quarta-feira, 31 de outubro de 2012

FILME DANTON - Resenha Crítica


RESUMO
O Processo da Revolução O filme trata da fase da Revolução Francesa em que os jacobinos estão no poder, mas precisamente Robespierre. Esta é a fase do Tribunal Revolucionário, do Comitê de Segurança Nacional que tinha por função defender a França dos contra-revolucionários e traidores. Robespierre parece defender a liberdade daqueles que não tem muitos prazeres a gozar, mas que são constantemente explorados. Ele se preocupa com a liberdade anterior as outras, pois, se não há exploração os cidadãos tem mais possibilidades. Portanto, para ele o terror era um mal necessário, até mesmo para que os contra-revolucionários percebessem que eles não estavam divididos, e que se estivessem não poupariam nem sequer os aliados, tampouco os inimigos.
Robespierre parece ser um homem gélido, sem coração, que condena amigos a guilhotina, contudo ele o faz para que divergências internas não ponham em risco a Revolução. Seu conceito de liberdade é acima de tudo relacionado com o bem comum, com o bem da recém- criada República, cujo destino parece ser sua única preocupação. Entretanto, Danton não deixa de ter razão, e por isso, é adorado pelo povo, pois compreende seus anseios de voltar viver normalmente, sem medo.
Contudo, ele é contraditório, pois ele mesmo criou o Tribunal Revolucionário, bem como foi julgado por ele. A liberdade para ele era mais imediata e consistia talvez em um desejo de salvar a própria pele, pois parece ter enriquecido com a Revolução e estava sendo acusado de traição. O governo jacobino, se levado a máxima atribuída a Maquiável, “de que fins justificam os meios”, pode ser considerado positivo, pois foi neste período, que se acabou com a escravidão nas colônias, a instituição do sufrágio universal, a obrigatoriedade do ensino, aumento de impostos dos ricos e nobre

CONTEXTO HISTÓRICO
Na segunda metade do século XVIII, a história ocidental vive a passagem da Idade Moderna para Contemporânea, quando a crise do Antigo Regime foi agravada pela difusão dos princípios iluministas que marcaram as revoluções burguesas (Industrial, Americana e Francesa).
A Revolução Francesa foi o principal movimento político e social do século XVIII. Seu caráter democrático e liberal é representado pela ascensão política da burguesia e pela participação de camponeses e artesãos, na luta contra os vestígios feudais do Antigo Regime.
O principal período da revolução, foi a fase popular (1792-940) quando o país foi governado por uma nova assembléia denominada Convenção. Essa etapa conhecerá o chamado "terror", a ditadura dos jacobinos (corrente política liderada pela pequena burguesia aliada ao povo, que defendia um caráter mais popular para a revolução).


Esses, comandados por Robespierre e Saint-Just, instalaram o "terror" após o assassinato do líder jacobino Jean Paul Marat. Era junho de 1793, o ano I da recém proclamada República. Com o Comitê de Segurança Nacional, que garantia a segurança interna, e o Tribunal Revolucionário, encarregado de julgar supostos contra-revolucionários, o terror revolucionário se espalhou por toda França.

Robespierre liderou o movimento, mantendo-se no poder com apoio dos grupos mais extremistas de esquerda, como os hebertistas, seguidores de Hébert, que defendiam a ampliação das medidas de violência. Apesar da ditadura, é nessa fase que ocorre uma série de avanços populares, como a abolição da escravidão nas colônias francesas, o sufrágio universal, a obrigatoriedade do ensino, o aumento dos impostos dos ricos e o confisco de bens dos nobres e dos emigrados. Esses avanços provocaram uma reação contra-revolucionária, contida com milhares de julgamentos, onde o Tribunal Revolucionário dominado pelos jacobinos era a lei. Em menos de um ano, foram condenados à morte na guilhotina mais de 20 mil suspeitos.

No início de 1794, o Terror atinge os próprios membros da Convenção. Os indulgentes, grupo revolucionário chefiado por Georges Danton, pediam o fim das perseguições, temendo que a onda revolucionária pudesse envolvê-los. No início de 1794, Robespierre, contra sua vontade pessoal, condenou Danton à morte visando eliminar todas oposições. Após alguns meses, fragilizado e isolado politicamente, Robespierre foi aprisionado juntamente com Saint-Just, sendo em seguida, ambos condenados à guilhotina. Iniciava-se uma outra etapa da Revolução Francesa, representada pelo restabelecimento da alta burguesia (girondinos), no poder.
 
ANÁLISE
Abordar o imenso canteiro de obras da Revolução Francesa, a partir do alcance do eco que ela encontrou na Europa e no mundo, é mais que se conformar com a vocação própria de um "Congresso Internacional das Luzes", atento por natureza à abordagem comparativa, assim como aos fenômenos de difusão: é também responder à solicitação de um momento. E enquanto sentimos os ecos do Bicentenário da "Grande Revolução": um acontecimento que pertence tanto ao patrimônio da humanidade quanto ao da França; a tentação de um balanço impõe-se legitimamente. É a óptica de nosso estudo de todas as formas de recepção no pensamento político, filosófico ou histórico, na literatura, na arte e mais amplamente todos os suportes do imaginário, das idéias-forças, assim como da memória do acontecimento.
Falar aqui de eco (ou de repercussão) da Revolução parece, à primeira vista, limitar o campo operacional, ainda que tenha considerado o termo em toda a riqueza das leituras que ele autoriza, do que dá testemunho a multiplicidade dos equivalentes semânticos encontrados no decorrer das comunicações (eco, ressonância, influência, difusão, recepção, impacto, repercussões, reações, legados, ou herança ...). Tal lista tendo sido evocada não apenas pela curiosidade, mas pelas nuances que sugere na maneira de abordar o problema. Limitar-nos-emos à leitura mais imediata do termo como percepção, impressão causada pela Revolução Francesa sobre os contemporâneos, sem levar em conta os abalos profundos que provocou nos sistemas institucionais e sociais.
Permiti-me não hesitar em transpor essa fronteira, e espero com razão. A reflexão na história do século XIX aos dias de hoje, considerando que o eco diferido ou prolongado é tão importante quanto o eco imediato. Tal conduta impõe-se sobremaneira, tanto que em muitos países, por razões ao mesmo tempo geográficas e históricas, o impacto contemporâneo dos fatos foi modesto, até mesmo nulo.
A descoberta ulterior, ao contrário, notável e duradoura em seus efeitos. Partilho desse ponto de vista, mesmo que pareça à primeira vista exceder os limites cronológicos da análise de um filme com conteúdo histório setecentistas. A bem dizer, a diversidade das contribuições propostas deixa incontestavelmente a impressão de um canteiro amplamente aberto, tanto numa perspectiva geográfica quanto temática. É ao longo do tempo que se aprecia a dimensão real do acontecimento que encerra o Século das Luzes.
Um Canteiro Antigo e Novo
A afirmação pode parecer paradoxal: que se tenha falado em termos de conquistas da Liberdade, ou das vitórias da Grande Nação, ou, ao contrário, de denúncia do contágio revolucionário, o problema do eco da Revolução é tão velho quanto o próprio acontecimento. De início, num gigantesco diálogo com múltiplas vozes, onde Burke e Thomas Paine se respondem, onde Chateaubriand e Joseph de Maistre se esforçam para teorizar a quente a experiência em curso e dar-lhe resposta, o problema da Revolução foi colocado em termos gerais. Mas, como pode ter sido de outra forma, se o confronto armado, a partir de 1792, e até 1815, conduzia a um abalo generalizado da Europa monárquica em seus equilíbrios mais enraizados?
As notícias da Revolução Francesa chegaram a Portugal através de embaixadores, causando espanto e medo. Em Fevereiro de 1793, a rainha D. Maria I ordenou que se fizesse luto durante quinze dias pela morte dos reis de França.
A Revolução Francesa pôs em perigo outras monarquias absolutas na Europa. E alguns reis absolutistas, ao sentirem-se ameaçados, reagiram e declararam guerra à França. No comando das tropas franceses notabilizou-se um militar ambicioso chamado Napoleão Bonaparte, que depois de sucessivas vitórias, foi coroado imperador. O sonho de Napoleão Bonaparte, era conquistar toda a Europa e governá-la como um império. Esta onda de vitórias terminou na célebre batalha de Trafalgar (1805). A armada inglesa, sob o comando do almirante Nelson, derrotou a armada francesa. Apesar deste fracasso, Napoleão conseguiu algumas vitórias sobre outros reinos do continente – Áustria, Rússia e Prússia.
Passar dessas reações a quente às abordagens científicas do tema, demandaria um percurso historiográfico em cujo detalhe não entrarei. Nas grandes obras históricas da época romântica, de Thiers a Michelet, a Lamartine ou a Louis Blanc, a dimensão internacional do abalo revolucionário está longe de estar ausente, mas continua, no estado dos conhecimentos, galocêntrica, apesar de virem do exterior considerações que ainda se hipnotizam com o acontecimento da Revolução em si, como Carlyle, que trata desse "prodígio chamado Revolução Francesa que o Universo ainda olha com estupefação".
Também como Eric Hobsbwan brilhantemente demonstrou em “Ecos da Marselhesa”, onde situa a Revolução Francesa na história dos séculos XIX e XX, examinando o processo de sua recepção nestes duzentos anos e o significado de sua herança. As conexões teóricas e políticas da Revolução Francesa com a Revolução Russa, exploradas; 1917 aparece como a realização dos ideais de 1789 e isso tem impacto na historiografia contemporânea.
Explosão no espaço, explosão também no tempo; uma parte importante da leitura inscreveu-se no quadro mais amplo de uma visão renovada das Luzes européias e dos estudos de sua difusão, ou de sua influência, que deram lugar a toda uma série de encontros, de historiadores e de literatos. Assim o problema das origens, ou das raízes, ocupa posição privilegiada tanto no nível da influência dos grandes pensadores quanto no das aberturas de caminho (sociabilidade maçônica) que operam no período pré-revolucionário. A jusante, são os ecos de longo prazo da Revolução Francesa que solicitam pesquisas, como é o caso nos países da Europa Central, Balcânica e do Leste, onde a difusão dessa imagem se operou no decurso dos movimentos nacionais e revolucionários do século XIX. Questão que se coloca em termos semelhantes para a América Latina.
A literatura e o discurso propriamente político continuaram sendo muito naturalmente o lugar onde se inscreve a referência à Revolução Francesa, permanecendo até o início do século XX a referência maior a uma modificação violenta da ordem social e institucional, como o lugar fundador de toda uma filosofia política. Lembrança da herança dos valores-chaves liberdade, igualdade, fraternidade, reflexão sobre as vias da passagem de um estado social a um outro, pela riqueza das experiências históricas da qual era portadora, a Revolução Francesa pôde ser reclamada sucessivamente pelos movimentos liberais do século XIX nacionais, assim como conheceu, a partir de 1848, uma espécie de apropriação pelas correntes socialistas, e o movimento operário, integrando em seu patrimônio a referência a essa experiência coletiva. No que defini como plasticidade da herança revolucionária, é evidente que não foram considerados os mesmos aspectos da herança, ou os mesmos heróis, de 1789 ou 1793, Mirabeau ou Robespierre.

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