quarta-feira, 3 de dezembro de 1997

ENSAIO ACADÊMICO - TESE ARGUMENTAÇÃO E CONTRA-ARGUMENTAÇÃO

Visão Geral do Ensaio Acadêmico: Tese, Argumentação e Contra-argumentação
A definição clara do argumento é essencial em todas as formas de redação acadêmica, pois a escrita é o pensamento tornado visível. As percepções e ideias que nos ocorrem quando encontramos o material bruto do mundo – fenômenos naturais, como o comportamento dos genes, ou culturais, como os textos, as fotografias e os artefatos – devem ser ordenados de alguma forma para que os outros possam recebê-los e responder-lhes. Esse dar e receber está no coração do empreendimento acadêmico, e torna possível essa vasta conversação conhecida como civilização.
Como em todos os empreendimentos humanos, as convenções do ensaio acadêmico são tanto lógicas quanto divertidas, como numa fuga de Bach.
Elas podem variar em expressão de disciplina para disciplina, mas são dirigidas para um fim comum:
Um bom ensaio deve nos mostrar uma mente desenvolvendo uma tese, enraizando essa tese nas evidências, antecipando habilmente objeções ou contra argumentos e sustentando o ímpeto da descoberta.
Motivo e Idéia
Todo ensaio têm uma finalidade ou objetivo; a mera existência de uma tarefa ou de um prazo não é suficiente. Ao redigir um ensaio ou artigo de pesquisa, nunca se está simplesmente transferindo informações de um lugar para outro, ou demonstrando o domínio sobre uma certa quantidade de materiais. Isso seria terrivelmente enfadonho
– e além disso, apenas se acrescentaria à abundância de discursos sem importância. Ao invés disso, deve-se tentar estabelecer a melhor instância possível de uma idéia original à qual se chegou após um período de pesquisas – o que pode requerer, dependendo do campo, a leitura ou releitura de  um texto, a realização de um experimento ou a observação cuidados a de um objeto ou de um  comportamento.
Ao aprofundar - se no material, você começa a descobrir padrões e a gerar percepções, guiado por uma série de questões que se desdobram. De certo número de possibilidades, uma idéia emerge, gradual ou subitamente como a mais promissora. Você tenta certificar-se de que ela é original e tem alguma importância; não faz sentido argumentar sobre algo já conhecido, trivial ou amplamente aceito. É preciso avaliar se a idéia pode ser tratada numa breve nota, num artigo de vinte páginas ou se requer um livro inteiro.
Decidindo sobre uma Tese
Tendo estabelecido essas questões, você continua a procurar formas de testar a sua idéia e de convencer os outros de sua legitimidade e significância. Essa é a tese do trabalho, o argumento central que você está tentando construir, utilizando a melhor evidência que puder juntar. Sua tese provavelmente evoluirá no curso da redação dos rascunhos, mas tudo o que ocorre em seu ensaio está direcionado para o estabelecimento de sua validade. Uma dada tarefa pode pedir-lhe que responda uma questão ou compare duas teorias, ou simplesmente escreva um texto sobre um tópico de sua escolha.
Pode não lhe dizer que você tem de propor uma tese e defendê-la, mas esses são os requisitos latentes em qualquer texto acadêmico.
Decidir com respeito a uma idéia é capaz de gerar considerável ansiedade. Os alunos chegam a pensar: “Como é possível ter uma idéia nova sobre um assunto que os estudiosos gastam toda a sua vida explorando? Li apenas alguns livros nos últimos dias e agora sou considerado um especialista?”. Entretanto, você pode ser original em várias escalas. E um pouco de bom senso é inestimável. Não é possível saber tudo o que foi, ou está sendo, pensado ou escrito por todos os autores do mundo – mesmo considerando a vastidão e a velocidade da Internet.. O que é preciso é um esforço rigoroso e sério para estabelecer a originalidade, considerando as demandas do problema e da disciplina.
Convencendo a Audiência
Um bom exercício durante o processo da escrita é parar periodicamente e reformular sua tese da forma mais sucinta possível, para que alguém em outro campo possa entender o seu significado, bem como sua
importância. Uma tese pode ser relativamente complexa, mas você deve ser capaz de destilar sua essência.
Isso não significa que tenha que voltar ao início do jogo. Orientado por um entendimento claro do ponto que deseja argumentar, você pode estimular a curiosidade de leitor fazendo perguntas – as mesmas perguntas que podem ter orientado sua pesquisa - e construir cuidadosamente um exemplo para validar sua idéia. Ou você pode começar com uma observação provocativa, convidando a audiência a acompanhá-lo no próprio caminho de descoberta.
O cerne do ensaio acadêmico é a persuasão. E para persuadir é preciso montar o cenário, fornecer um contexto e decidir como revelar sua evidência. Você já está convencido da originalidade e importância de sua idéia; agora é preciso convencer os outros que não trilharam o mesmo caminho de descoberta e que podem não compreender o contexto de sua investigação. Muitos autores cometem o erro de supor que sua audiência é sensível, capaz de perceber o que não foi explicado. O resultado é um texto hermético e obscuro.
Obviamente, se você está lidando com uma comunidade de especialistas, alguns aspectos de um contexto compartilhado podem ser omitidos. Mas a clareza é sempre uma virtude.
A Tensão dos Argumentos
A argumentação implica em tensão, mas sem fogos de artifício. Essa tensão decorre da assimetria fundamental entre aquele que quer persuadir e os que devem ser persuadidos. O terreno comum entre as partes é a razão. O objetivo é construir um caso de forma que qualquer pessoa razoável seja convencida da razoabilidade de sua tese. A primeira tarefa, mesmo antes de começar a escrever, é coletar e ordenar evidências, classificando-as pelo tipo e pela força. Você pode decidir passar da mais insignificante peça de evidência para a mais importante. Ou pode começar com a mais convincente e, a seguir, mencionar as outros detalhes que dão suporte adicional. Você pode reter uma peça de evidência até o último instante, e alcançar o efeito surpresa.
De todo modo, é importante analisar as evidências que possam ser utilizadas contra a sua idéia e gerar respostas antecipadas a objeções. Esse é o conceito crucial da contra-argumentação. Se nada pode ser dito contra uma idéia, ela provavelmente é óbvia ou vazia. (E se houver contra-argumentação em demasia, é hora de procurar outra tese.) Ao não demonstrar conhecimento das possíveis objeções, você pode dar a entender que está escondendo algo e seus argumentos serão, conseqüentemente, mais fracos. É preciso familiarizar-se com as diversas falácias que podem minar um argumento – a falácia da falsa representação, da causação e da analogia,etc. – e empenhar-se por evitá-las.
A estrutura dos argumentos desempenha um papel importante no sucesso. O objetivo do ensaio deve ser descrito brevemente, colocando a questão que conduzirá à sua tese ou fazendo a declaração de uma tese. Há considerável flexibilidade a respeito de quando e onde isso ocorre, porém devemos saber o caminho que estamos trilhando, mesmo que algum suspense bem-vindo seja preservado.
No corpo do texto, a simples listagem de evidência sem qualquer lógica de apresentação discernível, é um erro comum.
O que pode ser suficiente numa conversação pode ser muito informal num ensaio. Se o ponto que se defende se perde numa massa confusa de detalhes, a argumentação vacila.
A estrutura argumentativa mais comum na prosa é a dedutiva: começando com uma generalização ou asserção e, a seguir, fornecendo o suporte. Esse padrão pode ser utilizado para ordenar um parágrafo, bem como um ensaio inteiro. Outra estrutura possível é a indutiva: fatos, exemplos ou observações podem ser analisados e a conclusão a ser extraída se segue.
Não existe uma fórmula para um ensaio bem-sucedido; os melhores ensaios nos mostram uma mente concentrada, dando sentido a algum aspecto controlável do mundo, uma mente na qual a percepção, a razão e a clareza caminham juntas.

domingo, 6 de abril de 1997

A HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO - BREVE RESUMO SOBRE AS RUPTURAS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

Educação no Brasil: a História das rupturas

Introdução
A História da Educação Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de serem observadas.
A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam características próprias de se fazer educação. E convém ressaltar que a educação que se praticava entre as populações indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu.
Num programa de entrevista na televisão o indigenista Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer."
Podemos também obter algumas noções de como era feita a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta.
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos.
Este método funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentaram-se as aulas régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo.
Na verdade não se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em São Paulo.
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da República tentou-se várias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira não sofreu um processo de evolução que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é a de manter o "status quo" para aqueles que frequentam os bancos escolares.
Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. E é isso que tentamos passar neste texto.
Os períodos foram divididos a partir das concepções do autor em termos de importância histórica.
Se considerarmos a História como um processo em eterna evolução não podemos considerar este trabalho como terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato momento em que esse texto está sendo lido. A educação brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas direções.


Período Jesuítico (1549 - 1759)
A educação indígena foi interrompida com a chegada dos jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega, quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao ensino e a propagação da fé religiosa.
No Brasil os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e, em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).
Quando os jesuítas chegaram por aqui eles não trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum. Eles não se limitaram ao ensino das primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Físicas e Naturais.
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos.
No momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histórica num processo já implantado e consolidado como modelo educacional.


Período Pombalino (1760 - 1808)
Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Studiorum.
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcopal, no Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadência que se encontrava diante de outras potências europeias da época. Além disso, Lisboa passou por um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado.
Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não se articulava com as outras.
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução vinda de Portugal.
Os professores geralmente não tinham preparação para a função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.
O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do século XIX, a educação brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educação.

Período Joanino (1808 – 1821)
A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para atender as necessidades de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que os fatos e as ideias fossem divulgados e discutidos no meio da população letrada, preparando terreno propício para as questões políticas que permearam o período seguinte da História do Brasil.
A educação, no entanto, continuou a ter uma importância secundária. Para o professor Lauro de Oliveira Lima (1921-    ) "a 'abertura dos portos', além do significado comercial da expressão, significou a permissão dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno chamado civilização e cultura".

Período Imperial (1822 - 1888)
D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D. Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824, outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os cidadãos".
Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor.
Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução: Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias. Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas.
Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as províncias passariam a ser responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que, pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais uma vez, obtendo resultados pífios.
Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo.
Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.

Período da Primeira República (1889 - 1929)
A República proclamada adotou o modelo político americano baseado no sistema presidencialista. Na organização escolar percebe-se influência da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como também a gratuidade da escola primária. Estes princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Constituição brasileira.
Uma das intenções desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não apenas preparador. Outra intenção era substituir a predominância literária pela científica.
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, tornando o ensino enciclopédico.
O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literária em detrimento da científica.
A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como simples promotor a um nível seguinte. Retomando a orientação positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que não seja por escolas oficiais, e de frequência. Além disso, prega ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de assistência e aproveitamento e transfere os exames de admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira.
Num período complexo da História do Brasil surge a Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cívica com a intenção de tentar combater os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes.
A década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudança das características políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927).
Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas diversas reformas de abrangência estadual, como as de Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em Pernambuco, em 1928.

Período da Segunda República (1930 - 1936)
A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produção industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educação. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona decretos organizando o ensino secundário e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como "Reforma Francisco Campos".
Em 1932 um grupo de educadores lança à nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da época.
Em 1934 a nova Constituição (a segunda da República) dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos.
Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal, Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de Educação na qual se situava o Instituto de Educação.

Período do Estado Novo (1937 - 1945)
Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova Constituição em 1937. A orientação político-educacional para o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e profissional.
Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação. Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primário Também dispõe como obrigatório o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias.
No contexto político o estabelecimento do Estado Novo, segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as discussões sobre as questões da educação, profundamente ricas no período anterior, entrem "numa espécie de hibernação". As conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas.
Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino profissionalizante.
O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial, podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário, entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial.

Período da Nova República (1946 - 1963)
O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova Constituição, na área da Educação, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de 30.
Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a Revolução de 1930.
Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta ideológica em torno das propostas apresentadas. Num primeiro momento as discussões estavam voltadas às interpretações contraditórias das propostas constitucionais. Num momento posterior, após a apresentação de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha geração de 1930, e a participação das instituições privadas de ensino.
Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o monopólio estatal para a oferta da educação aos brasileiros.
Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início a sua ideia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da Educação e Cultura; em 1961 a tem inicio uma campanha de alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método Paulo Freire.

Período do Regime Militar (1964 - 1985)
Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e subversivas".
O Regime Militar espelhou na educação o caráter antidemocrático de sua proposta ideológica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores.
Neste período deu-se a grande expansão das universidades no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatório.
Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... Não conseguiu. E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no seu lugar criou-se a Fundação Educar.
É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expressão popular contrária aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar a formação educacional um cunho profissionalizante.

Período da Abertura Política (1986 - 2003)
No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um caráter político. Para isso contribuiu a participação mais ativa de pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e à dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar, profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento pedagógico, passaram a assumir postos na área da educação e a concretizar discursos em nome do saber pedagógico.
No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio.
Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político.
Mesmo que possamos não concordar com a forma como foram executados alguns programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos na área da educação numa só administração.
O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e o seu "Provão", onde os alunos das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada em consideração como avaliação das instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do mundo, que é mais o de manter o "status quo", para aqueles que frequentam os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos básicos, para serem aproveitados pelos estudantes em suas vidas práticas.
Concluindo podemos dizer que a História da Educação Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, onde em cada período determinado teve características próprias.
A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas se propõem a ensinar. Somente uma avaliação realizada em 2002 mostrou que 59% dos estudantes que concluíam a 4ª série do Ensino Fundamental não sabiam ler e escrever.
Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o que se presenciou foi o caos e muitas propostas desencontradas que pouco contribuíram para o desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.
É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura. E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do modelo europeu de educação, criando soluções novas em respeito às características brasileiras. Como fizeram os países do bloco conhecidos como Tigres Asiáticos, que buscaram soluções para seu desenvolvimento econômico investindo em educação. Ou como fez Cuba que, por decisão política de governo, erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe para a sala de aula todos os cidadãos cubanos.
Na evolução da História da Educação brasileira a próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse único, que atenda às necessidades de nossa população e que seja eficaz.
REFERÊNCIAS
LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da educação no Brasil: de Pombal a Passarinho. 3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969. 363 p.
PILLETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino de 1o grau. 22. ed. São Paulo: Ática, 1996.
________ . Estrutura e funcionamento do ensino de 2o grau. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995.
________ . História da educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Ática, 1996a.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1991


sexta-feira, 6 de novembro de 1992

O LIBERALISMO ECONÔMICO

A ESCOLA CLÁSSICA INGLESA
No decorrer dos séculos XVIII e XIX, o pensamento econômico inglês evoluiu e refletiu as mudanças enfrentadas pela sociedade. Se no século XVI, os mercantilistas viam na obtenção do ouro e da prata a maneira mais importante de enriquecer o país, a própria necessidade de exportar para adquirir o metal evidenciou aos economistas a verdadeira fonte de riqueza: a capacidade de produzir. Surgiram obras sobre as causas da riqueza, a divisão do trabalho, a ação do Estado, os salários, o mercado que, a partir da experiência da economia inglesa, vão embasar a teoria do liberalismo econômico.
0 liberalismo econômico prega o fim da intervenção do Estado na produção e na distribuição das riquezas, o fim das medidas protecionistas e dos monopólios e defende a livre concorrência entre as empresas e a abertura dos portos entre os países. Foi defendido por escritores como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, James Mill, Nassau Senior entre outros que formaram a "Escola Clássica Inglesa".

ADAM SMITH
0 escocês ADAM SMITH (1723-1790) publicou, em 1776, a mais importante obra de economia do século XVIII: "Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações", onde procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava do trabalho dos indivíduos que, seguindo seus interesses particulares, promoviam, no conjunto, a ordem e o progresso da nação.
Para Smith, ao contrário dos mercantilistas, não havia necessidade de o Estado intervir na economia, pois ela era guiada por uma "mão invisível", isto é, pelas leis naturais do mercado.Essas leis eram a livre concorrência e a competição entre os produtores as quais determinavam o preço das mercadorias e eliminavam os fracos e os ineficientes. Assim, o próprio mercado regulamentava a economia, trazendo a harmonia social, sem a necessidade da intervenção da autoridade pública.
Smith ensinava que a produção nacional podia crescer através da divisão do trabalho, criando especializações capazes de aumentar a produtividade e fazer baixar o preço das mercadorias.Como exemplo, citava uma fábrica de alfinetes onde a divisão e a especialização levavam os operários a produzir 48 000 alfinetes num dia, enquanto que o trabalho executado isoladamente produzia cerca de 20 alfinetes. Na opinião de Smith, se o trabalho determinava a prosperidade nacional e o valor das mercadorias, ele não se realizava sem o trabalhador e este não vivia sem o salário. Como os trabalhadores buscavam ganhar o máximo possível e os empregadores a pagar o mínimo possível, o salário estava condiciona à procura e à oferta de mão-de-obra. Os patrões levavam vantagem, mas nunca deveriam pagar menos do que fosse necessário para o trabalhador se manter. "Nenhuma sociedade pode florescer e ser feliz, sendo a maior parte de seus membros pobre e miserável".
Em seu livro, A. Smith defendeu as leis de mercado, o fim das restrições às importações e dos gastos governamentais improdutivos. 0 Estado deveria intervir somente para coibir os monopólios que impediam a livre circulação das mercadorias. As funções do Estado seriam garantir a lei, a segurança e a propriedade, além de proteger a saúde e incentivar a educação.

THOMAS MALTHUS E DAVID RICARDO
A disputa na Inglaterra, entre os latifundiários e os industriais, com os primeiros defendendo uma política de proteção à agricultura e restrições às importações de gêneros agrícolas e os segundos defendendo o livre-cambismo, foi acompanhada por dois importantes pensadores: Malthus e Ricardo.
Diante da questão social representada pela crescente miséria do operariado, THOMAS MALTHUS (1766-1834) elaborou a teoria da população, apresentada em seu livro "Ensaio sobre o Principio da população", publicado em 1798, Segundo ele, a população crescia em progressão geométrica (1, 21 4, 8, 169 32, 64), com maior rapidez que os meios de subsistência, que cresciam em progressão aritmética (1 2, 3, 4, 5, 61 ... ). 0 resultado era a miséria e a pobreza que se assistia na Inglaterra, devido ao desequilíbrio entre os recursos naturais e as necessidades da população.
Malthus era contrário a qualquer tentativa do Estado em procurar resolver o problema da miséria, como, por exemplo, através das leis dos Pobres, que serviam apenas como estimulo ao aumento da população. Um homem que nasce em um mundo já ocupado não tem direito a reclamar parcela alguma de alimento. No grande banquete da natureza não há lugar para ele. A natureza intima-o a sair e não tarda a executar essa intimação".Essa saída a qual Malthus se referia era o aumento aa mortalidade devido à fome.
Em relação ao salário, Malthus considerava suficiente apenas uma quantia para a subsistência do trabalhador, isto é, para cobrir as necessidades de alimentos, roupas e moradia, evitando assim o cresci mento demográfico.
Em defesa dos interesses industriais, colocou-se DAVID RICARDO (1772/1823)- "Princípios de economia políticas e do imposto", 1817), desenvolvendo a teoria da renda fundiária. Ele afirmava que o crescimento da população gerava a necessidade do aumento das áreas de cultivo e como os terrenos mais férteis já estavam ocupados, era necessário incorporar novas áreas. Estas, por serem menos férteis, exigiam maior adubagem, e trabalho, o que significava preços mais elevados para os pro dutos agrícolas em geral. Por conseguinte, aumentavam os rendimentos dos donos dos melhores solos.
Por outro lado, o industrial que trabalhava e produzia riqueza para a nação era prejudicado, pois tinha que aumentar os salários dos trabalhadores, devido aos altos preços dos alimentos, diminuindo seus lucros, deixando de investir na produção e oferecendo um número menor de empregos. Por sua vez, o trabalhador estava condenado à miséria, pois o aumento nominal do salário fazia-o ter mais filhos e com isso continuava vivendo ao nível da subsistência. Ricardo desenvolveu a teoria do salário natural, ou seja, o mínimo para a subsistência do trabalhador e de sua família.Era a chama da "lei férrea dos salários". "0 preço natural do trabalho depende do preço do alimento, necessidade e conveniências necessárias a manutenção do trabalhador e sua família. Com um aumento no preço dos ali e das necessidades, o preço natural do trabalho se eleva. Com a queda, o preço natural do trabalho cai." (Citado por HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio, Zahar, 19729 p. 212.)
No século XIX, a "lei férrea dos salários" de Ricardo serviu para fornecer aos ricos proprietários e industriais a justificativa que eles precisavam para calar sua consciência sobre o grau de exploração em que mantinham os trabalhadores. Ricardo levou-os a concluir que "a compaixão pelo homem que trabalha não só é descabida como tam bem prejudicial. Pode criar esperanças e rendas a curto prazo, mas faz aumentar o ritmo de crescimento da população, através do qual ambas aquelas condições são anuladas. E qualquer esforço por parte do governo ou de sindicatos trabalhistas no sentido de elevar os vencimentos e salvar o povo da miséria entraria, da mesma forma, em conflito com a lei econômica. ( ... ) Ricardo deu aos ricos uma fórmula plenamente satisfatória de se conformarem com a infelicidade dos pobres.," (Gal BRAITH, John Kenneth. A era da incerteza. São Paulo, Livraria Pioneira Editora e Editora Universidade de Brasília, 1979, p. 24 e 26.)

A SOCIEDADE CAPITALISTA
A Revolução Industrial consolidou a sociedade burguesa liberal capitalista, baseada na igualdade jurídica entre os homens, na livre-iniciativa e na empresa privada. Os indivíduos deveriam ser livres para comprar, vender, investir e fazer contratos de acordo com seus interesses. 0 equilíbrio do sistema estava na concorrência entre as em empresas, que levava aos constantes aperfeiçoamentos tecnológicos e ao desaparecimento das menos aptas.
Entretanto, ao lado do aumento da riqueza e da prosperidade da burguesia, dona do CAPITAL, cresceu o pauperismo daqueles que perderam seus antigos direitos de uso da terra e que, para sobreviver, transformaram-se em trabalhadores assalariados, no campo e na cidade. Para os defensores do liberalismo, nada poderia ser feito por essa gente, e qualquer lei que visasse diminuir a exploração do trabalho era uma interferência indevida do Estado, que somente prejudicaria as relações entre os homens, considerados livres e iguais.
No decorrer do século XIX a Rev. Industrial, avançou e atingiu os países da Europa Ocidental (França, Alemanha, Bélgica, Itália, Holanda) e também os Estados Unidos, o Canadá e o Japão. Criaram-se nesses países sociedades fortemente industrializadas e avançadas tecnologicamente, garantindo, até 1914, a hegemonia européia no mundo. Síntese A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, foi a mecanização da produção manufatureira e agrícola. Surgiram as fábricas, pequenas e médias empresas que competiam entre si pelos mercados. Novas técnicas e máquinas agrícolas aumentavam a produtividade nos campos.

Conclusão.
A Revolução Industrial desenvolveu também uma nova sociedade: a sociedade capitalista, baseada na divisão dos indivíduos em duas classes: os capitalistas, detentores dos meios de produção e os trabalhadores, homens livres que vendem sua força de trabalho em troca de um salário. 0 capitalismo, consolidado com a Revolução industrial, gerou muita riqueza e um enorme progresso material, mas criou também uma massa de trabalhadores pobres, no campo e na cidade. Os economistas liberais, defensores da sociedade capitalista sustentavam a idéia de que o Estado não precisa interferir na economia, que deve ser regulada apenas pelo mercado.

 

sábado, 19 de maio de 1990

REFLEXÕES SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA DO BRASIL - DA IMPORTÂNCIA DE VARIADAS ABORDAGENS HISTÓRICAS

Afinal para que serve a História? Como deve ser ensinada na Educação Básica? Que gradações devem ser observadas nos Ciclos I, II e Ensino Médio?
Primeiramente, devemos considerar que História é a ciência humana básica na formação do aluno, pela possibilidade de fazê-lo compreender a realidade que o cerca e, conseqüentemente, dotá-lo de espírito crítico, que o capacitará a interpretar essa mesma realidade.
Todavia, formação de espírito crítico não significa, necessariamente, levar alunos a posições ideológicas extremadas, mas capacitá-los a discernir as várias linhas e correntes de interpretações, que se podem dar aos fatos históricos, em seus devidos contextos, e, a partir daí, permitir aos discentes realizar suas escolhas políticas, sociais, econômicas e culturais.
Por outro lado, a ciência histórica tem seus métodos e instrumentos de análise que se querem respeitados. O ensino de História, necessariamente, deve levar em consideração essas premissas, também, com a finalidade de estimular vocações para esse ramo do conhecimento humano. Assim, o estudo de documentos e as várias interpretações, suscitadas pela História, são pontos fundamentais no estudo dessa disciplina.
A afirmação, hoje muito difundida, por certas correntes, segundo a qual, a educação não é neutra; no fundo, embute a idéia segundo a qual História deveria ser desenvolvida a partir de uma linha ideológica vinculada à realidade social, injusta e exclusiva, da qual são vítimas, vastas parcelas da população brasileira e mundiais. Ora, tal interpretação tende a criar a idéia, segundo a qual, somente ações radicais teriam o condão de eliminar tais desigualdades e injustiças, o que desqualifica a possibilidade da existência de vias democráticas de transformação nos países que enfrentam tais problemas.
Até aí nada demais, posto que, num sistema democrático, no qual vivemos, os professores têm o direito de adotar essa ou aquela linha de interpretação histórica, em sala de aula. Ocorre que, ao adotar "uma linha" de interpretação dos fatos históricos", negam-se aos alunos os instrumentos necessários para desvelar o outro ou os outros lados da questão, ou seja, deixam-nos impossibilitados de refletir sobre outras interpretações, que poderiam enriquecê-lo culturalmente. 
Por outro lado, a linha única no desenvolvimento de conteúdos históricos, cria, na mente dos jovens, um preconceito odioso contra formas políticas, sociais e econômicas vigentes e um sectarismo, extremamente, perigoso.
Quando pensadores de esquerda criticam o capitalismo, por exemplo, alguém poderia objetar que o socialismo constituiu-se, comprovadamente, em experiências fracassadas, em países cuja ineficiência econômica e totalitarismo político (economia dirigida pelo Estado, regimes políticos de partido único) acabou por fazê-los ruir, totalmente, nas últimas duas décadas do século XX, e que o segundo, ainda que imperfeito, criou as mais sólidas economias e democracias mundiais, além de sociedades de elevado bem-estar social do mundo contemporâneo.
Seriam verdadeiras as afirmações acima expostas? É o que deveriam perguntar-se os professores de História, quando de discussões sobre o tema com suas classes, mormente, os do ensino médio, realmente, interessados em formar o espírito critico dos alunos, oferecendo-lhes diversificadas bibliografias e diferentes instrumentos de análise histórica.
A questão do ensino da história do Brasil, no Ensino Fundamental  e Médio .
Muito se discute, sobre a importância de os alunos conhecerem a realidade brasileira. Todavia, sem um estudo do Brasil contemporâneo, a partir de suas estruturas sociais, políticas econômicas e culturais, isso se torna de difícil concretização.
Qualquer estudo de História do Brasil, nos ensinos Fundamental e Médio, deveria começar pela situação atual do país a partir de noticiários televisivos, pesquisa em jornais, revistas, livros didáticos e paradidáticos, filmes históricos, entrevistas com membros de determinados segmentos sociais, de acordo com a localização e possibilidades de cada escola.
Buscar as conexões entre presente e passado da História brasileira, enriquecerá, sobremaneira, os conhecimentos dos alunos dos vários Ciclos do Ensino Básico. Entretanto, o que se observa, é o hábito de muitos professores montarem seus programas utilizando-se da cronologia tradicional, Colônia, Império e República, selecionando excessiva quantidade de conteúdos, durante o planejamento. Em decorrência desse fato, os alunos nunca chegam a estudar o Brasil, no qual estão, realmente, inseridos.
Dada a liberdade de construção dos currículos de História, durante o planejamento, nada impede que os professores iniciem seu trabalho em História do Brasil a partir da análise das estruturas: sociais, políticas, econômicas sociais e culturais, atuais para, a partir daí, estabelecer as conexões necessárias entre o presente e o passado.
Assim procedendo, o professor teria a oportunidade de selecionar os aspectos mais significativos dos diversos períodos da História do Brasil, explorando-os com a necessária pertinência. Essa seleção eliminaria os conteúdos supérfluos e enxugaria os programas, tornando-os factíveis para o ano letivo.
Do ponto de vista político, por exemplo, os alunos deveriam conhecer:
as características do atual sistema político: como funciona o regime presidencialista? Como funciona o processo eleitoral? Como evoluiu esse regime político da Colônia aos nossos dias? Que correntes político-ideológicas estão representadas nas Câmaras Municipais, Assembléias e Congresso Nacional?
Na abordagem desse tema, haveria a oportunidade de estabelecer as relações entre o presente e o passado: a estrutura política atual e a da Colônia, Império e República Velha, na medida em que elas deixaram marcas profundas na vida política brasileira, de hoje.
Ao analisar o presidencialismo e seu funcionamento, o professor retornaria à administração colonial, ao regime monárquico, ao nascimento da República, buscando seus pontos de conexão: a comparação entre o regime imperial e o presidencialismo republicano. Desde seus primórdios, mostraria inúmeros pontos de contato e permanências do regime imperial no regime político atual, entre os quais, o excessivo poder do Presidente da República, ao longo da vida republicana, velha herança do Poder Moderador Imperial. Tudo isso trabalhado por meio de conteúdos significativos.
O mesmo procedimento poderia ser usado no estudo do coronelismo, ou seja, o domínio de grupos oligárquicos, ainda existentes, em regiões do norte e nordeste, originários dos períodos Colonial, Imperial e da República Velha, quando o "mandonismo local" era a base do sistema eleitoral nas Câmaras Municipais ( instituição transplantada de Portugal à Colônia) Parlamentos Provinciais e Imperial. O estudo, ensejaria, a análise do processo eleitoral (desde o voto censitário imperial ao sufrágio universal masculino no início da República) nos diversos períodos da História Brasileira e a comparação entre as eleições de hoje às do Império (1822-1889) e República Velha (1889-1930). Por outro lado, esse estudo suscitaria ampla discussão sobre o regime cartorial-burocrático até hoje vigente no país, permeando práticas políticas e econômicas e que, em parte, explicariam a corrupção nos parlamentos, executivos e judiciários do país, cujos escândalos são matéria prima cotidiana nos órgãos de imprensa escrita e televisada em todo o país. 
Outros aspectos da vida política brasileira poderiam ter o mesmo tratamento, vinculando, sempre, o presente ao passado.
Do ponto de vista social (sem preconceitos ou dogmatismos), faz-se necessário o estudo das desigualdades: distribuição de renda, da propriedade da terra- seus avanços e retrocessos (a questão do latifúndio e as novas formas de exploração agrícola), buscando as relações entre os problemas do presente com os fatos que deram origem a eles, nos diversos períodos históricos.
Se a miséria, englobando grandes bolsões da sociedade brasileira, constitui, ainda, um grave problema social brasileiro, inegavelmente, o país evoluiu socialmente nos últimos 30 anos, sob todos os aspectos. Pesquisa sobre a evolução econômica brasileira, durante o século XX, demonstrariam os avanços sociais dela decorrente, obtidos nas últimas décadas.
Entrevistas com favelados, com membros do MST, com moradores de rua, pequenos e grandes empresários, membros da classe média, levariam os jovens a compreender melhor a realidade social exclusiva dos bolsões de miséria das várias regiões brasileiras. 
Mais uma vez, o retorno ao passado seria capaz de levar os alunos a desvelar as origens das desigualdades sociais, ao longo de nossa história. Para isso, a análise da sociedade Colonial e da Imperial, fundada na mão-de-obra escrava, no latifúndio e no poder dos senhores rurais, durante os vários ciclos econômicos brasileiros, mostra-se primordial.
O sistema de latifúndios, a partir do qual os colonizadores e, depois, os grandes senhores do Império e República Velha, apropriaram-se da terra, criando imensas propriedades, poderá levar os alunos a entender a luta pela reforma agrária nos dias que correm e, ao mesmo tempo, constatar o que foi feito ao longo da última década em relação à propriedade da terra. Uma pesquisa sobre as novas formas de exploração agrícola, sobre os assentamentos de membros do MST, já realizados, seus progressos e retrocessos, os vários pontos de vista sobre a reforma agrária em andamento, também, contribuiriam para esclarecimento do processo de ocupação da terra no Brasil..
Por outro lado, a análise da assimétrica industrialização brasileira, ajudaria o alunado a compreender o grande desenvolvimento industrial do Sudeste, o crescimento de suas elites urbanas e das classes médias (insignificante, até meados do século XX), e o atraso do Norte e Nordeste , dominados ainda pelo latifúndio, pela miséria e exclusão social de grande parte de suas populações.
A evolução dessas distorções sociais, ao longo da história brasileira, e a organização social brasileira, atual, enriquecerão os conhecimentos dos estudantes e poderão levá-los a elaborar hipóteses para a superação dos problemas.
O estudo comparativo entre a nossa sociedade e as sociedades avançadas, que conquistaram um Estado de bem-estar social, a partir da instituição de sistemas democráticos e reformas sociais profundas no campo e na cidade (Estados Unidos, Suécia, Noruega, Dinamarca, França, Inglaterra, Bélgica, Austrália, Canadá, Japão e mais recentemente os Tigres Asiáticos, entre outros).
Será extremamente motivador, no estudo de problemas ligados à miséria e à exclusão social brasileiras, levar os alunos a pesquisar sociedades afluentes do mundo contemporâneo para descobrir a maneira pela qual essas nações, conseguiram superar sérias distorções sociais comuns em países latino-americanos, africanos e asiáticos.
Essa análise, contribuiria para a discussão de uma série de meias verdades, entre as quais, a celebre "teoria da dependência" através da qual algumas correntes tentam demonstrar que dificuldades sócio-econonômicas, latino-americanas, em geral, e do Brasil, em particular, sempre estiveram condicionadas à expansão econômica de países desenvolvidos, esquecendo-se de que muitos dos problemas latino-americanos decorreram da falta de democracia, de políticas equivocadas das elites dominantes, nos diversos períodos históricos nos países do Continente, e da extrema burocracia e regulamentações econômicas, travando o desenvolvimento dessas nações, ao longo da História, fossem quais fossem suas colorações ideológicas. A análise das conquistas econômico-sociais das grandes nações do globo ajudaria, sobremaneira, na compreensão das dificuldades latino- americanas.
De fundamental importância será o estudo da escravidão, responsável pelo atraso econômico-social do país, deixando marcas indeléveis na sociedade brasileira - racismo e preconceito, que determinam dificuldades de ascensão social do negro decorrentes de discriminação no mercado de trabalho, exclusão social, marginalização, etc. A pesquisa das organizações negras e de suas lutas, para alcançarem plena igualdade de direitos, hoje, mostra-se relevante.
A pesquisa sobre a escravidão e a discussão em classe, sobre a questão do preconceito racial existente no Brasil, seria o ponto de partida para o estudo da escravidão (indígena e negra), durante os diversos períodos da História Brasileira, culminando com a abolição dos escravos, realizada sem a preocupação de integrar o negro à sociedade, mantendo-o tão excluído, socialmente, quanto o foram enquanto escravos, fato que se agravaria com a permanência de uma mentalidade preconceituosa, entre vastas parcelas da população branca, que, ainda se manifesta em numerosas camadas, nos dias que correm.
A luta das entidades ligadas aos movimentos negros e suas conquistas poderão levar o aluno ao conceito de cidadania e ganhar um batalhador a mais na busca da igualdade de direitos entre os vários segmentos desfavorecidos da sociedade brasileira.
O estudo das lutas pelos direitos da mulher, ao longo de nossa história, e as conquistas obtidas.
A pesquisa da condição da mulher, na atualidade, incorporando-se em todos os setores da vida brasileira, deve ser acompanhada do estudo de sua situação social nos vários períodos históricos brasileiros para que o aluno seja levado a avaliar o quanto elas tiveram de lutar para superar discriminações sociais de todo tipo, ao longo de nossa história. O professor de literatura poderá sugerir um estudo sobre mulheres, entre as quais as personagens do livro "A Moreninha", além de Moema, Iracema, Capitu, Marília de Dirceu, Luzia Homem, etc.. Uma investigação sobre pioneiras: Maria Quitéria, Ana Nery, Chiquinha Gonzaga, entre outras personagens femininas de destaque em nossa História, contribuirá para o enriquecimento discente, que, com certeza, ignora a luta feminina para se afirmar como membro atuante de nossa sociedade.
Do ponto de vista econômico é de fundamental importância:
O estudo, não-sectário, do neoliberalismo, globalização, relações econômica e interdependência entre o Brasil e demais países do globo; o estudo da evolução econômica do Brasil, enfatizando sua marginalização, à época da segunda revolução industrial do início do século XIX, provocando o atraso industrial brasileiro, a duras penas superado nas quatro últimas décadas.
O neoliberalismo é um tema que, hoje, perpassa matérias jornalísticas, jornais televisivos, obras acadêmicas e quejandos. Quando estudado no ensino fundamental e no ensino médio, é oferecida aos alunos a oportunidade de discutir suas várias facetas, através de variados instrumentos de análise?
Aqui, mais uma vez a volta ao passado, ou seja, o estudo do liberalismo seria dos mais elucidativos.
Uma segunda questão, no estudo do liberalismo, seria a maneira como e quando foi inserido na vida brasileira, após a Revolução Francesa e Revolução Industrial. Esse fato ensejaria o estudo das lutas pela Independência política, com realce para a Inconfidência Mineira de l789, com sua conotação nitidamente política e a Baiana de 1798, com sua conotação social, nos fins do período colonial e a Independência no 7 de setembro de 1822.
O estudo do neoliberalismo remeteria o professor à questão da globalização, tema recorrente nos dias que correm e seu caráter quase irreversível, num mundo dominado pela informação instantânea e elevada tecnologia. Mais uma vez, mostra-se fundamental levar o aluno a compreender seus aspectos positivos e negativos, evitando o mestre, fórmulas prontas e dogmáticas a respeito desse processo. A comparação entre a posição dos operários frente às máquinas, durante a Segunda Revolução Industrial e os movimentos antiglobalização, nos dias que correm, forneceria rico material para a reflexão do aluno sobre o tema.
A pesquisa e discussão sobre a indústria brasileira na atualidade, possibilitaria, mais uma vez, a volta ao passado, mormente as dificuldades de inserção do Brasil na "era da máquina", nos fins do século XIX.. A leitura por parte dos professores do livro "Mauá Empresário do Império" de Jorge Caldeira ( Companhia das Letras, 1995) explica, com muita clareza, a luta de Mauá pela industrialização do Brasil no século XIX e os óbices impostos pela elite rural brasileira.
A questão metodológica no tratamento dos temas
É óbvio que não se pode desenvolver a mesma História do Brasil nos diversos Ciclos do Ensino Básico. Tem-se de levar em consideração a faixa etária a que ela se destina.
Entranto, tudo que foi exposto, anteriormente, pode e deve ser desenvolvido com os alunos do Ciclo II do Ensino Fundamental e Ensino Médio, resguardando-se, evidentemente, suas pertinentes graduações. Não é o caso das primeiras etapas do Ciclo I.
Com as crianças do Ciclo I, deve-se levar em consideração os aspectos lúdicos, pitorescos e, até mesmo, os fantásticos, que povoam suas mentes. Não se pode imaginar "sociologizantes" interpretações históricas para essa faixa etária. É possível fazê-las entrar em contato com aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais atuais, por meio de entrevistas com populações pobres, empresários, negros entre outros segmentos sociais, em um primeiro contato com a realidade que os cerca. 
Porém, para introduzi-las no passado, será fundamental levá-las a conhecer aspectos da vida cotidiana dos brasileiros nos diversos séculos de nossa civilização: o que pensavam acerca de numerosas questões do dia-a-dia? Como produziam aquilo que lhes permitia a sobrevivência em meio inóspito como no Brasil dos primeiros séculos? Como os diversos segmentos sociais relacionavam-se entre si e com os habitantes da terra, os indígenas? Como deram-se as relações entre os brancos das diversas classes sociais com indígenas e negros escravos? De que maneira, índios e negros marcaram a civilização brasileira? 
Tudo isso permitirá uma visão concreta de nossos primeiros habitantes. 
Dir-se-ia, portanto, que, para essa faixa etária, seria fundamental a visão de quadros ou cenas específicas da vida política, social, econômica e cultural da Colônia, Império e República. Para isso, textos de autores da época, pesquisa iconográfica em revistas e jornais não são difíceis de obter. Por outro lado, a leitura de obras históricas infanto-juvenil e paradidáticas de História do Brasil, produzirão, além de novos leitores, no contexto literário, uma curiosidade por fatos históricos, que se aprofundarão nos Ciclos II e Ensino Médio.
Como se vê, não se trata de se ensinar uma História, apenas, com base em datas, fatos e heróis brasileiros, comum, entre os professores do Ciclo I, mas dotar a criança de uma visão, mais próxima possível do país, por meio das formas de vida e pensamento dos brasileiros nas diversas épocas. Visão histórica amparada pela constante mediação do tempo e espaço históricos. 
Assim, professor algum do Ciclo I deveria trabalhar História do Brasil, sem as suas respectivas Linhas do Tempo e mapas históricos, a fim de que possa levar os alunos a localizar fatos e datas fundamentais da História brasileira e o espaço em que eles se deram, conteúdos esses, que os estarão preparando para etapas mais complexas de estudo.
Anda muito em voga a ideia de que os conhecimentos dos alunos devem ser por eles construídos. Qualquer conhecimento é construído pelo aluno, posto que, seja qual for a metodologia empregada pelo professor, o aprendizado é sempre uma construção de quem é levado a fazê-lo. Não fosse assim, os alunos deixariam a escola nas mesmas condições em que entraram, o que é absolutamente falso.. O que ocorre é uma construção de conhecimentos por parte dos alunos, de maior ou menor qualidade, dependendo de quem ministra o ensino.
No caso específico do ensino de História do Brasil, como em outras disciplinas, vários elementos entram nessa construção do conhecimento histórico. Ainda que se deva partir da realidade que cerca o aluno, através de uma série de contatos deles com essa mesma realidade, o estudo dos "fatos significativos" de nossa história, é fundamental, posto que, cérebro algum reflete no vazio. Ninguém pode ser levado a conhecer o passado, sem o estudo de fatos históricos específicos. Contudo, esses fatos só se integrarão à consciência dos alunos, ou seja, serão apreendidos, na medida em que se liguem ao já conhecido pelo discente. Daí a importância das aulas dialogadas, nas quais o novo conhecimento venha unir-se aos rudimentares, presentes na memória dos alunos. Daí a importância da leitura de obras históricas, didáticas, paradidáticas, de divulgação, acadêmicas e quejandos, em diferentes ciclos de estudo, na perspectiva de se formar o conhecimento histórico necessário à reflexão dos alunos. Não se trata, pois, de encher a cabeça de crianças e jovens de conteúdos aleatórios, ou seja, de personagens e datas (ainda que eles sejam imprescindíveis em determinados contextos) mas de vinculá-los a temas significativos para a compreensão do processo histórico.
Observam-se, hoje, que, fatos da História brasileira são, absolutamente, desconhecidos da maioria de nossos jovens, que não têm qualquer noção do que seja Colônia, Império e República e, muito menos, o Brasil Contemporâneo e a localização de fatos importantes no espaço e no tempo. Que dizer, então, dos homens que viveram nesses períodos. Portanto, o professor deve estar atento a sua programação, selecionando, dos períodos históricos, aquilo que é mais significativo para a compreensão do processo histórico. Daí, repetirmos, a importância de se estudar o passado a partir do presente, buscando as suas conexões.

BIBLIOGRAFIA
Nota: As escolas estaduais de Ciclo I e II têm recebido da SEE numerosos livros para a composição de Bibliotecas - quando há espaço para tal na unidade - Entre esses livros há numerosas obras históricas que poderão ser de grande utilidade para os professores da disciplina. 

CALDEIRA, Jorge - Mauá, Estadista do Império - Cia das Letras. São Paulo - s/d.
CARONE, Edgard - O Movimento Operário no Brasil (1877- 1944) - Difusão Européia do Livro, 1979
CARONE, Edgard - A República Velha, volumes I e II, Difusão Européia do Livro. s/d.
COMMAGER, Henry Steele- Iniciação ao estudo de História - Zahar Editores Rio de Janeiro, 1967.
DEAN, Warren - A Industrialização de São Paulo - Difusão Européia do Livro. São Paulo - s/d.
FAUSTO, Boris- A Revolução de l930, Editora Brasiliense. São Paulo - s/d.
FRANCIS, Paulo - Trinta anos esta noite - Cia das Letras, 1994. São Paulo.
HOLANDA, Sérgio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil, Livraria José Olímpio Editora, Rio de Janeiro, MACHADO, Alcântara - Vida e Morte do Bandeirante, Livraria Martins Editora (só encontrado em bibliotecas). São Paulo - s/d.
MAURO, Frederic - O Brasil no tempo de D. Pedro II, Cia das Letras. São Paulo - s/d.
MOTA, Carlos Guilherme (organizador) - Brasil em Perspectiva, Difusão Européia do Livro, 1973
RUY, Affonso, A Primeira Revolução Social Brasileira (1798), Coleção Brasiliana, Editora Nacional(só encontrado em bibliotecas). São Paulo - s/d.
SKDMORE, Thomas - De Getúlio a Castelo (1930-1964), Editora Saga - Rio de Janeiro, 1969
SKDMORE, Thomas - De Castelo a Tancredo, Editora Paz e Terra. São Paulo - s/d.
SODRÉ, Nelson Werneck, Panorama do Segundo Império - Editora Nacional, Coleção Brasiliana, 1939 (só encontrado em bibliotecas). São Paulo
TORRES, Luiz Wanderley - Tiradentes, a áspera estrada para a liberdade - Editora Obelisco, São Paulo, 1965
VIOTTI DA COSTA, Emília - Da Senzala à Colonia, Difusão Européia do Livro, 1966. s/d.
WIZNITZER, Arnold - Os judeus no Brasil Colonial - Livraria Pioneira Editora. Editora Universidade de São Paulo, São Paulo, 1966.

OBRAS GERAIS
HOLANDA, Sérgio Buarque de (Coordenador), História Geral da Civilização Brasileira - Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1960.
NOVAIS, Fernando, (Coordenador ) História da Vida Privada Brasileira - Volumes I, II, III e IV- Cia. das Letras (Do período colonial ao século XX). É a mais moderna obra no gênero no Brasil e de indispensável leitura para os professores de História - Cia das Letras e enviada às bibliotecas das escolas estaduais pela SEE. São Paulo - s/d.