quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A DINÂMICA FEUDAL

O Feudalismo - parte 3 - Dinâmica
A DINÂMICA.

Mal estava completada sua estruturação, o Feudalismo já começava a apresentar transformações, com o próprio movimento do corpo social desencadeando mutações.
Nascido em fins do séc.IX ou princípios do X, após centenas de anos de gestação, o Feudalismo conheceu seu período de mais intenso crescimento de meados do séc.XI a meados do séc.XIV.
Isso foi possível devido a reorganização da sociedade ocidental em novos moldes de acordo com as condições decorrentes do fracasso do Império Carolíngio e com as profundas transformações que ocorriam há séculos.

A reorganização de suas estruturas provocava movimentos que acabariam por abalar seus próprios fundamentos.

A revitalização da sociedade levou a um triplo crescimento: demográfico, econômico e territorial.


Na época feudal dois importantes fatores de mortalidade foram pouco ativos: epidemias e guerras.

A natalidade, favorecida pela abundância de recursos naturais, suavização do clima, transformação jurídica do escravo e inovações das técnicas agrícolas.
Apesar de ter havido desbravamento e a ocupação de vastos territórios, a densidade populacional quase dobrou de fins do séc.VIII a fins do XIII.Um fator que explica esse crescimento foi a ausência de epidemias entre os séc.X-XII, outro fator foi o tipo de guerra realizada: constante, mas pouco destrutiva, que não envolvia grandes exércitos, apenas pequenos bandos de guerreiros de elite, os cavaleiros.

Na verdade a guerra na época feudal não objetivava a morte do adversário, mas sim sua captura.

Um terceiro elemento foi a abundância de recursos naturais. O recuo demográfico dos séc.III-VIII fizera com que extensas áreas anteriormente cultivadas fossem abandonadas e ocupadas por bosques e florestas. A maior produtividade agrícola devia-se em parte ao cultivo dessas zonas depois de desmatadas, sobre solo virgem de grande fertilidade. Outra conseqüência do aumento das áreas de floresta foi que desde meados do sécVII o clima da Europa Ocidental tornou-se mais seco e temperado que antes, o que favoreceu a produtividade agrícola.
Outro fator foi a passagem da escravidão para a servidão, que teve influência positiva no incremento populacional. A melhoria do estado jurídico do escravo incentivava a sua reprodução. Ele passava e ter um lote de terra para cultivar, obrigações fixas e não podia ser separado da família.

Algumas Inovações técnicas também beneficiaram a produção agrícola. Três aperfeiçoamentos exerceram ação direta sobre o desenvolvimento agrícola da população: a Charrua, um tipo de arado mais eficiente; novo sistema de atrelar os animais, possibilitando utilizar mais eficientemente sua força motriz; sistema de rodízio de terras, onde ocorria uma alternância de cultivos sobre uma mesma área, impedindo que ele se esgotasse.

O crescimento econômico manifestou-se, sobretudo através de três fenômenos: maior produção, progresso do setor urbano e acentuada monetarização.
Foram os excedentes gerados pela agricultura que forneceram matérias primas para a indústria artesanal e permitiram a intensificação do comércio.
O incremento da produção teve como ponto de partida as inovações técnicas e a melhoria climática.

O crescimento populacional era mais intenso e incentivava a procura por novas áreas para a agricultura. Dessa forma a área cultivável da Europa Ocidental estendeu-se bastante. Muitas terras então ocupadas não eram propicias a agricultura, sendo entregues a pecuária. Assim esse setor conheceu um grande avanço.

No setor secundário, a produção, conhecia claros progressos. Desenvolvia-se principalmente a indústria têxtil e de construção, resultado das necessidades impostas pelo crescimento demográfico.

É importante lembrar que a sociedade permanecia essencialmente agrária. As cidades cresciam basicamente devido a imigração de camponeses, que viam na fuga para as cidades uma forma de escapar à dependência de um senhor.

Se tornaria claro a partir de meados do séc. XII o conjunto de transformações que começava a comprometer o Feudalismo.

A cidade não podia desligar-se do mundo feudal, de onde recebia matérias e reforço populacional. Passaria a se ligar a pessoas ou a outras cidades através de contratos feudo-vassálicos. Não raro submetiam a zona rural vizinha.

O progresso urbano era parte do progresso econômico global do Feudalismo. Sem o desenvolvimento econômico do campo não teria sido possível o desenvolvimento das cidades.
O revigoramento do artesanato e do comércio implicava na ativação da economia monetária. O aumento da produção tornou necessário vender o excesso criando oportunidades de compras, o que levou a se recolocar em circulação moedas e metais preciosos.
Essa monetarização, ao mesmo tempo em que expressava o vigor do Feudalismo, contribuía para importantes transformações. As obrigações servis puderam passar a ser pagas em moeda. A maior produtividade permitia aos camponeses ficarem com um excedente que podiam vender e obter uma renda monetária. O senhor feudal, desejando comprar produtos orientais precisava de cada vez mais moeda, que passava a receber dos servos ao invés de produtos ou serviços e ele podia assim contratar mão de obra assalariada.
Assim ia se descaracterizando um dos elementos centrais do Feudalismo.

O crescimento territorial foi o resultado lógico da necessidade de exportar os excedentes de população e mercadoria; representou uma tentativa instintiva de expulsar o excesso de vitalidade que poderia sufocá-lo.

Limitado originalmente ao antigo Império Carolíngio, desde meados do séc.XI o feudalismo penetrou na Inglaterra, no Oriente Médio e na Península Ibérica.
Na Inglaterra o Feudalismo foi implantado a partir da conquista pelo duque da Normandia Guilherme, O Conquistador, em 1066. No período pré-normando existia um campesinato dependente, mas somente depois da conquista de 1066 é que as relações de dominação sobre os trabalhadores se generalizaram e senhoralizaram.

Na Síria-Palestina o Feudalismo foi implantado em fins do séc.XI com as cruzadas. Ao contrário da Inglaterra, onde as condições eram favoráveis, no Oriente Médio o contexto era bastante diferente. Jamais o Feudalismo conseguiu lá penetrar em todos os aspectos da vida cotidiana. Com o desaparecimento dos Estados Cruzados em fins do séc.XII, nada restou de testemunho profundo de uma época feudal.

Na Península Ibérica havia feições próprias. Na sua primeira etapa, a gênese, até princípios do séc.VIII, a situação era análoga a da frança, contudo a conquista muçulmana impediu que os elementos pré-feudais continuassem a se desenvolver, mas esses foram reativados a partir de meados do séc.XI, em função de questões internas e externas à península.
Primeiro, o enfraquecimento do domínio muçulmano e a necessidade de expansão da comunidade cristã Ibérica devido ao crescimento populacional. Segundo, as transformações sofridas pelo Feudalismo de além-Pirineus que levavam monges, peregrinos, marginais e nobres sem terra a procurar a solução de seus problemas na Espanha. Assim o Feudalismo Ibérico não resultou de uma evolução natural como na França, nem de uma transposição repentina como na Inglaterra. Não foi um fenômeno limitado e artificial como no Oriente Médio, nem espontâneo e profundo como na maior parte do ocidente.
O Feudalismo pôde manter sua capacidade de crescimento enquanto houve certo equilíbrio entre os três elementos básicos, capital, natureza e trabalho.
Era, contudo, um equilíbrio precário.

O progresso técnico era pequeno e o aumento da produção ficava restrito à disponibilidade dos fatores natureza e força de trabalho. A dinâmica feudal mostrava os limites do sistema e encaminhava-o para a crise.



Bibliografia:
"O Feudalismo". FRANCO JR, Hilário; Brasiliense; São Paulo; 4º edição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário