domingo, 4 de janeiro de 2015

ARISTÓTELES SEMPRE ATUAL



Ainda a Grécia. Neste caso, a clássica. Aristóteles — sempre hodierno e pedagógico – deixou-nos na obra Retórica a sua tese sobre a argumentação. Fê-lo com base em três conceitos: Ethos, Pathos e Logos.
Ethos que se exprime numa argumentação radicada no carácter do orador. Diríamos hoje, baseada numa praxis de valores, princípios de conduta e virtudes. Através do ethos, o discurso torna-se digno de confiança e de credibilidade. É a consagração da retórica por via da personalidade do comunicador.
Pathos significa uma retórica centrada na emoção, no estado emocional do auditório. Aquilo a que hoje associamos o dom do carisma e da capacidade de convencimento, através da inteligência emocional e da persuasão por via dos sentimentos que induzam à receptividade de quem ouve. Se for exclusivo na retórica argumentativa, o pathos pode degenerar facilmente em manipulação e demagogia.
Diferentemente do ethos, centrado na pessoa do comunicador e do pathos,percepcionado do lado do receptor da comunicação, o logos valoriza a própria comunicação e argumentação. Apela por isso à razão, à logica e estruturação da linguagem e à solidez baseada no saber e no conhecimento.
É bom regressar a esta profunda actualidade aristotélica e percebermos o que se está a passar comunicacionalmente no mundo contemporâneo. Na coisa pública, sobretudo, mas não só. E observarmos como é escassa a conjugação plena do ethos, pathos e logos em tanta e prolixa argumentação que nos invade o dia-a-dia. E como escasseiam os exemplos e as personalidades que preencham estes três requisitos, com a inteligência e sensatez da razoabilidade. Ou, em política, como se faz a diferença entre um vulgar político, um esforçado líder e um denso estadista.
Com base nestas três exigências aristotélicas da boa retórica argumentativa, podemos imaginar uma matriz com todas as suas combinações possíveis. Convido-me e convido cada um dos leitores a preenchê-la com personalidades de ontem, de hoje ou de sempre.

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