sexta-feira, 26 de agosto de 2011

FOUCAULT E "O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN" - RESENHA

Com relação ao filme, acabei revendo-o mais de uma vez e fiz algumas considerações, creio que é praticamente impossível assistir a O Segredo de Brokeback Mountain (o título em português) com um olhar imparcial e sem ver sua opinião refletir-se em seu próprio posicionamento acerca do homossexualismo, um tema que ainda representa um tabu enorme quando tratado publicamente, mesmo numa época tão liberal como a que vivemos. Pré-julgamentos e opiniões pessoais à parte, minha impressão é que, se o espectador não concorda com o tema, não adianta o longa conquistar uma pancada de prêmios por aí: a experiência será desagradável, e ponto final. Por outro lado, se você não liga para rotulações e não está nem aí para o que cada um faz de sua vida, resta apenas aproveitar o que o filme realmente é: uma bela história de amor, e dane-se se o casal central é formado por dois homens.

Neste ponto ocorreu-me que muitos são temas abordados – violência, controle social, "loucura", subjetividades, amizade, amor, corpo e sexualidade – evidenciam não só as possibilidades de diálogos com o pensamento filosófico e político de Michel Foucault, mas, também, a vocação do autor para pensar o tempo presente e formular conceitos que contribuíram para o diagnóstico de problemas sociais contemporâneos e até trazer isto para a realidade acadêmica .

Na minha opinião trata-se de uma obra de pura beleza, e como ficou fácil perceber, o negócio é realmente complicado pra definir, mas o cineasta ou diretor é tão preciso em seu trabalho que, em muitos momentos, a gente esquece que são dois caras ali. Uma seqüência em especial, (o momento em que Jack Twist parte em sua pick-up e vê o reflexo de Ennis Del Mar, indo em direção contrária), é de uma tristeza tão grande que creio poucos conseguirão sobreviver a ela sem sentir os olhos lacrimejar.

Não é um filme perfeito, ok: há uma ou outra escolha errada, como a seqüência final absurdamente clichêzenta – pra mim, surtiu o mesmo efeito do final de Titanic, na boa – e alguns lapsos da bela trilha sonora em certos momentos insiste em querer ser épica e grandiosa. O que mais me incomodou foi a indecisão do roteiro - como na vida - em ousar ou não ousar no relacionamento de Ennis e Jack. Explico: o primeiro contato íntimo entre os dois é uma seqüência pesadíssima. A partir daí, as coisas ficam bem mais amenas, resumindo-se a um ou outro abraço e alguns “beijos” aparentemente forçados. Numa cena em especial, tive a impressão de que Jake Gyllenhaal encolheu a boca na hora de beijar… Sério! :-D Num trabalho deste naipe, ou o filme entrega-se por completo ou não se entrega. Não dá para ficar no meio-termo, acho.

Evidencia principalmente a angústia das personagens masculinas em não poder pular de cabeça no amor que sentem um pelo outro, minha percepção pessoal foi de um longa bonito, comedido, triste, absolutamente depressivo e, acima de tudo, importante. Para se assistir com o coração aberto, sem importar-se se o casal retratado na tela é gay, bissexual, lésbica, heterossexual ou qualquer outro rótulo.


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