quarta-feira, 3 de dezembro de 1997

ENSAIO ACADÊMICO - TESE ARGUMENTAÇÃO E CONTRA-ARGUMENTAÇÃO

Visão Geral do Ensaio Acadêmico: Tese, Argumentação e Contra-argumentação
A definição clara do argumento é essencial em todas as formas de redação acadêmica, pois a escrita é o pensamento tornado visível. As percepções e ideias que nos ocorrem quando encontramos o material bruto do mundo – fenômenos naturais, como o comportamento dos genes, ou culturais, como os textos, as fotografias e os artefatos – devem ser ordenados de alguma forma para que os outros possam recebê-los e responder-lhes. Esse dar e receber está no coração do empreendimento acadêmico, e torna possível essa vasta conversação conhecida como civilização.
Como em todos os empreendimentos humanos, as convenções do ensaio acadêmico são tanto lógicas quanto divertidas, como numa fuga de Bach.
Elas podem variar em expressão de disciplina para disciplina, mas são dirigidas para um fim comum:
Um bom ensaio deve nos mostrar uma mente desenvolvendo uma tese, enraizando essa tese nas evidências, antecipando habilmente objeções ou contra argumentos e sustentando o ímpeto da descoberta.
Motivo e Idéia
Todo ensaio têm uma finalidade ou objetivo; a mera existência de uma tarefa ou de um prazo não é suficiente. Ao redigir um ensaio ou artigo de pesquisa, nunca se está simplesmente transferindo informações de um lugar para outro, ou demonstrando o domínio sobre uma certa quantidade de materiais. Isso seria terrivelmente enfadonho
– e além disso, apenas se acrescentaria à abundância de discursos sem importância. Ao invés disso, deve-se tentar estabelecer a melhor instância possível de uma idéia original à qual se chegou após um período de pesquisas – o que pode requerer, dependendo do campo, a leitura ou releitura de  um texto, a realização de um experimento ou a observação cuidados a de um objeto ou de um  comportamento.
Ao aprofundar - se no material, você começa a descobrir padrões e a gerar percepções, guiado por uma série de questões que se desdobram. De certo número de possibilidades, uma idéia emerge, gradual ou subitamente como a mais promissora. Você tenta certificar-se de que ela é original e tem alguma importância; não faz sentido argumentar sobre algo já conhecido, trivial ou amplamente aceito. É preciso avaliar se a idéia pode ser tratada numa breve nota, num artigo de vinte páginas ou se requer um livro inteiro.
Decidindo sobre uma Tese
Tendo estabelecido essas questões, você continua a procurar formas de testar a sua idéia e de convencer os outros de sua legitimidade e significância. Essa é a tese do trabalho, o argumento central que você está tentando construir, utilizando a melhor evidência que puder juntar. Sua tese provavelmente evoluirá no curso da redação dos rascunhos, mas tudo o que ocorre em seu ensaio está direcionado para o estabelecimento de sua validade. Uma dada tarefa pode pedir-lhe que responda uma questão ou compare duas teorias, ou simplesmente escreva um texto sobre um tópico de sua escolha.
Pode não lhe dizer que você tem de propor uma tese e defendê-la, mas esses são os requisitos latentes em qualquer texto acadêmico.
Decidir com respeito a uma idéia é capaz de gerar considerável ansiedade. Os alunos chegam a pensar: “Como é possível ter uma idéia nova sobre um assunto que os estudiosos gastam toda a sua vida explorando? Li apenas alguns livros nos últimos dias e agora sou considerado um especialista?”. Entretanto, você pode ser original em várias escalas. E um pouco de bom senso é inestimável. Não é possível saber tudo o que foi, ou está sendo, pensado ou escrito por todos os autores do mundo – mesmo considerando a vastidão e a velocidade da Internet.. O que é preciso é um esforço rigoroso e sério para estabelecer a originalidade, considerando as demandas do problema e da disciplina.
Convencendo a Audiência
Um bom exercício durante o processo da escrita é parar periodicamente e reformular sua tese da forma mais sucinta possível, para que alguém em outro campo possa entender o seu significado, bem como sua
importância. Uma tese pode ser relativamente complexa, mas você deve ser capaz de destilar sua essência.
Isso não significa que tenha que voltar ao início do jogo. Orientado por um entendimento claro do ponto que deseja argumentar, você pode estimular a curiosidade de leitor fazendo perguntas – as mesmas perguntas que podem ter orientado sua pesquisa - e construir cuidadosamente um exemplo para validar sua idéia. Ou você pode começar com uma observação provocativa, convidando a audiência a acompanhá-lo no próprio caminho de descoberta.
O cerne do ensaio acadêmico é a persuasão. E para persuadir é preciso montar o cenário, fornecer um contexto e decidir como revelar sua evidência. Você já está convencido da originalidade e importância de sua idéia; agora é preciso convencer os outros que não trilharam o mesmo caminho de descoberta e que podem não compreender o contexto de sua investigação. Muitos autores cometem o erro de supor que sua audiência é sensível, capaz de perceber o que não foi explicado. O resultado é um texto hermético e obscuro.
Obviamente, se você está lidando com uma comunidade de especialistas, alguns aspectos de um contexto compartilhado podem ser omitidos. Mas a clareza é sempre uma virtude.
A Tensão dos Argumentos
A argumentação implica em tensão, mas sem fogos de artifício. Essa tensão decorre da assimetria fundamental entre aquele que quer persuadir e os que devem ser persuadidos. O terreno comum entre as partes é a razão. O objetivo é construir um caso de forma que qualquer pessoa razoável seja convencida da razoabilidade de sua tese. A primeira tarefa, mesmo antes de começar a escrever, é coletar e ordenar evidências, classificando-as pelo tipo e pela força. Você pode decidir passar da mais insignificante peça de evidência para a mais importante. Ou pode começar com a mais convincente e, a seguir, mencionar as outros detalhes que dão suporte adicional. Você pode reter uma peça de evidência até o último instante, e alcançar o efeito surpresa.
De todo modo, é importante analisar as evidências que possam ser utilizadas contra a sua idéia e gerar respostas antecipadas a objeções. Esse é o conceito crucial da contra-argumentação. Se nada pode ser dito contra uma idéia, ela provavelmente é óbvia ou vazia. (E se houver contra-argumentação em demasia, é hora de procurar outra tese.) Ao não demonstrar conhecimento das possíveis objeções, você pode dar a entender que está escondendo algo e seus argumentos serão, conseqüentemente, mais fracos. É preciso familiarizar-se com as diversas falácias que podem minar um argumento – a falácia da falsa representação, da causação e da analogia,etc. – e empenhar-se por evitá-las.
A estrutura dos argumentos desempenha um papel importante no sucesso. O objetivo do ensaio deve ser descrito brevemente, colocando a questão que conduzirá à sua tese ou fazendo a declaração de uma tese. Há considerável flexibilidade a respeito de quando e onde isso ocorre, porém devemos saber o caminho que estamos trilhando, mesmo que algum suspense bem-vindo seja preservado.
No corpo do texto, a simples listagem de evidência sem qualquer lógica de apresentação discernível, é um erro comum.
O que pode ser suficiente numa conversação pode ser muito informal num ensaio. Se o ponto que se defende se perde numa massa confusa de detalhes, a argumentação vacila.
A estrutura argumentativa mais comum na prosa é a dedutiva: começando com uma generalização ou asserção e, a seguir, fornecendo o suporte. Esse padrão pode ser utilizado para ordenar um parágrafo, bem como um ensaio inteiro. Outra estrutura possível é a indutiva: fatos, exemplos ou observações podem ser analisados e a conclusão a ser extraída se segue.
Não existe uma fórmula para um ensaio bem-sucedido; os melhores ensaios nos mostram uma mente concentrada, dando sentido a algum aspecto controlável do mundo, uma mente na qual a percepção, a razão e a clareza caminham juntas.

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