quinta-feira, 29 de março de 2012

Brasil Colonial - Capitanias, Governo Geral, Bandeiras, Jesuítas e França Antártica - Uma Visão Geral


Capitanias Hereditárias

Nas primeiras décadas do século XVI, Portugal, ainda atraído pelo comércio oriental, restringiu ao extrativismo suas ações de exploração do território colonial brasileiro. Dessa forma, realizava poucas expedições que somente transportavam as toras de pau-brasil que eram trazidas pelos índios ao litoral e organizavam algumas expedições de proteção e reconhecimento do litoral brasileiro.

Apesar dessas ações, a ameaça de invasão dos corsários estrangeiros, principalmente franceses, obrigou a Coroa Portuguesa a rever sua política de ocupação na colônia. A primeira medida tomada nesse sentido aconteceu em 1530, quando a expedição de Martim Afonso de Sousa foi enviada com os primeiros colonos a se fixarem definitivamente no espaço colonial. Por obrigação, Martim Afonso e os demais colonizadores deveriam fundar vilas, povoar e desenvolver a economia local.

No ano de 1534, dando continuidade ao projeto de tomada de posse, o rei dom João III dividiu a nova colônia em quinze faixas de terra. Cada um desses imensos lotes de terra integraria o sistema de capitanias hereditárias, que transferiu a responsabilidade de ocupar e colonizar o território colonial para terceiros. Nesse sistema, o rei entregava uma capitania a algum membro da corte de sua confiança que, a partir de então, se transformava em capitão donatário.

Aquele que recebia o título de capitão donatário não poderia realizar a venda das terras oferecidas, mas tinha o direito de repassá-las aos seus descendentes. No momento da posse, o capitão donatário recebia duas importantes documentações da Coroa: a Carta de Doação e o Foral. Nesse primeiro documento ficava estabelecido que o governo de Portugal cedia o uso de uma determinada capitania a um donatário e que este não poderia negociá-la sob nenhuma hipótese.

Já o Foral determinava o conjunto específico de direitos e obrigações que o capitão donatário teria em suas mãos. Ele poderia fundar vilas, doar sesmarias (lotes de terra não cultivados), exercer funções judiciárias e militares, cobrar tributos e realizar a escravização de um número fixo de indígenas. Com relação às atividades econômicas, ele poderia ter uma parte dos lucros, desde que isso não ferisse os direitos de arrecadação da Coroa Portuguesa.

Apesar de tantas especificidades e regras de funcionamento, o sistema de capitanias hereditárias acabou não alcançando os resultados esperados. A falta de apoio econômico do governo, a inexperiência de alguns donatários, as dificuldades de comunicação e locomoção, e a hostilidade dos indígenas dificultaram bastante a execução deste projeto. Com o passar do tempo, muito donatários abriram mão do privilégio e outros nem mesmo reuniram recursos para atravessar o Atlântico e formalizar a posse.

As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as únicas que conseguiram prosperar e superar as dificuldades da época. A explicação dada para esses dois casos se encontra nos lucros obtidos com a instalação da indústria açucareira nestas regiões. Posteriormente, os portugueses decidiram centralizar o modelo político-administrativo do território com a implantação do Governo-geral. Somente em 1759, as capitanias hereditárias desapareceram com a ação do ministro Marquês de Pombal.



Governo Geral

O Governo Geral foi uma alternativa ao fracasso administrativo das capitanias hereditárias.

Respondendo ao fracasso do sistema das capitanias hereditárias, o governo português realizou a centralização da administração colonial com a criação do governo-geral, em 1548. Entre as justificativas mais comuns para que esse primeiro sistema viesse a entrar em colapso, podemos destacar o isolamento entre as capitanias, a falta de interesse ou experiência administrativa e a própria resistência contra a ocupação territorial oferecida pelos índios.

Em vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criação de novos engenhos, a integração dos indígenas com os centros de colonização, o combate do comércio ilegal, construir embarcações, defender os colonos e realizar a busca por metais preciosos. Mesmo que centralizadora, essa experiência não determinou que o governador cumprisse todas essas tarefas por si só. De tal modo, o governo-geral trouxe a criação de novos cargos administrativos.

O ouvidor-mor era o funcionário responsável pela resolução de todos os problemas de natureza judiciária e o cumprimento das leis vigentes. O chamado provedor-mor estabelecia os seus trabalhos na organização dos gastos administrativos e na arrecadação dos impostos cobrados. Além destas duas autoridades, o capitão-mor desenvolvia ações militares de defesa que estavam, principalmente, ligadas ao combate dos invasores estrangeiros e ao ataque dos nativos.

Na maioria dos casos, as ações a serem desenvolvidas pelo governo-geral estavam subordinadas a um tipo de documento oficial da Coroa Portuguesa, conhecido como regimento. A metrópole expedia ordens comprometidas com o aprimoramento das atividades fiscais e o estímulo da economia colonial. Mesmo com a forte preocupação com o lucro e o desenvolvimento, a Coroa foi alvo de ações ilegais em que funcionários da administração subvertiam as leis em benefício próprio.

Entre os anos de 1572 e 1578, o rei D. Sebastião buscou aprimorar o sistema de Governo Geral realizando a divisão do mesmo em duas partes. Um ao norte, com capital na cidade de Salvador, e outro ao sul, com uma sede no Rio de Janeiro. Nesse tempo, os resultados pouco satisfatórios acabaram promovendo a reunificação administrativa com o retorno da sede a Salvador. No ano de 1621, um novo tipo de divisão foi organizado com a criação do Estado do Brasil e do Estado do Maranhão.

Ao contrário do que se possa imaginar, o sistema de capitanias hereditárias não foi prontamente descartado com a organização do governo-geral. No ano de 1759, a capitania de São Vicente foi a última a ser destituída pela ação oficial do governo português. Com isso, observamos que essas formas de organização administrativa conviveram durante um bom tempo na colônia.


Jesuítas x Bandeirantes

Bandeirantes e jesuítas possuíam interesses distintos com relação à população indígena.


Ao longo de seu processo de instalação em terras brasileiras, Portugal teve que superar diversos empecilhos que tornavam a formação de regiões economicamente produtivas em uma árdua tarefa. Para tanto, teve que contar com a iniciativa de hábeis representantes de seu projeto, de índios que auxiliavam no reconhecimento do ainda desconhecido território e da própria Igreja Católica, que participou ativamente no desenvolvimento dos primeiros centros de colonização.

Particularmente, a participação dos membros da Igreja aconteceu por meio da formação da Companhia de Jesus, que foi designada para garantir a instalação do cristianismo católico nas Américas. De fato, vários padres tiveram importante papel nessa tarefa, chegando até mesmo a desbravarem outras localidades onde nem mesmo os portugueses tinham a condição de sozinhos estabelecerem o domínio metropolitano. A associação entre Igreja e Estado era bastante ativa nesse período.

Em sua trajetória, as missões jesuíticas encamparam uma grande população de indígenas que ganhava educação religiosa em troca de uma rotina de serviços voltados à manutenção desses próprios locais. Com o passar do tempo, algumas dessas propriedades clericais passaram a integrar a economia interna da colônia com o desenvolvimento da agropecuária e de outras atividades de extrativismo. Dessa forma, conciliavam uma dupla função religiosa e econômica.

Enquanto essa situação próspera se desenhava no interior da colônia, os proprietários de terra do litoral enfrentavam grandes dificuldades para ampliar a rentabilidade de suas posses. Um dos grandes problemas esteve ligado à falta de escravos africanos que nem sempre atendiam à demanda local e, ao mesmo tempo, possuíam um elevado valor no mercado colonial. Foi daí então que os bandeirantes começaram a adentrar as matas com objetivo de apresar e vender os índios que resolveriam a falta de mão-de-obra.

De fato, essa atividade gerou um bom lucro aos bandeirantes que se dispunham a adentrar o interior à procura de nativos. Contudo, a resistência destes e o risco de vida da própria atividade levaram muitos bandeirantes a organizarem ataques contra as missões jesuíticas. Afinal de contas, ali encontrariam uma boa quantidade de “índios amansados” que já estariam adaptados aos valores da cultura europeia e valeriam mais por estarem acostumados a uma rotina de trabalho diária.

Com isso, a rivalidade entre bandeirantes e jesuítas marcou uma das mais acirradas disputas entre os séculos XVII e XVIII. Vez após outra, ambos os lados recorriam à Coroa Portuguesa para resolver essa rotineira contenda. Por um lado, os colonizadores reclamavam da falta de suporte da própria administração colonial. Por outro, os jesuítas apelavam para a influência da Igreja junto ao Estado para denunciarem as terríveis agressões dos bandeirantes.

O desgaste causado por essas disputas só foi resolvido com as ações impostas pelo marquês de Pombal. Primeiramente, decidiu determinar a expulsão dos jesuítas do Brasil por estes imporem um modelo de colonização alheio ao interesse da Coroa. E, logo em seguida, determinou o fim da escravidão indígena e a formação de aldeamentos diretamente controlados por representantes da administração metropolitana.



Guerras Guaraníticas

A região de Sete Povos das Missões foi palco de uma sangrenta guerra entre colonizadores e indígenas.

Durante o período colonial, diversos conflitos entre colonizadores e padres jesuítas tiveram lugar nas disputas ocorridas no território brasileiro. Na maioria das vezes, essas disputas aconteciam em torno da escravização da mão-de-obra indígena. Muitos colonos desprovidos da oferta ou de recursos financeiros para a compra de escravos africanos buscavam na mão-de-obra indígena uma opção mais acessível e de menor custo.

Em algumas situações, esses colonos tinham interesse em fazer uso dos indígenas agrupados nas reduções jesuítas, pois estes estavam adaptados à rotina de trabalho diário estabelecida pelos próprios padres e partilhavam uma mesma língua ou religião dos colonizadores. Naturalmente, essa cobiça era contrária às intenções dos missionários que, sem a presença nativa, não poderiam financiar as atividades da Companhia de Jesus ou empreender sua ação evangelizadora.

Na região sul do Brasil, jesuítas espanhóis fundaram diversas reduções conhecidas como Sete Povos das Missões do Uruguai. Ao longo de sua trajetória, os clérigos sofreram com o assédio de grupos bandeirantes e, muitas vezes, utilizavam da própria população indígena para se defender desses ataques. A partir da segunda metade do século XVIII, novos confrontos envolveriam essa população no momento em que Portugal e Espanha passaram a discutir a redefinição de suas fronteiras coloniais.
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri, os portugueses passariam a controlar os territórios dos Sete Povos das Missões que, em contrapartida, cederiam um foco de colonização na região de Sacramento. Além disso, esse tratado estipulava a remoção dos indígenas e jesuítas para o lado espanhol das fronteiras naturais estabelecidas pelo Rio Uruguai. O absurdo dessa proposta não levava em consideração o fato de que tal mudança envolvia o deslocamento de cerca de 30 mil índios e 700 mil cabeças de gado.

Além dos problemas de deslocamento, os indígenas rejeitavam completamente sua inserção no ambiente colonial espanhol. Tal resistência se justificava pelo fato da administração colonial espanhola permitir oficialmente o uso de indígenas para o trabalho escravo. Mediante tal impasse, os jesuítas decidiram armar as populações indígenas contra as tropas espanholas e portuguesas designadas para cumprir o Tratado de Madri.

Entre os anos de 1753 e 1756, um sangrento conflito entre índios e colonizadores tomou conta de toda aquela região. Por fim, o saldo trágico desse conflito deu fim à vida de milhares de índios e, sob o aspecto político, motivou o decreto português que exigia a expulsão dos jesuítas do Brasil. Essa disputa só viria ter fim quando, em 1801, o Tratado de Badajós colocou a região dos Sete Povos sob domínio lusitano e a colônia de Sacramento ao controle dos espanhóis.



Entradas e Bandeiras

No desenvolvimento do processo de colonização do Brasil, a organização de expedições pelo interior teve objetivos diversos. A busca por metais e pedras preciosas, o apresamento de indígenas, a captura de escravos africanos fugitivos e o encontro das drogas do sertão são apenas alguns dos aspectos que permeiam a motivação desses deslocamentos. Em suma, as expedições pelo interior do território estiveram divididas entre a realização das entradas e bandeiras.
As entradas envolviam a organização do governo português na realização de expedições que buscavam a apresamento de índios e a prospecção de minérios. Chegando ao século XVII, momento em que o açúcar vivia uma acentuada crise e o governo português se recuperava do domínio espanhol, as autoridades coloniais incentivavam tais ações exploratórias na esperança de descobrirem alguma outra atividade
econômica capaz de ampliar os lucros da Coroa.
Além da ação oficial, a exploração do território colonial aconteceu pelas mãos de particulares interessados em obter riquezas, buscar metais preciosos e capturar escravos. Conhecidos como bandeirantes, essas figuras do Brasil Colonial irrompiam pelos sertões ultrapassando os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas e saíam, geralmente, das regiões de São Paulo e São Vicente. De fato, ao longo do tempo, vemos que o bandeirantismo se dividiu em diferentes modalidades.

No chamado bandeirantismo apresador, os participantes da expedição tinham como grande alvo o aprisionamento e a venda de índios como escravos. Esse tipo de atividade gerava bons lucros e atraia a atenção dos bandeirantes às proximidades das reduções jesuíticas. Afinal de contas, essas comunidades religiosas abrigavam um grande número de nativos a serem convertidos à condição de escravos. Como resultado dessa ação, a Igreja entrou em conflito com os praticantes desse tipo de bandeirantismo.

No bandeirantismo prospector, observamos a realização de expedições interessadas na busca por metais e pedras preciosas pelo interior. Por não ter garantias sobre o descobrimento de regiões auríferas, o bandeirantismo prospector era realizado paralelamente à captura de nativos, extração de drogas do sertão ou realização de qualquer outra espécie de atividade. Nos fins do século XVII, a prospecção bandeirantista instaurou a exploração de ouro na região de Minas Gerais.

Por fim, ainda devemos falar sobre o bandeirantismo de contrato. Esse tipo de ação expedicionária era contratado por representantes da Coroa ou senhores de engenho interessados em combater as populações indígenas mais violentas ou realizar a recaptura dos escravos africanos que fugiam. Além disso, o bandeirantismo de contrato foi empregado na organização de forças que combatiam a organização dos quilombos pelo interior do território.



Invasões francesas no Brasil Colonial

O território colonial brasileiro, pertencente a Portugal, sofreu várias tentativas de invasões francesas, que tiveram início no século XVI e perduraram até o século XVIII.

As invasões francesas no Brasil ocorreram durante quase todo o período colonial

Desde a chegada dos portugueses no Brasil, em 1500, os territórios recém-descobertos despertaram grandes interesses de outros povos europeus. No presente texto iremos abordar as tentativas de invasões francesas no território colonial brasileiro, que na época pertencia à metrópole Portugal.

A França foi o primeiro reino europeu que contestou o Tratado de Tordesilhas (1494), que dividiu as terras descobertas na América entre Portugal e Espanha. O litoral brasileiro era constantemente frequentado pelos franceses desde o período da extração do pau-brasil. Os franceses, nessa época, mantinham permanentes contatos com os povos indígenas e dessa relação articulavam acordos e alianças com esses povos.

No século XVI, mais especificamente no ano de 1555, os franceses fundaram a chamada França Antártica, na baía de Guanabara (atual Rio de Janeiro). Lá construíram uma sociedade com influências protestantes, uma vez que, no século XVI, milhares de protestantes europeus vieram em fuga da Europa para a América em consequência da perseguição católica durante a Contrarreforma religiosa (conjunto de medidas tomadas pela Igreja Católica com o surgimento das religiões protestantes).

Sob a influência francesa, algumas partes do litoral brasileiro ganharam diversas feitorias e fortes (militares). O principal povo indígena que perpetuou a aliança com os franceses foi o Tamoio. Deste acordo surgiu a Confederação dos Tamoios (aliança entre diversos povos indígenas do litoral: tupinambás, tupiniquins, goitacás, entre outros), que possuíam um objetivo em comum: derrotar os colonizadores portugueses.

Durante cinco anos, aproximadamente, ocorreram diversos conflitos entre os portugueses e a Confederação. No ano de 1567, os portugueses derrotaram a Confederação, extinguindo-a e expulsando os franceses do território colonial.

Ao contrário do que muitos pensaram, os franceses não desistiram tão facilmente do Brasil. Eles foram expulsos do litoral brasileiro, da região sudeste (Rio de Janeiro), porém estabeleceram uma nova fixação no território durante o século XVII, mas na região nordeste, mais precisamente na cidade de São Luís (atual capital do Maranhão), onde fundaram, em 1612, a chamada França Equinocial.

Outra vez, a França estava tentando desenvolver uma civilização no Brasil colonial. A metrópole Portugal, rapidamente, no intuito de não perder partes do território da colônia, enviou uma expedição militar à região do Maranhão. Essa expedição portuguesa atacou os franceses tanto por terra quanto por mar. No ano de 1615, os franceses foram derrotados e se retiraram do Maranhão, deslocando-se para a região das Guianas, onde fundaram uma colônia, a chamada Guiana Francesa.

Após duas tentativas mal sucedidas de estabelecimento de uma civilização francesa, nos séculos XVI e XVII, no Brasil colonial (França Antártida e França Equinocial), os franceses passaram a saquear, através de corsários (piratas), algumas cidades do litoral brasileiro, no século XVIII. A principal delas foi a cidade do Rio de Janeiro, de onde escoava todo ouro extraído da colônia rumo a Portugal. Uma primeira tentativa de saque, em 1710, foi barrada pelos portugueses; entretanto, no ano de 1711, piratas franceses tomaram a cidade do Rio de Janeiro e receberam dos portugueses um alto resgate para libertá-la: 600 mil cruzados, 100 caixas de açúcar e 200 bois. Terminavam, então, as tentativas de invasões francesas no Brasil.



Colonização Francesa nas Américas

A participação da França no processo de colonização do continente americano aconteceu tardiamente em relação às nações ibéricas. Esse atraso é usualmente vinculado à falta de interesse do próprio Estado em empreender um programa de expansão marítima e os constantes desentendimentos entre a Coroa e a classe burguesa. Entre os séculos XVI e XVII, as tentativas de ocupação de áreas de colonização ibérica foram severamente repreendidas.

Uma das primeiras expedições aconteceu durante o reinado de Francisco I, quando tentaram ocupar partes do Canadá e da Flórida. Foi somente nas terras canadenses que foi possível fixar algumas poucas colônias que sofriam com as dificuldades naturais da região e a falta de patrocínio do Estado. Paralelamente, desde os primeiros anos da colonização portuguesa, os franceses também chegaram ao litoral brasileiro com o intuito de contrabandear madeiras, plantas e animais.

Em 1555, a primeira tentativa de ocupação colonial francesa atingiu uma pequena parcela do litoral fluminense. Nessa região criaram a chamada França Antártica, onde vários calvinistas franceses estabeleceram relações amistosas com a população nativa e empreendera atividades de extração madeireira. Ao mesmo tempo, tinham interesse em fundar uma base naval fortemente armada que garantiria a dominação francesa na região e atacaria as preciosas embarcações mercantis lusitanas.

No entanto, a superioridade das esquadras de Portugal, lideradas por Mem de Sá, conseguiu forçar a expulsão dos franceses daquela região. No século seguinte, os franceses ainda tentaram fundar uma nova colônia em terras brasileiras ocupando terras na região do Maranhão. Mais uma vez, a represália dos portugueses obrigou os franceses a abandonar os territórios pretendidos. Ainda no século XVII, os franceses conseguiram firmar suas primeiras colônias no continente americano.

Na América Latina, os franceses ocuparam regiões das Antilhas e das Guianas empreendendo um tipo de exploração voltado à produção açucareira e a utilização de mão-de-obra escrava. Na região norte, os franceses se fixaram na região do Quebec, Louisiana, Golfo do México e Mississipi. Nessas regiões, diversos colonizadores franceses viviam da comercialização de caças, peles de animais, pesca e outras atividades menores.

Com a deflagração da Guerra dos Sete Anos (1756 - 1763) o projeto colonial francês sofreu um duro golpe ao ter que ceder parte de seus domínios para a Inglaterra. Com o fim do conflito, estabelecido com a assinatura do Tratado de Paris (1763), a França reconheceu sua derrota entregando uma parte das Antilhas Francesas, a região leste do Rio Mississipi, à colônia de Quebec e a região da Louisiana, entregue a um breve domínio dos espanhóis.

terça-feira, 27 de março de 2012

PATRIMONIALISMO E A FORMAÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO: UMA RELEITURA DO PENSAMENTO DE SERGIO BUARQUE DE HOLANDA, RAYMUNDO FAORO E OLIVEIRA VIANNA

A singular formação do Estado Brasileiro, desde suas origens mais remotas, plasmada sob as raízes do Império Português, vem sido tratada por uma ampla parcela da teoria política nacional como resultado de um processo histórico no qual se verifica uma forte tendência em considerar nossa gestação como fruto de uma consolidada ordem patrimonial de cariz medievo. A temática do “patrimonialismo”, cuja matriz teórica remonta a exsurgencia do uso dos conceitos do jurista e sociólogo alemão Max Weber e que via de regra tende a associar, como ideia principal, o trato da coisa publica pela autoridade como se privada fosse, não raro tem fomentado inúmeras discussões no cenário teórico nacional, abrindo um novo e fecundo campo de investigações ao cientista que se esmera pelo estudo do curioso nascimento de nossas instituições políticas.



Embora a temática do patrimonialismo assuma no debate acadêmico essa tônica, evidenciando assim, em seu sentido mais amplo, a indistinção das esferas publica e privada, quando se analisam as correntes de pensamentos que versaram sobre tal enfoque verifica-se um desdobramento deste conceito, que frequentemente escapa a sua vertente genética weberiana. Sob o prisma conceitual mais atento em relação as principais doutrinas políticas que enveredaram por esse esquema explicativo, faz-se indispensável investigar o fenômeno de forma a entender como os principais autores nacionais lidaram com esse conceito, elucidando suas peculiaridades mais significativas e demonstrando em que medida se afastaram de sua acepção originaria.



Neste sentido, a recepção conceitual do “patrimonialismo brasileiro”, enquanto uma pratica social que não efetua a fundamental diferença entre a esfera publica e a privada na vida política, adquiriu em nosso contexto diversas interpretações. Como representações mais originais nesta seara destacamos aqui os trabalhos de Sergio Buarque de Holanda, de Raymundo Faoro e de Oliveira Vianna, cujos esquemas explicativos merecem uma atual releitura, posto que representam a consolidação de marcos referenciais clássicos aos quais podemos nos debruçar no lidimo intuito de entendermos a realidade que nos forma e nos cinge.

Assim posto, antes de ingressarmos nestas explicações com maior devotamento, não e despiciendo proceder a um breve regresso ao arcabouço conceitual weberiano no afã de desvelar seus conceitos mais importantes, vislumbrando-se um recurso metodológico indeclinável ao entendimento do tema posto em debate, alem de delinear todo o pano de fundo que da vida a discussão.



1. Max Weber e o Patrimonialismo como uma Forma de Dominação Política



Na teoria política do autor turingiano Max Weber, o “patrimonialismo” enquanto doutrina e uma sorte de exercício legitimo de poder político, cujo referencial teórico esta ancorado, em seu esquema conceitual, no tipo de “dominação  tradicional”.



A partir da analise do fundamento da legitimidade das ordens emanadas pela autoridade e sua respectiva obediência por parte dos súditos, Weber intenta descobrir como se procede o fenômeno da dominação no seio das relações sociais, perquirindo como essas formas de exercício de poder perduram socialmente. Deste modo, a obediência ao chefe político, em sua visão, geralmente esta assegurada por um “sistema de dominação”, cuja taxonomia vem representada em seus escritos pelos “três tipos de dominação legitima”, quais sejam, a “dominação carismática”, a “dominação racional-legal” e a “dominação tradicional”1.



Para se entender o fenômeno do patrimonialismo faz-se mister esclarecer em que campo conceitual tal acepção pode ser inserida, demonstrando o âmbito valido de sua aplicação no seio do arcabouço teórico weberiano, mais afeto a dominação tradicional, como veremos.



“Dominação” (Herrschaft) e definida por Weber, em seu conceito classicamente reproduzido, como “a probabilidade de encontrar obediência a uma norma de determinado conteúdo, entre determinadas pessoas indicáveis”2. Verifica-se, desde logo, que o conceito de dominação proposto por Weber esta intimamente ligado a própria ideia que ele tem do poder. “Poder” (Match), como nos traz o autor, “significa toda a probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessas legitimidades”3. Não se trata do fato de qualquer espécie de exercício de “poder” ou “influencia” sobre o outro se configura como relações de dominação essencialmente legitimas, pois devemos considerar que uma dominação para ser legítima requer certa vontade de obedecer e interesse na obediência. Este aspecto e denominado de “crença na legitimidade” (ou “principio da legitimidade”), que se configura como elemento essencial pelo qual uma ordem da autoridade e possível de ser imposta, ou também, fenômeno capital que permite a um governante atuar instituindo regras de observância aceitas como validas e livremente aceitas, de forma continua. A dominação tradicional ocorre “[...] quando sua legitimidade repousa na crença na santidade de ordens e poderes senhoriais tradicionais (‘existentes desde sempre’)”4. Trata-se da crença na legitimidade do poder de quem exerce a dominação pelo fato de que sua “investidura” decorre de longa tradição, de um costume inveterado, a partir de uma autoridade que sempre existiu. E o costume de determinada coletividade que indica quem exerce o poder e que também garante a legitimidade do exercício da dominação. Típico caso e o dos governantes chamados ao poder por ordem de progenitura (monarca, v.g.), pelo fato de serem os mais velhos – gerontocracia – (conselho de anciãos, p. ex.), por possuírem glebas de terra – patrimonialismo puro – (como províncias etc.). Os governados são súditos ou pares que se caracterizam por não obedecerem as ordens arbitrarias dos governantes ou normas jurídicas “postas”, porem detém a observar somente as regras estabelecidas pelo costume vigente, por uma tradição ou por lealdade ao senhor decorrente estritamente de um status reconhecido pelo decorrer dos tempos. Bem verdade, o que pode ocorrer em pratica, neste ultimo caso, e a obediência sim as ordens privadas do soberano, mas que via de regra decorrem diretamente da legitimação de sua assunção ao poder por deferência a uma tradição arraigada. As ideias de justiça, de retribuição por um desagravo cometido, tem por base os ditames dos costumes. O aparato administrativo e constituído basicamente por vassalos (feudalismo), partidários leais, senhores tributários, parentes (dominação esta ultima derivada de laços consanguíneos).



A aplicação do direito, em sua forma “pura”, não constitui propriamente a sua criação, porem atem-se a interpretação dos sagrados mandamentos ditados pelo tempo. Atualmente, o regime monárquico, em algumas poucas localidades ainda não constitucionalizadas, ou o sistema de castas na Índia, embora não perfeitamente adaptáveis ao “tipo puro” estabelecido por Weber, são demonstrações clássicas e mais próximas de tal tipo de dominação.



Existem inúmeras sortes de dominação tradicional, e não raro estão misturadas ou de distinção fluidas, dentre as quais as que mais se destacam são a “gerontocracia” (governo em que o poder cabe aos mais velhos), o “patriarcalismo” (casos em que o poder e determinado pelo pertencimento a uma determinada família, normalmente sendo a dominação exercida por um individuo chefe da comunidade domestica – pater familias ou despótès –, determinado segundo regras de sucessão), o “sultanismo” (forma de dominação no qual esta calcada no “arbítrio livre” do governante, munido de um aparato administrativo próprio para fazer valer suas ordens), o “feudalismo” (forma de dominação baseada em um contrato de status, em termos de vassalo-suserano, regidos pelo sentimento de fidelidade pessoal entre ambos – ideia de “honra”), e, finalmente, o “patrimonialismo” (dominação exercida com base em um direito pessoal, embora decorrente de laços tradicionais, obedecendo-se ao chefe por uma sujeição instável e intima derivada do direito consuetudinário – “porque assim sempre ocorreu”).



Deste modo, ipso facto, o Patrimonialismo e uma forma de exercício da dominação por uma autoridade, a qual esta legitimada pela roupagem da tradição, cujas características principais repousam no poder individual do governante que, amparado por seu aparato administrativo recrutado com base em critérios unicamente pessoais, exerce o poder político sob um determinado territorio5. Trata-se, portanto, de uma sorte de dominação tradicional, ordenada pelo longo costume atávico. Seu arquétipo constitutivo cronologicamente possui raízes na ordem familiar, de cariz patriarcal, posto que com o crescimento da esfera de poder do governante sobre seus súditos, abarcando uma ampla parcela de vastas regiões e grandes conjuntos populacionais, a administração pessoal necessitou racionalizar-se, desenvolvendo um aparato administrativo capaz de cobrir em grande parte essa nova dimensão territorial e demográfica. Destarte, embora em termos quantitativos houvesse uma mudança na dimensão da abrangência da autoridade, a forma típica de exercício do mando continuou repousando em caracteres vinculados ao poder pessoal do príncipe, delegando este senhor as funções administrativas a servos pessoais6, dependentes diretos de sua mantenca – todo esse complexo mecanismo amparado pela via da obediência tradicional. O reino do governante era, assim, um refinado oikos de gigantescas proporções.



Neste sentido, ao cargo patrimonial e desconhecida a divisão entre a “esfera privada” e a “oficial”. A administração política e tratada pelo senhor como assunto puramente pessoal, bem como o patrimônio adquirido pelo tesouro senhorial em função de emolumentos e tributos não se diferencia dos bens privados do senhor. Por tal razão, o príncipe lida com os assuntos da corte – públicos segundo a acepção moderna – de forma eminentemente privada, posto que o patrimônio pessoal do governante e a coisa publica são amalgamadas em uma esfera apenas, comandadas e livremente dispostas por ordem da autoridade política. Os interesses pessoais da autoridade não  distinguiam a sua dimensão intima da administrativa, não havendo separação entre a seara do individuo em relação ao mister publico que ocupava. Sua forma de administração obedecia unicamente o livre-arbítrio, baseada em “considerações pessoais” como salienta Weber, desde que a santidade da tradição, vigente desde sempre, não lhe imponha limites muito rígidos e diretos7. Conforme nos demonstra Reinhard Bendix, No patrimonialismo, o governante trata toda a administração política como seu assunto pessoal, ao mesmo modo como explora a posse do poder político como um predicado útil de sua propriedade privada. Ele confere poderes a seus funcionários, caso a caso, selecionando-os e atribuindo-lhes tarefas especificas com base na confiança pessoal que neles deposita e sem estabelecer nenhuma divisão de trabalho entre eles. [...] Os funcionários, por sua vez tratam o trabalho administrativo, que executam para o governante como um serviço pessoal, baseado em seu dever de obediência e respeito. [...] Em suas relações com a população, eles podem agir de maneira tão arbitraria quanto aquela adotada pelo governante em relação a eles, contanto que não violem a tradição e o interesse do mesmo na manutenção da obediência e da capacidade produtiva de seus súditos. Em outras palavras, a administração patrimonial consiste em administrar e proferir sentenças caso por caso, combinado o exercício discricionário da autoridade pessoal com a consideração devida pela tradição sagrada ou por certos direitos individuais estabelecidos”8.



Do patrimonialismo trazido pelos ensinamentos de Weber não se torna menoscabível ainda acrescentar que e uma forma de organização política assentada na “racionalidade material” das ordens estatuídas, ou seja, os comandos proferidos pela autoridade são de características eminentemente voltadas a valores, opiniões, posições pessoais do senhor, e não com base em critérios racional-finalisticos, fixados objetivamente em normas impessoais e abstratas. E uma ordem entendida em seu caráter vertical, “de cima para baixo”, onde o topo esta o chefe patrimonial e na base seus súditos. Por via de consequência, o sustentáculo social plana sobre a ordem política (o Estado e o governante), e não repousa na sociedade civil (entendido aqui como o conjunto das relações privadas – os indivíduos). Tanto se evidencia esse fato que a própria Economia, aquelas atividades materiais baseada em um sistema orientado para uma situação de mercado, depende incondicionalmente do Estado para se desenvolver, fenômeno identificado por Weber como “capitalismo político”, “capitalismo de Estado” ou então “capitalismo politicamente orientado” (cujos exemplos mais representativos foram as grandes descobertas dos Estados Ibéricos em suas expansões ultramarinas nos sec. XV e XVI). Da organização da sociedade, não se denota um fluxo dinâmico na camada de estratificação social, sendo uma sorte de estruturação ditada basicamente pela esfera política. Não ha noção de individuo, entendida no sentido de ser este o ente centro da política, núcleo de poder e de decisão, receptáculo de direitos e deveres. Ademais, não se verifica a noção de “desenvolvimento” em seu sentido próprio de “evolução”, de um movimento de superação do passado e de expansão ad infinitum para o futuro, porem denota-se um processo histórico repetitivo, recorrente. Não ha a visão de “progresso”. Essa sociedade estática – “orgânica” na acepção da teoria política – e conduzida por uma sucessão temporal, “com retorno de formas e de tempos que não passam de um recondicionamento de outro tempo”9. Trata-se de um “eterno reviver”, características todas estas descritas com muita propriedade por diversos autores de tradição weberiana, cujas premissas teóricas irão moldar esse tipo especifico de dominação vislumbrada em muitas organizações políticas, especialmente do período medievo e do inicio da modernidade.



2. O Patrimonialismo na Ordem Política Nacional



O patrimonialismo, enquanto doutrina política herdada dos excertos weberianos, obteve fecunda receptividade na historia das doutrinas políticas brasileiras, mormente no que concerne ao estudo da formação de nossas instituições. Tal corrente especifica do pensamento nacional tende, precipuamente, ao uso dos conceitos trazidos pela Sociologia Política de Weber para explicar os traços mais marcantes das bases de nosso modelo juridico-politico, buscando elucidar em nossas formações cultural e institucional a Genesis do patrimonialismo estatal e de suas relações com o povo brasileiro10.



a) Sergio Buarque de Holanda e o “homem cordial”

A primeira incursão mais notória nesta seara e atribuída, conforme salienta Vamireh Chacon11, a Sergio Buarque de Holanda, que já em 1936 denotava em seu livro mais bem difundido, Raízes do Brasil, a característica fundamental do “homem cordial” brasileiro que, em sua débil vida publica, era tenazmente propenso a não considerar a fundamental diferença entre seu interesse privado e a dimensão da esfera coletiva que o cingia. Este autor paulistano demonstra em sua obra, mediante o uso de um método intimamente voltado a psicologia e a historia social, de que maneira as características por nos herdadas durante o processo colonizador se plasmaram em nossa cultura, desenvolvendo em solo nacional atavismos e arquétipos institucionais tipicamente patriarcais, de uma pratica de subordinação a autoridade e de manifesto descaso com os assuntos relativos a esfera publica. Já dizia Sergio Buarque de Holanda sobre o típico membro da elite detentora do poder político no Pais:

Não era fácil aos detentores das posições publicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do publico. Assim, eles se caracterizam justamente pelo que separa o funcionário “patrimonial” do puro burocrata, conforme a definição de Max Weber. Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalece a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens que irão exercer as funções publicas faz-se de acordo com a confiança pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos de acordo com as capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que caracteriza a vida no Estado burocrático. [...].12



Ocorre que na visão de Buarque de Holanda, remontando aos clássicos gregos, a relação travada entre Estado e Sociedade repousa justamente, para que aquele possa existir, na superação das relações privadas, almejando-se a formação de um espaço que e marcado justamente pelo sobrepujamento desses vínculos particularistas e pela ascensão de um antro de predominância dos aspectos coletivos, públicos por excelência. Assim dizia:



O Estado não e uma ampliação do circulo familiar e, ainda menos, uma integração de certos agrupamentos, de certas vontades particularistas, de que a família e o melhor exemplo. Não existe, entre o circulo familiar e o Estado, uma gradação, mas antes uma descontinuidade e ate uma oposição. [...] A verdade, bem outra, e que pertencem a ordens diferentes em essência. Só pela transgressão da ordem domestica e familiar e que nasce o Estado e que o simples individuo se faz cidadão, contribuinte, eleitor, elegível, recrutável e responsável, ante as leis da Cidade. Ha nesse fato um triunfo do geral sobre o particular, do intelectual sobre o material, do abstrato sobre o corpóreo e não uma depuração sucessiva, uma espiritualização de formas mais naturais e rudimentares, uma procissão das hipóstases, para falar como na filosofia alexandrina. A ordem familiar, em sua forma pura, e abolida por uma transcendência"13.



Esse movimento social de passagem da predominância de uma esfera eminentemente privatizada, particularista, familiar, para a formação do Estado foi um processo pelo qual a maioria dos países desenvolvidos modernos vivenciou, inclusive características que revelaram a transição de uma ordem feudal para uma ordem capitalista na Europa. Entretanto, esse mecanismo de construção de um espaço publico autônomo, em contrapartida, não foi vivenciado pelo povo brasileiro em sua plenitude, o qual ficou ainda intimamente ligado aos laços tradicionais, de predominância das relações familiares, transpondo estes valores inadvertidamente para a esfera publica.



O ponto crucial ao qual Buarque de Holanda enfatizava era essa peculiaridade deste perfil de homem publico nacional que, nascido e criado sob um invólucro cultural marcado pela forte presença dos valores de um núcleo familiar de caráter patriarcal, trazia para suas atividades na seara publica características próprias do meio em que se fez individuo. Deste modo, este solito homem carregava para o mister publico os mesmo traços paternalistas delimitadores de sua visão de mundo, de modo conducente a confundir na pratica aqueles assuntos aptos ao âmbito pessoal das atividades inerentes a res publica14. Mais adiante, segue em sua profícua argumentação:



No Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. Ao contrario, e possível acompanhar, ao longo de nossa historia, o predomínio constante das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos fechados e pouco acessíveis a uma ordenação impessoal. Dentre esses círculos, foi sem duvida o da família aquele que se exprimiu com mais forca e desenvoltura em nossa sociedade. E um dos defeitos decisivos da supremacia incontestável, absorvente, do núcleo familiar – a esfera, por excelência dos chamados “contatos primários”, dos laços de sangue e de coração – esta em que as relações que se criam na vida domestica sempre forneceram o modelo obrigatório de qualquer composição social entre nos. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendam assentar a sociedade em normas antiparticularistas15.



Antonio Candido, já no prefacio de “Raízes do Brasil”, assevera com extrema propriedade que o conceito de “patrimonialismo”, assim como o de “burocracia”, foi de forma pioneira utilizado por Sergio Buarque de Holanda para explicar a sua concepção de que o típico individuo brasileiro – o denominado “homem cordial” – caracterizava-se profundamente por seu caráter de afabilidade, fundamento remoto de seu ambiente familiar. Essa característica, segundo Candido, importaria na extrema dificuldade do padrão médio de individuo nacional em tratar seus pares de forma impessoal e formal, pois os laços de pessoalidade e de intimidade – próprios do ambiente familiar – transcenderiam a esfera privada e eclodiriam na publica (1969, p. xviii). A partir dessa constatação sociologicamente vislumbrada, portanto, seria inerente a condição do brasileiro típico essa atávica propensão em tratar a política e os assuntos do Estado em conformidade com a noção que o individuo adquiriu de seu ambiente familiar, ou seja, de modo pessoal, avesso a formalismos. Tudo isso obteve como contrapartida o obstáculo em se erigir um Estado burocrático por excelência, de uma separação mais nítida entre o publico e privado, dificultando a inserção deste “homem cordial”em organizações sociais que estejam fora de sua visão patrimonialista do mundo.



b) Raymundo Faoro e o “estamento burocrático”



Sem maiores duvidas, a elaboração mais refinada da teoria patrimonialista ganhou corpo e maior estilo no pensamento político de Raymundo Faoro, quando da publicação em 1958 de sua obra paradigmática “Os Donos do Poder”, considerada um dos maiores marcos teóricos da conciliação entre dominação tradicional-patrimonial weberiana e a formação de nossa identidade política. Não obstante o autor declare, já no prefacio a segunda edição, que o livro não segue, “apesar de próximo parentesco”, a linha de Weber, mormente pelo fato das sugestões deste autor alemão tomarem outros rumos, “com um novo conteúdo e diverso colorido”16, e evidente a base conceitual weberiana sobre a qual se assenta Faoro na construção de seu raciocínio.



Segundo Faoro, a explicação para as mazelas do Estado e da Nação brasileiras pode ser mais manifestamente encontrada ao nos debruçarmos sobre o caráter especifico de nossa formação histórica, em especial sobre nosso passado colonial. Em seus estudos, Faoro analisa a estrutura de poder patrimonialista adquirida do Estado Português por nossos antepassados, tendo sido este inteiramente importado em sua estrutura administrativa para a colônia na época pos-descobrimento, fato que depois foi reforçado pela transmigração da Coroa Lusitana no século XIX. Em sua acepção, tal modelo institucional foi transformado historicamente em padrão a partir do qual se estruturaram a Independência, o Império e a Republica do Brasil. O patrimonialismo seria, para Faoro, a característica mais marcante do desenvolvimento do Estado brasileiro através dos tempos.



Ao analisar as raízes históricas do Estado Português, Faoro descobre que a fundamental peculiaridade de sua forma de organização estava calcada no fato de que o bem publico – as terras e o tesouro da Corte Real – não estava dissociado do patrimônio que constituiria a esfera de bens intima do governante. Tudo constituía um imenso conjunto de possessões sob a égide de disponibilidade fática e jurídica de deliberação do príncipe. Assim dizia:



A coroa conseguiu formar, desde os primeiros golpes da reconquista, imenso patrimônio rural (bens “requengos”, “regalengos”, “regoengos”, “regeengos”), cuja propriedade se confundia com o domínio da casa real, aplicado o produto nas necessidades coletivas ou pessoais, sob as circunstancias que distinguiam mal o bem publico do bem particular, privativo do príncipe [...] A propriedade do rei – suas terras e seus tesouros – se confundem nos seus aspectos publico e particular. Rendas e despesas se aplicam, sem discriminação normativa previa, nos gastos da família ou em bens e serviços de utilidade geral17.



Como forma de argumentação extremamente bem articulada, Faoro, com base em Alexandre Herculano e em uma vasta gama de informações documentais e históricas, demonstra em seu livro que, tanto em Portugal quanto no Brasil, não houve o desenvolvimento de uma organização social compatível com o feudalismo; ao revés, estas formações sociais foram marcadas pela forte presença do Estado na vida dos indivíduos, demonstrando na tradição luso-brasileira marcas de uma evidente estrutura de cariz patrimonial18.



Em sua investigação, o advogado e historiador gaucho defende que tal modelo institucional tinha como forma de organização política um patrimonialismo gerido pela vontade administrativa do príncipe, o qual estava munido de todo um aparato de funcionários e súditos leais que se apropriavam do Estado e que se utilizavam deste em beneficio próprio, em caráter particularista. Essa elite que administrava os assuntos reais constituía, de forte inspiração weberiana, o “estamento burocrático” de que Faoro se vale para explicar como um certo circulo de notáveis conduzia os assuntos de natureza publica em uma ordem patrimonial nestas nacoes19.



O estamento, que Faoro remonta a Weber para descrever seus aspectos mais importantes, e uma forma de ordem social vigente sob a qual se funda a estratificação e que dissemina relações de poder pela tessitura social, reclamando “a imposição de uma vontade sobre a conduta alheia”20. Enquanto que nas classes sociais se tem uma manifesta estratificação segundo o rearranjo de grupos que estão dispostos conforme interesses econômicos determinados por uma “situação de mercado”21, os estamentos se fundam na divisão da sociedade conforme a posição social que ocupam, ou seja, a um status especifico. Trata-se de comunidades “fechadas”, de maneira que fazem de tudo para impedir que outros indivíduos adentrem tal grupo e compartilhem do poder ali centralizado (ao contrario das classes, que são “comunidades abertas”, desde que haja um fator econômico preponderante). Calcam-se na desigualdade social, reclamando para si privilégios materiais e espirituais que irão assegurar sua posição e sua base de poder no seio da sociedade. Neste sentido, o estamento e uma camada de indivíduos que se organiza e que e definido pelas suas relações com o Estado22. Conforme Faoro, “os estamentos governam, as classes negociam. Os estamentos são órgãos do Estado, as classes são categorias sociais (econômicas)”23. Nesta acepção, estes estamentos organizados se apropriam do Estado, de seus cargos e funções publicas, impondo-se um regime de uso dessas vantagens advindas do status ocupado para a utilização da maquina estatal em proveito próprio, para a satisfação de interesses particulares. Eles são os verdadeiros “donos do poder”. Dessas considerações remanescem as consequências, conforme nos demonstra Rubens Goyata Campante:



O instrumento de poder do estamento e o controle patrimonialista do Estado, traduzido em um Estado centralizador e administrado em prol da camada político-social que lhe infunde vida. Imbuido de uma racionalidade premoderna, o patrimonialismo e intrinsecamente personalista, tendendo a desprezar a distinção entre a esfera púbica e privada. Em uma sociedade patrimonialista, em que o particularismo e o poder pessoal reinam, o favoritismo e o meio por excelência de ascensão social, e o sistema jurídico, lato sensu, englobando o direito expresso e o direito aplicado, costuma veicular o poder particular e o privilegio, em detrimento da universalidade e da igualdade formal-legal. O distanciamento do Estado dos interesses da nação reflete o distanciamento do estamento dos interesses do restante da sociedade. 24



No caso brasileiro, o patrimonialismo que Faoro aponta como fundamento edificativo de nossas origens institucionais e apresentado como forte papel centralizador25. Desde as concessões de cargos ate a condução dos assuntos econômicos (“capitalismo politicamente orientado”), tudo era empresa de incumbência do Estado, que estava presente em praticamente todas as esferas da vida social. Faoro argumentava, por exemplo, que, ate mesmo antes da formação de algumas vilas coloniais, antes mesmo da afirmação de um patronato rural dominante, de coronéis chefes de engenho e de lideres regionais, já havia no interior do Brasil todo um sistema cartorial apto a registrar, controlar e fiscalizar as producoes26. Não havia autonomia dos latifundiários para o exercício de suas atividades sem que os donatários estivessem sob a égide da Coroa. Em seus dizeres,

Os olhos vigilantes, desconfiados, cuidavam para que o mundo americano não esquecesse o cordão umbilical que lhe transmitia a forca de trabalho e lhe absorvia a riqueza. O rei estava atento a seu negocio.27



Destarte, o empreendimento de Faoro em destacar a importância do caráter centralizador do patrimonialismo brasileiro reside na diminuição da influencia da sociedade civil como forca refreadora dos mandos unívocos do Estado nacional. A figura do povo brasileiro e retratada constantemente pelo autor como dotada de uma veemente inatividade na ordem política, uma “sociedade abúlica” (Rubens Campante), que na esfera publica não consegue se organizar e se contrapor aos desígnios autoritários da chefia política. Esta ausência do individuo brasileiro na condução da vida política no Brasil revela o anacronismo da identidade do sujeito político nacional, sempre dependente da atuação estatal em sua vida privada e extremamente leniente com a reivindicação da probidade e eficiência no trato com as matérias de ordem coletiva.



No ávido pensamento deste jurista, o afloramento de uma identidade política nacional possui estreita ligação com a forma de organização social com a qual um grupo de indivíduos assume historicamente. Nesta acepção, a exsurgencia de liberdades publicas estão intimamente conexas ao cultivo de liberdades econômicas, sendo que apenas em uma ordem social organizada em classes e que ha a possibilidade da assunção de tal quadro político. Apenas neste sistema, em que subsiste o domínio da economia livre de mercados, e que se pode afirmar da consolidação de um verdadeiro Estado de Direito liberal-democrático, em que, de fato, há a nítida separação das esferas publico e privada. Caso contrario, em uma estrutura social em que prevalece a posição de estamentos que cooptam os interesses no ápice de um mecanismo estrutural de Estado, não ha uma vida civil livre, não poderá prevalecer a justiça social e a desigualdade e regra de sobrevivência dessa elite, forma pela qual a sociedade se assenta e se reproduz. Em tal contexto, democracia e liberalismo político são meramente simulacros de um sistema político vigente.



Esfera publica e esfera privada são amalgamadas em um único poder central, emanado ou do governante, e/ou da camada de indivíduos detentores do poder político (estamento). Assim asseverava Faoro sobre o liberalismo brasileiro encarado nesta conjuntura submetida a uma ordem patrimonial:



O liberalismo que assim nasce tem alguma coisa de liberal e pouco de democrático. Não se estranhe esse divorcio que, ate Tocqueville, foi um dos grandes dogmas do credo liberal. O problema do liberalismo era compatibilizar-se com os estamentos, que assumem papel semi-independente. Forma-se uma modalidade especial de liberalismo, onde a base não esta no povo, no cidadão, mas nos corpos intermediários.[...] O povo, nessa perspectiva, e um corpo inorgânico a ser protegido ou, se entregue a si mesmo, a ser temido. [...] As deficiências do liberalismo político estão na base das fraquezas do liberalismo econômico. Embora, entre nos, um não tenha saído do outro, com mais desencontros do que encontros, na base da racionalidade do liberalismo econômico estão os elementos previsíveis e calculáveis do Estado de direito. Esta irracionalidade formal e o grande obstáculo de um e de outro para vencer o patrimonialismo28 .



c) Oliveira Vianna e o “clã político”



Seguindo nossa exposição, a terceira vertente teórica que versa sobre essa curiosa temática da difícil relação entre publico e privado no Brasil e de Oliveira Vianna. Em sua celebre obra, Instituições Políticas Brasileiras, Vianna busca investigar o direito publico nacional, desvendando suas mais tênues repercussões na vida política pátria. Ocorre que, apesar de ser um jurista de profissão, Oliveira Vianna intenta empregar em sua analise uma metodologia que privilegia o comportamento social, os aspectos culturais que revestem os problemas de nosso direito publico, ao invés de seguir a tradicional investigação logico-sistematica das leis pela ciência do direito clássica. Em seu entender, apenas investigando-se o papel da cultura na formação de uma sociedade e que e passível de se entender seus problemas intrínsecos, especialmente os de natureza política e que, consequentemente, relacionam-se diretamente com o funcionamento do Direito e do Estado. A partir de tal entendimento, o pensador fórmula, já nas paginas iniciais de seu livro, aquelas quais seriam suas premissas básicas que sustentariam o cerne da obra:



1) Na vida política de nosso povo, ha um direito publico elaborado pelas elites e que se acha concretizado na Constituição.

2) Este direito publico, elaborado pelas elites, esta em divergência com o direito publico elaborado pelo povo-massa e, no conflito aberto por esta divergência, e o direito do povo-massa que tem prevalecido, praticamente.

3) Toda a dramaticidade de nossa historia política esta no esforço improfícuo das elites para obrigar o povo-massa a praticar este direito por elas elaborado, mas que o povo-massa desconhece e a que se recusa a obedecer29.



Um dos pontos que Vianna pretende atacar em seu arcabouço teórico se assenta no fato de que o direito imposto pelas elites em nada se assemelha com aquelas noções de regras e do justo que são praticadas nas relações sociais do “povo-massa”.



Um dos problemas das nações latino-americanas – e no Brasil se vê especial enfoque – e o forte impacto que as doutrinas políticas e sistemas de governo do exterior tem assumido em nosso direito. Conforme Vianna, e muito forte a intenção dos latinos em importar essas teorias e modelos de organização de poder tão incompatíveis com nossas tradições culturais, sendo que esse direito e essa estrutura de dominação imposta, sempre por uma pequena elite, não correspondem nem de longe aquilo que se pratica no seio dos usos sociais. Entre a vontade dessa elite em aplicar essas convenções extraterritoriais e o exercício de um costume local existe um fosso enorme, para o qual converge grande parte de nossas mazelas políticas e de nossas condutas sociais desordenadas.



Portanto, neste contexto, Vianna vai estudar como se deu essa peculiar formação política e social brasileira, que em nada se assemelhou as matizes europeias.



Ao se debruçar sobre o nosso processo colonizador, o pensador fluminense  verifica que a fundação da população brasileira basicamente foi gerida pela Metrópole Portuguesa – uma vontade de Estado – e não a partir da livre agregação do povo. Sua criação se devia a reunião de grupos de “moradores dispersos”, sendo que estes eram forcosamente agrupados em vilas, criando microrregiões populacionais sem um vinculo mais próximo que os unisse, salvo o pesado mando do governador. Assim, a população brasileira ia sendo engendrada a partir de um contingente extremamente disperso e desarticulado, sendo que tais características tinham um ávido apelo a descentralização desses povos para o campo. Vivendo em vilas pouco habitadas, criadas artificialmente por um poder central e submetidas ao forte jugo dos arbitrários desígnios do “capitão-mor regente”, a população brasileira tendeu a se voltar submissivamente para comunidades restritas, quase sempre circunscritas ao ambiente familiar, fatores que foram propícios para que estas células humanas se constituíssem como povos extremamente individualistas, isolados da vida coletiva pujante30 – como diferentemente ocorreu em algumas cidades europeias, ou de colonização espanhola, em que prevaleceu a propriedade comunal propicia a coesão societária, por exemplo. Assim o autor retratava tal traço em tons categóricos:

[...] o brasileiro e fundamentalmente individualista; mais mesmo, muito mais do que outros povos latino-americanos. Estes tiveram, no inicio, uma certa educação comunitária de trabalho e de economia. [...] Nós não. No Brasil, só o individuo vale e, o que e pior, vale sem precisar da sociedade – da comunidade. Estude-se a historia da nossa formação social e econômica e ver-se-a como tudo concorre para dispersar o homem, isolar o homem, desenvolver, no homem, o indivíduo. O homem socializado, o homem solidarista, o homem dependente de grupo ou colaborando com o grupo não teve, aqui, clima para surgir, nem temperatura para desenvolver-se: - “De onde nasce que nenhum homem nesta terra e republico, nem vela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular [...]”31.



Veja-se, portanto, como em Vianna a questão do patrimonialismo toma rumos próprios que revelam e acentuam essa presença marcante do individualismo em nossa sociedade, cujas consequências irão repercutir na dificuldade de diferenciação do publico e do privado quando a ação do individuo e politicamente orientada. Nesta acepção, os únicos impulsos que gerenciam o espírito desse “homem disperso” repousam em sua vontade individual, em sua predominante visão privatista do mundo.



Esse universo restrito e extremamente arraigado em laços tradicionais constituía, na acepção de Oliveira Vianna, um verdadeiro “clã” (o “clã feudal” para o povo-massa, dominado, e, de um outro lado, o “clã parental” composto pela elite aristocrática senhorial, dominante) que, projetado para sua dimensão publica, adotava caracteres de verdadeiros “clãs políticos”, ou seja, pequenos grupos de indivíduos que diretamente influíam nas decisões praticas da vida política local segundo critérios baseados em sua conveniência particular. Em uma analise histórica, a partir do momento em que algumas cadeiras institucionais eram obtidas a partir do voto (que de inicio era censitário, e bem verdade, expandido-se progressivamente, ate o legalmente qualificado “sufrágio universal” da Constituição de 1824), esses clãs políticos agora se transformam em “clãs eleitorais”, no qual a busca pelo poder de Estado os compele a agregação (“solidarizarão”) para possibilitarem cooptar os votos necessários ao jogo político. Na visão de Vianna, o “clã eleitoral” foi a gênese de nossos partidos políticos, os quais inicialmente se dividiram em “Liberais” e “Conservadores” e depois se reproduziram em escala nacional para o alcance de amplas parcelas demográfica e territorial. Nesta visão, o autor nos esclarece:

O agrupamento local que conseguia ter ao seu lado o Governador dominava o município todo, passando a dispor de todos os meios de aliciamento, que o Centro – pelo seu preposto, o Governador – dispunha: policia civil; policia militar; guarda nacional; títulos de nobreza; nomeação para postos de administração locais (delegados, subdelegados, comandantes, inspetores, fiscais, etc.). [...]

Parece que o processo de agremiação e sincretismo dos nossos clãs se iniciou sobre este critério nativista. Eram expressões puramente bairristas e pessoais, não havendo nelas nenhum conteúdo de interesse publico ou ideológico. [...]



Os partidos locais, como se vê, surgiam por meros motivos pessoais: – eram sempre as ambições, as vaidades e as preocupações de prestigio de família que decidiam da formação destas agremiações. Todos eles tinham um objetivo único: – procurar para si o apoio do Governador. Este era o centro de forca na Província e, consequentemente, nas localidades...32.



Como se pode bem notar, todo o caminho traçado em Instituições Políticas Brasileiras conduz o leitor ao inevitável entendimento da dificuldade do brasileiro em atuar na esfera publica, sendo que, durante toda sua historia, foi eficazmente condicionado a pensar conforme sua visão de mundo privatizada e individualista, fruto de uma longa tradição de forte presença do núcleo familiar na nossa vida publica. Nessa perspectiva, o “clã político” ou “clã eleitoral” são as categorias de agregação social que mais revelam esse comportamento bairrista, desprovido de qualquer sentimento mais refinado de solidariedade ou de preservação de valores coletivos que, indubitavelmente, apenas se recrudescem na esfera publica. Ao atuar em um contexto publico, em que se defrontam interesses de toda uma comunidade no seu mais amplo aspecto, esses clãs  naturalmente se voltavam para a preservação de suas vantagens próprias, evidenciando, destarte, o trato da coisa publica submetida ao regime de desígnios privado desses microgrupos. Assim nos esclarece o comentador Ricardo Silva, Para Oliveira Vianna, a realidade não percebida por todos os “idealistas utópicos” que povoaram a historia do Brasil independente e que o “espírito de clã” contaminou os partidos políticos em sua origem. A “solidariedade clãnica” foi o verdadeiro fator organizativo de nossos partidos políticos, no momento de criação dos partidos de base nacional por exigência da Constituição de 1824. Simultaneamente a criação dos partidos liberal e conservador, instituiu-se o sufrágio universal, e com isso reuniram-se as condições para a metamorfose do clã feudal em clã eleitoral, nos primórdios do Brasil independente33.



Como resolver essa situação social desconcertante para uma vida política mais comum e representativa? Como repensar a sociedade, o Estado e a política sob novas bases diante desse quadro institucional desvelado? A solução dada por Oliveira Vianna para essa incapacidade dos grupos políticos de se articularem e de intentarem uma saída para as mazelas nacionais pela via da preservação do publico sobre o privado seria apenas encontrada quando da existência de um Estado forte, centralizador, autoritário. Apenas um mecanismo de centralização de decisões políticas submetidas ao forte império da estrita obediência a autoridade seria capaz de reunir esses grupos sociais dispersos e fazer prevalecer o primado do publico sobre o privado no cenário nacional34.



Para o autor, justificar-se-ia tal modelo autoritário, pois em grande medida e compatível com historia política brasileira – de continua valorização e submissão ao poder central do Estado –, sendo este o veiculo encontrado para a transformação de uma realidade institucional marcada pela forte presença do descaso com a coisa publica, pouca coesão social e uma pratica parental de exercício de governo. Esta forma de Estado, que seria transitória – modelo teórico denominado por Wanderley Guilherme dos Santos de “autoritarismo instrumental” – seria o único caminho a ser traçado para que no Brasil fossem implantados os postulados do liberalismo político, defendido por Vianna em seus escritos. Antonio Paim, citando Wanderley G. dos Santos, esclarece essa forma de pensamento assumida por Oliveira Vianna:



O sistema republicano [...] não alterou o padrão básico das relações sociais e

econômicas. A sociedade brasileira ainda era basicamente oligárquica, familistica e autoritária. A intervenção do Estado não representava, portanto, uma ameaça para os "cidadãos", mas sim sua única esperança, se e que havia alguma, de proteção contra os oligarcas. Qualquer medida de descentralização, enquanto a sociedade continuasse a ser o que era, deixaria o poder cair nas mãos dos oligarcas, e a autoridade seria exercida mais para proteger os interesses privados dos oligarcas, do que para promover o bem publico. Em consequência, o liberalismo político conduziria, na realidade, a oligarquizarão do sistema e a utilização dos recursos públicos para propósitos privados. O liberalismo político seria impossível na ausência de uma sociedade liberal e a edificação de uma sociedade liberal requer um Estado suficientemente forte para romper os elos da sociedade familistica. O autoritarismo seria assim instrumental para criar as condições sociais que tornariam o liberalismo político viavel35.



3. Considerações finais



A temática do patrimonialismo, extraída de fundamento originário do pensamento político de Max Weber, no Brasil assumiu inúmeras formas e não se restringiu ao pensamento de Sergio Buarque de Holanda, Raymundo Faoro e Oliveira Vianna. Depois desses autores, hoje considerados clássicos tanto pela importância no estudo original dos problemas políticos brasileiros quanto pela consolidação de correntes de pensamento no debate teórico nacional, diversos outros se debruçaram sobre a analise da formação do Estado Brasileiro, invocando ou combatendo, sobretudo, a forte presença de um patrimonialismo na gestão da coisa publica em nosso pais.



Marya Silvia de Carvalho Franco, com seu livro “Homens Livres na Ordem Escravocrata”; Jose Murilo de Carvalho, em sua tese de doutoramento “A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial”; Fernando Uricochea, em sua obra intitulada “O Minotauro Imperial”; Antonio Paim com “A Querela do Estatismo”; Simon Schwartzman em “As Bases do Autoritarismo Brasileiro”; o renomado sociólogo Florestan Fernandes, com seu “A Revolução Burguesa no Brasil”; Jesse de Souza em “A Modernização Seletiva: Uma Reinterpretação do Dilema Brasileiro”; todos estes celebres pensadores dentre vários outros, quer diretamente, quer de forma tangencial, estabeleceram em seus trabalhos um dialogo com a tríade Buarque de Holanda, Faoro e Vianna, seja corroborando e desenvolvendo as ideias por estes autores inicialmente abordadas, seja para refuta-los em grande medida36.



A tradição do patrimonialismo brasileiro, que, a partir do estudo da natureza social do brasileiro típico, ou ainda do estudo do funcionamento de nossas instituições políticas, demonstra como a dicotomia clássica de publico e privado em nossa tradição não apresenta uma separação muito distinta dessas esferas, havendo em nossa formação histórica e cultural traços que estigmatizam no homem publico brasileiro a pratica não demarcatória de tais ambitos de atuação, o que de certa forma implica em um modelo de governo hibrido ou uma pratica politico-representativa avessa a tal importante distinção.



A herança legada do patrimonialismo em nossa formação e trazida por toda uma corrente doutrinaria que entende diversas praticas desenvolvidas em nosso Estado – e na America latina, em geral – como produtos de uma situação histórica adquirida das antigas estruturas coloniais implantadas na região, sendo posteriormente reproduzidas ao longo dos tempos. As consequências desse processo se mostram mais evidentes pela forma de burocracia ineficiente e autoritária assumida por nossas instituições publicas hodiernamente, bem como uma forma de gestão e concepção da coisa comum completamente equivocadas, que sofrem uma indevida privatização a todo momento, muitas vezes situação concebida como “natural” ou “tradicionalmente aceita”.



A única constatação que resta desta tradição se deve a assertiva de que onde o patrimonialismo impera, naqueles ambitos institucionais em que o individuo age “privatizando a coisa publica”, não distinguindo a separação necessária entre a esfera individual e a pertencente a toda uma coletividade, nunca ha a realização em sua completude dos desígnios de ordem coletiva aos quais o Estado se presta em essência a proteger. Nesses casos, sempre prevalece o sistema de clientela, muito mais do que na existência de partidos, que propõem valores e visões do mundo. Nesta ordem conjuntural, a acomodação e a corrupção tornam-se praticas comuns, não florescendo no seio da sociedade política valores republicanos, alem de repelir definitivamente qualquer resquício de cidadania que possa subsistir da clivagem sociedade civil e Estado. Não ha ai nem esfera publica, tampouco espaço privado, pois ambos já teriam perdido sua essência, imiscuídos em um amalgama de difícil reparação e de continua reprodução de interesses, os quais, certamente, não são de incumbência de uma sociedade política institucionalizada na figura do Estado atender.



4. Referências Bibliográficas

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NOTAS

1 Essas formas de dominação, cabe ressaltar, são denominadas por Weber como sendo “tipos-ideais”, ou seja, um recurso metodológico que o cientista utiliza toda vez que necessitar de compreender um fenômeno formado por um conjunto histórico ou uma sequencia de acontecimentos, os quais não podem ser encontrados na realidade – em seu “estado puro” –, mas que se situam apenas no plano da abstração teórica. In: ARON, Raymond. Etapas do pensamento sociológico. Trad. Sergio Bath. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999, p. 465. Nada mais e do que um recurso cientifico-metodologico que se vale o pesquisador para compreender uma realidade ou um fenômeno dado, preservando-se os pressupostos de neutralidade axiológica e objetividade cientifica. Trata-se, como afirma Julien Freund, de uma “ucronia”, i.e., aquilo que não se situa nem se pode situar em nenhum tempo. In: Sociologia de Max Weber. Trad. Luiz de Castro e Costa. Rev. Paulo Guimarães do Couto. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000, p 57. Com tal formula, diz-nos Florestan Fernandes, visa o estudioso do comportamento humano social, artificialmente, controlar a obtenção de dados e sua interpretação. In: FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959, p. 96-7). Segundo o próprio Weber, [...] “obtém um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor numero ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento”. In: WEBER, Max. Sobre a teoria das ciências sociais. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Moraes, 1991, p. 106, grifos do autor.

2 WEBER, Max. Economia e sociedade; fundamentos de sociologia compreensiva. v. 1. Brasilia: UnB, 1999, p. 33.

3 Id., p. 33.

4 WEBER, Max. Op. cit.,, p. 148.

5 Weber afirma no decorrer do desenvolvimento de tal conceito: “Falaremos de Estado patrimonial quando o príncipe organiza seu poder político sobre áreas extrapatrimoniais e súditos políticos – poder que não e discricionário nem mantido pela coerção  física – exatamente como exerce seu poder patriarcal”.  In: Op. cit., v. 2, p. 239. E logo em seguida arremata seu raciocínio com a afirmação: “A maioria de todos os grandes impérios continentais teve forte caráter patrimonial ate o inicio e mesmo depois dos tempos modernos”. In: Op. cit., v. 2, p. 240.

6 Weber descrever a característica historicamente vislumbrada do fenômeno da “distribuição das terras senhoriais”, sendo este o núcleo embrionário da transformação de um patriarcalismo originário em patrimonialismo puro. Vide: Op. cit.,, v. 2, p. 233 et seq.

7 WEBER, 1999, v. 2, p. 253 et seq.

8 Max Weber: um perfil intelectual. Trad. Elisabeth Hanna e Jose Viegas Filho. Brasilia: Unb, 1986, p.270-1.

9 FAORO, Raymundo. A aventura liberal numa ordem patrimonialista. Revista USP. São Paulo, n. 17, 1993, p. 18.

10 Sobre a influencia do pensamento weberiano no Brasil, cf. CHACON, Vamireh História das ideias sociológicas no Brasil. São Paulo: USP/Grijalbo, 1977, p. 117-28).

11 Max Weber: a crise da ciência e da política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1988, p. 91.

12 In: Raízes do Brasil. 5. ed. Rio de Janeiro: Livraria Jose Olympio, 1969, p. 105-6.

13 Ibid., p. 101.

14 Tal visão e também compartilhada por Simon Schwartzman em seu artigo intitulado: SCHWARTZMAN, Simon. Atualidade de Raymundo Faoro. DADOS – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 46, n. 2, 2003, p. 207-13.

15 Ibid., p. 106.

16 FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 4 ed. Porto Alegre: Globo, 1977, v. 1, p. XI.

17 FAORO, 1977, v. 1, p. 4 e 8.

18 Posição que e contraria ao pensamento de inúmeros autores nacionais, que apontam evidentes traços feudais na organização da sociedade brasileira. Faoro rejeita expressamente essas acepções, tanto da existência do feudalismo em Portugal quanto no Brasil. Para tal apreensão, vide, em “Os Donos do Poder”, os capítulos I, parte 3, e IV, parte 6, de seu primeiro tomo.

19 “Burocrático”, no termo empregado por Faoro, indica em sua essência não o sistema administrativo típico da dominação racional-legal, onde se tem competências fixas, baseadas em critérios legais e impessoais de ordem, mas como estrutura de organização dos “funcionários” administrativos patrimoniais. Weber e Faoro se referem a preocupação desse estamento em se valer do cargo “burocrático” como um veiculo para a diferenciação social.

20 FAORO, 1977, v. 1, p. 46.

21 WEBER, 1999, vol. 2, p. 175-86.

22 CAMPANTE, Rubens Goyata. Patrimonialismo em Faoro e Weber. DADOS – Revista de Ciências

Sociais. Rio de Janeiro, v. 46, n.o 1, 2003, p. 154.

23 FAORO, 1977, v. 1, p. 47.

24 Op. cit., p. 155.

25 O que destoa em parte da concepção original de Weber que concebe o patrimonialismo como descentralizado, ante principalmente a divisão do poder do senhor territorial entre seus súditos leais e consanguíneos. Nesta visão, o pensamento de Faoro não identificou o patrimonialismo brasileiro de forma “pura”, como Weber inicialmente idealizou tal formula de pensamento, mas reduziu-lhe a uma forma mista, referente a centralização que se vislumbra no patriarcalismo, sultanismo ou mesmo no feudalismo presentes nos tipos-ideais weberianos.

26 FAORO, 1977, v. 1, cap. I.

27 Id., Ibid., p. 133.

28 FAORO, 1993, 26-7, grifo do autor.

29 VIANNA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil e instituições políticas brasileiras. Brasilia: Camará dos Deputados, 1982, p. 298-9. (Biblioteca do Pensamento Republicano, 14).

30 VIANNA, 1982, p. 377-90.

31 Id. , Ibid., p. 392, grifos do autor.

32 VIANNA, 1982, p. 504-12, grifos do autor.

33 Apud QUEIROZ, Paulo Edmur de Souza. Sociologia política de Oliveira Vianna. São Paulo: Convívio, 1975, p 155.

34 Dois livros que demonstram bem essa passagem são: VIEIRA, 1976 e QUEIROZ, p. 1975.

35 VIANNA, 1982, p. 27-8.

36 Este pensamento confirma o entendimento de CAMPANTE, 2003.