sexta-feira, 2 de setembro de 2011

OS VALORES MORAIS E ÉTICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalhar valores éticos e morais na Educação Infantil é, indubitavelmente, de suma importância, uma vez que  a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende, também, nos seus primeiros anos de escola.
Embora isso soe como inconteste, só veio aclarar-se, para mim, em decorrência das observações diárias durante o estágio que fiz em uma de nossas EMEIs. Nessa escola, constatei que havia, entre  alunos conflitos de espécies várias: agressões verbais e físicas, desrespeito para com os colegas e para com os próprios educadores, etc. Os professores, por sua vez, não faziam as intervenções de maneira correta, levando os alunos a comportamentos inadequados.
Diante de tal situação, tornei-me, num primeiro momento, indignada. Mas depois passei a pensar numa solução para o problema, numa maneira de mudar aquele quadro que tomava conta do cotidiano daquela escola e, parece-me, de outras instituições similares.
Como agir para debelar o mal?  Observei que valores como: moral, ética, cooperação, honestidade, solidariedade, gentileza, respeito, entre outros – valores os quais são fundamentais para a convivência social  - não eram trabalhados com aqueles alunos. Isso me levou a pensar num projeto -  “O resgate de valores humanos”  - e aplicá-lo aos educandos da EMEI em que eu estagiava.
A minha ação justifica-se tendo em vista que o desenvolvimento comportamental tem início na infância. Por isso, faz-se necessário um  trabalho docente que enfatize a construção de valores morais e éticos nos degraus iniciais da escada educacional. Atualmente, estamos passando por uma crise de valores, em que as pessoas  se mostram frias e alheias às necessidades de seus semelhantes. Tal crise faz-nos repensar o tipo de cidadão que estamos formando;  faz-nos pensar se estamos dando a devida importância à formação integral do educando ou se estamos preocupados apenas  com a construção de conhecimentos prático-utilitários.
Há necessidade de revermos a prática docente dos profissionais de Educação Infantil, pelo fato de nos encontrarmos num momento de desestabilização dos valores humanos, valores estes sem os quais é impossível viver bem em sociedade. A escola está mais preocupada em ensinar oabc para seus alunos. Embora isso se faça necessário, é preciso, contudo, que a instituição escolar se preocupe também com aspectos de caráter humano e social, que trate seu aluno como um ser integral.
É preciso que nossas escolas ensinem valores humanos, como cortesia, compaixão, generosidade, doçura, lealdade, respeito, etc. A ausência desses valores acarreta indisciplina e falta de educação. La Taille (1998) afirma que “(...) Se as escolas não têm educação moral e ética no seu currículo diário, ela - a escola - não deve reclamar da indisciplina de seus alunos (...)”
Os profissionais de Educação Infantil devem se preocupar com a formação integral de seus alunos, não somente com o desenvolvimento cognitivo e intelectual, pois é na faixa etária que vai dos 3 aos 6 anos que as crianças começam a construir sua identidade. Então é fundamental a abordagem de assuntos relacionados aos valores humanos, para a construção de indivíduos mais “humanos” e, consequentemente, uma sociedade mais justa.
Segundo Rios (2003, p. 40), os saberes necessários para o convívio e a inserção de maneira agradável na sociedade se dão através de saberes adquiridos na escola. Afirma a autora que  
(...) A instituição escolar tem como função especifica a influência do ensinar e, à medida que se destina a ensinar, a convencer os sujeitos, transmitindo-lhes os saberes necessários para direcionar sua inserção na sociedade.
2.  POR QUE ENFATIZAR OS VALORES MORAIS E ÉTICOS A PARTIR DA EDUCAÇÃO INFANTIL?
Antes de responder essa questão, conceituarei os termos Moral, Ética e Educação Infantil.
Segundo La Taille (1998), Moral é o conjunto de deveres derivados da necessidade de respeitar as pessoas, nos seus direitos e na sua dignidade. Ética é a reflexão sobre a felicidade e sua busca, a procura de uma vida significativa, uma “boa vida”.
Segundo a LDB 9394/96, no artigo 29, Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
Seguindo preceitos da LDB 9394/96, é atribuição dos profissionais de Educação Infantil trabalhar o aluno como um todo - e não como um ser fragmentado -  em parceria com a família.  Todavia, em nossa realidade, essa parceria acaba dificultada, uma vez que o aluno passa a maior parte do tempo na escola. Então, cabe à instituição escolar suprir essa carência.
O fato de nascermos não nos torna um cidadão. A construção do cidadão e da cidadania se dá se maneira paulatina. Nosso primeiro contato é o familiar, quando, geralmente, alguns ensinamentos nos são passados. Posteriormente, o individuo é inserido em um ambiente novo – a escola - ,onde encontra  outros indivíduos, com opiniões e vontades diferentes. Dessa forma, a escola não deve se prender somente à construção do conhecimento de conteúdos, e sim levar o aluno à reflexão e a descoberta de valores que são necessários à vida humana. Essa preocupação em formar um aluno provido de valores humanos não se restringe à atualidade. Comenius (apud Liberal, 2002, p.145)  afirmava que o papel da escola era:
Formar homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração; apoiada nos pilares da inteligência, memória e vontade, a formação dos homens deve abarcar, particularmente no trato com a juventude, a instrução, a virtude e a piedade
A escola de Educação Infantil tem de centrar seu trabalho no desenvolvimento da autonomia de seus alunos; o educador tem de intervir e explicar, de modo claro e objetivo, as normas e os princípios que balizam as relações sociais e não somente falar sobre o que deve – ou não deve - ser feito            Segundo La Taille (op.cit.), os valores morais e éticos que norteiam o comportamento do  indivíduo precisam ficar claros, não podem ser confusos ou inexistentes. Através dos valores adquiridos na infância é que se forma um individuo atuante e produtivo para a sociedade.
A importância de trabalharmos valores humanos a partir da Educação Infantil é projetar uma sociedade mais justa e igualitária, sem grandes conflitos. O trabalho com valores humanos não se dá por força e nem por violência e sim através da ludicidade, rodas de conversas diárias, e em todos os momentos em que forem necessárias as intervenções do educador.
3. O EDUCADOR E A FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO
Iniciamos esta seção indagando-nos sobre algumas questões bem pertinentes. O que estamos fazendo com a infância de nossos alunos, que estão se tornando adultos mal educados?  Que tipo de contribuição estamos oferecendo para a construção do mundo de valores dos nossos alunos?  De quem é a culpa de a nossa sociedade estar cada dia mais violenta e cruel?
Para respondermos a essas questões, recorremos a Rios (2003, p. 37), que afirma que: “... a escola seria o melhor dos remédios contra os males da sociedade...” A autora acredita que, se tivermos uma escola boa, alcançaremos, consequentemente, a sociedade desejada, ou seja, uma sociedade mais humana.
Queiramos ou não, a escola intervém nos rumos da sociedade, e é também continuamente influenciada pelo que ocorre fora dos limites escolares, pois a escola é o  reflexo da sociedade. De acordo Rios (id., ibid.) a escola:
(...) está sempre posicionada no âmbito da correlação de forças da sociedade em que se insere e, portanto, está sempre servindo às forças que lutam para perpetuar e/ou transformar a sociedade.
 Como já foi dito, a função do educador ultrapassa os limites da mera transmissão de conhecimentos; deve esse profissional considerar o educando como um ser humano em toda a sua plenitude. Deve estar atento a cada etapa do processo educacional para que, por meio de um diálogo franco e igualitário, possa ajudar  seu aluno a tornar-se um cidadão, na mais plena acepção  da palavra.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim como afirma Rios em seu livro  Ética e competência (2003), a escola tem um grande poder nas mãos, ou seja,  o de formar o indivíduo para a vida, transformar a sociedade, consequentemente, torná-la mais justa. Entre as muitas prerrogativas do educador está, além da construção conhecimentos utilitários e intelectuais, a  preparação do cidadão para conviver com os outros.
Percebi, ao redigir esse artigo, que a responsabilidade de formar cidadãos eticamente conscientes é uma tarefa urgente e não nos permite adiamentos. Não devemos dessa tarefa – ou simplesmente ignorá-la. Precisamos, como educadores, aceitar o desafio, sem pensar no grau de dificuldade que ele apresenta.  Não podemos e nem devemos cruzar os braços; temo de dar a cota de trabalho na formação de cidadãos aptos  para um convívio social mais harmônico e produtivo. E para fechar estas linhas, retomo o que escrevi no início: a infância é  o alicerce da vida e o adulto é produto daquilo que vivencia e  aprende também nos seus primeiros anos de aprendizado.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. Brasília, DF, 1996.
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino Fundamental de nove anos, 2. Ed. Brasília: MEC, 2007.
LA TAILLE, Yves de. Limites: três dimensões educacionais. São Paulo: Ática, 1998
LIBERAL, Márcia Mello Costa de. Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2002.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.


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