quinta-feira, 8 de abril de 2010

RESENHA - A INTERPRETAÇÃO DAS CULTURAS - CAPÍTULO I - GEERTZ CLIFFORD

Uma Descrição Densa
C. Geertz (1926 – 2006) é o fundador da Antropologia Interpretativa, representando um divisor de águas no tema. É uma contraposição ao modelo Levi-straussiano da antropologia estrutural, propondo uma nova Teoria Antropológica. 
O autor possui a ambição de falar em culturas (no plural) do ser humano. A ação humana é uma atividade estruturante, um efeito de superfície. Geertz busca o que pode ser inferido/interpretado nos relatos etnográficos. Hoje há uma grande cautela em se explorar o inconsciente através das ações reais como manifestações de ações do consciente.
A interpretação do que acontece, segundo o autor, não pode se distanciar daquilo que acontece. Para ele, o trabalho do antropólogo é realizar etnografia. A obra “Grande Sertão – Veredas” de Guimarães Rosa pode ser considerada um exemplo ao que Geertz se refere no Brasil. 
Um ser humano pode ser um enigma completo para outro ser humano. Nós não compreendemos o povo, ainda que dominemos seu idioma. Nós não podemos nos situar entre eles. Neste trecho, ele faz uma crítica a B. Malinovski. Para Geertz, falta interpretação à descrição etnográfica de Malinovski.
A Antropologia Interpretativa exige grande rigor e precisão conceitual.
O antropólogo tenta entender o que acontece, mas também está no meio do acontecimento. Por isso, teorias antropológicas também são temporárias, elas também estão no meio da travessia. 
A cultura nunca é igual, é sempre uma recriação. O ser humano expressa sua experiência vivida. As especificidades são complexas e possuem um caráter único. Generalizações devem ser feitas com critérios. Para compreender o que o ser humano faz, é necessário entender uma ação dentre várias outras e localizá-la, caracterizá-la. No estudo da cultura, a tarefa essencial da construção teórica não é codificar regularidades abstratas, mas tornar possíveis descrições minuciosas, não generalizar através dos casos, mas generalizar dentro deles. 
Geertz recupera o conceito de Max Weber, que afirma que o homem é um ser amarrado em teias de significados que ele mesmo teceu. A cultura é, portanto, uma ciência interpretativa, em busca do significado. O comportamento é uma ação simbólica. O fluxo do comportamento (ação social) faz com que as formas culturais se articulem. O significado emerge do papel que desempenham. A cultura é pública porque o significado o é. No estudo da cultura, os significantes não são sintomas ou conjunto de sintomas, mas atos simbólicos e o objetivo não é a terapia, mas a análise do discurso social.
O autor esclarece que para o desenvolvimento do estudo, não é necessário se tornar um “nativo”, mas conversar com eles. Sob este aspecto, o objetivo da antropologia é o alargamento do universo do discurso humano. Compreender a cultura de um povo expõe a sua normalidade sem reduzir a sua particularidade.
Os textos antropológicos são interpretações (de qualidade discutível, uma vez que apenas um “nativo” pode interpretar sua cultura). Antropologia é, portanto, ficção, algo construído, modelado. Não falsa, mas não-factual ou apenas experimentos de pensamentos. 
Embora a cultura possa existir no posto comercial, no forte da colina, no pastoreio de carneiros, a antropologia existe nos livros, nos artigos, nas conferências, na exposição e no museu como ocorre nos filmes.
É necessário haver um mínimo coerência para que sejam caracterizados os sistemas culturais. 
A descrição etnográfica para Geertz é, portanto, interpretativa e microscópica (os antropólogos não estudam as aldeias, eles estudam nas aldeias).
Há uma série de características de interpretação cultural que tornam ainda mais difícil o seu desenvolvimento teórico. A primeira é a necessidade de a teoria conservar-se mais próxima do terreno do que parece ser o caso em ciências mais capazes de se abandonarem a uma abstração imaginativa. Somente pequenos vôos de raciocínio tendem a ser efetivos em antropologia; vôos mais longos tendem a se perder em sonhos ilógicos, em embrutecimentos acadêmicos com simetria formal.
As idéias não aparecem inteiramente novas a cada estudo, são adotadas de outros estudos relacionados e refinadas durante o processo, aplicadas a novos problemas interpretativos. Se deixarem de ser úteis com referência a tais problemas, deixam também de ser usadas e são mais ou menos abandonadas. Se continuam a ser úteis, dando à luz novas compreensões, são posteriormente elaboradas e continuam a ser utilizadas. 

Olhar as dimensões simbólicas da ação social não é afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de algum domínio empírico de formas não-emocionalizadas, é mergulhar no meio delas. A vocação essencial da Antropologia interpretativa não é responder às nossas questões mais profundas, mas colocar à nossa disposição as respostas que outros deram e assim incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem falou

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