Fiorin
aborda, no livro Linguagem e ideologia, a relação que a linguagem
mantém com a ideologia, ou melhor, a influência que uma exerce sobre a outra. O
livro tem como ponto de partida estudos de grandes pensadores, como Marx e
Engels, e, a partir daí, Fiorin, de uma maneira incrível, trabalha diversos
conceitos que relacionam a importância da linguagem na formação ideológica do
indivíduo, levando em conta os fatores sociais que, segundo o autor, são
determinantes para a efetivação dessa formação ideológica.
O
sistema linguístico de uma língua sofre alterações devido a fatores internos da
língua, e não a externos. O que chama a atenção a esse fato é que a criação de
categorias linguísticas provavelmente depende de fatores sociais, porém essas
categorias perdem os laços que têm com os fatores sociais que contribuíram para
seu aparecimento, ganhando, dessa forma, autonomia.
O
autor faz distinções entre alguns termos, as quais acabam ajudando no
entendimento do livro. Uma dessas distinções importantes é entre o discurso e a
fala. O discurso são “[...] as combinações de elementos linguísticos, usados
pelos falantes com o propósito de exprimir seus pensamentos” (FIORIN, 1990, p.
11), enquanto a fala seria a concretização desse discurso, sua exteriorização.
O discurso, para ser compreendido em sua totalidade, tem que estar
bem-estruturado sintática e semanticamente. O autor distingue também sintaxe
discursiva de semântica discursiva, sendo a sintaxe predominantemente
consciente, e a semântica inconsciente, pois, para se expressar, o falante tem
que estruturar o que vai ser dito, já o conteúdo é influenciado pelo contexto
social. Dois discursos podem se referir à mesma coisa e, mesmo assim, serem
discursos distintos, se cada um tratar do assunto sob pontos de vista
diferentes.
O
texto é um dos veículos de expressão do discurso. Existem dois tipos de texto:
o temático (não figurativo) e o figurativo. Segundo Fiorin (1990, p. 26):
Tema
é o elemento semântico que designa um elemento não-presente no mundo natural,
mas que exerce o papel de categoria ordenadora dos fatos observáveis. São
temas, por exemplo, amor, paixão. Lealdade, alegria.
Figura é o elemento
semântico que remete a um elemento do mundo natural: casa, mesa, mulher, rosa
etc.
Já
o discurso figurativo é a concretização de algum discurso temático, ou seja, um
está interligado ao outro, o discurso figurativo narra um determinado episódio,
e o temático é dissertativo, pois está contido através da “moral” da
história.
Toda
formação ideológica é determinada pela classe social do indivíduo, sendo que a
ideologia da classe dominante tem influência sobre as demais. Nenhum indivíduo
é livre ideologicamente, todas as suas ideias e pensamentos são influenciados
pelo contexto social no qual ele está inserido. A linguagem é o que determina a
formação ideológica, pois é através dela que se transmite qualquer forma de
conhecimento. É através da linguagem que o homem se relaciona com os outros e
pode interferir (agir) no mundo.
Fiorin
(1990, p. 26) mostra que há dois níveis de realidade: “[...] um de essência e
um de aparência, ou seja, um profundo e um superficial, um não visível e um
fenomênico”. É a partir do nível de aparência que se forma a ideologia
dominante num contexto social. O autor dá como exemplo a exploração do trabalho
no sistema capitalista, em que o trabalhador recebe pela força de trabalho, mas
acha que recebe pelo trabalho.
Nesse caso só analisando a realidade pelo nível
da essência é que se percebe que o trabalhador está sendo enganado, mas, como a
maioria das pessoas é levada a ver a realidade pelo nível de aparência, a
realidade continua mascarada.
A
ideologia é construída pela realidade, ao mesmo tempo que é construtora dessa
mesma realidade. Sendo assim, o discurso é expressão da consciência, mas essa
consciência é formada pelos discursos com os quais o indivíduo teve contato. O
mesmo discurso pode se manifestar através de diferentes meios de expressão,
sendo cada um a sua maneira. Por exemplo, um livro que é usado para se fazer um
filme é o mesmo discurso expresso por dois meios distintos.
O
livro de Fiorin é ótimo para entender melhor a importância da linguagem, pois
ela é o veículo de todo conhecimento e formadora de toda ideologia. O autor
abordou todos esses conceitos e elaborou o livro de forma brilhante. Trata-se
de uma obra que faz o leitor refletir sobre o mundo a sua volta, tornando o seu
olhar diferente, mais crítico e perspicaz.
RESENHA
DO LIVRO "LINGUAGEM E IDEOLOGIA"
FIORIN,
José Luiz. Linguagem e ideologia. 2. ed. São Paulo: Ática, 1990.
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