sábado, 29 de maio de 2010

RESENHA - A INTRODUÇÃO À RETÓRICA

Neste livro, o filósofo francês Olivier Reboul procura discutir e aprofundar temas referentes ao discurso, e que são discutidos, no entanto, por especialistas de diferentes áreas, como a Comunicação Social, o Direito, a Filosofia e a Educação. O modo como tais temas são apresentados pelo autor oferece a possibilidade da realização de dois tipos de leitura: a) uma leitura sequencial de todo o livro; b) uma leitura dos capítulos fora de ordem.
Quanto à sua estrutura, cabe indicar que o livro apresenta os seguintes capítulos: “Origens da retórica na Grécia” (Capítulo 1); “Aristóteles, a retórica e a dialética” (Capítulo 2); “O Sistema Retórico” (Capítulo 3); “Do século I ao século XX” (Capítulo 4); “Argumentação” (Capítulo 5); “Figuras” (Capítulo 6); “Leitura retórica de textos” (Capítulo 7); “Como identificar os argumentos?” (Capítulo 8); “Exemplos de leitura retórica” (Capítulo 9); “À Guisa de uma Conclusão” (Capítulo 10).
O capítulo inicial apresenta o que o autor considera como a origem da retórica. De um ponto de vista histórico, procura situá-la nos seus fundamentos e no contexto da antiga Grécia, período anterior a Sócrates. Neste capítulo, vemos uma apresentação dos princípios fundamentais da arte da argumentação desenvolvida pelos sofistas, os quais viajavam de cidade em cidade ensinando a retórica, entendida por eles como sendo a arte da persuasão. Para o autor, a retórica dos sofistas pautava-se principalmente na tentativa de fazer com que o verossímil se fizesse passar pelo verdadeiro, tornando poderosos os argumentos de qualquer debatedor.
No segundo capítulo, Reboul apresenta um apanhado das perspectivas retóricas dos sofistas, de Sócrates (e de Platão) e de Aristóteles, mostrando distinções entre retórica e dialética, e, entre verossímil e verdadeiro. Também menção dois elementos:
a)    o debate que é realizado, entre o papel atribuído à retórica e à dialética por Sócrates e Aristóteles;
b)    a valorização do verossímil desenvolvida por Aristóteles.
Sobre a primeira menção, para Sócrates e Platão, a dialética é o instrumento para a busca da verdade e para a identificação do que é meramente verossímil. Assim, a dialética, entendida como a capacidade analítica, a qual permite identificar as contradições e eliminá-las é valorizada como sendo a própria essência da filosofia. Enquanto isto, a retórica se apresenta como um tipo de conhecimento útil muito mais para enganar e confundir quem busca a verdade do que para outra coisa. Já para Aristóteles, ao contrário, a retórica se refere à investigação da verdade, e a ela cabe, entre outras coisas, formar um discurso organizado.
No capítulo 3, é apresentada as contribuições de Aristóteles para o estudo e para o emprego da retórica. Retoma a questão dos gêneros discursivos aristotélicos (epidíctico, deliberativo e judiciário), ligados às três dimensões dos “auditórios”: ethos (aspecto ético), logos (aspecto intelectivo/racional) e pathos (aspecto emocional). Deste modo, o autor procura mostrar ao leitor as possibilidades de utilização destes gêneros argumentativos, bem como detalha passo a passo a força e a utilidade de cada um destes gêneros, além de demonstrar as etapas de como são compostos tais discursos. Deste modo, apresenta a ideia de que a retórica compõe-se de um sistema a partir do qual se derivam as muitas variações observadas nos padrões discursivos argumentativos existentes ao longo da história.
O quarto capítulo faz uma análise da trajetória histórica da retórica. Nele encontramos referências que vão desde os oradores romanos mais famosos (como Cícero e Quintiliano), até os trabalhos mais recentes de estudiosos do tema como Perelman e Olbrechts-Tyteca. Destaque especial deve ser dado à retórica desenvolvida pelos romanos. Para Reboul, o século 20 inicia um resgate da retórica, porém constata que isto muitas vezes ocorre com um esvaziamento de seu conteúdo, tornando-a meramente uma ciência da análise das figuras do discurso, o que é colocado em causa e refutado por Perelman.
No quinto capítulo, encontramos uma compilação dos principais elementos de um texto argumentativo, bem como uma contextualização dos usos e possibilidades da retórica na composição de trabalhos acadêmicos, textos publicitários e jurídicos. Apresenta exemplos do emprego de técnicas argumentativas na composição de tarefas relativamente simples, como a composição de um texto acadêmico ou uma aula. Este capítulo é uma espécie de contextualização do tema, ressaltando sua utilização na atualidade e recolocando-o em discussão.
O sexto capítulo é uma continuação mais profunda sobre a questão apresentada no capítulo anterior, ou seja, a contextualização da retórica aos usos atuais. O tópico central deste capítulo, é apresentação e discussão das figuras de estilo literário, na qual o autor aponta a relação entre retórica e literatura, não somente para à beleza dos textos, mas também à possibilidade de um uso voltado para a persuasão e para a explicação clara do que se pretende dizer.
“Leitura retórica de textos”, o sétimo capítulo, consiste em um aprofundamento analítico da retórica. O autor chama a atenção para a forma como a retórica é útil a um tipo particular de análise: a análise retórica de um texto. Ao praticá-la, é importante se fazer algumas perguntas sobre o texto, tais como: “em que ele é persuasivo? Quais são seus elementos argumentativos e oratórios?” Outra coisa importante é a percepção de quem é o orador, bem como da maneira como este se posiciona frente à opinião.
O capítulo de número oito continua abordando análise retórica, mas agora sobre a identificação e análise dos tipos de argumentos empregados em um texto, para isso, o autor discute a maneira como as figuras argumentativas e os tipos de argumentos constituem os principais mecanismos para a compreensão dos diferentes gêneros de texto, trazendo alguns exemplos de textos construídos a partir de diferentes figuras argumentativas.
O capítulo 9 consiste em exemplos de aplicação do método de análise retórica proposto pelo autor. Ele destaca a sua técnica de análise retórica, examinando diversos tipos de texto e argumentos, os quais são, desde um comercial de televisão, até obras de filosofia. Também retoma a questão do sistema retórico e coloca seus acréscimos, os quais compõem três regras: fazer perguntas ao texto, indagar o conjunto do texto e buscar o vínculo entre o argumentativo e o oratório.
No encerramento do livro (À guisa de uma conclusão), o autor conclui que o estudo da retórica deve ser utilizado como uma forma de dialogar com o texto, e que a retórica, é um tipo de conhecimento válido, especialmente na sociedade contemporânea, a qual está imersa em toda uma gama de discursos persuasivos

bibliografia:

REBOUL, O. Introdução à Retórica. Martins Fontes: São Paulo, 2004.

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