passando por uma crise de valores, em que as pessoas se mostram frias e
alheias às necessidades de seus semelhantes. Tal crise faz-nos repensar o tipo
de cidadão que estamos formando; faz-nos pensar se estamos dando a devida
importância à formação integral do educando ou se estamos preocupados apenas
com a construção de conhecimentos prático-utilitários.
Há necessidade de revermos a prática docente dos
profissionais de Educação Infantil, pelo fato de nos encontrarmos num momento
de desestabilização dos valores humanos, valores estes sem os quais é
impossível viver bem em sociedade. A escola está mais preocupada em ensinar oabc para
seus alunos. Embora isso se faça necessário, é preciso, contudo, que a
instituição escolar se preocupe também com aspectos de caráter humano e social,
que trate seu aluno como um ser integral.
É preciso que nossas escolas ensinem valores humanos, como
cortesia, compaixão, generosidade, doçura, lealdade, respeito, etc. A ausência
desses valores acarreta indisciplina e falta de educação. La Taille (1998)
afirma que “(...) Se as escolas não têm educação moral e ética no seu
currículo diário, ela - a escola - não deve reclamar da indisciplina de seus
alunos (...)”
Os profissionais de Educação Infantil devem se preocupar com
a formação integral de seus alunos, não somente com o desenvolvimento cognitivo
e intelectual, pois é na faixa etária que vai dos 3 aos 6 anos que as crianças
começam a construir sua identidade. Então é fundamental a abordagem de assuntos
relacionados aos valores humanos, para a construção de indivíduos mais
“humanos” e, consequentemente, uma sociedade mais justa.
Segundo Rios (2003, p. 40), os saberes necessários para o
convívio e a inserção de maneira agradável na sociedade se dão através de
saberes adquiridos na escola. Afirma a autora que
(...) A instituição escolar tem como função especifica a
influência do ensinar e, à medida que se destina a ensinar, a convencer os
sujeitos, transmitindo-lhes os saberes necessários para direcionar sua inserção
na sociedade.
2. POR QUE ENFATIZAR OS VALORES MORAIS E ÉTICOS A
PARTIR DA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Antes de responder essa questão, conceituarei os termos
Moral, Ética e Educação Infantil.
Segundo La Taille (1998), Moral é o conjunto de
deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e
na sua dignidade. Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca,
a procura de uma vida significativa, uma “boa vida”.
Segundo a LDB 9394/96, no artigo 29, Educação Infantil é
a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.
Seguindo preceitos da LDB 9394/96, é atribuição dos
profissionais de Educação Infantil trabalhar o aluno como um todo - e não como
um ser fragmentado - em parceria com a família. Todavia, em nossa
realidade, essa parceria acaba dificultada, uma vez que o aluno passa a maior
parte do tempo na escola. Então, cabe à instituição escolar suprir essa
carência.
O fato de nascermos não nos torna um cidadão. A construção
do cidadão e da cidadania se dá se maneira paulatina. Nosso primeiro contato é
o familiar, quando, geralmente, alguns ensinamentos nos são passados.
Posteriormente, o individuo é inserido em um ambiente novo – a escola - ,onde
encontra outros indivíduos, com opiniões e vontades diferentes. Dessa
forma, a escola não deve se prender somente à construção do conhecimento de
conteúdos, e sim levar o aluno à reflexão e a descoberta de valores que são necessários
à vida humana. Essa preocupação em formar um aluno provido de valores humanos
não se restringe à atualidade. Comenius (apud Liberal, 2002, p.145)
afirmava que o papel da escola era:
Formar homens sábios na mente, prudentes nas ações e
piedosos no coração; apoiada nos pilares da inteligência, memória e vontade, a
formação dos homens deve abarcar, particularmente no trato com a juventude, a
instrução, a virtude e a piedade
A escola de Educação Infantil tem de centrar seu trabalho no
desenvolvimento da autonomia de seus alunos; o educador tem de intervir e
explicar, de modo claro e objetivo, as normas e os princípios que balizam as
relações sociais e não somente falar sobre o que deve – ou não deve - ser
feito Segundo
La Taille (op.cit.), os valores morais e éticos que norteiam o comportamento do
indivíduo precisam ficar claros, não podem ser confusos ou inexistentes.
Através dos valores adquiridos na infância é que se forma um individuo atuante
e produtivo para a sociedade.
A importância de trabalharmos valores humanos a partir da
Educação Infantil é projetar uma sociedade mais justa e igualitária, sem
grandes conflitos. O trabalho com valores humanos não se dá por força e nem por
violência e sim através da ludicidade, rodas de conversas diárias, e em todos
os momentos em que forem necessárias as intervenções do educador.
3. O EDUCADOR E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO
Iniciamos esta seção indagando-nos sobre algumas questões
bem pertinentes. O que estamos fazendo com a infância de nossos alunos, que
estão se tornando adultos mal educados? Que tipo de contribuição estamos
oferecendo para a construção do mundo de valores dos nossos alunos? De
quem é a culpa de a nossa sociedade estar cada dia mais violenta e cruel?
Para respondermos a essas questões, recorremos a Rios (2003,
p. 37), que afirma que: “... a escola seria o melhor dos remédios contra os
males da sociedade...” A autora acredita que, se tivermos uma escola boa,
alcançaremos, consequentemente, a sociedade desejada, ou seja, uma sociedade
mais humana.
Queiramos ou não, a escola intervém nos rumos da sociedade,
e é também continuamente influenciada pelo que ocorre fora dos limites
escolares, pois a escola é o reflexo da sociedade. De acordo Rios (id.,
ibid.) a escola:
(...) está sempre posicionada no âmbito da correlação de
forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às
forças que lutam para perpetuar e/ou transformar a sociedade.
Como já foi dito, a função do educador ultrapassa os
limites da mera transmissão de conhecimentos; deve esse profissional considerar
o educando como um ser humano em toda a sua plenitude. Deve estar atento a cada
etapa do processo educacional para que, por meio de um diálogo franco e
igualitário, possa ajudar seu aluno a tornar-se um cidadão, na mais plena
acepção da palavra.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como afirma Rios em seu livro Ética e
competência (2003), a escola tem um grande poder nas mãos, ou seja,
o de formar o indivíduo para a vida, transformar a sociedade,
consequentemente, torná-la mais justa. Entre as muitas prerrogativas do
educador está, além da construção conhecimentos utilitários e intelectuais,
a preparação do cidadão para conviver com os outros.
Percebi, ao redigir esse artigo, que a responsabilidade de
formar cidadãos eticamente conscientes é uma tarefa urgente e não nos permite
adiamentos. Não devemos dessa tarefa – ou simplesmente ignorá-la. Precisamos,
como educadores, aceitar o desafio, sem pensar no grau de dificuldade que ele
apresenta. Não podemos e nem devemos cruzar os braços; temo de dar a cota
de trabalho na formação de cidadãos aptos para um convívio social mais
harmônico e produtivo. E para fechar estas linhas, retomo o que escrevi no
início: a infância é o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que
vivencia e aprende também nos seus primeiros anos de aprendizado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996.
Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e
Bases da Educação-LDB. Brasília, DF, 1996.
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino
Fundamental de nove anos, 2. Ed. Brasília: MEC, 2007.
LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões
educacionais. São Paulo: Ática, 1998
LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Um olhar sobre
ética e cidadania. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e
competência. São Paulo: Cortez, 2003.
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