Neste livro, o
filósofo francês Olivier Reboul procura discutir e aprofundar temas referentes
ao discurso, e que são discutidos, no entanto, por especialistas de diferentes
áreas, como a Comunicação Social, o Direito, a Filosofia e a Educação. O modo
como tais temas são apresentados pelo autor oferece a possibilidade da
realização de dois tipos de leitura: a) uma leitura sequencial de todo o livro;
b) uma leitura dos capítulos fora de ordem.
Quanto à sua
estrutura, cabe indicar que o livro apresenta os seguintes capítulos: “Origens
da retórica na Grécia” (Capítulo 1); “Aristóteles, a retórica e a dialética”
(Capítulo 2); “O Sistema Retórico” (Capítulo 3); “Do século I ao século XX”
(Capítulo 4); “Argumentação” (Capítulo 5); “Figuras” (Capítulo 6); “Leitura
retórica de textos” (Capítulo 7); “Como identificar os argumentos?” (Capítulo
8); “Exemplos de leitura retórica” (Capítulo 9); “À Guisa de uma Conclusão”
(Capítulo 10).
O capítulo
inicial apresenta o que o autor considera como a origem da retórica. De um
ponto de vista histórico, procura situá-la nos seus fundamentos e no contexto
da antiga Grécia, período anterior a Sócrates. Neste capítulo, vemos uma
apresentação dos princípios fundamentais da arte da argumentação desenvolvida
pelos sofistas, os quais viajavam de cidade em cidade ensinando a retórica,
entendida por eles como sendo a arte da persuasão. Para o autor, a retórica dos
sofistas pautava-se principalmente na tentativa de fazer com que o verossímil
se fizesse passar pelo verdadeiro, tornando poderosos os argumentos de qualquer
debatedor.
No segundo
capítulo, Reboul apresenta um apanhado das perspectivas retóricas dos sofistas,
de Sócrates (e de Platão) e de Aristóteles, mostrando distinções entre retórica
e dialética, e, entre verossímil e verdadeiro. Também menção dois elementos:
a) o
debate que é realizado, entre o papel atribuído à retórica e à dialética por
Sócrates e Aristóteles;
b) a
valorização do verossímil desenvolvida por Aristóteles.
Sobre a
primeira menção, para Sócrates e Platão, a dialética é o instrumento para a
busca da verdade e para a identificação do que é meramente verossímil. Assim, a
dialética, entendida como a capacidade analítica, a qual permite identificar as
contradições e eliminá-las é valorizada como sendo a própria essência da
filosofia. Enquanto isto, a retórica se apresenta como um tipo de conhecimento
útil muito mais para enganar e confundir quem busca a verdade do que para outra
coisa. Já para Aristóteles, ao contrário, a retórica se refere à investigação
da verdade, e a ela cabe, entre outras coisas, formar um discurso organizado.
No capítulo 3,
é apresentada as contribuições de Aristóteles para o estudo e para o emprego da
retórica. Retoma a questão dos gêneros discursivos aristotélicos (epidíctico,
deliberativo e judiciário), ligados às três dimensões dos “auditórios”: ethos
(aspecto ético), logos (aspecto intelectivo/racional) e pathos (aspecto
emocional). Deste modo, o autor procura mostrar ao leitor as possibilidades de
utilização destes gêneros argumentativos, bem como detalha passo a passo a
força e a utilidade de cada um destes gêneros, além de demonstrar as etapas de
como são compostos tais discursos. Deste modo, apresenta a ideia de que a
retórica compõe-se de um sistema a partir do qual se derivam as muitas
variações observadas nos padrões discursivos argumentativos existentes ao longo
da história.
O quarto
capítulo faz uma análise da trajetória histórica da retórica. Nele encontramos
referências que vão desde os oradores romanos mais famosos (como Cícero e
Quintiliano), até os trabalhos mais recentes de estudiosos do tema como
Perelman e Olbrechts-Tyteca. Destaque especial deve ser dado à retórica
desenvolvida pelos romanos. Para Reboul, o século 20 inicia um resgate da
retórica, porém constata que isto muitas vezes ocorre com um esvaziamento de
seu conteúdo, tornando-a meramente uma ciência da análise das figuras do
discurso, o que é colocado em causa e refutado por Perelman.
No quinto
capítulo, encontramos uma compilação dos principais elementos de um texto
argumentativo, bem como uma contextualização dos usos e possibilidades da
retórica na composição de trabalhos acadêmicos, textos publicitários e
jurídicos. Apresenta exemplos do emprego de técnicas argumentativas na
composição de tarefas relativamente simples, como a composição de um texto
acadêmico ou uma aula. Este capítulo é uma espécie de contextualização do tema,
ressaltando sua utilização na atualidade e recolocando-o em discussão.
O sexto
capítulo é uma continuação mais profunda sobre a questão apresentada no
capítulo anterior, ou seja, a contextualização da retórica aos usos atuais. O
tópico central deste capítulo, é apresentação e discussão das figuras de estilo
literário, na qual o autor aponta a relação entre retórica e literatura, não
somente para à beleza dos textos, mas também à possibilidade de um uso voltado
para a persuasão e para a explicação clara do que se pretende dizer.
“Leitura
retórica de textos”, o sétimo capítulo, consiste em um aprofundamento analítico
da retórica. O autor chama a atenção para a forma como a retórica é útil a um
tipo particular de análise: a análise retórica de um texto. Ao praticá-la, é
importante se fazer algumas perguntas sobre o texto, tais como: “em que ele é
persuasivo? Quais são seus elementos argumentativos e oratórios?” Outra coisa
importante é a percepção de quem é o orador, bem como da maneira como este se
posiciona frente à opinião.
O capítulo de
número oito continua abordando análise retórica, mas agora sobre a
identificação e análise dos tipos de argumentos empregados em um texto, para
isso, o autor discute a maneira como as figuras argumentativas e os tipos de
argumentos constituem os principais mecanismos para a compreensão dos
diferentes gêneros de texto, trazendo alguns exemplos de textos construídos a
partir de diferentes figuras argumentativas.
O capítulo 9
consiste em exemplos de aplicação do método de análise retórica proposto pelo
autor. Ele destaca a sua técnica de análise retórica, examinando diversos tipos
de texto e argumentos, os quais são, desde um comercial de televisão, até obras
de filosofia. Também retoma a questão do sistema retórico e coloca seus
acréscimos, os quais compõem três regras: fazer perguntas ao texto, indagar o
conjunto do texto e buscar o vínculo entre o argumentativo e o oratório.
No
encerramento do livro (À guisa de uma conclusão), o autor conclui que o estudo
da retórica deve ser utilizado como uma forma de dialogar com o texto, e que a
retórica, é um tipo de conhecimento válido, especialmente na sociedade
contemporânea, a qual está imersa em toda uma gama de discursos persuasivos
bibliografia:
REBOUL, O. Introdução
à Retórica. Martins Fontes: São Paulo, 2004.