quarta-feira, 24 de junho de 2015

A RELEVÂNCIA DOS SENTIMENTOS NA EDUCAÇÃO

Sempre acreditei que lidar com as emoções de alunos é de extrema relevância, pois ajuda muito na resolução de conflitos coletivos e individuais das crianças. Por isso quero falar um pouco do projeto Amigos do Zippy, para quem não conhece, trata-se de um projeto realizado por Tania Paris, presidente da ASEC (Associação pela Saúde Emocional de Crianças), entidade sem fins lucrativos que se dedica ao desenvolvimento e expansão de programas de educação emocional no Brasil. 
O projeto oferece capacitação para os educadores que tem o interesse em desenvolver o programa com as crianças e eles recebem todo o material necessário, desde apostilas metodológicas, com aulas estruturadas, ilustrações para darem vida às histórias e moldes para os materiais para brincadeiras até pôsteres grandes e coloridos para a sala de aula, crachás para as crianças, guias para os pais etc. “Existe uma metodologia própria, que privilegia o aprendizado de lidar com dificuldades de forma crescente, desde as mais simples até as mais complexas, como a perda de um ente querido, passando por situações de rejeição, bullying e conflitos”, explica Tania.
Sobre o projeto:
O Amigos do Zippy começou no final da década de 90, com projetos piloto na Dinamarca e na Lituânia – países que, na época, apresentavam diferenças culturais marcantes, já que o primeiro era bastante liberal enquanto o segundo saída de um regime comunista. Em cada um, 300 crianças fizeram parte das aulas de desenvolvimento emocional, e tiveram seus resultados comparados com 300 crianças que não participaram.
“Os resultados foram muito semelhantes, apesar de as crianças terem características muito distintas”, conta Tania, “por isso, ficou visível que o programa funcionava”. Com base nesses resultados, surgiu a organização Partnership for Children, em Londres, responsável por levar a iniciativa para o resto do mundo.
Hoje, o Amigos do Zippy está em 31 países e em 6 estados brasileiros. Apenas no Brasil, 220 mil crianças de escolas públicas e particulares já passaram pelo projeto. “Não fazemos distinção. Nosso pensamento é que todos são pessoas e todos enfrentam situações ruins. Nossa maior dificuldade em resolver um problema é lidar com o que nós estamos sentindo em relação ao problema”.
Capacitação do professor:
O Amigos do Zippy atua principalmente com a capacitação dos professores. “É importante que sejam eles a levar essas lições para a escola porque eles já têm um relacionamento próximo com as crianças e conhecem seu histórico”. Também por esse motivo, os educadores são livres para adaptar os ensinamentos recebidos de acordo com a necessidade dos alunos.
“Modifiquei minha metodologia em sala e sinto que, agora, conheço meus alunos porque ouço o que eles falam. Nós nos acolhemos mutuamente e, principalmente, resolvemos juntos os conflitos. Profissionalmente, me sinto mais madura agora”, diz um dos relatos de professores recolhidos pelo Amigos do Zippy ao final do período letivo. Após um ano de reuniões e acompanhamentos, a diferença mais marcante é a atenção redobrada às necessidades e dificuldades emocionais de cada criança. Através de atividades, as crianças passam a se expressar com confiança e fortalecem o vínculo com colegas e professores.
“A maior dificuldade em resolver um problema é lidar com o que nós estamos sentindo em relação ao problema”.(Tania Paris – presidente da ASEC)
Se crianças pequenas aprendem a lidar com suas emoções, elas serão mais aptas a enfrentar crises na idade adulta.
Imagine chegar em casa e começar a fazer o jantar enquanto seu filho assiste televisão. Vocês conversam – um na cozinha, o outro, na sala, e ambos distraídos com outras tarefas. Até que o assunto começa a ficar mais delicado. O menino, então com sete anos, desliga a TV e caminha até o lado do fogão: “Eu aprendi que, quando estamos falando sério, temos que olhar nos olhos”.
“A mãe fica emocionada ao contar essa história”, diz Tania, “porque percebe que esse é um aprendizado que muda a relação de toda a família”.
O aprendizado, no caso, foi adquirido através do programa Amigos do Zippy, iniciativa que deu origem à ASEC e que, há dez anos, capacita professores brasileiros para cultivar a inteligência emocional de crianças do primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental. Define-se a educação sócio-emocional como a habilidade de identificar e gerenciar emoções, estabelecer relacionamentos saudáveis e contornar comportamentos destrutivos – qualquer ação que a pessoa realize em prejuízo de si mesma.
“Existem muitos programas de prevenção, mas nós trabalhamos com a promoção”, explica Tania. “Por exemplo, ao prevenir uma doença, você procura fatores de risco e trabalha para combatê-los. Mas uma solução mais ampla seria promover a saúde através de hábitos saudáveis, ou fatores de proteção”. Daí a decisão de desenvolver, desde a infância, habilidades que garantam a saúde emocional e mental das crianças. Dessa forma, quando confrontadas com situações difíceis, no futuro, elas terão as ferramentas para buscar soluções por conta própria.
Para isso, as turmas participam de seis módulos:
Sentimentos: São analisadas a tristeza, a alegria, a raiva, o ciúme e o nervosismo. Aqui, as crianças praticam falar sobre como se sentem e buscam maneiras de se sentir melhor;
Comunicação: Ensina a ouvir, pedir ajuda e dizer o que desejam em situações difíceis;
Começando e interrompendo relacionamentos: Esta é uma aula sobre amizade, em que a turma aprende como fazer e conservar amigos, como lidar com a solidão e a rejeição, e como fazer as pazes após desentendimentos;
Resolução de conflitos: Aborda, em particular, a questão do bullying, como identificar e desconstruir essa violência e com quem conversar ao presenciar uma intimidação;
Lidando com mudanças e perdas: Cria um espaço para falar sobre morte e separação;
Nós sabemos lidar com dificuldades: É o módulo final, que reforça os aprendizados obtidos durante os encontros e discute como ajudar os outros e se adaptar à diferentes situações.
Cada tema é tratado de uma forma distinta, que pode ser desde uma dramatização até um desenho, passando por várias discussões entre o grupo. Tania percebe que “as crianças reconhecem o programa como uma aula para brincar. E é fundamental que ele seja muito lúdico”. Geralmente, as temáticas são introduzidas através de uma história em que o personagem experimenta certos desafios. Ao sugerir soluções para o personagem, as crianças estão, paralelamente, descobrindo o que elas poderiam fazer ao se encontrarem naquela mesma situação.
Ao final de um ano de encontros, pais e professores narram uma série de avanços: melhora na leitura e escrita, maior interesse pela escola e vontade de aprender, desenvolvimento da comunicação, expressão de sentimentos e autoconfiança. Tudo isso influencia diretamente no aprendizado cognitivo, ou seja, no desempenho acadêmico dos alunos. Na história, Zippy é um inseto cujos amigos são crianças. A leitura do livro dá início a um debate e outras atividades lúdicas sobre os desafios que ele enfrenta.
Melhora cognitiva:
Um estudo americano com 300 mil crianças mostrou que aquelas que estavam inseridas em programas de desenvolvimento de habilidades emocionais apresentaram um rendimento escolar de 11 a 17% superior do que as que não participaram. Outras pesquisas vão mais longe: um projeto da Unesco na América Latina, que abrangeu 54 mil estudantes, concluiu que quem convive harmoniosamente com os colegas pode atingir notas até 46% mais altas do que aqueles que habitam ambientes de conflito.
Esses resultados ressaltam a importância de duas frentes na hora de cultivar a saúde emocional: o desenvolvimento de habilidades e o ambiente de apoio. Não basta, portanto, ensinar a criança sobre respeito e solução de problemas se os locais em que ela transita não forem, também, ambiente seguros, onde ela se sinta ouvida e bem cuidada.
“Quem experimenta com frequência emoções positivas tem mais facilidade para planejar e estabelecer metas a longo prazo. Esses estados positivos preparam para um aprendizado mais rápido e um melhor desempenho intelectual. A isto se somam outros importantes benefícios psicossociais, que permitem que as crianças e os professores convivam em um clima muito mais saudável, com menos agressão e bullying”, disse a educadora e pesquisadora Laura Oros ao portal Terra Educação. Os benefícios permanecem na vida adulta, implicam em vidas profissionais bem sucedidas, casamentos saudáveis e menos propensão à depressão e outras doenças.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

PERÍODO REGENCIAL NO BRASIL


O chamado Período Regencial no Brasil estendeu-se do ano de 1831 ao ano de 1840, quando houve o Golpe da Maioridade, que levou o ainda adolescente D. Pedro II ao poder. Esse período foi caracterizado por acirradas disputas políticas e conflitos armados (conhecidos como Revoltas Regenciais).
A partir de 1831, o Brasil viu-se sem o imperador, pois D. Pedro I abdicara do trono em favor de seu filho. O rei tinha assuntos políticos a resolver em Portugal com seu irmão, D. Miguel, a respeito da herança do trono português. Com a vacuidade do trono brasileiro, alguns políticos destacados encarregaram-se de reger a instituição imperial com o objetivo de sustentar a unidade da nação recém-independente até que D. Pedro II pudesse assumir. O Período da Regência foi dividido em três partes principais:
1) Regências Trinas (1831-1835)
2) Regência una de Feijó (1835-1838)
3) Regência una de Araújo Lima (1838-1840)
A fase das Regências Trinas dividiu-se em duas etapas. A primeira foi a Regência Trina Provisória (1831), que durou um curto período de dois meses e ficou caracterizada por salvaguardar a instituição da Regência Permanente e a composição de um gabinete ministerial. Essa salvaguarda era importante, haja vista que o Brasil ainda não possuía, nessa época, uma estrutura militar e um poder central coeso. Qualquer desleixo político poderia resultar na fragmentação do império. Essa fase foi composta pela tríade: Nicolau Pereira CamposVergueiro, José Joaquim Carneiro de Campos e Francisco Lima e Silva.
A segunda fase da Regência Trina ficou conhecida como Regência Trina Permanente (1831-1835). Nesse período, efetivou-se o governo dos regentes, que ficaram sendo José da Costa Carvalho (o Marquês de Monte Alegre),Francisco Lima e Silva e João Bráulio Muniz. O gabinete ministerial dessa fase era eminentemente conservador. O Ministério da Justiça foi confiado à figura do padre Diogo Antônio Feijó, que tratou de instituir a Guarda Nacional, além de renovar os quadros militares e promover uma série de outras reformas, incluindo a elaboração do Ato Adicional, de 1834, que garantiria as eleições para um novo governo, composto por um só regente.
Feijó tornou-se uma figura destacada ao longo da Regência Trina Permanente e conseguiu vencer as eleições por uma margem de votos bem pequena com relação ao seu adversário, Holanda Cavalcanti, como assinala o historiador Boris Fausto a respeito do período em que Feijó esteve no poder:
“Nas eleições para a regência única, realizadas em abril de 1835, o padre Feijó derrotou seu principal competidor, Holanda Cavalcanti, proprietário rural de Pernambuco. O corpo eleitoral era extremamente reduzido, somando cerca de 6 mil eleitores. Feijó recebeu 2.826 votos, e Cavalcanti, 2.251. Pouco mais de dois anos depois, em setembro de 1838, Feijó renunciou. Ele sofrera pressões do Congresso, sendo acusado de não empregar suficiente energia na repressão aos farrapos, entre cujos chefes estava um de seus primos. Nas eleições que se seguiram, triunfou Pedro Araújo Lima, futuro marquês de Olinda, antigo presidente da Câmara e senhor de engenho em Pernambuco.” [1]
A renúncia de Feijó conduziu a elite política a novas eleições, e Araújo Lima foi eleito o novo regente. Alguns autores veem a regência de Lima como regressiva com relação aos avanços do Ato Adicional de 1834. Todavia, a segunda metade da década de 1830, para o Brasil, foi repleta de turbulências, sobretudo pelas revoltas que ocorreram nas Províncias. Além da já citada por Boris Fausto, a Revolução Farroupilha, houve também a Sabinada, a Balaiada e a Cabanagem.Além dessas revoltas, houve também as revoltas de escravos, como a do Quilombo de Vassouras e a Revolta dos Malês.

NOTAS
[1] Fausto, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013. p.147.