Diversos
fatores concorrem para que a integração curricular se efetive. São fatores que
se entrelaçam e dependem do desenho da educação integral proposta – que, no meu
entender, se desenvolve em tempo integral –, seus objetivos, a quem visa
atender, quem desenvolve as atividades. É bom esclarecer um de seus
pressupostos: a integração curricular não é espontânea, ela é construída,
depende de intenção e planejamento, de trabalho coletivo e organização para que
possa ser alcançada. Alguns aspectos facilitam a integração curricular; o que
não significa que garantam. Outros dificultam essa integração; o que não quer
dizer que a impeçam.
Tomemos
como modelo uma proposta de educação integral que tenha todos os fatores
favoráveis para essa integração: primeiro, ela se dá em tempo integral para
alunos e professores, assim toda a comunidade escolar pode desfrutar do contato
prolongado ao longo do dia, todos os dias; segundo, todos os alunos estão
incluídos no projeto, portanto não há necessidade de separar atividades curriculares
num turno e atividades de ampliação curricular/jornada em outro, permitindo a
organização do horário que entremeia atividades de concentração intelectual com
atividades de expressão artística, por exemplo; dessa forma, os profissionais
de diferentes formações terão oportunidade de convivência próxima, trocando
ideias, incorporando novas práticas; terceiro, há disponibilidade de
infraestrutura e espaço na escola para o desenvolvimento das diversas
atividades, desse modo os vários profissionais e alunos têm possibilidade de
aproximação maior porque partilham lugares comuns. Por mais que se possam
organizar atividades no espaço dentro da escola, facilitando proximidade entre
os participantes da comunidade escolar, é sempre estimulante, desejável e enriquecedor
desenvolver atividades em espaços da cidade/município, não por falta de espaço
escolar, mas pelo objetivo mesmo de vivenciar o espaço extraescolar.
Apesar
do modelo descrito, os fatores que favorecem a integração curricular por si só
não são suficientes para que ela seja construída, mesmo supondo as condições
necessárias como recursos materiais e humanos suficientes, além da
infraestrutura adequada. É indispensável que os objetivos do projeto de
educação integral sejam não apenas conhecidos por todos os integrantes da
comunidade escolar, como partilhados, processo que ocorre quando se dá a
construção coletiva desses objetivos. Vamos supor um município que tenha como
programa de governo desenvolver educação integral em tempo integral em determinado
número de escolas.
O
processo de discussão interno da escola para avaliar se ela apresenta condições
para aderir a esse projeto já constitui a primeira etapa da sua discussão
coletiva. Para que a adesão se fortaleça, processo que ocorre no debate para operacionalização
do projeto, é necessário garantir tempo regular de discussão coletiva,
previsto, inclusive, no calendário escolar. Essa discussão coletiva é um
processo formativo que deve atender a demandas da própria escola como a temas
que os implementadores do projeto considerem pertinentes. o que se quer
destacar é que o projeto de educação integral é da escola e não de alguns
professores, portanto a escola o constrói na medida em que pavimenta suas
etapas através da sua discussão coletiva. É um processo formativo de equipe,
que pode ser auxiliado pela presença de especialistas para aprofundar
determinados temas, como também pela instituição da função de coordenador do
projeto, professor da escola que atue exatamente no sentido de buscar a
integração das diversas linguagens através da articulação dos vários
profissionais organizados no tempo e no espaço.
Um
fator que pode favorecer a integração curricular diz respeito aos profissionais
que vão desenvolver o projeto. Se são todos professores, apesar da grande
variedade de concepções de educação e de mundo com as quais se identificam, já
se parte de uma base comum para o desenvolvimento de qualquer projeto, porque
partilham, de certa maneira, de formação equivalente, de condições de trabalho
semelhantes, legitimados por processos regulatórios comuns. Se são
profissionais com formações diversas e em níveis diferenciados, esse processo
de integração provavelmente vai requerer esforço maior, tendo em vista que a
aproximação entre diferentes ou desiguais pode ser delicada, às vezes
conflituosa, e supõe a construção de bases compatíveis como carga horária,
remuneração, participação em decisões, entre outras. Não se quer dizer que
trabalhar exclusivamente com professores é a melhor proposta; o que se quer é
chamar atenção para o fato de que a integração da diversidade pede mais
cuidado. Vale lembrar que nem sempre há professores disponíveis para a
variedade de linguagens que se quer oferecer, como também que a diversidade de
profissionais é muito enriquecedora.
Nos
municípios que já pesquisamos, particularmente no Ceará, temos visto projetos
de educação integral com professores, com monitores e com ambos. de maneira
geral, para as atividades mais “curriculares” como reforço escolar em Sobral,
tarefa orientada em Eusébio, e acompanhamento pedagógico nos moldes do Programa
Mais Educação, em Maracanaú, a opção é o trabalho do professor. Como também era
nos CiEPs de darcy ribeiro para o estudo dirigido. Para as atividades
artísticas, esportivas, artesanais e outras tanto encontramos professores como
monitores ou equivalentes. Em alguns municípios, por falta de profissional
disponível; neste caso costuma-se exigir Ensino Médio completo e relação
institucional reconhecida, como é o caso de mestres de capoeira, de participantes
de grupo de teatro ou de dança. Em outros municípios, recorre-se a artesãos que
não são professores, mas têm saber próprio reconhecido e fortalecem articulação
comunitária, como vimos em Eusébio com rendeiras e outros artesãos.
A
incorporação desses profissionais à vida escolar é, sem dúvida, enriquecedora,
mas a solução funcional para sua integração ainda é um desafio. Na época dos
CiEPs, esta atividade era desenvolvida pelo animador cultural, considerada uma
função indispensável para a articulação da escola com a comunidade. Entretanto,
não se encontrou solução jurídica, na época, para que pudessem participar de
concurso público.
Começamos
este texto com a proposta de educação integral em tempo integral que envolve
todos os alunos e os professores, partindo do pressuposto de que esse fato
facilita o processo de integração curricular. o que fazer se o projeto não
inclui todos os alunos, nem todas as atividades são desenvolvidas por
professores, nem a escola conta com os espaços necessários para todas as atividades?
Essas circunstâncias tornam premente a discussão coletiva sobre o projeto, com
encontros regulares previstos, para que todos se sintam não apenas
conhecedores, mas também responsáveis pelas soluções encontradas para:
prioridade para demandas de infraestrutura, organização do espaço, organização
do tempo, critério de prioridade de alunos, critério de seleção de
profissionais, perfil de coordenador, processo de formação, entre outros tantos
temas que a educação integral requer.
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