Este
blog já existe há algum tempo. E frequentemente tenho insistido sobre a
importância da família no processo educacional de jovens e crianças. No
entanto, pouco tenho detalhado sobre o tema. Por conta disso, preciso remediar
esta falha. Já publiquei quase três anos atrás uma postagem sobre como explicar
as usuais críticas ao realismo em mecânica quântica para crianças. E mais
recentemente veiculei um texto sobre como explicar a teoria da
relatividade especial para crianças. Mas agora o tema é mais abrangente: Como
estimular a inteligência desses futuros adultos a partir de elogios.
Para dar suporte às ideias aqui apresentadas, tomo como base um detalhado
e demorado estudo publicado em 2013 no prestigiado periódico Child
Development.
De acordo com a teoria da habilidade incremental, inteligência é algo que pode
ser desenvolvido. Não se trata de uma característica inerente e imutável com a
qual uma pessoa está destinada a viver para sempre. No entanto, o leitor deve
ter muito cuidado com esta visão. Em momento algum se afirma que uma pessoa de
inteligência normal possa se tornar um gênio ou um superdotado. Apenas se
afirma que inteligência pode ser melhorada com estímulos adequados. E um dos
possíveis estímulos é o elogio. Mas como deve ser o elogio, quando se trata de
crianças?
Um elogio da forma "Nossa, como você é inteligente!" é extremamente
inadequado. Isso porque a criança pode se sentir inútil e indefesa diante de
uma futura tarefa difícil. E a tendência é ela desistir da busca por soluções
para problemas mais complexos, justamente porque não quer mais errar. Esta
tendência foi claramente identificada pelos pesquisadores do artigo acima
citado, com efeitos muito negativos a curto e médio prazo.
No entanto, um elogio da forma "Gostei da maneira como você resolveu este
problema" ou "Gostei de ver seu empenho" é um estímulo à
motivação. Esta atitude é a mais recomendável para crianças entre um e três
anos de idade, apresentando reflexos positivos até cinco anos depois.
Ou seja, crianças não devem se sentir intelectualmente superiores. O que elas
precisam é da motivação para se tornarem cada vez melhores. A referência para a
criança, portanto, não é a comparação dela com outras, mas a comparação dela
com ela mesma. O elogio deve exercer influência positiva sobre a criatividade
da criança para encontrar soluções.
Espero que o leitor também perceba que elogios não podem surgir gratuitamente,
sem uma permanente oferta de desafios. Elogio é apenas um dos estímulos. Um
problema a ser resolvido já é outro.
Esta recente descoberta em psicologia cognitiva infantil está em perfeita
sintonia com a visão meramente intuitiva de Terence Tao, matemático
ganhador da Medalha Fields. Segundo ele, para fazer contribuições relevantes em
matemática não há necessidade de ser um gênio. Precisa sim de uma certa
inteligência. Mas também precisa trabalhar duro, conhecer bem sua área
específica de estudos, conhecer outras áreas de estudos, conversar com outros
matemáticos, formular questões e ter muita paciência. O que incrementa
inteligência é a capacidade de encarar desafios, mesmo que eles não sejam
superados.
Para finalizar esta postagem, eu gostaria de recomendar um jogo de tabuleiro
que conheci durante minha infância e que lamentavelmente não vejo mais entre
crianças de hoje. O nome do jogo é Caixa Negra. É um excelente estímulo
para crianças de até dez anos de idade desenvolverem intuições sobre realidades
não visíveis a olho nu. Caixa Negra é uma brincadeira brilhante que sugere a
investigação de mundos invisíveis a partir de seus efeitos sobre o mundo
visível. Espero que o leitor aprecie o valor deste jogo tanto quanto eu.
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