Visão Geral do Ensaio Acadêmico: Tese, Argumentação e Contra-argumentação
A definição clara do argumento é essencial em todas as
formas de redação acadêmica, pois a escrita é o pensamento tornado visível. As
percepções e ideias que nos ocorrem quando encontramos o material bruto do
mundo – fenômenos naturais, como o comportamento dos genes, ou culturais, como
os textos, as fotografias e os artefatos – devem ser ordenados de alguma forma para que os outros
possam recebê-los e responder-lhes. Esse dar e receber está no coração do
empreendimento acadêmico, e torna possível essa vasta conversação conhecida como
civilização.
Como em todos os empreendimentos humanos, as convenções do
ensaio acadêmico são tanto lógicas quanto divertidas, como numa fuga de Bach.
Elas podem variar em expressão de disciplina para
disciplina, mas são dirigidas para um fim comum:
Um bom ensaio deve nos mostrar uma mente desenvolvendo uma
tese, enraizando essa tese nas evidências, antecipando habilmente objeções ou
contra argumentos e sustentando o ímpeto da descoberta.
Motivo e Idéia
Todo ensaio têm uma finalidade ou objetivo; a mera
existência de uma tarefa ou de um prazo não é suficiente. Ao redigir um ensaio
ou artigo de pesquisa, nunca se está simplesmente transferindo informações de
um lugar para outro, ou demonstrando o domínio sobre uma certa quantidade de
materiais. Isso seria terrivelmente enfadonho
– e além disso, apenas se acrescentaria à abundância de
discursos sem importância. Ao invés disso, deve-se tentar estabelecer a melhor
instância possível de uma idéia original à qual se chegou após um período de
pesquisas – o que pode requerer, dependendo do campo, a leitura ou releitura de
um texto, a realização de um experimento
ou a observação cuidados a de um objeto ou de um comportamento.
Ao aprofundar - se no material, você começa a descobrir
padrões e a gerar percepções, guiado por uma série de questões que se
desdobram. De certo número de possibilidades, uma idéia emerge, gradual ou
subitamente como a mais promissora. Você tenta certificar-se de que ela é
original e tem alguma importância; não faz sentido argumentar sobre algo já conhecido,
trivial ou amplamente aceito. É preciso avaliar se a idéia pode ser tratada
numa breve nota, num artigo de vinte páginas ou se requer um livro inteiro.
Decidindo sobre uma Tese
Tendo estabelecido essas questões, você continua a procurar
formas de testar a sua idéia e de convencer os outros de sua legitimidade e
significância. Essa é a tese do trabalho, o argumento central que você está
tentando construir, utilizando a melhor evidência que puder juntar. Sua tese
provavelmente evoluirá no curso da redação dos rascunhos, mas tudo o que ocorre
em seu ensaio está direcionado para o estabelecimento de sua validade. Uma dada
tarefa pode pedir-lhe que responda uma questão ou compare duas teorias, ou
simplesmente escreva um texto sobre um tópico de sua escolha.
Pode não lhe dizer que você tem de propor uma tese e defendê-la,
mas esses são os requisitos latentes em qualquer texto acadêmico.
Decidir com respeito a uma idéia é capaz de gerar
considerável ansiedade. Os alunos chegam a pensar: “Como é possível ter uma
idéia nova sobre um assunto que os estudiosos gastam toda a sua vida
explorando? Li apenas alguns livros nos últimos dias e agora sou considerado um
especialista?”. Entretanto, você pode ser original em várias escalas. E um
pouco de bom senso é inestimável. Não é possível saber tudo o que foi, ou está
sendo, pensado ou escrito por todos os autores do mundo – mesmo considerando a
vastidão e a velocidade da Internet.. O que é preciso é um esforço rigoroso e
sério para estabelecer a originalidade, considerando as demandas do problema e
da disciplina.
Convencendo a Audiência
Um bom exercício durante o processo da escrita é parar periodicamente
e reformular sua tese da forma mais sucinta possível, para que alguém em outro
campo possa entender o seu significado, bem como sua
importância. Uma tese pode ser relativamente complexa, mas
você deve ser capaz de destilar sua essência.
Isso não significa que tenha que voltar ao início do jogo.
Orientado por um entendimento claro do ponto que deseja argumentar, você pode
estimular a curiosidade de leitor fazendo perguntas – as mesmas perguntas que
podem ter orientado sua pesquisa - e construir cuidadosamente um exemplo para
validar sua idéia. Ou você pode começar com uma observação provocativa,
convidando a audiência a acompanhá-lo no próprio caminho de descoberta.
O cerne do ensaio acadêmico é a persuasão. E para persuadir
é preciso montar o cenário, fornecer um contexto e decidir como revelar sua
evidência. Você já está convencido da originalidade e importância de sua idéia;
agora é preciso convencer os outros que não trilharam o mesmo caminho de
descoberta e que podem não compreender o contexto de sua investigação. Muitos
autores cometem o erro de supor que sua audiência é sensível, capaz de perceber
o que não foi explicado. O resultado é um texto hermético e obscuro.
Obviamente, se você está lidando com uma comunidade de
especialistas, alguns aspectos de um contexto compartilhado podem ser omitidos.
Mas a clareza é sempre uma virtude.
A Tensão dos Argumentos
A argumentação implica em tensão, mas sem fogos de
artifício. Essa tensão decorre da assimetria fundamental entre aquele que quer
persuadir e os que devem ser persuadidos. O terreno comum entre as partes é a
razão. O objetivo é construir um caso de forma que qualquer pessoa razoável seja
convencida da razoabilidade de sua tese. A primeira tarefa, mesmo antes de começar
a escrever, é coletar e ordenar evidências, classificando-as pelo tipo e pela
força. Você pode decidir passar da mais insignificante peça de evidência para a
mais importante. Ou pode começar com a mais convincente e, a seguir, mencionar
as outros detalhes que dão suporte adicional. Você pode reter uma peça de
evidência até o último instante, e alcançar o efeito surpresa.
De todo modo, é importante analisar as evidências que possam
ser utilizadas contra a sua idéia e gerar respostas antecipadas a objeções.
Esse é o conceito crucial da contra-argumentação. Se nada pode ser dito contra
uma idéia, ela provavelmente é óbvia ou vazia. (E se houver contra-argumentação
em demasia, é hora de procurar outra tese.) Ao não demonstrar conhecimento das
possíveis objeções, você pode dar a entender que está escondendo algo e seus
argumentos serão, conseqüentemente, mais fracos. É preciso familiarizar-se com
as diversas falácias que podem minar um argumento – a falácia da falsa
representação, da causação e da analogia,etc. – e empenhar-se por evitá-las.
A estrutura dos argumentos desempenha um papel importante no
sucesso. O objetivo do ensaio deve ser descrito brevemente, colocando a questão
que conduzirá à sua tese ou fazendo a declaração de uma tese. Há considerável
flexibilidade a respeito de quando e onde isso ocorre, porém devemos saber o
caminho que estamos trilhando, mesmo que algum suspense bem-vindo seja
preservado.
No corpo do texto, a simples listagem de evidência sem
qualquer lógica de apresentação discernível, é um erro comum.
O que pode ser suficiente numa conversação pode ser muito
informal num ensaio. Se o ponto que se defende se perde numa massa confusa de
detalhes, a argumentação vacila.
A estrutura argumentativa mais comum na prosa é a dedutiva: começando
com uma generalização ou asserção e, a seguir, fornecendo o suporte. Esse
padrão pode ser utilizado para ordenar um parágrafo, bem como um ensaio
inteiro. Outra estrutura possível é a indutiva: fatos, exemplos ou observações
podem ser analisados e a conclusão a ser extraída se segue.
Não
existe uma fórmula para um ensaio bem-sucedido; os melhores ensaios nos mostram
uma mente concentrada, dando sentido a algum aspecto controlável do mundo, uma
mente na qual a percepção, a razão e a clareza caminham juntas.
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