domingo, 26 de fevereiro de 2012

O SIGNIFICADO DO CENTRO-OESTE NA ESPACIALIDADE DO DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO

Em um cenário onde muitos propõem o rompimento com a visão das macrorregiões em detrimento de visões locais ou sub-regionais, é necessário que se entenda que atuar em espaços menores não se decreta necessariamente a falência das macrorregiões, e estas, bem como o Centro-Oeste em questão, devem ser compreendidas como inseridas na espacialidade brasileira em todo seu contexto Geopolítico.

Este texto visa traçar um perfil da Região Centro-Oeste, seu posicionamento geográfico, economia urbano-regional, Estados integrantes, biodiversidade e intervenção estatal, espelhada em um processo mudancista marcante ocorrido na década de 80, quando o Centro-Oeste foi definitivamente incorporado na dinâmica capitalista brasileira. 1-2 Posicionamento Geográfico - Região Síntese Nacional: Após dividir os antigos Estados de Mato Grosso e Goiás (anos 70 e 80) e posteriormente incluir os Estados de Rondônia e Tocantins na Região Norte, a Macrorregião Centro Oeste é atualmente composta por GO, MT, MS, e DF, ganhando destaque (metade do séc. XX) por abrigar a nova capital, Brasília. O atual contorno do Centro Oeste pode ainda ser alterado por uma possível divisão do estado de Mato Grosso, ainda em estudo. O termo Região Centro-Oeste existe institucionalizado pelo Governo Federal, desde 1941, quando o IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística fez a primeira divisão territorial do Brasil em macrorregiões. Destaquemos que o Centro Oeste ocupa hoje 18,86% do território brasileiro, numa área de 1.612.077,2 km2 Região Centro-Oeste atual Ao contrário de esgarçado (como dizem alguns analistas), o Centro-Oeste é um território que vem assumindo, mais e mais, a marca de uma

Em fatores fisiográficos, abriga nascentes de córregos e rios de três grandes bacias hidrográficas (Amazônica. São Francisco e Platina) e três grandes ecossistemas (Floresta Tropical, Pantanal e Cerrado).
Paralelamente, a marca "Síntese" "é conferida ao Centro Oeste também pelos programas de interiorização no desenvolvimento de país, um movimento centrípeto, decorrente das manifestações de multiculturalismo, um amálgama cultural forjado pelas características agregadas de outras macrorregiões".
 
Quanto ao seu "centrifuguismo", este se deve ao fato da região ser corredor de passagem e de ligação entre o Sul / Sudeste e Norte/Nordeste do país e também por abrigar Brasília, centro do poder político.
O Centro-Oeste tem importância internacional como sendo "... lugar potencialmente estratégico no espaço econômico latino americano, seja nas articulações do Mercosul, seja em possíveis vias de escoamento pelo Pacífico" (Guimarães E. Lene, 1997). Região-Sintese Nacional, favorecida pela sua posição geográfica e centralidade. 1-3 Processo de ocupação do centro Oeste O Centro-Oeste é uma Região da qual pode-se afirmar que o auge de sua ocupação econômica é bastante recente, o que significa que seus potenciais de desenvolvimento ainda estão sendo definidos. Essa Região é caracterizada por ser uma área de fronteira que vem se consolidando nos últimos trinta anos como uma economia baseada na pecuária de corte e leite extensiva, na produção intensiva de grãos, especialmente, milho, e soja e, ultimamente, na agroindústria que se utiliza dessa matéria prima – carne e grãos.
 
Apesar de se reconhecer que a historia da ocupação iniciou-se há milhares de anos, e que isso determinou aspectos importantes da identidade regional, optou-se em adotar como
É no período que compreende as décadas de quarenta e sessenta que esse processo de ocupação começa a se consolidar efetivamente.
 
A partir dos anos setenta o ritmo de ocupação do Centro Oeste se acelerou, com base em intensa política de expansão da fronteira agrícola, ocorrida com o aproveitamento dos cerrados (até então tidos como inaproveitáveis) e a abertura de novas terras para a exploração agrícola e pecuária. Esse processo de ocupação trouxe à região um enorme fluxo de migração, desordenado e degradador.
 
Este rápido desenvolvimento realizou-se de forma peculiar, dado que a incorporação espacial foi associada à rápida modernização da agricultura e esteve baseada em um modelo caracterizado pela prioridade dos cultivos comerciais, com grande aplicação de insumos modernos e mecanização, sem que tenha sido incorporada a esse processo a devida consideração dos aspectos sociais e ambientais. marco inicial da ocupação econômica do Centro Oeste, a década de 30. Esse marco, além de ser um momento importante de intervenção política, cumpre totalmente os objetivos desse estudo. Então, define-se que o processo de ocupação produtiva da Região Centro Oeste inicia-se efetivamente nos anos 30, especialmente em Goiás e no Sul de Mato Grosso, com base em grandes projetos de colonização. "Programa de marcha para o Oeste" de Getúlio Vargas, que tinha como objetivo a integração regional, ampliando o mercado interno e incentivando a migração para a região; a criação da nova capital do país, Brasília, e a construção de grandes eixos rodoviários, como a BR 153 (Belém – Brasília) e a BR 364 (Cuiabá – Porto Velho). Este período é caracterizado pela ótica do desenvolvimento e trouxe para a região um grande impulso econômico. 1-4 A produção agrícola: matéria - prima abundante, de qualidade e de baixo custo Nos anos 70 a região se consolida como importante área de expansão da agropecuária nacional. Assistiu-se a um acelerado processo de expansão da área cultivada, incorporação de novas tecnologias e diversificação de culturas.

A estrutura de produção existente foi drasticamente afetas, ocorrendo uma redução da participação relativa das tradicionais culturas, principalmente arroz, feijão, e aumento da importância relativa de culturas voltadas à exportação, geração de energias e utilização como matéria prima das agroindústrias. Esse processo de modernização e diversificação pode ser melhor exemplificado pelo caso de Goiás. Enquanto a soja, ainda nos anos 70, aumenta sua participação, a produção de arroz perde importância relativa, passando de 65% da produção de grãos do Estado em 1965 para 38% em 1975.
O caso da soja é, no entanto, o mais ilustrativo da acelerada expansão da agricultura da região. De uma posição praticamente insignificante nos anos 70, a produção da região chega a representar 60% do total produzido no Sul – Sudeste em 1988. Em 1991 a região chega a responder por cerca de 44% produção nacional. "Este mesmo padrão tecnológico é capaz de apresentar, ainda, rendimentos crescentes nas condições do cerrado".
Os maiores gastos com a "correção" do solo (calagem e adubação) são compensados não só pelo menor da terra, mas pelos ganhos de escala devido à mecanização. Outro fator é a qualidade dessa soja, que apresenta menor grau de umidade e maior percentual de proteínas, sendo considerada uma grande vantagem na produção de ração.
A agricultura foi e ainda é, a base econômica da região, e vem apresentando algumas fortes características. Uma primeira é a constante queda do emprego agrícola, devido principalmente, à incorporação tecnológicas em culturas que demandam mão- de- obra, principalmente, cana- de- açúcar, tomate, algodão, feijão; ao aumento da área de culturas mecanizadas, que vem dispensando mão- de- obra assalariada (soja, algodão, cana - de – açúcar)e a intensa "pecuriação" da região. Nos últimos 10 anos a área total utilizada na agropecuária aumentou cerca de 9,5% sendo que a área de lavoura diminuiu 600 mil hectares, enquanto a área de pastagem aumentou em 15 milhões de hectares.
Apesar do processo que vem se dando nos últimos anos de ocupação de terras, praticamente não houve nenhuma alteração na estrutura fundiária nos últimos dez anos. O Centro Oeste continua sendo uma região com alta concentração de terras. 1-5 Crescimento populacional e dinâmica demográfica O incentivo para a ocupação agrícola do cerrado (anos 70 e 80) e a crescente industrialização nos anos 90, transformou esta região em
O fluxo migratório interno rural-urbano é bastante significativo nesta ultima década, mas em menor intensidade que a década de 80.
A deteriorização da condição de vida no campo, referente à educação e saúde, é um fator fundamental para a migração. As mulheres deslocam-se com os filhos para cós centros urbanos em busca de melhores condições. O setor de serviços na cidade acaba atraindo especialmente para os serviços de empregadas domesticas e faxineiras.
 
Atualmente as dificuldades para um morador de meio rural vêm merecendo destaque o incentivo dado, por organizações de agricultores, entidades de assessoria, governamental ou não, ao desenvolvimento de atividades não agrícolas no meio rural, na intenção de gerar rendas e dar oportunidades para se manterem no campo. pólo de atração. O crescimento populacional registrado em 250% (censo demográfico) esta diretamente relacionado com a migração. 1-6 Novas tendências: Agroindustrialização Nestas ultimas décadas é intenso o processo de industrialização.
 
No setor de industrialização de alimentos, outra tendência observada é a crescente incorporação de industrias nacionais pelas multinacionais. Dois exemplos que merecem destaque: o primeiro é a Monsanto que adquiriu recentemente duas grandes empresas brasileiras de sementes, a FT sementes e a Agroceres S. A, tornando-se o grande grupo que atua na área de herbicidas e está muito interessada na expansão do plantio direto, em especial, nas áreas do cerrado. agroindustrialização. Grandes empresas estão se deslocando para o Centro-Oeste, entre elas, a Sadia, a Perdigão, Marfrig (Seara), Parmalat, Nestlé, Unilever (Cica), etc., indicando uma nova forma de organização da agricultura e sua integração com a industria. Estas empresas transferem-se para a região com estratégias diferenciadas das que desenvolvem no seu ―estado de origem‖, baseadas na produção em escala e incorporando poucos agricultores nesse processo. 1-7 Estados componentes da Região Centro Oeste- Informações gerais Os Estados componentes da Região Centro Oeste, distintamente, classificam-se em fatores diversos como a seguir:
O Distrito federal
LOCALIZAÇÃO: o Distrito Federal fica na região Centro-Oeste do Brasil
DIVISAS: Norte/Sul/Leste/Oeste = Goiás
ÁREA (km²): 5.822,1
RELEVO: planalto de topografias suaves
RIOS PRINCIPAIS: Paranoá, Preto, Santo Antônio do Descoberto, São Bartolomeu.
VEGETAÇÃO: Cerrado
CLIMA: tropical
MUNICÍPIOS (número): 1 (2010)
CIDADES MAIS POPULOSAS: Ceilândia, Taguatinga, Gama, Samambaia.
HORA LOCAL (em relação à Brasília): a mesma
HABITANTE: brasiliense
POPULAÇÃO: 2.051.146 (2010)
DENSIDADE: 352,30 habitantes p/km2
ANALFABETISMO: 5,2% (2010)
MORTALIDADE INFANTIL: 27,6
CAPITAL: Brasília, fundada em: 21/4/1960

Em 1987 foi declarada patrimônio histórico da humanidade pela UNESCO.

HABITANTE DA CAPITAL: brasiliense.
 
"Brasília correspondeu, essencialmente, a um projeto que tinha como objetivo garantir a ocupação territorial do centro do Brasil, segundo uma estratégia que se preocupava com o desenvolvimento e urbanização do Centro-Oeste e do Norte amazônico como meio de consolidar a soberania nacional sobre aquelas regiões".

A primeira eleição direta para Governador do DF ocorreu no pleito de l990. O Estado de Goiás LOCALIZAÇÃO: Goiás, estado brasileiro, fica no leste da região Centro-Oeste.
*O nome do estado origina-se da denominação da tribo indígena guaiás, que por corruptela se tornou Goiás. Vem do termo tupi gwa ya que quer dizer indivíduo igual, gente semelhante, da mesma raça.

DIVISAS: Norte = Tocantins; Sudeste = Minas Gerais e Mato Grosso do Sul; Leste = Bahia e Minas Gerais; Oeste = Mato Grosso; Sudoeste = Mato Grosso do Sul
ÁREA (km²): 341.289,5
RELEVO: planalto, chapadas e serras na maior parte, depressão ao norte
Goiás integra o planalto Central, sendo constituído por terras planas cuja altitude varia entre 200 e 800 metros
RIOS PRINCIPAIS: Paranaíba, Aporé, Araguaia, São Marcos, Corumbá, Claro, Paranã, Maranhão.
VEGETAÇÃO: cerrado com faixas de floresta tropical
Salvo pequena área onde domina a floresta tropical, conhecida como Mato Grosso de Goiás, a maior parte do território do estado de Goiás apresenta o tipo de vegetação escassa do cerrado, com árvores e arbustos de galhos tortuosos, cascas grossas, folhas cobertas por pêlos e raízes muito profundas
CLIMA: tropical
MUNICÍPIOS (número): 248 (2010)
CIDADES MAIS POPULOSAS: Goiânia, Anápolis, Luziânia, Aparecida de Goiânia.
HORA LOCAL (em relação a Brasília): a mesma
HABITANTE: goiano
POPULAÇÃO: 5.003.228 (2010)
DENSIDADE: 14,65 habitantes p/ km2
ANALFABETISMO: 10,08% (2010)
MORTALIDADE INFANTIL: 25,8 por mil
CAPITAL: Goiânia, fundada em: 24/10/1933

HABITANTE DA CAPITAL: goianiense

A composição da economia do estado de Goiás baseia-se na produção agrícola e na pecuária, no comércio e nas indústrias de mineração, alimentícia, de confecção, mobiliário, metalúrgica e madeireira. Na agricultura destaca-se a produção de arroz, café, algodão herbáceo, feijão, milho, soja, sorgo, trigo, cana-de-açúcar e tomate. A criação pecuária inclui 18,6 milhões de bovinos, 1,9 milhão de suínos, 49,5 mil bubalinos, além de eqüinos, asininos, ovinos e aves. O estado de Goiás produz também água mineral, amianto, calcário, fosfato, níquel, ouro, esmeralda, cianita, manganês, nióbio e vermiculita.
A história de Goiás tem como ponto de partida o final do século XVII, com a descoberta das suas primeiras minas de ouro, e início do século XVIII. Esta época, iniciada com a chegada dos bandeirantes, vindos de São Paulo em 1727, foi marcada pela colonização de algumas regiões.

O Contato com os índios nativos e os negros foi fator decisivo na formação da cultura do Estado, deixando como legado principal cidades históricas como Corumbá, Pirenópolis e Goiás, antiga Vila Boa e posteriormente capital de Goiás.

O início dos povoados coincide com o Ciclo de Ouro, minério amplamente explorado nessa época. Eles prosperaram e hoje são cidades que apresentam, por meio de seu patrimônio, a história de Goiás. O Cerrado: equivale a 20% do território nacional, perdendo em extensão (2 milhões de km2) apenas para a Amazônia. Versão brasileira das savanas africanas, o Cerrado concentra metade de todas as espécies de aves do país, dez mil espécies de árvores, 195 de mamíferos e 780 de peixes. Animais ameaçados de extinção — como o tamanduá-bandeira, o veado-campeiro, o cachorro-do-mato, o lobo-guará e a água cinzenta — encontram-se apenas no Cerrado. (Fonte: Secretaria de Educação Pública , RJ)
O Estado de Mato Grosso
LOCALIZAÇÃO: o Mato Grosso, estado brasileiro, fica no oeste da região Centro-Oeste.
DIVISAS: Norte = Amazonas e Pará; Sul = Mato Grosso do Sul; Oeste = Rondônia e Bolívia; Leste = Tocantins e Goiás.
 
ÁREA (km²): 906.806,9
RELEVO: planalto e chapadas no centro, planície com pântanos a oeste e depressões e planaltos residuais a Norte
RIOS PRINCIPAIS: Juruena, Teles Pires, Xingu, Araguaia, Paraguai, Piqueri, Cuiabá, São Lourenço das Mortes
VEGETAÇÃO: Cerrado na metade leste, Floresta Amazônica a NO, Pantanal a O
CLIMA: tropical
MUNICÍPIOS (número): 132 (2007)
CIDADES MAIS POPULOSAS: Cuiabá, Várzea Grande, Rondonópolis, Cáceres e Barra do Garça
HORA LOCAL (em relação a Brasília): -1h
HABITANTE: mato-grossense
POPULAÇÃO: 2.504.253 (2010)
DENSIDADE: 2,76 habitantes p/km2
ANALFABETISMO: 11,11% (2010)
MORTALIDADE INFANTIL: 28,5
CAPITAL: Cuiabá, fundada em: 8/4/1719
HABITANTE DA CAPITAL: cuiabano ou papa-peixe.

Sua economia se baseia na indústria extrativista (madeira, borracha); na agricultura (cana-de-açúcar, soja, arroz, milho); na pecuária e criações; na mineração (calcário e ouro); e na indústria (metalúrgica e alimentícia).

Em 1977, uma parte do Estado foi desmembrada e transformada no Mato Grosso do Sul.
O Estado de Mato Grosso do Sul
LOCALIZAÇÃO: o Mato Grosso do Sul, estado brasileiro, fica no sul da região Centro-Oeste
DIVISAS: Norte = Mato Grosso; Sul e Sudoeste = Paraguai; Nordeste = Goiás e Minas Gerais; Leste = São Paulo; Sudeste = Paraná; Oeste = Bolívia
ÁREA (km²): 358.158,7
RELEVO: pantanal, planaltos com escarpas, depressões.
O Pantanal cobre o extremo oeste do Estado; as planícies, o noroeste; e os planaltos com as escarpas das serras do Bodoquena, a leste.
RIOS PRINCIPAIS: Paraguai, Paraná, Paranaíba, Miranda, Aquidauana, Taquari, Negro, Apa, Correntes.

A totalidade dos rios do estado de Mato Grosso do Sul pertence à bacia hidrográfica do Paraná, que ocupa área de 358.158,7 km2

VEGETAÇÃO: Cerrado a Leste, Pantanal a Oeste, Floresta Tropical ao Sul.
O tipo de vegetação característico da região Centro-Oeste do Brasil apresenta árvores e arbustos de galhos tortuosos, cascas grossas, folhas cobertas por pelos e raízes muito profundas.

Os campos são regiões cobertas por gramíneas, características do extremo sul do Brasil, mas também encontradas no Complexo do Pantanal.
CLIMA: tropical
MUNICÍPIOS (número): 82 (2006)
CIDADES MAIS POPULOSAS: Campo Grande, Dourados, Corumbá, Três Lagoas.
HORA LOCAL (em relação a Brasília): -1h
HABITANTE: sul-mato-grossense.
POPULAÇÃO: 2.078.001 (2010)
DENSIDADE: 5,80 habitantes p/km2
ANALFABETISMO: 10,01% (2010)
MORTALIDADE INFANTIL: 29,6 óbitos antes de completar um ano de idade, para cada mil crianças nascidas vivas.
CAPITAL: Campo Grande, fundada em: 26/8/1899.
HABITANTE DA CAPITAL: campo-grandense
As principais atividades econômicas desenvolvidas no estado de Mato Grosso do Sul estão relacionadas à agricultura e à agroindústria, à extração mineral e à produção de cimento. Os principais produtos agrícolas cultivados no estado incluem algodão herbáceo, arroz, cana-de-açúcar, feijão, mandioca, milho, soja e trigo. O rebanho bovino totaliza 19,6 milhões de cabeças, encontrando-se também grande número de suínos, eqüinos, ovinos e galináceos.

O Pantanal: Maior planície alagável do planeta, o Pantanal tem o tamanho de Portugal, Suíça, Bélgica e Holanda somados. Resultante do mesmo espasmo geológico que produziu a Cordilheira dos Andes, é uma bacia na qual os sedimentos que descem dos planaltos e montanhas vêm se depositando por milhões de anos. Por essa razão, o Pantanal nunca é o mesmo. Cada novo ciclo de enchentes e vazantes altera drasticamente o leito dos rios, cria novas lagoas, abre córregos e baías. A própria vida na região pulsa ao ritmo das cheias e vazantes. Ali, há curiosos exemplos de adaptação das espécies ao ambiente. O cervo-do-pantanal, um parente do veado-campeiro do cerrado, está tão habituado a pastar dentro d'água durante a cheia que desenvolveu uma coloração escura nas pernas. A cor serve-lhe de camuflagem em meio à vegetação submersa para evitar o ataque furtivo de piranhas e jacarés. (Fonte: Revista Veja. São Paulo, 2 junho de 1999, p. 90)
A Economia Regional e seus Centros Urbanos de Apoio O dinamismo econômico do Centro-Oeste fica evidente quando se verifica:
 
Anos 70: Adaptação do cerrado ao cultivo de soja.
Anos 80: Expansão da soja e do milho.
Anos 90: Consolidação dos complexos grãos/ carne e participação de capitais internacionais.

Também é possível se destacar a produto per capita da região, a saber: década de 50, um produto per capita próximo ao das regiões Norte/ Nordeste. Após 60 / 70 foi se distanciando destas e a partir de 1985, ultrapassou a média per capita nacional. Se essa tendência for mantida, o Centro-Oeste em 2010 responderá por cerca de 10 % do PIB nacional. Isto se reflete pela expansão da fronteira agrícola na macrorregião e um processo de três décadas de transformação produtiva: (Fonte: IPEA, IBGE, NESU, 1999). Rede denominada Centro-Norte, importante contexto regional, ligando Brasília à Cuiabá, passando por Anápolis, Goiânia e Rondonópolis. Esta rede é ainda frágil, devido à concentração populacional e econômica em torno de poucas aglomerações urbanas e centros intermediários que poderiam gerar um sistema interior de cidades. 1-9 Riqueza e Ameaça à Biodiversidade A biodiversidade do Centro Oeste é bem variada e rica, estando presente na Floresta Tropical, no Pantanal e no Cerrado (estes dois últimos têm sido vistos como fronteira agrícola e fonte de oportunidades econômicas inéditas).
 
O Cerrado tem sido devastado como alternativa ao desmatamento da Floresta Tropical da Amazônica (esta mais "vigiada" nacional e mundialmente) e deixada em segundo plano. Uma atitude equivocada, pois o Cerrado é uma das áreas de maior biodiversidade do planeta. O pacote tecnológico de aproveitamento do ecossistema cerrado desconheceu a riqueza de sua biodiversidade, ameaçando sua própria sustentabilidade.
Quanto à Pressão Antrópica das atividades humanas (alta, média e baixa) fica claro que onde essa pressão é mais intensa são as áreas de ocupação mais recente.
Quanto ao cerrado, estudos revelam que apenas um terço de sua área encontram-se pouco antropizados.

A conversão de áreas de vegetação natural em lavouras e pastagens, a implantação de garimpos e mineração em geral tem se acentuado nas últimas décadas. Porém, o fator considerado mais importante para a biodiversidade do Cerrado tem sido a própria atuação governamental, em termos de infra-estrutura e também em assentamentos rurais mal planejados. 1-10 Intervenção Estatal A intervenção estatal não Região Centro-Oeste implicam em degradação ambiental e, em contrapartida, gerou avanço significativo com suas ações integrativas e colonizadores, porém sem um planejamento adequado.

A experiência e planejamento do Centro-Oeste iniciou-se efetivamente com a criação da SUDECO (Superintendência de Desenvolvimento do Centro Oeste), em 1967.
Entre as muitas atividades desempenhadas pela SUDECO destaca-se a criação de pólos de desenvolvimento, sendo o Polocentro o mais importante destes.
Com a extinção da SUDECO, no decorrer da década de 90, vários órgãos governamentais geriram suas antigas funções, sendo o Ministério da Integração Nacional o órgão responsável pelo planejamento regional brasileiro, em termos atuais.
Existe também o MERCOESTE visando atender às necessidades de mercado existentes no "Centro-Oeste Ampliado" (Fórum de Governadores/1995) incluindo RO, TO e AC, além dos estados oficiais. Quanto ao desenvolvimento sustentável dessa macrorregião ampliada foi elaborado o PLANOESTE.
 
No final da década de 1990, foram elaborados estudos sobre os denominados Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENIDS), propondo um novo desenho do Território Nacional Partindo de nove grandes regiões de planejamento. O impacto dessa proposta sobre o Centro-Oeste implica em destacar-se uma melhor conexão portuária (escoamento) para benefício do Estado de Goiás e também como ponto de interligação entre o Norte e o Sul do país. Os aspectos negativos este vinculado à hidrovia do Eixo Araguaia-Tocantins e seus danos ambientais.
Muitos foram os espaços demandados pelo governo federal denotando preocupação com o Centro-Oeste, mas tais preocupações, nem sempre convertidas em políticas regionais, mas mostram-se, sobretudo, fragmentadas e/ou ineficientes. 2- CONCLUSÃO Conclui-se, com base no texto de Steinberger, que o Centro-Oeste ainda não possui uma identidade regional definida, em termos sociais, políticos e culturais. Conexões intra e (inter) regionais precisam ser dinamizadas para que se caracterize uma nova geopolítica, importante para o desenvolvimento não só do Centro-Oeste, mas de todas as outras macrorregiões do país. E cada uma dessas, em especial a Região C. O, não podem ser vistas como meros "recortes regionais".

Outrossim, é valido dizer que os Estados componentes de uma região não possuem uma verdadeira "noção" do espaço no qual estão inseridos, comportando-se sem unidade, e com preocupações mais voltadas à suas performances individuais no cenário nacional do que propriamente numa integração.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aspectos Relevantes na Aproximação Brasil e China: Uma Abordagem Analítica


1 INTRODUÇÃO


Nos últimos anos, cresceu notavelmente o interesse mútuo entre o Brasil e a China. Um dos frutos dessa aproximação é o crescente espaço que a mídia brasileira dá às questões que envolvem os dois países, segundo ABDENUR (1994).

Desde o estabelecimento das relações diplomáticas, em 1974, houve períodos de relativo afastamento; atualmente o relacionamento entre os dois países caracteriza-se por clima de cordialidade e aproximação, tendo-se registrado um grande avanço em várias áreas. Na década de 1990 ambos os países se esforçaram para promover a multi-polarização do poder mundial e fortalecer a cooperação entre países em desenvolvimento. Brasil e China trabalham com vistas à consolidação de uma parceria estratégica, o que tem impulsionado as relações bilaterais; mas há ainda desafios a serem superados. As trocas comerciais estão muito aquém do nível a que se poderia aspirar em vista da dimensão dos dois países e do grau de sofisticação das duas economias. O fortalecimento das relações sino-brasileiras poderá servir como mola propulsora do desenvolvimento, como um meio eficiente que ajudará a reforçar os papéis que exercem em seus respectivos continentes, criando assim pólos de liderança regional e reforçando suas posições no cenário internacional. A coincidência de pontos de vista no que diz respeito a temas da conjuntura internacional, especialmente visível quando analisada a sintonia da atuação nos foros multilaterais, deixa clara a importância da aliança estratégica entre os dois países. A entrada da China na OMC – Organização Mundial do Comércio e a crescente abertura de sua economia representam novas perspectivas e novas oportunidades de cooperação. É uma potência econômica com um mercado consumidor em expansão, com capacidade de absorver capitais e produtos em grande escala. O peso e a influência da China no Pacífico Asiático é cada vez mais proeminente. Como dois espaços geo-econômicos e culturais de grande dinamismo no mundo atual, Brasil e China têm muita experiência a trocar e muita sinergia a compartilhar.

Os acordos abrangem áreas como infra-estrutura, segurança de produtos alimentícios, saúde, vigilância de medicamentos, ciência e tecnologia, concessão de vistos e esportes. Comprometem-se com o desenvolvimento estável e de longo prazo da cooperação econômico-comercial bilateral e reiteram a importância da aliança entre os países em desenvolvimento. A parceria sino-brasileira é considerada como parte essencial da relação transregional entre a Ásia e a América Latina.

Entre os temas está a questão dos direitos humanos. Os presidentes, do Brasil e China, manifestaram sua não-conformidade com a universalização à adoção de critérios seletivos - uma referência explícita aos Estados Unidos - que diversas vezes propuseram à Comissão de Direitos Humanos da ONU resoluções condenando a violação dos direitos humanos na China, ao mesmo tempo em que ignoram as violações em países que são seus aliados.

O Brasil reconheceu, como exigido pela China dos países com os quais mantêm relações diplomáticas, que Taiwan e o Tibete são partes inseparáveis do território chinês. Outro ponto é a união de forças para reduzir a pobreza em âmbito mundial e para impulsionar negociações comerciais que reflitam os interesses dos países em desenvolvimento.

O Brasil menciona, mas sem profundidade, a questão dos direitos humanos na China, enquanto os chineses pediram ao Brasil que considerem o país como uma economia de mercado em organismos internacionais. Os argumentos aqui apresentados sugerem que o fim do regime militar, nos anos 80, não introduziu maiores alterações na política externa brasileira. Diferentemente de outros países da América Latina, o processo de redemocratização no Brasil teve somente um efeito residual na condução da política internacional. Apesar da mudança política e tímida liberalização econômica, a política externa ainda constitui um dos instrumentos centrais da política nacional de desenvolvimento. E, se as relações com a Ásia forem analisadas sob essa perspectiva, quatro pontos merecem destaque especial.

Com esta realidade surge uma lacuna na bibliografia sobre os aspectos relevantes da aproximação Brasil e China. Assim, a carência de bibliografias voltadas ao assunto que incluam o estudo desta aproximação e seus reflexos, motiva à pesquisa visando sanar essas deficiências.

Pretende-se analisar as relações comerciais sino-brasileiras de 1984 a 2002 e explorar o significado do conceito de parceria estratégica no relacionamento dos dois países. Antes disso, contudo, são indispensáveis algumas ponderações extraídas da sua análise global, permitindo a melhor reflexão e apontamento de conclusões sobre as relevantes matérias tratadas na referida aproximação Brasil e China.

Em conseqüência do cenário exposto, a problemática pode ser sintetizada na seguinte questão: "como Brasil e China deveriam interagir entre si para obter uma inserção mutuamente vantajosa no mundo globalizado?". As informações referentes ao tema aproximação entre Brasil e China foram obtidas mediante pesquisa bibliográfica.


2 AS DIFERENÇAS CULTURAIS ENTRE BRASIL E CHINA DIANTE DOS 30 ANOS DE ESTABELECIMENTO DIPLOMÁTICO

As comemorações em relação aos 30 anos de estabelecimento diplomático entre Brasil e China, realizadas em agosto de 2004 ganharam extensões mais amplas do que propriamente a celebração da data em si, representou o êxito da parceria estratégica Sul-Sul. No decorrer destas quase três décadas – é valido lembrar que as primeiras iniciativas de diálogo sino-brasileiro ocorreram em 1881, não atingindo resultados relevantes, seguida de outras tentativas de aproximação também pouco significativas - os dois países consolidaram um notável patrimônio conjunto nos campos político-diplomático, econômico-comercial e científico tecnológico, destarte DUQUING (1999).

As conquistas não param por aí, a manifestação do atual governo brasileiro em relação a política de prioridade com a China, e por outro lado o interesse chinês em relação ao maior país da América do Sul, proporciona novas e promissoras oportunidades para ambos.

A China há tempos concentra esforços no intuito de inserir-se completamente neste cenário da globalização, processo típico da segunda metade do século XX que conduz a crescente integração das economias e das sociedades dos vários países especialmente no que toca à produção de mercadorias e serviços, aos mercados financeiros, e à difusão de informações.Todavia as distâncias, e não se refere a geográfica, mas a cultural tem sido o grande obstáculo nas prospecções de empreendimentos e nas iniciativas comerciais na China.

A adoção de comportamentos de imensa ponderação e receio frente a um suposto e indispensável código de símbolos chinês, parte supostamente constitutiva do universo das negociações comerciais do país, conduzida por uma significante parcela de interessados no mercado da China, além de errônea afasta ou retarda oportunidades potenciais.

O executivo chinês é similar a qualquer executivo do mundo, busca a obtenção de vantagens, lucros e a expansão dos negócios. Obviamente possui características próprias, típicas da cultura a qual pertence, por exemplo através do que eles chamam de guanxi, ou seja o relacionamento baseado no conceito da ligação pessoal de confiança, é fator bastante considerado nas negociações, e em sua ausência os critérios acerca da qualidade, preço, credibilidade da empresa bem como todas os requisitos geralmente ponderados em qualquer instituição de qualquer parte do mundo será a opção a ser utilizada. A lenda difundida em relação a sensibilidade dos chineses frente ao cumprimento de regras especificas comerciais, que envolvem desde palavras até efetivamente a ratificação do acordo em si geram estratégias muitas vezes desnecessárias. É valido lembrar que os chineses são muito práticos e bastante minunciosos, diante de um contrato, por exemplo, costumam ser extremamente atentos em relação ao significado das palavras realizando alterações muitas vezes consideradas como sinônimos. São detalhes simples que atingiram grandes proporções no imaginário geral, talvez em virtude dos mistérios que o Oriente em si representa.

Gradualmente as diferenças tendem a ser menos distantes e as relações mais próximas, proporcionando entrosamento e naturalidade, assim geradas a partir das experiências e necessidades descobertas empiricamente. Casos bem sucedidos de iniciativas brasileiras na China e vice-versa são cada vez mais comuns, tanto que a China tornou-se o segundo maior parceiro comercial do Brasil. O grande fascínio em relação ao mercado chinês está diretamente associada aos seus números exorbitantes, acerca da população de 1.3 bilhões de habitantes, assim como os indicativos referentes a evolução da economia e a média de crescimento anual.

A intensificação do comércio com a China faz parte das iniciativas da diplomacia comercial brasileira aliada aos esforços dos exportadores nacionais. Em ação recente, a APEX - Agência de Promoção de Exportações do Brasil, contratou uma empresa de consultoria responsável por mapear 15 setores econômicos nos quais os produtos brasileiros podem ser mais competitivos no mercado chinês.

Entre os segmentos que serão pesquisados encontram-se calçados, produtos alimentícios, móveis, equipamentos médico-hospitalares, mármores e granitos, cosméticos, tecnologia bancária e softwares. As avaliações acerca das perspectivas de investimentos são promissoras nas áreas de metalurgia do alumínio e produção de fármacos.

Quanto às oportunidades de negócio via transferência de tecnologia ou formação de joint ventures, destacam-se os setores aeroespacial e de infra-estrutura. O programa brasileiro de desenvolvimento de satélites ganha novo impulso, o programa de cooperação sino-brasileiro prevê o desenvolvimento de mais dois satélites. Essa cooperação técnico-científica também tende a se ampliar, o fluxo de delegações chinesas ao Brasil é intenso, com repercussões positivas em diferentes segmentos industriais, assim como na área de pesquisa. O Brasil e a China oferecem, hoje, o maior potencial de negócios no setor de infra-estrutura. É nesse campo que as empresas brasileiras de engenharia pesada podem conquistar vultosos contratos na China, em virtude dos projetos e obras de sucesso já implementados em território brasileiro que atendem as expectativas dos ambiciosos programas de desenvolvimento chinês nas áreas de energia, saneamento, irrigação, construção de moradias, transportes e outras, conforme FUJITA (2001).

No campo comercial, cresce a cada dia o número de empresas brasileiras que vêm conseguindo abrir o mercado chinês para seus produtos.

As experiências contrárias, ou seja, de empresas chinesas que instalam-se ou estão comercializando seus produtos no Brasil também é bastante significativo e vem crescendo rapidamente. Recentemente um grupo multisetorial bastante consolidado na China, o Lunneng Group investiu US$ 11 milhões para a instalação de uma fábrica de isqueiros, na região sul do país.

Na região da Zona Franca de Manaus e em São Paulo inúmeras empresas do setor eletro-eletrônico e de tecnologia já operam há pelo menos 1 (um) ano, como é o caso da Chint, uma das maiores empresas do setor na China.

Esse entrosamento sino-brasileiro em relação ao fluxo comercial dos dois países poderá atingir, num período relativamente curto, proporções inimagináveis, reflexo de que a integração não apenas econômica como também a cultural ultrapassou o cenário do possível sendo incorporada no âmbito do exeqüível.


3 ACORDO DE LIVRE COMÉRCIO

Um acordo de livre comércio entre Brasil e China aumentaria muito as possibilidades de troca de mercadorias entre os dois países, mas no momento ele é impossível de ser concretizado. Esse tipo de acordo tem de ser negociado pelo Mercosul, e não pelos países membros isoladamente. E o Mercosul não pode entrar em entendimento com a China porque o Paraguai não tem relações diplomáticas com aquele país, consoante LAFER (2001).

O governo paraguaio reconhece Taiwan, que vive relação tensa com a China há mais de meio século, desde que a ilha se declarou independente do continente. Os produtos que inundam Ciudad del Leste vêm de Taiwan, o que deixa claro que não se trata de uma questão trivial para aquele país e, portanto, para o Mercosul. Uma pena, pois as autoridades chinesas indicaram que haveria espaço para negociar um acordo. Por isso, resta ao Brasil fazer comércio com os chineses sem preferências tarifárias ou outro privilégio do tipo. Além disso, a prática mostrou que os chineses jogam duro. A devolução de cargas de soja brasileira porque havia uma quantidade de grãos tratados com fungicida acima do permitido deixou claro que o empresário brasileiro não pode bobear.

Ainda assim, o comércio bilateral vem crescendo. De janeiro a setembro de 2002, as exportações brasileiras para lá chegaram a US$ 4,533 bilhões, um aumento de 28,7% sobre o mesmo período de 2003. O comércio também cresceu pelo lado das importações, que chegou a US$ 2,147 bilhões, um crescimento de 73,8% comparado a 2003. Tudo somado, a corrente de comércio alcançou US$ 6,680 bilhões.

A China é o terceiro mercado para produtos brasileiros, ficando atrás só dos Estados Unidos e Argentina. As vendas de soja totalizaram US$ 1,605 bilhões de janeiro a setembro, seguidas pelo minério de ferro e seus concentrados, que atingiram US$ 768 milhões. Em seguida, vêm o óleo de soja, laminados planos de ferro e aço e pastas químicas de madeira. O país é também o quarto maior fornecedor de produtos para o Brasil. As maiores importações são de partes e aparelhos transmissores ou receptores, seguidos por coques de hulha, dispositivos de cristais líquidos e tecidos.

O mercado chinês tem um enorme peso no comércio do Brasil, mas a recíproca não é verdadeira. Em 2003, a China exportou US$ 438,250 bilhões em produtos, dos quais 21,1% foram para os Estados Unidos. Em seguida, vêm Hong Kong, Japão, Coréia do Sul, Alemanha. O Brasil respondeu por só 0,5% das vendas chinesas ao exterior em 2003 e a 0,4% de janeiro a março de 2004. É, portanto, um parceiro com pouco peso na pauta chinesa.

3.1 Importância Estratégica

Segundo os diplomatas brasileiros, há de fato diferentes visões sobre a importância estratégica dos dois países. Para o Brasil, a China é uma mina de ouro, um mercado gigantesco onde se pode vender praticamente tudo, e em grandes quantidades. Já para a China, a aproximação com o Brasil tem um peso muito mais político do que comercial. O país asiático luta para ser reconhecido como uma economia de mercado e um aliado latino-americano seria útil, segundo LAFER (2002). Esse tema foi abordado na visita do presidente chinês, Hu Jintao. Entre os integrantes do governo que lidam com o comércio exterior, há uma curiosidade sobre quanto os chineses estariam dispostos a pagar para conseguir o apoio.

Apesar do espaço reduzido para negociações comerciais, há várias possibilidades que já estão sendo exploradas. O Brasil centra foco na remoção das barreiras sanitárias que hoje impedem a venda de carne fresca àquele país. Os negociadores também pressionam para que a China adote o álcool de cana em sua matriz energética e querem explorar o potencial de venda de frutas cítricas.

Outro nicho que poderá render divisas é o do turismo. Recentemente, a China concedeu ao Brasil status de "destino autorizado". Os chineses não podem viajar para qualquer lugar no mundo, mas podem vir ao País. Um dos protocolos assinados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita àquele país, em maio, trata justamente no início de operação de uma linha regular entre o Brasil e a China, uma associação entre a Varig e a Air China. A linha deveria começar a operar em dezembro, mas o mais provável é que fique para janeiro de 2005. Faltam acertar detalhes com a Alemanha, onde os vôos farão escala.

Os maiores projetos sobre a mesa no momento envolvem a Vale do Rio Doce. Os chineses têm interesse em minério de ferro e aço e são fornecedores do carvão mineral utilizado pelas siderúrgicas. Está em discussão um grande projeto que prevê a implantação de uma siderúrgica no Maranhão e a reforma do porto de Itaqui. De lá, sairão aço e soja em direção à China e chegará o carvão.

3.2 Brasil começa a transferir tecnologia e a terceirizar

No movimento de aproximação comercial entre Brasil e China, as pequenas e médias empresas nacionais estão descobrindo que, apesar do porte, também podem fazer negócios com o mesmo perfil das grandes. A terceirização e transferência de tecnologia estão entre as ações em andamento para ampliar a participação dessas empresas naquele mercado. Algumas empresas estão terceirizando a fabricação na China até para conquistar outros mercados além daquele. Uma empresa do Rio de Janeiro, que produz papetes (um tipo de calçado), está preste a fechar sua primeira parceria com uma indústria chinesa para fabricar naquele país. O custo é mais baixo na China. Os empresários deveriam fazer mais parcerias para o fortalecimento das relações.


4 O AVANÇO DOS CHINESES

No mundo das relações diplomáticas, os presidentes do Brasil e da República Popular da China já podem ser considerados bons amigos. Depois da visita de Luiz Inácio Lula da Silva à China em maio de 2004, houve a Expo Brasil China, em Pequim, reunindo 86 (oitenta e seis) empresas brasileiras; foi a vez de Hu Jintao vir ao Brasil, acompanhado de uma comitiva que passou quase uma semana entre São Paulo, Rio e Brasília em novembro de 2004. Nesta ocasião foi aberta a Exposição de Produtos e Tecnologia da China, em São Paulo. Cinco seminários exploraram as possibilidades de negócios nas seguintes áreas: turismo, telecomunicações, ferrovia, indústria, minas e energia. Agora, o presidente chinês também acaba de obter uma prova dessa amizade na esfera comercial. Atendendo a uma antiga reivindicação, o Brasil passou a considerar a China uma "economia de mercado", o que deve facilitar ainda mais a entrada de produtos chineses no Brasil.

Não que esteja muito difícil para a China vender mais por aqui. Em apenas um ano, as importações brasileiras de produtos chineses cresceram 74% e chegaram a 2,6 bilhões de dólares. Uma das estrelas é o setor de telecomunicações. Em 12 meses, a entrada de equipamentos chineses dessa indústria no Brasil cresceu 110%, para um total superior a 420 milhões de dólares no mundo todo, o avanço chinês foi de 55%. Esses números mostram que a estratégia adotada por Hu, ao internacionalizar suas empresas de tecnologia, dá cada vez mais frutos.


5 ANÁLISE DA SITUAÇÃO ECONÔMICA GLOBAL

Obviamente, muitos países do mundo vêm se beneficiando da bonança econômica propiciada pela China. Um deles é o Brasil, que, de sua parte, também contribui significativamente para alimentar o crescimento econômico chinês, graças às suas exportações de commodities estratégicas e à disponibilização de tecnologia avançada em algumas áreas, como na aviação comercial, por exemplo. Mas nem sempre foi assim. Houve época em que as duas grandes nações estavam separadas pelo maniqueísmo ideológico da Guerra-Fria e pelas grandes distâncias geográficas. Findo aquele conflito político-ideológico, constatou-se que as grandes distâncias geográficas não mais se constituíam em obstáculos intransponíveis à aproximação entre as duas nações. Assim, Brasil e China descobriram-se por inteiro. Nos últimos anos, construíram parceria estratégica verdadeiramente modelar em todas as áreas, apesar de estarem em pontos opostos do planeta. Trata-se de um dos mais importantes promotores das reformas econômicas chinesas na década de 90, de uma parceria estratégica entre o maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental e o maior país em desenvolvimento do hemisfério oriental, a qual vem contribuindo para redesenhar o espaço geopolítico mundial.

No campo econômico-comercial, os resultados da cooperação bilateral só podem ser definidos como fantásticos. O dinamismo econômico da China, aliado à qualidade e aos preços competitivos dos produtos Made In Brazil, fêz com que as exportações brasileiras para aquele país sextuplicassem, no período de 1999 a 2003. Ressalte-se que, com o governo Lula, que tomou a decisão estratégica de diversificar as parcerias comerciais e diplomáticas do Brasil, houve notável aceleração desse incremento do comércio bilateral com a China. Em 2003, as exportações para a China cresceram 80%, tendo atingido a impressionante marca de US$ 4,5 bilhões. Neste ano, aquele país tornou-se o segundo maior importador de produtos brasileiros, suplantando a Argentina e sendo superada somente pelos EUA. Em contrapartida, o Brasil tornou-se um dos principais fornecedores de soja, minério de ferro, aviões comerciais e motores automotivos, além de outros produtos, da economia chinesa. Em relação aos investimentos, as joint ventures entre a Companhia Vale do Rio Doce e a Baogang Steel e a Embraer e a AVIC, além de outras de grande relevância, vêm propiciando base sólida para grande expansão dos investimentos diretos, no âmbito da cooperação bilateral.

No campo científico-tecnológico, o programa sino-brasileiro CBRES (Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres) já lançou dois satélites de monitoramento de recursos terrestres, com grande êxito. Esse programa é considerado modelar no âmbito da cooperação científica internacional, pois dificilmente nações abrem as suas tecnologias de ponta em projetos de assistência mútua, como o fazem Brasil e China. Ademais, a mencionada união entre a Embraer, um dos principais fabricantes de aviões do mundo, e a AVIC vem ensejando vários projetos de cooperação científica na área do transporte aeroviário, segundo SANTANA e COELHO (1999).

Embora tais realizações econômicas, comerciais e científicas sejam de enorme significado para ambos os países, parece que é no campo político-diplomático que a dimensão estratégica da parceria sino-brasileira torna-se evidente. De fato, tal parceria tende inexoravelmente a modificar o espaço geopolítico mundial e a geografia comercial do planeta, ao criar um novo eixo de cooperação entre países em desenvolvimento, fora da dependência tradicional relativa aos países desenvolvidos. A criação do G-20, por exemplo, de iniciativa brasileira, mas impensável sem a China e outros países, resultou em poderoso novo ator no cenário mundial, o qual tornou mais equilibrada a correlação de forças em nível global. Nas negociações comerciais que se desenvolvem na OMC, o G-20 conseguiu contrapor-se aos interesses comerciais hegemônicos e gerar espaço para que os países em desenvolvimento reivindicassem os seus legítimos anseios antiprotecionistas.

Em relação ao sistema de segurança coletiva, tão ameaçado, a união de Brasil e China em torno do necessário fortalecimento e da democratização da ONU e do seu Conselho de Segurança tende a mitigar os efeitos deletérios de políticas unilateralistas na ordem internacional. Destaque-se também a firme posição de nossos países em prol da condução da luta contra o terrorismo nos marcos do direito internacional público. Portanto, a parceria estratégica sino-brasileira, além de produzir conseqüências relevantes no contexto bilateral, está também contribuindo para a conformação de ordem mundial mais justa, equilibrada e estável.

Em um mundo caracterizado por relações internacionais marcadas pela verticalidade e pela assimetria, Brasil e China consagraram padrão de cooperação horizontal e simétrico entre dois países em desenvolvimento, que serve de parâmetro para o relacionamento Sul-Sul. Com efeito, nossas nações pautam a sua parceria pelos "cinco princípios da coexistência pacífica" apregoados por Chu En-Lai: respeito mútuo à soberania e integridade territorial, não-agressão, não-intervenção nos assuntos internos, igualdade e benefícios recíprocos e tolerância entre diferentes sistemas ideológicos.

Menciona-se que, em virtude do primeiro princípio, o governo brasileiro, assim como a maior parte dos governos do mundo e a Organização das Nações Unidas, reconhece a plena soberania do governo da República Popular da China sobre a província de Taiwan.

A recente viagem à China do Presidente Lula e a presente visita do Presidente Hu Jintao ao Brasil deverão adensar ainda mais essa exemplar parceria. Só no campo da iniciativa privada, estão sendo implementados 14 novos convênios entre empresas chinesas e brasileiras. No tocante aos investimentos diretos, foram divulgados cerca de US$ 5 bilhões que a China deverá injetar na economia brasileira nos próximos anos. Projetos tão diversificados como a modernização dos portos de Itaquí, São Sebastião e Santos, a construção de ferrovias e rodovias no Maranhão e em São Paulo, gasodutos em diversos pontos do país, bem como siderúrgicas e usinas petroquímicas deverão contar com o apoio substancial dos nossos amigos chineses.

Na área científico-tecnológica, serão iniciados programas importantes em biotecnologia, pesquisas de genoma, telecomunicações, robótica, além de outros temas relevantes.

No campo cultural, há muito espaço a ser explorado. A duas nações compartilham traços sócio-culturais importantes, graças à colonização portuguesa, que formou vínculos históricos entre Brasil e China, no início da colonização brasileira. Para ele, o Brasil era uma espécie de "China Tropical". Esses vínculos histórico-culturais talvez expliquem, em parte, o imenso sucesso da novela "Escrava Isaura" na China. Agora, vamos aprofundar tais vínculos, dinamizando o intercâmbio cultural em todas as áreas: literatura, audiovisual, artes plásticas, teatro, dança e música. Especificamente no campo esportivo, o Brasil espera enviar à Beijing, em 2008, uma grande delegação olímpica, de modo a prestigiar a organização chinesa do evento, a qual será, sem dúvida, exemplar. Felizmente, tanto o governo brasileiro quanto o chinês reconhecem a importância da cultura para criar pontes duradouras entre os nossos povos e aprofundar a parceria estratégica Brasil/China.

O governo brasileiro, consciente da importância da política externa para a promoção de projeto nacional de desenvolvimento, está fortemente empenhado na consolidação dessa e de outras parcerias estratégicas, com o intuito de induzir o crescimento econômico e a geração de empregos, assim como de reduzir a vulnerabilidade externa do país mediante a geração de vultosos superávits comerciais. A China, que tem no Brasil um aliado para manter as suas taxas de crescimento econômico e ampliar o seu peso econômico-comercial e político-diplomático no cenário mundial, revelou-se parceiro interessado, generoso e que faz aposta de longo prazo no futuro do Brasil, aproveitando-se da omissão e da intransigência protecionista de algumas potências econômicas.

Entretanto, a China não vem apenas ajudando outros países a prosperarem e contribuindo para a conformação de ordem mundial mais simétrica. Acreditamos que o notável despertar da China está dando a muitas nações duas lições valiosas.

A primeira delas refere-se ao equilíbrio que aquele país encontrou entre os mecanismos da economia de mercado, indispensáveis para o crescimento econômico acelerado, e a presença marcante do Estado planejador e regulador, necessária para orientar esse crescimento na direção correta e distribuir suas benesses de forma justa.

A idéia de "um só país e dois sistemas", do gênio pragmático Deng Xiaoping, revelou-se acertada e premonitória e conduziu a China à prosperidade econômica sem sobressaltos, ao contrário do ocorrido em outras nações socialistas que, mal-aconselhadas por economistas sem crédito e pressionadas por instituições de crédito, fizeram transição atabalhoada para um capitalismo sem regulação. Nesses países, bem como em outros, a "mão invisível" produziu estragos bem visíveis.

A segunda lição, mais profunda e relevante, tem como base o humanismo de cunho universalista presente na cultura chinesa. Confúcio, em seus Livros Clássicos, afirma que: Ao largo dos quatro mares todos os homens são irmãos e que Desejando sermos prósperos devemos ajudar outros a atingir a prosperidade. Vinte e quatro séculos mais tarde, Deng Xiaoping disse: Como país socialista, a China sempre pertencerá ao Terceiro Mundo e nunca deverá perseguir hegemonia.

Citou-se, de forma proposital, dois autores muito separados temporal e ideologicamente para demonstrar que a idéia de uma necessária solidariedade entre homens e países sempre foi forte no imaginário chinês. A China, pelo seu peso demográfico, econômico e político-diplomático, está destinada a liderar, assim como o Brasil também o está, pelos mesmos motivos. Contudo, a China não tem pretensões de transformar essa saudável liderança numa deturpada imposição de hegemonia. É esta a segunda lição, a da construção de liderança sem imposição de hegemonia, respeitosa do multilateralismo, que devemos destacar nesse despontar da China no cenário internacional. Destaque-se que o Brasil pauta a sua liderança regional pelo mesmo princípio, conforme TEIXEIRA LEITE (1999).


6 CONCLUSÃO

O volume das transações comerciais entre Brasil e China vem evoluindo rapidamente e a China tornou-se recentemente o maior parceiro comercial do Brasil na Ásia. Há ainda enormes potencialidades comerciais a serem exploradas.

Os governos de ambos os países têm em alta conta o relacionamento político já existente entre eles. Apesar das oportunidades crescentes representadas pela abertura externa empreendida por ambos os países ao longo da última década, o aproveitamento em termos comerciais é pouco expressivo. O conhecimento mútuo além dos estereótipos é extremamente restrito, mesmo por parte das elites políticas, empresariais ou acadêmicas. O interesse crescente demonstrado no Brasil pelas relações e pelos projetos de cooperação com a China ainda não rendeu os efeitos esperados, mas há um grande potencial para a cooperação técnico-científica entre os dois países e a perspectiva é de se ampliar e expandir essa cooperação.

Nos últimos três anos, a China foi responsável por um terço do crescimento econômico global, duas vezes mais do que a economia norte-americana. Também no mesmo período (2000-2003), a produção industrial chinesa aumentou impressionantes 50%. Mas, tudo na China é assim: surpreendente e grandioso. Com uma população de 1,3 bilhão, a China tem 41 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Contudo, mantém 900 milhões de habitantes em sua zona rural, graças a uma política agrícola e de abastecimento que privilegia o pequeno produtor e evita migrações desordenadas para as cidades. Ao mesmo tempo, a economia chinesa consegue gerar empregos urbanos em escala astronômica. Somente nos primeiros 9 (nove) meses deste ano, foram criados cerca de 8 milhões de postos de trabalho nas cidades da China.


7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARBOSA, Gibson. Depoimento em Reflexões sobre a Política Externa Brasileira. Brasília: Funag, 1993.

DUQUING, Chen. Os 25 anos das relações sino-brasileiras. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, in: Tempo Brasileiro, 137: 9-29, 1999.

FUJITA, Edmundo. Fórum de Cooperação da América Latina-Ásia do Leste. Primeira Reunião de Chanceleres (Santiago - Março de 2001). São Paulo, in: Carta Internacional, IX (98): 3, 2001.

LAFER, Celso. Lecture at the Rio Branco Institute. Brasília, April 12th, 2001.

___________. Brasil e China em Novos Tempos. in: Gazeta Mercantil. São Paulo, 14/08/2002.

SANTANA, Carlos Eduardo & COELHO, José Raimundo Braga. O Projeto CBERS de Satélites de Observação da Terra. In: Parcerias Estratégicas, 7: 189-196, Setembro/1999.

TEIXEIRA LEITE, José Roberto. A China no Brasil. Campinas: Editora Unicamp, 1999.