RESUMO:
Este texto, elaborado a partir de estudos bibliográficos,
tem com objetivo levar a uma reflexão sobre o processo da avaliação da
aprendizagem, nos cursos à distância, o qual serviu e serve a interesses
mercantis e financeiros das elites dominantes e não dos discentes.
Desenvolvemos o estudo deste caso para identificar as
percepções dos tutores e orientadores do curso sobre sua responsabilidade na
classificação, regulação e a sujeição dos discentes aos processos produtivos,
nesta fase já foi possível identificar manifestações de conflitos moral e
cognitivo entre os tutores e os discentes quanto ao desempenho acadêmico.
1) A CRÍTICA
Quando tratamos de crítica aos métodos de avaliação dos
cursos EAD sabemos que estamos nos arriscando em um terreno perigoso, afinal
cursamos esta pós-graduação na modalidade EAD e observamos que o discurso do mesmo
fundamenta sua proposta pedagógica numa abordagem construtivista, e num sistema
de avaliação processual e contínua sob a responsabilidade do tutor ou do
professor.
Neste processo-pedagógico podemos afirmar que a figura do
professor detém um dos papéis mais relevantes pois é simultaneamente professor
e avaliador, ou numa expressão comum é promotor, juiz e membro do conselho de
sentença simultaneamente; sua avaliação se dá baseada em seus conhecimentos, experiências,
crenças e valores; corroboram para este nosso posicionamento o que afirma Sordi
(apud CHUEIRI, 2008): “uma avaliação espelha um juízo de valor, uma dada
concepção de mundo e de educação, e por isso vem impregnada de um olhar
absolutamente intencional que revela quem é o educador quando interpreta os
eventos da cena pedagógica” (p.52).
2) PROBLEMA
Na modalidade a distância, há uma estreita relação entre a
tutoria e a avaliação, as delimitações entre estes são difusas, tornando impossível
ao estudante perceber como está organizado o sistema avaliativo e o processo de
acompanhamento do aprendizado, levando o discente a questionar-se se de fato existe
tal acompanhamento.
3) HIPÓTESE
Como é possível a um curso que se propõe progressista
pautar-se num modelo tradicional, quase arcaico de avaliação como testes ou
apresentação de trabalhos com pontuações, avaliar para classificar, ou pontuar é
uma das mais tradicionais concepções acerca da avaliação escolar; de fato,
desde o período Joanino na educação brasileira os alunos são comparados a
partir de um “score”, de uma tabela, um padrão determinado pelo professor ou
pela instituição, esta avaliação fornece pouca ou nenhuma informação sobre o
conhecimento efetivamente adquirido pelo discente, ou o domínio deste sobre o
conteúdo sua única função é a padronização; o foco não é o real aprendizado,
mas uma tabela programada, repetida inúmeras vezes ao longo dos semestres. Fundamentam
nossa afirmação
o fato da avaliação assumir, frequentemente, o sentido de
premiação ou punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os
privilégios são justificados com base nas diferenças e desigualdades entre os
alunos. Fundamentada na meritocracia (a ideia de que a posição dos indivíduos
na sociedade é consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória
passa a servir à discriminação e à injustiça social (DICIONÁRIO DA EDUCAÇÃO,
2008, s/p.).
4) OBJETIVO
O que buscamos
aqui é determinar se os modelos avaliativos da educação à distância estão em
consonância com o discurso transformador e sóciointegrador da retória que o
sustenta, ou se ao contrário trata-se de uma concepção de ensino tradicional,
conservadora, que prioriza transmissão
do conhecimento calcada na medição do quanto o aluno alcançou dos conteúdos
apresentados ou trabalhos solicitados, e o quanto não conseguiu assimilar no modelo tradicional este medir dá-se via
nota, conceito ou menção.
Numa proposta pedagógica transformadora a IES deveria buscar
privilegiar o processo de construção do conhecimento do discente.
5) JUSTIFICATIVA
Embora indispensável para a sobrevivência financeira e sustentabilidade
da universidade, a padronização das avaliações e pode ser alvo de interesse da
comunidade universitária nos caso do corpo docente. E os tais critérios de avaliação ou pontuação
são construções, demarcados por alguém a partir de sua própria percepção e em
consonância com os interesses da IES que a contratou, facilitam sobremaneira o
trabalho de avaliação da aprendizagem do tutor ou professor no modelo
tradicional de ensino e causa distorções; corrobora tal afirmativa Habermas
(1983), que defende o paradigma da comunicação, a verdadeira objetividade é a
intersubjetividade, isto é, o consenso, no nosso caso, entre os especialistas,
os orientadores e os acadêmicos, sobre os critérios em que se dará o processo
avaliativo; e também a sustentação de Loch (2000):
[...] que avaliar não é dar notas, fazer médias, reprovar ou
aprovar os alunos. Avaliar, numa nova ética, é sim avaliar participativamente
no sentido da construção, da conscientização, busca da auto critica,
auto-conhecimento de todos os envolvidos no ato educativo, investindo na
autonomia, envolvimento, compromisso e emancipação dos sujeitos (p. 31).
6) FUNDAMENTAÇÃO E CONCLUSÕES
A educação tradicional, que mede e classifica, não consegue medir
o profissional totalmente formado, por este motivo foi substituída pelos teóricos
pelos modelos progressistas, construtivistas e interativos. Como é possível então
adotar nas IES um discurso progressista se não utiliza-se parâmetros
progressistas na avaliação; como podemos afirmar que os cursos superiores na
modalidade à distância enfatizam o que foi aprendido, como foi aprendido o que
ficou faltando no processo e aprendizado e por que se a forma de diagnóstico
desta avaliação foram procedimentos pautados em formulários?
Nessa lógica, o erro, a falha não pode ser passível de
punição, pois a própria estrutura da educação está equivocada não integra o aluno
rumo à sua aprendizagem; em uma prática pedagógica emancipadora, consonante com
os modelos construtivistas e progressistas a avaliação investigativa e
processual é destacada, não a avaliação classificatória baseada em um placar.
A avaliação deve antes de tudo investigar os progressos e
dificuldades dos discentes, ou seja a avaliação não pode ser um fim e si mesma,
mas uma ferramenta para alcançar os objetivos propostos pela Instituição, onde
a identificação dos progressos e avanços do aluno leve à alteração de sua
auto-estima, condição indispensável para que o aluno tenha interesse, motivação
na construção do conhecimento e de fato, aprenda. Por outro lado, a
identificação das dificuldades, realizada numa ação dialógica entre professor e
aluno, e as providências para saná-las, garante ao discente a certeza que a
instituição está interessada em seu progresso acadêmico e não apenas nos
valores que recebe.
7) REFERÊNCIAS
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