segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O GOVERNO DUTRA

Assista ao vídeo, mas não deixe de ler o resumo abaixo para melhor compreensão do período histórico.



Com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e a consequente derrota das ditaduras do Eixo, os mais diversos grupos sociais passaram a clamar por uma urgente redemocratização das instâncias políticas internacionais. A despeito da participação da União Soviética stalinista nesse triunfo, o recado que o fim da guerra parecia dar ao mundo era que as relações humanas precisavam ser travadas em níveis mais liberais. A criação da ONU, a Declaração dos Direitos Humanos e a difusão dos movimentos de descolonização imperialista correspondiam, em planos distintos, a essas novas demandas.


Presidente Dutra (Foto: Divulgação)
Em terras brasileiras, mesmo com a popularidade do presidente Getúlio Vargas, tal clamor libertário se materializou no crescimento das críticas ao Estado Novo. Setores das forças armadas e da imprensa encabeçavam a oposição à ditadura varguista, que viria a padecer com a convocação de novas eleições presidenciais, das quais Vargas fora proibido de participar e Eurico Gaspar Dutra sairia vitorioso.
É importante lembrar que tal mudança na presidência da república não indicou necessariamente um rompimento com a política varguista. Ao contrário, Dutra foi eleito fundamentalmente pelo apoio ofertado por seu antecessor à sua campanha. Além disso, dos novos partidos que viriam a ser criados, dois dos mais importantes apresentavam o “DNA político” de Vargas: o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e a o PSD (Partido Social Democrático). A própria UDN (União Democrática Nacional), representante de setores conservadores e opositores ao Estado Novo, ganhou espaço no espectro político brasileiro justamente pelos ataques que fazia a Getúlio.
DUTRA E A GUERRA FRIA


Constituição de 1946 no jornal (Foto: Reprodução)
Com a chegada de Eurico Gaspar Dutra à presidência da República (1946-1951), o país dava mais um importante passo no processo de redemocratização e de ruptura com a ditadura estadonovista. Neste cenário, a criação de uma nova constituição se impunha como algo fundamental à liberalização das estruturas políticas nacionais. Em 1946, uma nova Carta foi, então, elaborada, através dela estavam garantidas as mais diversas liberdades, como de pensamento e expressão, imprensa e organização partidária.
No entanto, a construção da jovem democracia brasileira foi profundamente abalada pelos caminhos que as relações internacionais tomaram no país. Em um contexto mundial marcado pela Guerra Fria, o Brasil de Dutra se alinhou às diretrizes norte-americanas, o que motivou o corte de relações com a União Soviética, além da perseguição a políticos comunistas e, mais exemplarmente, da cassação do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
As relações entre Brasil e Estados Unidos ficaram ainda mais estreitas com a criação da Missão Abbink e da assinatura do TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Enquanto a primeira criava uma comissão com representantes dos dois países para discutir os caminhos tomados pela economia brasileira, o segundo ampliava a rede de combate à expansão comunista no continente americano. A formação da ESG (Escola Superior de Guerra) evidenciava igualmente a interferência estadunidense em importantes questões nacionais, face à grande participação de militares norteamericanos em sua criação.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

RESENHA - Uma Longa Idade Média


Tornam-se cada vez mais comum a apresentação de trajetórias acadêmicas e intelectuais em forma de testemunho, coletadas a partir de conversas e entrevistas.

Normalmente efetuadas quando o profissional está perto do final de sua carreira e se encontra em idade avançada, na qual a avaliação e organização da obra se evidenciam corriqueiramente.

Para Jacques Le Goff esse tipo de empreendimento já se tornou comum, uma vez que o tem praticado desde o final da década de 1970, devido o sucesso da História das  Mentalidades e do Imaginário. No entanto, enquanto as conversas e entrevistas concedidas nos anos de 1970 e 80 vislumbravam mais a atuação do autor e do grupo, ao qual faz parte até hoje, que é o da ‘terceira geração’ do movimento dos Annales na França, nas que tem oferecido nesta primeira década do século XXI, estas tem demarcado especificamente sua trajetória e produção intelectual.

Com a colaboração e a intervenção de Jean-Maurice de Montremy, Le Goff neste Em busca da Idade Média, conta-nos basicamente como se formou e de que maneira surgiu seu interesse para estudar a civilização do ocidente medieval (termo que cunharia em uma de suas obras), quais foram suas leituras e quais seus autores prediletos, como o período foi estudado e como contribuiu para melhorar a compreensão daquela época – para muitos (ainda hoje) tão distante e exótica.

As conversas que deram origem a obra, revela-nos Montremy, ocorreram entre 21 de fevereiro e 24 de julho de 2002, em intervalos de quinze dias cada encontro.

O texto foi depois inteiramente revisto e ampliado pelo autor. Montremy indica ainda que: “Jacques Le Goff nos convida a descobrir uma civilização-continente. Porque é bem a Europa que se desenha pouco a pouco a partir dessas pesquisas no espaço e no tempo. Uma Europa de fronteiras mais culturais do que geográficas. Uma Europa que jamais foi inteiramente uma ‘cristandade’, ainda que, durante séculos, tenha se imaginado como tal” (LE GOFF, 2006, p. 12).

Para melhor distribuir o conteúdo das conversas, dando-lhes um caráter temático, o texto foi dividido em cinco capítulos, nos quais foi abordado como se tornou medievalista, a Idade Média que se pensou e a que o autor estudou, quais assuntos que estudou em seus livros, como sua obra foi tomando forma e como tem pensado atualmente a civilização do ocidente medieval (dando ênfase aos seus estudos biográficos, como o feito sobre São Francisco de Assis). O conjunto de temas discutidos no livro dá bem o perfil intelectual de seu autor, e, particularmente, demarcam a Idade Média de Jacques Le Goff.

O primeiro ponto discutido foi como e por que Jacques Le Goff decidiu ser um medievalista e resolveu estudar a Idade Média. A constatação inicial da influência das leituras dos romances de Walter Scott, como Ivanhoé (de 1819), no qual identifica um período épico de lutas, conquistas e paixões, já o seduzia desde os 10 anos de idade.

A leitura posterior de A batalha de Bouvines (de 1973) de Georges Duby, com pouco mais de 50 anos, segundo indica, o fez reviver, na época, suas leituras e lembranças do Professor do Curso de História e de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, na Unidade de Amambai.

A infância e da adolescência, quando foi um voraz leitor de romances históricos. Outra influência marcante para o autor foi seu professor de História no Quatrième (equivalente a 5ª série do ensino fundamental no Brasil) Henri Michel. Nos anos de 1930, quando foi seu aluno, o olhar sobre a Idade Média, ainda conduzia os alunos a pensá-la apenas como um momento de trevas. E professores como Henri Michel o auxiliaram a escapar daquelas imagens (formadas a partir do Renascimento, consolidadas no Iluminismo e em pleno século XX ainda estavam em vigor). Em suas palavras:

Na época em que eu lia Walter Scott e me enriquecia com os cursos de Henri Michel, via a Idade Média, apesar de seus ecos contemporâneos, como um mundo longínquo, diferente do nosso. Nela conviviam práticas bárbaras e figuras sublimes, impressionantes. Essa Idade Média já não vivia entre nós: tinha desaparecido. Era um sonho que se esfumaçava (Idem, p. 25).

Com base apenas em suas lembranças, Le Goff fala de como via a década de 1930 e 1940, como um momento de drásticas mudanças para o mundo, e também de alterações  significativas sobre a maneira de se conceber e interpretar a civilização do ocidente medieval.

Sentia muito claramente nossa entrada numa outra era. Adivinhava que essas mudanças materiais, cotidianas, eram um dos componentes fundamentais da História. Que a História ainda uma vez, não se limitava às batalhas, aos reis, aos governos.

Uma certa maneira de ser e de pensar tornava-se ultrapassada. Mais tarde, chamaria esse momento de mudança de mentalidade – mudança que acompanharia as trocas materiais (Idem, p. 27).

Foi tomando consciência do período em que estava vivendo que o autor, ainda de forma rudimentar (como depois dirá), foi percebendo a importância e a função do historiador ‘ao viver e ao fazer viver’ (uma outra época), como depois fez ao estudar a Idade Média. A descoberta da necessidade das fontes para a produção do discurso do historiador foi outro passo fundamental, por que se pode “dizer que toda a história se situa na produção de documentos e na decifração dos documentos a que denominamos “fontes” (Idem, p. 37). E, evidentemente, não somente os documentos escritos, mas todo e qualquer indício que identifique o agir de homens e mulheres do passado.

Para os historiadores ‘positivistas’ do século XIX e do início do século XX, era suficiente reunir documentos, fazer-lhes a crítica do ponto de vista da autenticidade (provar que não eram falsos – a história dos falsos é uma bela página da historiografia) e a obra histórica estava pronta.

Aprendi com meus mestres dos Annales que é o historiador que cria o documento, que confere a traços, a vestígios, como diria Carlo Ginzburg, o status de fonte. O questionamento do historiador – as questões que levanta para si e que levanta em relação ao documento (uma parte essencial de seu ofício) – constitui a base da historiografia, da História (Idem, 38).

No início da década de 1950, o autor se viu diante da questão da delimitação espacial e temporal de seu objeto, pois, todo “medievalista [diz] vê-se diante da questão de seu período”, mas tendo em vista que “os diferentes domínios da atividade humana não se periodizam da mesma maneira”. E para ele não foi diferente, ao ter que questionar a divisão ainda preponderante que era a estabelecida entre os séculos V (476) e XV (1453 em alguns casos, 1492 em outros). Desse modo, não foi por acaso que ele passou a rever a idéia de início e de final do período, que passaria a ser seu objeto de pesquisa. Tal como outros autores o fariam, ele verificou a viabilidade de se pensar uma ‘Antiguidade Tardia’ (entre os séculos V e VIII), para o até então consagrado início do período medieval.

A Idade Média ocidental não é programada. Nasce de uma aculturação na qual se confundem pouco a pouco os usos e costumes grecoromanos com os dos ‘bárbaros’. Nasce também da confrontação com o Islam. Na origem, de fato, nada predispunha o Império do Ocidente – que englobava a África do Norte – a se tornar ‘europeu’. Da conquista muçulmana na Espanha (século VIII) até a hegemonia otomana nos Bálcãs (século XIV), o Ocidente não se concebe em si mesmo como entidade geopolítica. Estrutura-se apenas por sua existência diante de um mundo que se mostra hostil (Idem, p. 80-1).

No caso do final do período houve um questionamento semelhante, na medida em que se procurou pensá-lo não no século XV, mas sim no XVIII. Para ele o Renascimento Italiano foi um dos vários renascimentos vividos pela civilização do ocidente medieval, sendo, portanto, mais um Renascimento medieval.

... as mudanças não se dão jamais de golpe, simultaneamente em todos os setores e em todos os lugares. Eis porque falei de uma longa Idade Média, uma Idade Média que – em certos aspectos de nossa civilização – perdura ainda e, às vezes, desabrocha bem depois das datas oficiais. O mesmo se pode dizer em relação à economia, não se pode falar de mercado antes do século XVIII. A economia rural só consegue fazer desaparecer a fome no século XIX (salvo na Rússia). O vocabulário da política e da economia só muda definitivamente – sinal de mudança das instituições, dos modos de produção e das mentalidades que correspondem a essas alterações – com a Revolução Francesa e a Revolução Industrial (Idem, p. 66).

A Idade Média foi, portanto, um continente que o autor começou a descobrir em suas pesquisas entre as décadas de 1950 e 1960. Neste aspecto, Le Goff revela por que nesse ínterim acabou não levando a cabo seu doutoramento, e ao mesmo tempo como começava a receber de editores encomendas de obras sobre o período.

Nosso mundo era tradicionalmente regido pelos assuntos de tese e pelas grandes questões de curso, destinadas ao programa de agregação. Surgiram, com os editores, expectativas imprevistas. Faziam-nos um pedido, com o qual já quebravam a ordem convencional, obrigando-nos a um tratamento diferente dos problemas. É um momento importante da história cultural. Os diretores de coleções, os novos tipos de obra, as abordagens diferentes suscitavam de nossa parte um texto diferente, e portanto necessariamente a abertura de campos até então inexplorados (Idem, p. 90).

E foi justamente essa abertura e essa descoberta de novos campos que o fez estudar o ‘mercador-banqueiro’ (categoria social nova que foi surgindo no século XII), a idéia e a organização das universidades na Europa (e a multiplicação de profissões, em função da ampliação da divisão do trabalho nos séculos XII e XIII), com a inovação do trabalho do ‘intelectual’, até chegar nos anos de 1980 e 90 a estudar indivíduos como São Luis e São Francisco de Assis. Nessas pesquisas iniciais observou que a “novidade da Idade Média seria antes o comércio, para o qual o mar tinha grande importância, no Sul (Itália) como no Norte (Alemanha e Báltico)” (Idem, p. 117). Por outro lado, prossegue dizendo que:

Os grandes escolásticos dos séculos XIII-XIV só percebem a economia engastada na religião, para retomar uma expressão de Karl Polanyi [em A grande transformação]. É preciso esperar pelos jesuítas de Salamanca do fim do século XVI para encontrarmos verdadeiros economistas. Os jesuítas que ensinavam na Universidade de Salamanca, o principal dos quais foi Francisco Suárez (1548-1617), introduziram na tradição escolástica de Tomás de Aquino conceitos e raciocínios propriamente econômicos. Os metais preciosos da América e o uso que deles fazia a Casa de Contratación de Sevilha modernizaram uma ciência econômica que já não era medieval. O domínio específico da economia, entretanto, só aparecerá no século XVIII, com os fisiocratas e a noção de mercado (Idem, p. 116-7).

Ao caracterizar em suas pesquisas os aspectos do renascimento dos séculos XII e XIII e as mudanças na forma de atuação do cristianismo, indica que: “Até o século XII, Deus permanece em primeiro lugar como Pai. Depois disso, a figura do Filho o supera (...) Os valores tornam-se carne. Através dos mercadores-banqueiros e dos intelectuais, creio ter situado o quadro essencial de minha reflexão sobre a Idade Média.

O aparecimento dessas duas novas categorias sociais ‘marca’ a civilização medieval” (Idem, p. 119). Mas se de um lado sua obra é marcada por estudos monográficos, de outro, não deixou de lado a preocupação com a docência, elaborando também manuais didáticos para serem usados nas universidades. Foi assim que, na década de 1960, Raymond Bloch lhe fez a sugestão de participar de uma coleção sobre as grandes civilizações. Daí teve origem seu livro A civilização do ocidente medieval publicado em 1964.

Parecia-me também, mergulhado nos manuais de confissão, percorrendo os numerosos sermões dos pregadores, que a Idade Média tinha modelado noções de polidez, de códigos morais, até de urbanidade extremamente novas, na medida em que essa expansão das cidades, dominada, não tinha precedente. Constituiu-se uma civilidade urbana, paralela à cortesia do mundo dos nobres. Só a palavra civilização integrava harmoniosamente os valores de cima e os valores de baixo (Idem, 125).

A noção de ‘criação’ foi o outro termo fundamental para pensar àquelas mudanças. O desenvolvimento da sociedade medieval, por outro lado, foi ainda marcada pelo calendário (a partir do século VII), com base nos sinos das igrejas, e pelas leituras individuais, que a partir do século XIII conheceu a difusão dos Livros de Horas:

“Trata-se de manuais em que a devoção é repartida segundo as horas de cada dia. Exclusivos, claro, dos que sabem ler, destinavam-se portanto a leigos poderosos e principalmente a suas mulheres. Testemunham também um certo crescimento na importância dos leigos e das mulheres na sociedade cristã, crescimento enquadrado pelo calendário. Sabe-se, de resto, que esses Livros de Horas, muitas vezes ricamente ilustrados, forneceram algumas das mais belas obras-primas das miniaturas da Idade Média” (Idem, p. 138-9). Na sua discussão, evidentemente, Le Goff não deixa de tocar em assuntos como o purgatório, a morte, o direito, o monoteísmo do cristianismo, temas para os quais também destinou importantes livros e artigos.

A questão do humanismo, do ateísmo e dos hereges na Idade Média também lhe envolveu a atenção. Isso porque essa caracterização do indivíduo tocava em outro ponto fundamental para o período, que foi a criação e a identificação  do ‘bem’ e do ‘mal’ e, por extensão, de Deus e do Diabo, de anjos e de demônios, de céu e de inferno, tensões para as quais, como foi dito acima, foram a base da civilização do ocidente medieval. Assim, ao avaliar e articular todas as suas obras, dando coerência a sua trajetória, Le Goff não poderia se eximir de chegar a conclusão de que a “Idade Média aqui apresentada é a minha Idade Média” (Idem, p. 212).

Mas considero sempre possível pensar a história do Ocidente (ou da Europa) a partir da era cristã na duração mais longa (a ‘longa Idade Média’), sem cair nos clichês e nas fantasias de uma história feita de saltos, de estagnações e de declínios, ou ainda menos nos de uma história em migalhas. De modo que vejo a Idade Média se desfazer em uma multiplicidade de heranças (Idem, 213).

A leitura dessa obra, nesse sentido, permite que se compreenda como um historiador, Jacques Le Goff, fez suas escolhas, suas pesquisas e seus questionamentos sobre toda uma época, a da Idade Média, a Idade Média do autor. Evidentemente, pudesse questionar aqui que o autor procurou elaborar o relato, ou mais precisamente, o testemunho que deseja que fique para a posteridade; e, nesse caso, disputas pelo poder ficaram minimizadas, ou excluídas da discussão, críticas aos livros fossem deixadas de lado e a própria elaboração da obra ocupasse um itinerário quase que linear na sua trajetória (mas que autor não faria isso?). Pode-se ainda observar que o livro é mais a organização das memórias do autor, do que uma investigação histórica, na qual o uso das fontes é um ponto essencial. Alguns poderiam justificar que a escolha do autor se deve ao fato de que este estilo narrativo tem sido muito praticado, a exemplo dos textos de Pierre Bourdieu (1930-2002) Esboço de auto-análise (de 2004) e de Edward W. Said (1935-2003) Fora do lugar: memórias (de 1999) – e, aqui, vale destacar a exceção a essa regra, que foi a autobiografia de Eric Hobsbawm Tempos interessantes, publicada em 2002, na qual o uso de fontes sobrepôs o relato das memórias do autor. Por outro lado, se levarmos em conta o quanto Jacques Le Goff foi crítico quanto a questões como a de um progresso material contínuo, de um sentido e de uma linearidade na História e na pesquisa histórica, de sua preocupação com as relações tensas e difíceis entre História e Memória, às suas críticas as fontes e sobre as Filosofias da História, o autor não teria sido traído por seu discurso nesta sua brilhante aula (a partir de suas memórias) sobre a sua trajetória intelectual?

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A História Ambiental e a Educação Ambiental como Ciência Social



CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO RADIAL

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA



Gisele Finatti Baraglio

























HISTÓRIA AMBIENTAL

A História Ambiental e a Educação Ambiental como Ciência Social

Questões para uma reflexão







































São Paulo

2011

GISELE FINATTI BARAGLIO













HISTÓRIA AMBIENTAL

A História Ambiental e a Educação Ambiental como Ciência Social

Questões para uma reflexão





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Artigo apresentado como requisito parcial à obtenção da aprovação na disciplina de Metodologia Científica A História Ambiental como Ciência Social – questões para uma reflexão, curso de Licenciatura em História, Centro Universitário Estácio Radial.



Orientador : Prof. Herbert Schutzer











São Paulo

2011

























































































Dedico este estudo a todos aqueles que acreditam na educação, trabalham e lutam por ela.






Resumo

Este artigo fornece uma introdução geral ao tema da História Ambiental, do Meio Ambiente e das Ciências Sociais com base nas principais publicações sobre o assunto. Ela ilustra a complexidade dos movimentos de Ecologia e Meio Ambiente, onde ambos têm um rico campo de um significado polissêmico. Define a História Ambiental como uma investigação aberta e não reducionista das interações entre os sistemas sociais e sistemas naturais ao longo do tempo.



Palavras-chave: História ambiental, Teoria da História, diálogo insterdisciplinar, Historiografia









ABSTRACT

This article provides a general introduction to the subject of the environmental History, environment and social sciences on the basis of the principal publications on the subject. It illustrates the complexity of the motions of ecology and environment both of which have a rich a polysemic field of meaning. It defines environmental history as an open and non-reductive investigation of the interactions between social systems and natural systems over time



Key-words: Environmental History, Theory of History, Interdisciplinary dialogue, Historiography;








SUMÁRIO



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Resumo

03

Sumário

04

Introdução

05

Fundamentação Histórica

07

As origens: metodologias e temas

09

Atualidade

11

Conclusão

14

Referências Bibliográficas

15








Introdução



A História tem passado nas últimas décadas por uma profunda “revolução”. Temas objetos, conceito, métodos e técnica de análise tem se modificado e diversificado levando a História a perder as características de ciência descritiva que a marcaram por um longo período, dentro deste princípio gostaríamos de propor um diálogo entre a história e sua jovem cria, uma disciplina nova e ainda pouco conhecida no Brasil – a História Ambiental.



Este novo campo do conhecimento vem sendo construído há cerca de quinze anos, praticado principalmente nos EUA na Austrália e em alguns outros países de língua inglesa, começa a surgir ainda de forma incipiente no Brasil no final da década de 90, até porque nas duas décadas que a antecedem a melhor História do Brasil foi feita com forte sotaque inglês, o regime militar havia sufocado a pesquisa acadêmica: acervos foram fechados, documentos jogados às traças, professores se exilaram ou foram expulsos; somente uma pequena casta de especialistas encontrava espaço para atuar e mesmo entre estes, o estudo sobre o meio-ambiente não era prioridade.



Ao entrarmos no século XXI, percebemos uma migração do foco de interesse; até pouco tempo o assunto tradicionalmente importante aos historiadores era a política, a economia; consequentemente o único campo que merecia interesse era o Estado Nacional, ou seja, a temas relacionados com o funcionamento das instituições formadoras do Estado, mas há algum tempo assistimos ao florescimento de estudos das Ciências humanas e Sociais neste contexto os historiadores começam a abandonar um pouco a certeza de que o passado teria sido tão integralmente representado por poucos indivíduos ou tão-somente por interesses do Estado, começam a “desenterrar” camadas de história da vida e pensamento das pessoas comuns e reconceituam a História de baixo pra cima.



Esta nova História totalizante, globalizante, interdisciplinar em oposição à historiografia tradicional traz consigo um novo conceito sobre o meio ambiente – é nesta visão que a História Ambiental se insere – ao tratar o papel da natureza na vida humana, como um agente e presença histórica, impõe uma visão global, a medida em que fenômenos que ocorrem ou ocorreram  no meio ambiente não ficam restritos ás fronteiras dos Estados nacionais; ao tentarmos entendê-los e associá-los à evolução das práticas sociais, precisamos ter uma visão mais integrada do mundo, não mais restrita a fronteiras políticas, ligando assim a história natural a história social.



A característica básica da História Ambiental e da Educação Ambiental, que atuam nos questionamentos científicos e técnicos sobre preocupações sociais, econômicas, e políticas a respeito do tema ecologia e meio ambiente, objetivando criar uma visão interdisciplinar, interessada em tratar do papel da natureza e do lugar na natureza na vida humana e na história do Homem.



Como campo do conhecimento visa romper com a dicotomia homem – natureza e retirar as questões meramente ambientais de seu gueto. O historiador ambiental não pode se dar ao luxo de fazer dos problemas epistemológicos da história um problema científico ou intelectual apenas, é algo que, tendo rompido os muros acadêmicos provoca o historiador, torna-se um problema cívico e até moral, e o instiga a “prestar contas”.








Fundamentação Histórica



Quando o homem descobriu o tempo geológico da Terra, aproximadamente 4,5 bilhões de anos, igualmente descobriu que a presença humana era uma pequena nota de rodapé da última página do livro da vida planetária.



Há oito mil anos, o Brasil possuía 9,8% das florestas mundiais. Hoje, o país detém 28,3%. Dos 64 milhões de km2 de florestas existentes antes da expansão demográfica dos humanos, restam menos de 15,5 milhões, cerca de 24%,segundo estudo da Embrapa Monitoramento por Satélite sobre a evolução das florestas mundiais.



Dos 100% das florestas originais, a África mantém hoje 7,8%, a Ásia 5,6%, a América Central 9,7% e a Europa – o pior caso – apenas 0,3%.



O Brasil ainda detém 69,4% de suas florestas originais. O paradoxo é que, em vez de ser reconhecido pelo seu histórico de manutenção da cobertura florestal, o país é severamente criticado pelos campeões do desmatamento e alijado da própria memória.



É certo que um dos primeiros atos dos portugueses que por aqui chegaram em 1500 foi abater uma árvore para montar a cruz, gesto premonitório do resultado da ocupação européia na Mata Atlântica, afinal, já fazia sua primeira vítima há quinhentos anos. Nos cinco séculos que se seguiram, cada novo ciclo econômico de desenvolvimento do país significou mais um passo na destruição de uma floresta de um milhão de quilômetros quadrados, hoje reduzida a vestígios.



Nesse desdobramento trágico de uma lógica sempre apresentada como inexorável pelos defensores da civilização é que nos vemos em meio a uma nova realidade; como se passou do naturalismo à ecologia (termo criado em 1866) e deste á História Ambiental e como evoluiu a história do pensamento sobre as relações homem / natureza?



É fundamental a todo campo do conhecimento que este tenha seus limites bem traçados, que seja bem conhecida a natureza de suas preocupações, que tenha seus objetivos bem definidos e que, ao se fundar, possa trazer uma nova e real contribuição do mundo em que vivemos – condição essencial para o nascimento de qualquer ramo da ciência.



Dessa maneira nenhuma ciência ou disciplina acadêmica pode tomar seu objeto como “dado”. Este que estar claramente definido – em alguns casos, como este precisa efetivamente ser construído – assim como claras devem ser também as razões de uma tal escolha, de tal forma que o primeiro passo em qualquer processo do descobrimento deve ser a definição de um campo de estudo ou domínio.



A natureza de um domínio e seus componentes sugere quais conceitos formam o corpo técnico e como estes devam ser aplicados, como os objetos que o formam devam ser descritos e como tais descrições possam e devam ser melhoradas e modificadas.



Se, no caso da História Ambiental, esta nova disciplina, se apóia nos métodos e em alguns conceitos de História, por outro lado lembremo-nos que a interdisciplinaridade que caracteriza este novo ramo do conhecimento parece atingir com crueldade esses conceitos, arriscando-se a lançar-lhes no senso comum. Acreditamos, entretanto que a História Ambiental assim como outras áreas do conhecimento terá mais nítido seu objetivo, na medida em que nos permita traçar sua historiografia.



Ainda no alerta interdisciplinar, podemos observar que A História Ambiental inclui diferentes dimensões; daí a dificuldade em reconhecê-lo, classificá-lo ou tentar cercá-lo dentro dos estreitos limites temáticos, como normalmente procedemos com as demais ciências.



Temas, abordagens, objetivos, métodos e formas de narrativa, tudo tem sido construído pouco a pouco, através da elaboração de trabalhos originais e interessantes daquilo que hoje já se pode denominar de “História Ambiental”.




As origens: metodologias, temas



Observando os mentores da “École des Annales” Marc Bloch, Lucien Febvre e, Fernand Braudel, vemos que fizeram importantes caminhadas dentro do que viria a se convencionar como história ambiental: Bloch, com os estudos sobre a vida rural na França; Febvre, com textos sobre geografia social; e Braudel com a concepção de que o ambiente molda o homem – uma história vista do ângulo superior da natureza –, com destaque para a sua obra sobre o Mediterrâneo.  Todavia, viria a ser Aldo Leopold, biólogo e conservacionista, quem lançaria as bases da chamada “ética Ecológica” com o livro, publicado postumamente em 1949, A Sand Country Almanac (na edição em português: Pensar como uma Montanha).



O ambiente emerge como um pensamento holístico, buscando reintegrar as partes de uma realidade complexa, ambicionando completar as visões parciais e o desconhecimento da natureza. Neste contexto cabem algumas perguntas, qual história é ambiental? É a análise da história do ambiente ou uma nova maneira de olhar a História?



A fim de compreendemos como a natureza se organizou e funcionou no passado, levando em conta o físico o biológico, o natural, torna-se necessário reconstruir a paisagem daquele passado, logo a necessidade de estreitar laços com botânicas, zoologia.



Da mesma forma, seguindo a investigação para o domínio sócio-econômico, precisamos relacionar como interage e modela ferramentas de trabalho, modos de produção, relações sociais, instituições, ou seja, inclui-se o estudo do poder de tomada de decisão de uma dada sociedade referentes ao meio ambiente.



Ao limitar um espaço ou um corpo para ser estudado: um vale de um rio, uma ilha, um trecho de terras florestais, um litoral, uma determinada área de ocorrência de um recurso natural de alto valor comercial. As análises, portanto, focalizam uma região com algum grau de homogeneidade ou identidade natural e assim a historiografia ambiental se identificaria também com a história regional.



Já no campo filosófico uma interação tangível e exclusivamente humana na qual percepções, valores éticos, mitos e outras estruturas de significação tomam parte do diálogo de um indivíduo ou grupo social com a natureza.



Observa-se portanto, marcas que facilitam a compreensão do que seja esta ciência, desenvolvimento, ética, econômica, política, antropocentrismo, mitos, religião,  elementos que certamente compõe a História.



Segundo Bloch (1974) “A História é a Ciência dos Homens no Tempo”. Essas são as ações que os homens de diversos lugares, em diferentes contextos, faz de tempos em tempos, através dessa temporalidade e que podemos estabelecer relações de permanências e transformações. A História Ambiental não é apenas a abordagem da questão ambiental no tempo em que se encontra o meio ambiente, mas nos leva a pensar historicamente nas relações estabelecidas entre Homem-Natureza.




Atualidade



Análises que privilegiam as relações entre homem e meio ambiente são de grande importância na formação de uma consciência crítica relativamente à importância da preservação do meio ambiente visando uma melhor qualidade de vida. Uma das mais nefastas conseqüências do advento do sistema capitalista foi à aceleração da depredação dos meios naturais. Hoje podemos ver o mundo inteiro, não apenas por nossos satélites, mas no contexto dramático e vertiginoso dos problemas ambientais, a expressão natureza intocada é um mito, nunca houve tal realidade; o homem se considera um ser superior e, portanto acima da natureza não como parte integrante da mesma. Desmata, poluí degrada tudo em seu próprio benefício sem importar com as repercussões que suas ações trarão a posteriori.



Em termos historiográficos Sérgio Buarque de Holanda salientou que as relações com a natureza no Brasil estiveram perpassadas por geração de riqueza ao colonizador. Já Caio Prado Junior observou o caráter predatório das riquezas naturais brasileiras, a serviço do capital Segundo esse autor, esse aspecto de relacionamento homem-natureza, é uma atividade econômica permanente da colonização ao século XX. O historiador norte-americano Warren Dean, por sua vez, enfatizou que as queimadas e o nomadismo da agricultura proferida por latifundiários, no Brasil do século XIX compreendiam os recursos naturais enquanto recursos inesgotáveis. Devido a isso simplesmente negligenciavam a preservação ou mesmo recomposição das condições de disponibilidade desses recursos.



Pensar historicamente a relação Homem-Natureza ajuda-nos compreender, para mencionarmos Braudel (1983), “o evento em longa duração”. O homem sempre considerou a satisfação pessoal e presente no discurso contemporâneo, A pesquisa histórica entretanto, vem revelando que a preocupação intelectual com os problemas "ambientais" esteve presente, ao menos no mundo de expressão européia, desde o final do século XVIII, ocupando um lugar relevante no processo de construção do pensamento moderno. A grande novidade das últimas décadas esteve na difusão desse tipo de debate para uma parcela muito mais ampla da esfera pública. Os saberes acadêmicos foram desafiados e estimulados por tal movimento. Não é por acaso que nas últimas décadas organizaram-se iniciativas de ensino e pesquisa em economia ecológica, direito ambiental, engenharia ambiental, sociologia ambiental etc. Estabeleceu-se um movimento de mão dupla, em que as produções científicas influenciaram e foram influenciadas pelas ações públicas.



È óbvio que a História Ambiental por si só não resolverá os complexos sócio-ambientais planetários, nem associada à educação ambiental . Mas elas pode influir decisivamente para isso, quando formam cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres. Tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na sua comunidade, haverá uma mudança no sistema, apesar de não possuir resultados imediatos, visíveis, também não será sem efeitos concretos. E por isso que (Reigota 2003, p.38) nos salienta que:

A educação ambiental não deve perder de vista os complexos desafios políticos, ecológicos, sociais e econômicos que apresentam a curto, médio e longo prazo. permite demonstrar a velocidade em que as mudanças ocorrem e como os acontecimentos estão inseridos em várias temporalidades: a curta duração, a dos acontecimentos breves, com datas e lugares determinados; na média duração, no decorrer da qual se dão às conjunturas, tendências políticas e/ou econômicas, que por sua vez, se inserem em processos de longa duração, com permanências e mudanças que parecem imperceptíveis. É o ritmo das estruturas, tais como a constituição de amplos sistemas produtivos de relações de trabalho, as formas de organização familiar e de sistemas religiosos, a constituição de percepções ecológicas estabelecidas na relação entre homem e natureza.



Por sua vez, os valores da autonomia, da cidadania e da justiça social são considerados princípios básicos da educação. [...]. A autonomia caracteriza as pessoas que tem consciência nítida de sua especificidade em determinada sociedade. A idéia de cidadania baseada na igualdade política entre todos os membros de uma nação enriqueceu-se (p.39). Com a exigência do direito á diferença, que resulta de uma participação política cada vez mais importante, grupos sociais se organizam com base em proposições especificas e romperam com a hegemonia do discurso único (índios, mulheres, idosos etc.).



Reigota (2000, p.08) enfatiza que:



A educação ambiental deve, portanto, capacitar os indivíduos ao pleno exercício da cidadania, permitindo a formação de uma base conceitual suficientemente diversificada técnica e culturalmente, de modo a permitir que sejam superados os obstáculos à utilização sustentável do meio [...]. Nos níveis formais e informais tem procurado desempenhar esse difícil papel resgatando valores como o respeito à vida e à natureza, entre outros, de forma a tornar a sociedade mais justa e feliz.



O debate, homem e natureza, esta perpassado pela temática Educação Ambiental. Essa deve ser entendida por sua dimensão política, no seguinte sentido de reivindicar e preparar os cidadãos para exigir justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza. A educação ambiental como educação política destaca inicialmente ma questão por que fazer, para depois analisar o como fazer. A temática História Ambiental e Educação Ambiental como Ciências sociais, se constituem e se consolidam em um momento histórico de intensas transformações mundiais, tendem a questionar as opções políticas atuais e o próprio conceito de educação vigente, exigindo-a inovadora e crítica.






Conclusão

A História Ambiental está relacionada com um espaço, tornando explícito a história de um lugar com toda a sua cultura material. Nesse aspecto ela se confunde com as histórias pessoais, com as trocas sociais possíveis entre a cultura visitada. Isso sem contar que ressalta o sentimento de pertencimento que associa o habitat ao lugar. Além disso, História e Educação Ambiental são temáticas que tem muito mais a dizer do que apenas com relação à questão ambiental.

Essas práticas podem e devem ser analisadas levando em considerações as relações: passado x presente, mediante isso podemos perceber as transformações e permanências, pelas quais o meio, assim como o homem, passou; não deve, portanto, ser encarada como um mero movimento de historiadores ambientalistas no seio da história, como um modismo efêmero. É sim um ramo de produção do conhecimento com fundamentais reflexões e embates filosóficos e historiográficos.

Sua real originalidade, não está no nome, mas no ideário de colocar a sociedade na natureza e no equilíbrio com que busca a interação, a influência mútua entre sociedade e natureza no tempo.
















Bibliografia



BRAUDEL,Fernand. Une vie pour l’Historie Magazine Literatire, n212 p.18-24, Paris, 1984

Cascino, Fábio. Educação ambiental: princípios, história, formação de professores São Paulo, Ed. SENAC 1999

Dean, Warren. A Ferro e Fogo. 3. São Paulo, Ed. Cia das letras 2001

DRUMMOND, J.A. A História Ambiental e o choque das civilizações. Site Scielo, acessado em 17 a 18 de Setembro de 2011- http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-753X1999000200018

Leopold, Aldo. A Sand county Almanac. 2Ed. Oxford EUA, Oxford University Press, EUA 2005


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